sábado, 26 de setembro de 2020

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 281/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos 

Evangelho segundo S. MARCOS – 1/?

 

Nota prévia:

Não vamos alongar-nos em repetições do que em Marcos é semelhante a Mateus. Por isso, seremos breves, na análise deste evangelho, frisando apenas o que nele há de novo, o que, sendo sinóptico com Mateus e dado como escrito antes dele, é muito pouco, embora extremamente significativo quanto a uma provável interpretação da palavra “milagre”. Comecemos, pois!

 

– “«Cala-te e sai desse homem.» O espírito mau sacudiu fortemente o homem, deu um grande grito e saiu dele.” (Mc 1,25-26)

– Já atrás perguntámos: afinal, era possesso do diabo ou apenas… epiléptico? E quem é que gritou: o diabo ou o homem? Se foi o diabo, com que voz? Quem ouviu tal voz? – A narrativa é omissa nesta importante questão.

–“Jesus levantou-Se e foi rezar num lugar deserto.” (Mc 1,35)

– Repetindo-nos, perguntaríamos: “Porque é que Jesus tem necessidade de rezar? Que pediria ou agradeceria Ele a Deus, seu Pai? Não era Ele Deus com o Pai? Como entender tal dependência?” Dependência incompreensível que vai culminar com o “Faça-se a tua vontade e não a minha”, com suor de sangue, no jardim de Getsémani… ou ainda, com o incompreensível grito na cruz: “Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?”. Tal necessidade de rezar leva-nos a concluir que Jesus não tinha qualquer noção de si próprio como filho de Deus-Pai e muito menos, Deus com Ele, como, mais tarde, lhe foi atribuído.

– Estranha é a cura do surdo-mudo, quando Jesus ia a caminho da Galileia: “Pôs os dedos no ouvido do homem, cuspiu e com a sua saliva tocou-lhe na língua. Depois, olhou para o Céu, suspirou e disse: “Abre-te!» Imediatamente os ouvidos do homem se abriram, a língua soltou-se e ele começou a falar sem dificuldade.” (Mc 7,33-35)

– Há todo um ritual próprio de um curandeiro, evoque-se ou não o divino: saliva, um olhar o Céu, um suspirar… Que significa exactamente todo este ritual? Para impressionar a assistência? Se tinha o poder de fazer milagres, porque não disse simplesmente: “Ouve e fala!”?

– Mais estranha é a cura do cego de Betsaida: “Levou-o para fora do povoado, chegou-lhe saliva aos olhos, colocou as mãos sobre ele e perguntou-lhe: «Vês alguma coisa?» O homem abriu os olhos e disse: «Vejo sim, vejo pessoas que parecem árvores a andar!» Jesus pôs-lhe de novo as mãos nos olhos e quando o homem os voltou a abrir, já via perfeitamente tudo quanto estava à sua volta.” (Mc 8,23-25)

– É! Ninguém perceberá porque é que o homem não viu perfeitamente ao primeiro impor de mãos. E, mais uma vez: foi milagre ou foi uma acção/magia de curandeiro? – Pela descrição de Marcos, parece-nos muito mais credível a segunda que a primeira hipótese.

– E, depois de o curar, ainda lhe ordena: “Não entres na aldeia!” (Mc 8,26)

– Porquê?… Porque se queria esconder Jesus? Com medo de quem? Afinal, que ideia tinha Jesus de si próprio, ao ver-se com o poder curativo de várias enfermidades? Há aqui um largo campo de interpretação psicológica da personalidade a explorar mas que não é objecto desta nossa análise crítica.

– “«Mestre, vimos um homem que expulsa demónios em teu nome e nós proibimos-lho, porque não é dos nossos.» Jesus disse-lhes: «Não lho proibais pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois vai dizer mal de Mim. Quem não está contra nós está a nosso favor. Eu vos garanto: quem vos der um copo de água porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa.»” (Mc 9,38-41)

– Ficamos, então, a saber que havia outro homem com o poder de expulsar demónios. Ou… curar a epilepsia, como já vimos anteriormente. Um outro “Cristo”, outro milagreiro ou curandeiro! Teria o mesmo poder e carisma de Jesus? – Uma resposta afirmativa levanta inúmeras questões quanto à exclusividade milagreira de Jesus.

Por outro lado, diz-se claramente que o expulsar demónios era fazer um milagre, o que nos leva a perguntar o que é realmente um milagre.

Enfim, gostaríamos de saber onde e como será aquela recompensa por dar um copo de água…

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Breve história do início do Cristianismo - Análise crítica

 

 

De como de uma história infantil nasceu uma religião

 

    Tudo começa no Génesis, o primeiro livro da Bíblia – Antigo Testamento (AT).

    A Bíblia – AT para os cristãos, Tora para os judeus – na diversidade dos seus “livros” – foi escrita por levitas judeus, essencialmente durante os oitenta anos de cativeiro, na Babilónia, no séc. VI AC, compilando muitas tradições orais quer históricas quer mitológicas e/ou de carácter religioso. A Bíblia dos cristãos inclui também o Novo Testamento (evangelhos e epístolas) que foi escrito por discípulos de Jesus a partir dos anos 60 DC.

    E a história conta-se em poucas palavras, como, aliás, é alegremente contada às crianças da catequese:

«Depois de ter criado o Céu e a Terra e tudo o que neles existe, Deus criou o homem para tomar conta, na Terra, do que ali havia criado.

Sentindo-se só, o homem pediu uma companhia a Deus e Deus deu-lhe uma linda mulher. Foram chamados de Adão e Eva e colocados no Paraíso de todas as delícias. Mas… havia, nesse Paraíso, uma macieira – a árvore do Bem e do Mal – cujas maçãs não poderiam comer. Era a única proibição! Ora, como era fruto proibido, Eva não resistiu a comer uma maçã e dar de comer dela ao “pobre” do Adão. O seu pecado – transgressão da regra divina! – foi punido com atroz severidade: expulsos do Paraíso e condenados, ele a ter de comer o pão com o suor do seu rosto, ela a ter de gerar na angústia e na dor.

Este pecado – o pecado original – ficou afectando todos os descendentes destes primeiros humanos Adão e Eva que, entretanto, se multiplicaram, não permitindo ao Homem a sua salvação eterna.

Então, Deus, uns milhares de anos mais tarde, e durante mais de mil anos, inspirou umas Escrituras nas quais se profetizava a vinda de um Messias Salvador e Redentor da Humanidade atingida por esse horrendo e terrível pecado original.

O “milagre” aconteceu, há dois mil anos, no seio do povo judeu – o povo eleito por Javé-Deus para escrever as Escrituras e nele nascer o Messias – materializado num homem chamado Jesus, filho de uma Virgem chamada Maria.

Em Jesus se cumpriram as Escrituras: pregou a Palavra de Deus durante três anos e, depois, cumprindo as mesmas Escrituras, foi condenado à morte e morte de cruz, redimindo assim, com o seu atroz sofrimento, toda a Humanidade do seu pecado original e de todos os outros pecados, salvando os Homens de se condenarem eternamente… É o Jesus Redentor e Salvador!

Mas… o mais importante é que, ao fim de três dias de ter morrido, Jesus ressuscitou dos mortos e subiu ao Céu para junto de Deus, seu Pai, sendo a sua ressurreição penhor e certeza da nossa própria ressurreição para a vida eterna, junto de Deus, se nos portarmos bem nesta vida e não cometermos pecados ou, cometendo-os, os confessarmos e deles nos arrependermos.

É que, além dos anjos bons – os que perenemente louvam a Deus no Céu – há os anjos maus, os demónios, os diabos que desobedeceram a Deus, pois queriam ser iguais a Ele, sendo condenados ao Inferno e a passarem a vida a atormentar os Homens e a levá-los ao pecado, para os condenarem para sempre ao mesmo fogo do Inferno que é para onde vão, por toda a eternidade, os que se portarem mal nesta vida terrena, uma vida que pouco importa porque é apenas uma passagem para a verdadeira vida: A VIDA ETERNA!»

A história é candidamente infantil, cheia de afirmações sem qualquer prova da sua veracidade e, portanto, sem qualquer crédito. Um delírio completo que a Ciência veio pôr a nu, com a descoberta da idade e origem do Universo e, nele, a Terra, planeta de uma estrela entre milhares de milhões de outras, Terra onde, por evolução de um ramo dos primatas, apareceu o Homem.

As datas em que tudo isto se processa são tão colossais que não deixam qualquer hipótese de credibilidade à história bíblica de um Deus-Criador: c. de 13,5 mil milhões de anos para o Universo observável; c. de 5 mil milhões de anos para o sistema solar e a Terra; c. de 3,5 mil milhões para o aparecimento da Vida; c. de 4 milhões para o hominídeo; c. de 50-100 mil para o sapiens sapiens do qual somos nós os brilhantes descendentes.

O que é certo é que o Cristianismo continua sendo a religião com mais seguidores, no mundo, não querendo os fiéis saber se os seus fundamentos são ou não credíveis. Nem discutem a Fé! Acreditam e pronto: são felizes!!!

Os vários ramos em que o Cristianismo se dividiu, os cimas, as lutas dentro das respectivas igrejas pelo poder e supremacia, os desmandos, escândalos e crimes cometidos, ao longo destes 2 mil anos de existência, as mentiras propaladas como verdades eternas pelos seus mentores… atestam o carácter puramente humano da sua criação, escondendo-se os seus mentores atrás da capa de um divino misterioso primitivo, obviamente falso, divino que comanda os destinos dos Homens.

As outras religiões fizeram ou fazem o mesmo ou semelhantemente…

 


segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 280/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos 

Evangelho segundo S. MATEUS – 76/76

 Como que despedindo-nos de Mateus!

 – Discípulo de Jesus ou talvez não! (Não é relevante a controvérsia). Testemunha ocular – ou talvez não! - de quase tudo o que narra no seu Evangelho que escreveu pelo ano 70 DC. Conhecedor das Escrituras que cita ou põe na boca de Jesus para justificar “factos” e actuações do mesmo Jesus. Parece que deveria merecer-nos credibilidade histórica.

O Cristo que nos apresenta é cheio de autoridade, de poder e de coragem… Contudo, não deixa de ser um Cristo enigmático, que nos fez fazer tantas perguntas para as quais não obtivemos respostas, apesar das suas palavras de vida eterna, como dirá Pedro noutra narrativa: “Só tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo! Só Tu tens palavras de vida eterna.” (Jo 6,68)

Mas perguntaríamos ainda a esse Jesus de Mateus: “Para que nos servem as tuas palavras de vida eterna se não as entendemos? Para quê, se não sabemos pô-las em prática? Se não podemos ter certezas absolutas de que - perdoem-nos todos os anjos e santos e sobretudo os Homens, a enfadonha repetição! - a vida eterna existe, o Céu existe, o inferno também existe, Deus (o teu Deus-pai…) existe, pois tudo fica na Fé em palavras, palavras ditas por um suposto Filho de Deus supostamente feito homem?”

Tantas perguntas que fizemos, ao longo destes 75 textos de análise crítica, tantas perguntas que vamos fazendo, Santo Deus! E todas perguntas sem resposta! Realmente, assim, nesta incerteza que nos corrói a alma, sem a certeza do Céu para podermos prepará-lo nesta efémera vida terrena, de nada nos importa aquela bela mensagem de paz e de amor ao próximo do mesmo Cristo-

E, também repetindo-nos, talvez a pergunta mais paradigmática, a mais importante de todas seja: “Como é que Deus nos criou com uma inteligência para raciocinarmos e agora faz depender da Fé a vida que deve ser a essencial - a eterna - pois que esta bem sabemos da sua efemeridade? Não é injustiça inaceitável em Deus? Não é um inadmissível nonsense de Deus?”

Nota final:

Gostámos de ler Mateus. Mas o nosso juízo crítico não lhe pode ser favorável nem considerá-lo verdadeiro no que afirma ou considerar como verdades históricas o que narra sobre Jesus. A sua falta de veracidade histórica ficou bem patente na análise que fizemos aos milagres ou aos estranhos acontecimentos que rodearam a morte e ressurreição de Jesus, o que nos levou a considerar o espírito inventivo/criativo de Mateus – inspirado, se quiserem e, se quiserem, pela enigmática figura do Espírito Santo.

Descredibilizando-se totalmente como historiador com tal criação/invenção/inspiração, Mateus induz formalmente a destruição das bases do cristianismo, desmitificando-se a divindade da figura do Cristo, tornando-O apenas no que parece ter sido: um judeu culto e revoltado com o que via à sua volta, sobretudo nas classes religiosas dirigentes exploradoras do povo, tendo pregado a igualdade de todos os Homens, pois todos filhos do mesmo Deus-Pai, e pregando o amor ao próximo, na construção da fraternidade universal. É por isso, que a sua mensagem continua tão actual e tão necessária de ser ouvida pelos Homens!

Mas… será que Marcos nos vai trazer novidades em relação a esta evidente falta de historicidade de Mateus? Vamos ver!

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 279/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 75/?

 

Quanto ao pós-ressurreição de Jesus, coloca-se também o problema da historicidade dos testemunhos oculares de Mateus e João. Viram ou não viram Jesus ingerir alimentos? Viram ou não viram Tomé meter o dedo no buraco das mãos e a mão no peito de Jesus? Aliás, tal como Maria Madalena que havia abraçado os pés de Jesus, que sentiria Tomé naquele tocar? Verdadeira carne? Estavam os buracos dos pregos e a chaga do lado cicatrizados? Estava o seu rosto lavado do sangue da coroa de espinhos e do suor de sangue no Getsémani? Estava aquele corpo sem mancha das vergastadas sofridas na flagelação? Ou tudo isso pertencia ao passado e Jesus ali estava - mais um milagre! - só com as chagas “necessárias” para que Tomé acreditasse?

As interrogações que bailam na nossa mente são realmente muitas, o que não admira quando o divino se mistura com o humano. Aqui, no corpo ressuscitado de Cristo, como em todos os outros milagres…

E o problema mantém-se: acreditamos em Cristo ressuscitado cuja ressurreição é penhor da nossa própria ressurreição ou não acreditamos e ficamos nós sem ressurreição nenhuma?

Ou ainda: a ressuscitarmos, com que corpo realmente ressuscitaremos? Corpo glorioso que atravessa muros ou corpo de carne e osso que não sabemos para que queremos tal corpo se não tem fome nem sede, nem sentidos para sentir, nem coração para bater, sendo talvez apenas cérebro com um sentir apenas espiritual do perene gozo celeste ou da tristeza eterna, caso o inferno seja a nossa última morada…?

É que aquele “Credo in ressurrectione mortuorum” do Credo católico é tão… tão… tão sem sabermos como, que fica mesmo na fé sem qualquer entendimento, nem quando nem onde e, sobretudo, nem como!…

– “Os onze discípulos partiram para a Galileia. (…) Quando viram Jesus, ajoelharam-se diante dele. Mesmo assim, alguns duvidaram. Então Jesus aproximou-Se e disse: «Todo o poder Me foi dado sobre o Céu e sobre a Terra. Portanto, ide e fazei com que todos os povos se tornem meus discípulos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que Eu vos ordenei. Eis que Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo.»” (Mt 28,16-20)

– Que poder é este que foi dado a Jesus Cristo? Não o tinha já enquanto homem e com o qual realizou tantos milagres e mandou secar a figueira que não dava fruto, tudo lhe obedecendo ao primeiro gesto, às primeiras palavras, ao primeiro pensamento?

E que baptismo? O da água ou da palavra de amor ao próximo com que se alcança o Céu ou… o tão propalado mas tão enigmático Reino de Deus?

O baptismo… O que é realmente o baptismo e para que serve se já se aboliu o inventado pecado original dos inventados Adão e Eva?

Enfim, que Pai? Que Filho? Que Espírito Santo? Que Trindade para nos confundir com mais um mistério acerca da natureza de Deus? Como quiséramos acreditar e ter certezas de que o Céu existe realmente! Como quiséramos!!!

– E a Páscoa?! Ai que recordações - perdoem-nos o entusiasmo repetido! - da missa dos aleluias! Do “Ressurrexit sicut dixit!” Da visita do pároco pela aldeia, dando as Boas-Festas e recebendo o óbolo anual, com as amêndoas deitadas à garotada, à rabatina, pelas janelas das casas solarengas! Como esses tempos ficam esquecidos para sempre nas memórias do tempo que nada esquece, mas que só aproveitam à memória de quem teve o privilégio de os viver!

Esta a Páscoa real! A Páscoa do folar ou do “bolo da Páscoa”, das amêndoas, da profusão de flores que enchiam/enchem igrejas, ruas e procissões, o destapar os altares daquelas lúgubres cores roxas, relembrando a morte de Cristo, as matracas ecoando pelas ruas, nas igrejas, transformadas agora em campainhas que entoam aleluias!…

Doces recordações de infância que, se não fosse o Jesus ter ressuscitado, de certeza que não teríamos na memória… Por isso… pelo menos por isso - mas oxalá que não só por isso! - valeu teres ressuscitado, grande Jesus!…

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 278/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 74/?

 

Mas… voltemos à ressurreição de Cristo!

Muitos são - ou parecem ser - os testemunhos dos que viram Jesus ressuscitado, a acreditar na historicidade dos Evangelhos, escritos, segundo parece, entre o ano 60 e o ano 95, mas dos quais não temos originais, apenas cópias dos finais do séc. III. Primeiro, as mulheres - sendo Maria Madalena a primeira, o que não deixa de colocar a pergunta: “Porque não sua mãe, Maria?” - depois, os discípulos, lá na Galileia. Os soldados não O viram mas foram contar aos chefes dos sacerdotes o que acontecera ao túmulo: pedra removida e túmulo vazio…

Alguns analistas pensam que o tema do túmulo vazio foi introduzido mais tarde nos Evangelhos, para fazer face às heresias gnósticas que, pelos anos 70, negavam a humanidade de Cristo, afirmando que a corporeidade de Cristo era apenas aparente. Assim, Cristo não ressuscitou porque não chegou a morrer. Como o seu corpo era apenas uma aparência, fingiu que morria.

Será então interessante recolher o mais importante que os quatro evangelistas nos contam deste pós-ressurreição de Jesus. Mateus repete o que diz Marcos no seu evangelho, uma dezena de anos mais antigo. Lucas diz que “Pedro correu até ao sepulcro e viu apenas ligaduras”; diz ainda que Jesus falou com os discípulos de Emaús, se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o e partiu-o e… desapareceu da sua presença; e que apareceu a Simão e depois a todos os discípulos dizendo-lhes: “Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo. Tocai-Me e vede: um espírito não tem carne e ossos como podeis ver que Eu tenho. (…) Tendes alguma coisa para comer?” E Jesus comeu diante deles. (Lc 24,12-43) João acrescenta “o outro discípulo” à ida de Pedro ao sepulcro, constatando ambos que apenas havia panos no chão; refere ainda o encontro de Jesus com Maria Madalena; depois, diz que Jesus entra com a porta fechada no local onde estavam os discípulos e fala com eles, sendo ele o único a narrar o episódio do incrédulo Tomé, episódio que é paradigmático: “Chega aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Estende a tua mão e mete-a no meu lado.” (Jo 20,5-27)

– Então… que fazemos com este corpo de Jesus Cristo? Corpo que fala e tem boca e língua, que passa portas fechadas como se fora espírito, mas come como se fora corpo de verdade, corpo que tem fome e sede? E afirmando o próprio Cristo que não é espírito mas de carne e osso? E que convence Tomé exactamente pelo lado material e físico do seu corpo?

Entramos completamente na esfera da confusão-milagre. E já não sabemos o que é mais milagre: se é com um corpo passar uma parede, se com um espírito com forma de corpo comer e beber…

Um analista crítico não admite tais confusões. Duvida, sim, que toda a narrativa seja de factos verídicos, todos os pormenores lhe parecendo ter sido inventados pela magia da pena do escriba, escriba que pretendia atingir um objectivo muito concreto: firmar na fé os primeiros convertidos do judaísmo. Então, os factos reais deixaram de lhe interessar, dando primazia ao que de sensacional pudesse evidenciar a divindade e a messianidade de Jesus. Um feito histórico bem sucedido, a avaliar pelo sucesso da Igreja ou igrejas cristãs!