Quando é que o Homem perderá os seus mitos? – 1/2
A resposta é uma total incógnita. É que são múltiplos
os factores, quer de natureza subjectiva quer de natureza objectiva, que levam
a Humanidade à dependência de mitos, de crenças, de fés, de crendices…
Em certo sentido, até é bom que o Homem não perca os
seus mitos, dado o subdesenvolvimento da Humanidade, em questões de ÉTICA e de
MORAL, subdesenvolvimento manifestado, por exemplo, no arsenal bélico que todos
os países ostentam e do qual se orgulham, dissuadindo de um ataque um seu
suposto inimigo qualquer, arsenal representando muitos pontos do PIB desse país,
montante que bem poderia ser utilizado, por exemplo, no apoio à Ciência, à Educação, à Saúde. Neste
estádio ainda tão primitivo, os mitos contribuirão para tornar as sociedades
mais justas e mais fraternas, quer dentro quer fora de fronteiras, fronteiras
que, um dia, deixarão de existir para haver apenas a Humanidade povoando
inteligentemente a Terra, sua MÃE e seu BERÇO. E serão um
freio à tendência do Homem para a violência, a ganância, o egoísmo, a
corrupção, o desprezo pelo seu semelhante...
Portanto, só quando o Homem tiver transformado em
“rosas” as armas que inventou/inventa para destruir os seus semelhantes, é que
também será bom que perca todos os seus mitos, mitos que o degradam como ser
humano total, i. é, racional e emocionalmente.
1 – Factores de natureza subjectiva:
Em primeiro lugar, debatemo-nos com a capacidade de
convencimento por parte de alguns profetas da “Verdade”, obviamente, de todos
aqueles que não querem pensar ou fazer uma análise crítica do que ouvem como
Verdades e – pasme-se! – Verdades absolutas! E aí estão os crentes nas
religiões, nas lendas, nas magias, nas fantasias, só porque alguém – alguém que
eles, sem fundamento, consideram credível – lhes afirmou serem Verdades. Uma
aberração do ponto de vista intelectual e racional, mas totalmente compreensível
do ponto de vista subjectivo-emocional.
No entanto, o maior factor de natureza subjectiva é o
da ajuda que essas crenças, fés, lendas, fantasias dão às pessoas, sobretudo
quando pressionadas pelo sofrimento, mais ou menos atroz, como a perda de um
ente querido ou o encarar de uma doença irreversível. É que aí, só Deus “me
pode valer” com a esperança de que exista mais alguma coisa para além da dor e
do sofrimento ou da sua causa.
Depois, a pessoa não consegue confrontar-se emocionalmente
com a morte, morte que, inexoravelmente, nos atingirá mais cedo ou mais tarde.
Para quem tem fé numa vida eterna, uma outra vida – após
esta a que muitos chamam de “vale de lágrimas”, numa total injustiça para com o
próprio dom da Vida – tudo parece fazer mais sentido: as dores suportam-se mais
facilmente, as perdas irremediáveis também e até a própria morte é vista como
uma passagem para essoutra vida e não como o acabar de tudo, dizendo-se até de quem partiu: "Foi desta para melhor".
E não é que esta visão é muito mais apelativa e ajuda
mais à vida do que o puro racionalismo? Em sociedade, já o referimos, se
tirássemos a fé aos Homens, tudo se tornaria mais ingovernável. Durante estes
dois milénios de cristianismo, por exemplo, terá sido o medo do Inferno –
Inferno eterno! – que tornou as sociedades mais governáveis e controladas nos
seus instintos de destruição, apesar das muitas guerras e dos muitos crimes que
homens cometeram contra outros homens…
2 – Factores de natureza objectiva:
As civilizações estão intimamente ligadas às
religiões, crenças e mitos. Quer nos tempos dos politeísmos, quer, depois, com
as três religiões abraâmicas: judaísmo, cristianismo e maometismo. Isto no Médio
Oriente e no Ocidente. No Oriente – Índia, China e os diversos povos e nações
da Ásia do Sul – desde há uns três milénios, pontificam duas grandes religiões
ou filosofias de vida: o hinduísmo e o budismo. Na África e Américas, é a
miscelânea de todas aquelas religiões, sobretudo as abraâmicas, devido à
colonização, misturadas com muitas crendices e feitiçarias locais.
E em todas as religiões emergiu uma forte classe
sacerdotal, ombreando sempre com o poder político, quando não subjugando-o aos
seus interesses. Sempre, claro, em nome e para glória de Deus, melhor, do seu
Deus!
Aliás, ao longo da História, são conhecidos os muitos
crimes praticados por esta classe sacerdotal, crimes físicos mas sobretudo ao
nível das consciências dos Homens.
Agora, poderíamos perguntar o que é, afinal, um ser humano.
– Quando acordo, indo já alta a madrugada, penso
comigo e digo: “Aproveita o dia!” É que, em breve – seja este breve 5, 10, 20,
…mil anos que fossem! – será a última manhã, a última tarde, a última noite, não havendo
nova manhã, nem nunca mais um novo amanhã!
É esse o fado, queira-se ou não, do ser humano, ser
que, como qualquer ser vivo, ou mesmo como qualquer ser inanimado mas que tenha
começado um dia, pertence ao Tempo.
Pertencer ao Tempo significa estar
completamente dependente dele. E o Tempo passa inexoravelmente, cadenciado,
segundo a segundo, não havendo força natural ou sobrenatural (esta inexistente,
claro!) que o faça parar ou… atrasar. Ai de TUDO O QUE EXISTE se o Tempo algum
dia parasse! Nunca mais haveria vida nem o movimento
que a alimenta. Só MORTE!
Nascemos, crescemos e caminhamos para o desaparecimento total, não
deixando qualquer rasto para a eternidade. Esta existe – e só existe! – para o
TODO ONDE TUDO SE INTEGRA, MATÉRIA E ENERGIA, DO ÁTOMO AO UNIVERSO, MELHOR, AOS
PLURIVERSOS, existindo desde sempre e para sempre, sendo esse TODO, por isso, o
PRÓPRIO DEUS ou aquele/aquilo a que, com propriedade, poderemos chamar DEUS.
Tudo o que alguns Homens disseram, ao longo da
História, sobre Deus ou deuses, inventando ou não dúzias deles, é FALSO! Sem
qualquer dúvida! Nenhum dos deuses inventados pelos Homens tem cabimento na
lógica de se ser SER HUMANO.
(Conclusões no próximo texto)