sexta-feira, 28 de junho de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 223/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos 

Evangelho segundo S. MATEUS – 19/?

–“É de João que a Escritura diz: «Eis que Eu envio o meu mensageiro à tua frente para Te preparar o caminho.» Eu vos garanto: De todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Baptista. No entanto, o menor no Reino do Céu é maior do que ele.” (Mt 11,10-11)
– Os enigmas continuam… E descredibilizam o Jesus da nossa última esperança de encontrar a Verdade!… Em boa verdade, porque precisava Jesus de um mensageiro? O ser Filho de Deus, não era suficiente? Os seus milagres não eram suficientes? Porque rodear-Se então do aparato de um precursor?
E continuamos sem entender, ou cada vez entendemos menos o que é o “Reino dos Céus”, pois o que é ser “o menor” nesse Reino? E quem será o maior? Há assim categorias de maior e de menor, seja isto simbólico ou real?…
Já o dissemos e a dúvida persiste: Nunca saberemos se tudo o que é posto na boca de Jesus Cristo foi realmente Ele que o disse ou foi Mateus que assim o interpretou, já referindo tradições cristãs que, embora “recentes” de uns quarenta anos, adulterariam as palavras de acordo com o seu entendimento.
– “Com quem vou comparar esta geração? São como crianças (…). Veio o Filho do Homem que come e bebe e dizem: «Olhem para este homem! Come bem e bebe melhor e é amigo de (…) gente de má fama.»” (Mt 11,19)
– Deixando de lado a jocosa comparação, perguntaríamos: “Não é, pelo menos, intrigante esta dualidade existente em Jesus com uma alma divina e um corpo humano? Como saborearia aquele vinho e aqueles manjares? Como se riria de anedotas que contassem, algumas delas, com pontinha de malícia? Ou nunca riu nem sorriu?…”
E tantas outras perguntas que poderíamos fazer acerca desta real dicotomia divino-humana. Mas essas deixamo-las à imaginação dos leitores, leitores a quem compete  também serem críticos…
– “Então, Jesus começou a falar contra as cidades onde havia realizado a maior parte dos seus milagres, porque elas não se tinham convertido. (…) Se em Tiro e Sidónia tivessem sido realizados os milagres que se realizaram em vós, há muito que elas teriam feito penitência, vestindo-se de cilício e cobrindo-se de cinza. (…) E tu, Cafarnaum, (…) serás precipitada no inferno! Porque se em Sodoma tivessem sido realizados os milagres que em ti se realizaram, ela ainda hoje existiria. No dia do julgamento, Sodoma terá uma sentença menos dura do que a tua.” (Mt 11,20-24)
– Não há dúvida que causa em Jesus uma certa preocupação, este fracasso da sua actividade milagreira. De tal modo que se vê “obrigado” a condenar tais cidades e a compará-las com as velhas Sodoma e Gomorra que sofreram castigos pelos seus pecados. Incompreensível para uma acção, supostamente divina, este fracasso…
E não é estranho que Jesus, Filho de Deus e portanto omnisciente, sabendo por isso que os seus milagres não iriam criar o arrependimento pretendido, tenha insistido em realizá-los lá? Com que objectivo?
Enfim, de novo, o julgamento (no Juízo Final) que continuamos sem saber nem quando, nem onde, nem como!…
E também de novo… o inferno, parecendo haver  um certo javismo bíblico do A.T. naquele “serás precipitada no inferno”!
Aliás, o A.T. está bem presente no “vestir-se de cilício e cobrir-se de cinza”. Mas para quê, santo Deus, esta insistência anti-humana no sofrimento tão inútil para o Homem e, de certeza, de nenhuma utilidade para Deus?!…
Só mais uma última pergunta: “O que seria - o que será - realmente converter-se e fazer penitência?”


sexta-feira, 21 de junho de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 222/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 18/?

– “Aquele que der testemunho de Mim diante dos Homens, também Eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está no Céu. Aquele porém que Me renegar perante os Homens, também Eu o renegarei diante do meu Pai que está no Céu.” (Mt 10, 32-33)
– É a força da palavra de Cristo! Palavra que aqui lembra um pouco o “Olho por olho, dente por dente”, já abolido por Ele em Mt 5,38.
O problema é que se renegarmos, nós renegamos na Terra, no tempo… Cristo renegar-nos-á no Céu, na… eternidade! Como será isso? Com que justiça?!
E nós aqui, que procuramos apenas a VERDADE, dando ao mesmo tempo testemunho dele e questionando-O, seremos renegados ou testemunhados por Jesus junto do Pai que está no Céu?… (Nem já perguntamos, para não nos repetirmos: “Que Pai?”, “Que Céu?”)
– Aparece agora um texto, talvez o mais terrível, de Jesus. Permitam-nos que nos alonguemos: “Não penseis que vim trazer a paz à Terra. Não vim trazer a paz mas a guerra. De facto, vim trazer a divisão entre o filho e o seu pai, a filha e sua mãe, a nora e a sua sogra: os inimigos de uma pessoa serão os da sua própria família. Quem ama o pai ou a mãe (…), o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma a sua cruz e Me segue não é digno de Mim. Quem procura conservar a própria vida vai perdê-la e quem perde a sua vida por causa de Mim, vai encontrá-la.” (Mt 10, 34-39)
– Não! – dirão muitos. É tudo simbólico: apenas que na própria família, uns aceitarão a sua mensagem, outros não… Mas nem é esse o problema maior. O problema maior é saber o que é realmente amar Jesus no dia-a-dia; é saber qual é a nossa cruz e, com ela, seguir Jesus; saber o que é perder a nossa vida por causa dele, para a encontrar… É: Jesus deveria ter-se explicado melhor para que toda a gente o entendesse. Toda a gente! Assim, fica para ali um emaranhado de palavras sem… sentido. Palavras que afastam os não-crentes de quererem seguir Jesus e acreditar no seu Pai e no seu Céu…
Ah, se conseguíssemos acreditar que há realmente um Céu, quem não daria esta vida terrena, tão curta, tão efémera, dure cem ou duzentos anos, por toda uma eternidade nesse Céu? Quem não sofreria tudo o que é humanamente possível para alcançar tal vida? Quem? Nem seria necessário um Jesus Cristo tão ameaçador e tão terno, tão sofredor e tão convicto de tudo o que afirma acerca de Deus-Pai, do Céu onde Ele está, do inferno para onde vão todos os que não aceitarem a sua mensagem, da ressurreição do corpo e da alma para uma eterna felicidade ou uma eterna condenação!…
Ah, se conseguíssemos acreditar… É que nós queríamos ser “dignos de Cristo”! Nós queríamos perder esta vida para alcançar a eterna por ele prometida! Nós… queríamos! Mas…
E ainda perguntaríamos, indignados com Jesus: “Porque também aqui falar em guerra quando já temos tantas, pela maldade dos Homens?”
– “Os cegos vêem, os coxos andam, os que têm lepra são curados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados.” (Mt 11,5)
Tudo muito bem (embora sejam mais milagres inventados por Mateus…) Mas… porque só “aos pobres é anunciada a Boa Nova” (Mt 11,5) e não a todos? Quem afinal são os “pobres” de Jesus Cristo? Porque fala Jesus tanto por enigmas?
E, aqui, Mateus esqueceu-se de fundamentar-se com Isaías 35,5-6: “Então, os olhos dos cegos vão abrir-se e abrir-se-ão também os ouvidos dos surdos; o coxo saltará como um veado e a língua do mudo dará gritos de alegria, porque jorrarão águas no deserto e rios na terra seca.”!…
Ah, bendita utopia! Ah, como é bom sonhar com uma eternidade num Paraíso de delícias!...


sábado, 15 de junho de 2019

Pequeno interregno para recordar

O Eu Cósmico

Passei pela feira do livro de Lisboa. Editora Europa-América. Ali estava ainda à venda o meu livro "O Eu Cósmico", já "velho" de 20 anos: o "Eu" (self) coloca-se no Cosmos e de lá observa este ponto minúsculo do Universo, a Terra, ponto onde se desenrola a saga humana e a vida de cada um de nós. "Velho", mas sempre novo na sua concepção e abordagens. Uma centena de pequenos textos de índole filosófico-existencial, de agradável leitura, mesmo em repetições. Há quem o tenha como livro de cabeceira... Peça antes que se acabe. Não creio que o reeditem, embora seja uma considerável perda, falando-se de livros que apelam a uma análise racional da existência e ao máximo aproveitamento da Vida, esta dádiva dos deuses que, para nós, nunca mais se repetirá. Por isso, encomende e tenha o prazer de... BOAS LEITURAS!

E aqui fica um desses pequenos textos: "Hoje, queria sol e está de chuva"
«- Chuva, frio, vento... Há chuva? - Gozemos a chuva! Há vento? - Corramos ao vento! Há frio? - Pensemos em lençóis quentes, afagos calorentos! A dormir, a ler, a sonhar..., a jogar, a rir, a conversar... tantas coisas se podem fazer para não nos entregarmos ao aborrecimento que corrói e mata! E este tempo é bênção mesmo que não seja sol, é calor mesmo que lá fora neve, frie e vente!
- Mas eu queria sol!
- Sim? - Então, aviva em ti recordações de outros sóis passados, transporta-te até outros lugares onde sem dúvida há sol e sol em abundância - talvez demais! - e teu veraneante desejo se cumprirá! É que sonhar também é viver!»

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 221/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos 

Evangelho segundo S. MATEUS – 17/?

– E sempre há um dia do juízo ou do julgamento, largamente anunciado no A.T., sendo então chamado de “Dia de Javé”!… Que dia é este realmente? Onde, como e quando será tal julgamento? No fim dos tempos? - Que tempos? No céu? - Que céu? Pelo Filho do Homem? - Que certezas poderemos ter de tal acontecimento, se nada sabemos dos humanos que morreram antes de Cristo - e foram muitos durante muitos milhares de anos! - e depois de Cristo, nestes dois mil anos que nos separam dele?
É mais uma afirmação de Jesus que apenas tem a sua palavra como garantia de verdade…
Claro, se fosse realmente Filho de Deus até acreditávamos. Mas… De qualquer modo, tal juízo é demasiado severo e bem contrário ao espírito de compreensão que a mensagem de amor do mesmo Jesus fazia supor… Isto, embora possa haver amor, misericórdia, compaixão, compreensão, obviamente para os que, na vida, usaram de amor, compaixão, misericórdia. Os outros…
 – “Não tenhais medo deles (…)! Não tenhais medo dos que matam o corpo mas não podem matar a alma! Temam antes a Deus que pode fazer perder tanto o corpo como a alma no inferno.” (Mt 10,26-28)
– Quer dizer, mais uma vez, que o corpo e a alma poderão ir para o inferno. E mais uma vez a ideia da ressurreição da carne! Como, quando e onde, nada se diz…
E nós, por aqui, a ter dúvidas da ressurreição ou da imortalidade da alma quanto mais da imortalidade do corpo que lhe será dada pela ressurreição para a vida eterna!…
E o inferno? Já alguma vez Cristo nos explicou o que era, onde e como funcionava? Nós bem queríamos acreditar, evidentemente mais no céu do que no inferno… Mas apesar da palavra de Cristo, nós nunca vimos ninguém de lá vir dizer-nos como era! Nem ele o mostrou aos apóstolos!
– Já noutros escritos “sugerimos” ingenuamente: “Porque é que, querendo Deus atingir os objectivos de salvação de todos os Homens, não envia cá à Terra, um daqueles que morreram e que está nas profundezas do inferno e outro que está na felicidade do Céu, dizendo cada um, perante todas as televisões do mundo, o que realmente lhes está acontecendo, lá na eternidade? Quem não acreditaria se tal acontecesse? Se, por exemplo, Hitler viesse dizer dos muitos tormentos que o Diabo lhe inflige lá no dia-a-dia da eternidade? Ou se, também por exemplo, um J. Kennedy que, apesar da sua paixoneta pela Marylin Monroe, deve estar no céu, dissesse de quantas delícias é servido pelos anjos de Deus?”
Apesar da ingenuidade brincalhona, parece-nos método que, a ser aplicado, teria muito mais sucesso do que o supostamente utilizado por Deus ao enviar à Terra o seu Filho Jesus que sofreu tudo aquilo que sabemos, que fez morrer tantos que acreditaram e pregaram a sua mensagem, fundou uma Igreja que chegou apenas a uma parte da humanidade e não se vê que chegue a toda ela, e nem sempre na melhor pureza do Evangelho…
O que é certo é que Jesus nos deixou numa tremenda confusão, não nos dando verdades claras, certezas totalmente convincentes, demasiada fé e pouca racionalidade a nós que somos essencialmente razão, apesar da emoção que nos define como seres humanos!

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 220/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 16/?

–“Vendo as multidões, Jesus (…) disse: «A seara é grande mas os trabalhadores são poucos! Por isso, pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara.” (Mt 9, 36-38)
– É a força da oração! Mas se em Mt 6,32, Deus-Pai sabe tudo o que nós precisamos, não sabe que a sua seara é grande e necessita de muitos trabalhadores?
A oração, seja de louvor seja de petição a Deus, não deixa de criar confusão na nossa mente inquisidora. Que sentido tem essa necessidade de Deus precisar que O louvem ou que Lhe peçam qualquer coisa? Estamos, para já, a humanizar Deus; depois, não estamos a inverter os dados? Não é o Homem que necessita de ser louvado nas suas boas acções e de levantar as mãos em prece para o Deus que é o TODO ONDE TUDO SE INTEGRA, quando na Terra já não encontra respostas?…
No entanto, a oração será uma constante em Jesus Cristo. Uma constante que perdura no cristianismo e nas suas catequeses e igrejas. Uma constante incompreensível, tal como é formulada, fazendo-se de Deus um humanóide todo poderoso que necessita que o louvem, i.é, que o bajulem, o adorem, lhe peçam humildemente resolução de necessidades que o Homem sente. Ora, na verdade, tais necessidades é o próprio Homem que as tem de resolver, trabalhando… Resta o efeito psicológico da oração: quem reza e "é atendido" nas suas preces, fica feliz e agradecido...
–“Então Jesus chamou os discípulos (…). Ide e anunciai: «O Reino dos Céus está próximo.» Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios.” (Mt 10,1-8)
– Os milagres - inúmeros, pois a multiplicar por doze!… Até Judas Iscariotes, que foi o traidor, recebeu o mesmo poder!…
Mas os inúmeros milagres não tiveram força suficiente para elevar a heróis, na época, todos aqueles discípulos. Custa acreditar em tal “fracasso” divino! E que Jesus tenha sido “obrigado” a dizer: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos. Portanto, sede prudentes (…), tende cuidado (…). O irmão entregará à morte o próprio irmão; o pai entregará o filho; os filhos levantar-se-ão contra os pais e matá-los-ão. Sereis odiados por toda a gente por causa do meu nome, mas aquele que perseverar até ao fim, será salvo.” (Mt 10,16-22)
– Estamos perante um texto catastrofista. Serão palavras de Jesus ou do escrivão Mateus? Então:
1 - Espanta os inúmeros diabos que andavam “à solta” por aquelas bandas, nos tempos de Cristo, não espanta?!
2 - Como usaram realmente os discípulos, aquele enorme poder que Cristo lhes outorgou de fazer milagres? Como?
3 - O catastrofismo instalado entre irmãos, pais e filhos relembra a Bíblia do A.T. e não se percebe porque é que uma mensagem de amor ao próximo gera tais ódios, tais mortandades, tais crimes! Porquê?
4 - Que realmente houve muita mortandade e perseguições sem conta, sobretudo às mãos dos romanos, havendo um sem-número de mártires, é histórico! Mas isso nada tem a ver com a mensagem de fraternidade universal. Era apenas política…
5 - E aquele que perseverar até ao fim, será salvo de quê? – Certamente irá para o Céu de Deus-Pai, tão prometido por Jesus, ao longo da sua curta vida… Mas que céu?!
Foi pena ter sido tão curta a sua vida! Bem precisávamos que tivesse estado mais tempo connosco para nos arrancar do montão de dúvidas em que nos deixou. Se é que conseguia…
–“Se alguém não vos receber bem e não escutar a vossa palavra, ao saírdes dessa casa e dessa cidade, sacudi a poeira dos vossos pés. Eu vos garanto: no dia do julgamento, as cidades de Sodoma e Gomorra serão tratadas com menor rigor do que aquela cidade.” (Mt 10, 14-15)
– As palavras são… tremendas! Por outro lado, parece não haver escolha: ou aceitas a mensagem que te é apresentada e recebes bem quem ta apresenta, ou…
Sodoma e Gomorra foram arrasadas com o fogo do céu! (Gn 19,24) O que aconteceu, ou acontece, ou acontecerá àqueles que não receberam, recebem ou receberão a mensagem de Jesus será pois ainda pior… E será esse pior que nos acontecerá a nós que vamos por aqui questionando tanto toda esta intervenção de Jesus Cristo na História… Ai, tanto medo, meu Deus! (Desculpem-me a não disfarçada ironia!)
Outra interpretação possível – e bem mais plausível – é que aquele tremendismo tenha sido inventado por Mateus para que os novos cristãos recebessem de braços abertos os mensageiros da Boa Nova, pois bem precisariam de alimentar um corpo faminto e de descanso, ao fim de um dia quente, calcorreando caminhos pedregosos, andando de cidade em cidade… É que nunca saberemos quando é que é Jesus a falar ou o narrador evangélico.
Do “dia do julgamento” falaremos no próximo texto.