À procura da VERDADE nos Evangelhos
Evangelho segundo S. JOÃO – 38/?
Como
seria aquele rosto ressuscitado? Melhor: Onde teria Lázaro passado aqueles
quatro dias? No Céu, no inferno ou… em parte nenhuma? Com que corpo espiritual
ou com que alma?
Que pergunta tão… tão… tão
essencial! Não é desta verdade que andamos à procura? Que nos teria respondido
Lázaro se tal pergunta lhe tivéssemos feito?
Aliás, porque é que aqueles
judeus não lha fizeram? Que bela oportunidade perdida! Que pena que lá não
tenhamos estado! Ou seria o total esclarecimento ou… a completa frustração, ou
– para os mais críticos – a completa desmistificação do que supostamente ali acontecera,
i.é., nada de extraordinário: tudo encenado, tudo inventado por João, o único
evangelista a narrar tal magno acontecimento (Jo 11, 1-46), sendo inconcebível
que os outros evangelistas o tivessem ignorado ou dele não tivessem tido
conhecimento…
Mas, assim, ficávamos a
saber se realmente acabamos ali com a morte ou se nos continuamos pela eternidade; neste caso, haveria que repensar toda a nossa curta vida terrena – curtíssima e inexoravelmente
caminhando para a morte! – em função da tal eternidade que então saberíamos que
realmente existe!
– Houve, claro, oferta de
jantar a Jesus e aos seus. “Marta servia e Lázaro era um dos que estava à mesa
com Jesus.” (Jo 12,2)
– Como também gostaríamos de
lá ter estado! Não porque Marta andava servindo… mas para ver aquela cara de
Lázaro, aquele rosto de Jesus, aquela simbiose de humano e divino que tanto nos
cativa e… perturba!
– “Então Maria levou quase
meio litro de perfume de nardo puro e muito caro. Ungiu com ele os pés de Jesus
e enxugou-os com os seus cabelos. A casa inteira encheu-se de perfume. Judas
Iscariotes, um dos discípulos, aquele que ia trair Jesus, disse: «Porque não se
vendeu este perfume por trezentas moedas de prata, para dar aos pobres?» (Jo
12,3-5)
– Esta Maria faz-nos lembrar
aquela outra que também ungiu os pés de Jesus com perfume e lágrimas e os
enxugou com os seus cabelos, em casa do fariseu Simão. (Lc 7,37-50) Mas não
será a mesma, certamente… A outra era “mulher da vida”… Só Lucas refere tal
mulher esquecendo-se desta Maria que Mateus e Marcos colocam a deitar o perfume
não sobre os pés mas sobre a cabeça de Jesus. (Mt 26,7; Mc 14,3) (Um bom crítico não deixa passar "impune" tal discrepância...)
Mas que gesto! Que
devoção-admiração-amor-ternura-consideração!… Que sentimentos perpassariam por
aquela mente feminina, ali ungindo com perfume os pés do belo Jesus? Pura
devoção “divina” ou forte desejo de um relacionamento mais humanamente íntimo?...
Judas Iscariotes parece que
era ladrão e roubava do saco da comunidade… No entanto, pareceu ter tido muita
razão no seu desabafo, ao ver tamanho desperdício. Mas, não! Jesus não lhe dá
razão alguma! Gostou Jesus daquele ungir de pés com perfume caro de puro nardo:
“Deixai-a! Ela guardou este perfume para Me ungir no dia da minha sepultura. No
meio de vós sempre haverá pobres; ao passo que Eu não estarei sempre convosco.”
(Jo 12,7-8)
– Não nos disse Jesus noutro
lugar: “Eu estarei convosco até à consumação dos séculos.”? (Mt 28,20) Então,
como é que está e… não está sempre connosco?
Depois, em vez de se
desculpar e desculpar Maria, poderia ter dito, por exemplo: “Maria, não gastes
tudo comigo! Vamos pensar naqueles que podem ser ajudados com o dinheiro da venda de
parte deste perfume!”. Assim, nem provocaria o comentário razoável de Judas nem
diria, desculpando-Se a Si mesmo e a Maria, que pobres sempre os
teremos connosco. Uma esfarrapada e deselegante desculpa…
Mais: não se percebe como
Maria guardara aquele perfume para o ungir na sepultura se o estava gastando já
ali com ele vivo…
Enfim, uma cena da qual não nos
parece que Jesus se tenha saído muito airosamente. A sua atitude aceita-se como
“Filho do Homem” mas não como… “Filho de Deus”.