sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 246/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos 

Evangelho segundo S. MATEUS – 42/?

– “Jesus disse-lhes: «O Filho do Homem vai ser entregue na mão dos Homens. Eles matá-Lo-ão, mas ao terceiro dia ressuscitará.» E os discípulos ficaram muito tristes.” (Mt 17,22-23) Esta certeza de Jesus que vai morrer daquele jeito deixa-nos tão perplexos como a certeza com que afirma a sua ressurreição ao terceiro dia. É que - e de uma vez por todas - ou aceitamos Cristo como Deus ou Filho de Deus e tudo o mais que Ele tenha dito ou feito tem de ser entendido como dito e feito por Deus, ou continuamos duvidando até ao fim, por tropeçarmos a cada passo com tantas interrogações que não dão descanso à nossa alma!
Claro! E então? Deus ou… a dúvida? – Talvez lá para o fim, tenhamos alguma resposta… O que é certo é que aqui os discípulos também não entenderam/aceitaram a morte de Jesus como epílogo de tudo o que passaram por ele e com ele. Não era um reino deste mundo que eles ambicionavam? Não seria neste mundo que eles projectavam o Reino do Céu de que Jesus tantas vezes falava? Da ressurreição, o que eles entenderam, não temos notícia… E é pena não terem questionado abertamente JC da real hipótese de ressuscitar, pois é aqui que reside o âmago da Religião cristã. E ainda – e mais uma vez – : não é pelo facto de dizer que ressuscitará que ressuscitará mesmo. Ao longo destes textos de análise, já confrontámos JC com tal situação: afirma mas não apresenta provas credíveis. Diríamos como os miúdos ao jogo quando há batota: “Assim, não vale!”
No entanto, reflitamos: para qualquer cristão, a morte deveria ser sempre momento de alegria!… Porque não cantar Hossanas e Aleluias quando se sabe que finalmente a alma se libertou do corpo e pôde ir ver Deus face a face no Céu? Então, porque é que a liturgia da Igreja se cobre tanto de luto na morte e paixão de Cristo? Não deveria Ele suportar todas aquelas coisas para entrar na Glória e levar-nos para o Pai? Não deveriam ser sempre de alegria todos os momentos da vida, mesmo e sobretudo o da morte? – É mesmo! Se vamos para o Céu, se vamos para uma eternidade feliz, quando a felicidade na Terra foi sempre tão pouca ou tão difícil de alcançar, não devemos saltar, cantar, dançar até ser dia e não passar dolorosas horas fúnebres numa qualquer igreja sombria, de trevas e choros feita?
– São as incongruências da religião! Nunca se sabe onde acaba o humano e começa o divino. E, assim, continuaremos à procura de… respostas!

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 245/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 41/?

– Jesus assume claramente que vai morrer e vai ressuscitar. Já anteriormente, dissera que àquela geração má seria dado apenas um sinal: o de Jonas no ventre da baleia, três dias e três noites. (Mt 12,40; 16,4) Aqui, fala na sua própria ressurreição. A convicção é muita. As palavras são claras: ressurreição! Mas… porquê uma morte e uma ressurreição? Não teríamos nós de entender tudo isto para acreditarmos sem hesitações?
E somos tentados a perguntar-nos se não foi tudo “planeado” no Céu: vinda de Jesus, anúncio da mensagem de amor ao próximo, a sua não-aceitação por parte dos fariseus e sacerdotes, morte e ressurreição… Uma espécie de destino que Jesus teve de cumprir com o corpo de homem, sendo afinal Deus…
É! Quando ultrapassamos a barreira do humano e entramos na esfera do divino, tudo se torna possível, tudo se torna mistério… tudo se complica para nós!
– Entretanto, outro milagre! Cristo volta a expulsar o diabo dum possesso. Mas aqui, houve um problema: “Já o trouxe aos teus discípulos mas eles não conseguiram curá-lo.” (Mt 17,16)
– Responde Jesus: “Gente sem fé e pervertida! Até quando deverei ficar convosco? Até quando terei de vos suportar?” (Mt 17,17)
– E Jesus explica o impropério. “Gente sem fé” são a multidão e os apóstolos que não tiveram suficiente fé para curar: “«Porque é que nós não conseguimos expulsar o demónio?» «É porque não tendes bastante fé. Eu vos garanto: se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, podeis dizer a esta montanha: “Vai daqui para acolá!” e ela vai. E nada vos será impossível. Só a oração e o jejum podem expulsar este tipo de demónios.” (Mt 17,19-21)
– Tantas perguntas que saltam à nossa angustiada mente com esta explicação/confusão!… Deixemos de parte o facto de se poder tratar de um epiléptico e não propriamente de um possesso do diabo: “Ele é epiléptico e tem ataques tão fortes que muitas vezes cai no fogo ou na água.” (Mt 17,15) e interroguemo-nos: “Porque é que Jesus chama àquela gente “pervertida”? E porque se lamenta de ter de ficar “connosco” mais algum tempo e de ter de nos “suportar”? Estaria cansado? Sem paciência?…
A responder que sim, teríamos de perguntar que Deus era Jesus que tinha tão pouca paciência e se “zangava” por tão pouca coisa… É que aquele homem só queria a cura do filho, mais nada. Não tinha tido sucesso com os discípulos, foi ao mestre. Que perversão há nisso? Onde a falta de fé?
Facto que continua a ser muito estranho é a falta de crença em Jesus daquela enorme multidão, após terem presenciado tantos milagres. Mas isso… é mais um mistério!
Depois, isto de ter ou não ter Fé, é tão complicado! O que é realmente ter Fé? Será aquele acreditar interior, sem qualquer titubeação, de tal modo que o que a gente pede, deseja, mas deseja fortemente… acontece?
E quando é que o milagre se realiza? Apenas quando é “útil” aos olhos de Deus? Quem sabe qual é, quais são os desígnios de Deus para não desejar algo que vá contra a sua vontade? Que valor têm então as nossas ideias, os nossos desejos, as nossas convicções… as nossas orações? E não é humanizar Deus dizer que Ele tem vontade de…?
É! Imaginemos que eu tinha uma Fé de arrasar montanhas. Se não fosse desígnio de Deus que tal montanha fosse arrasada, acaso ela se arrasaria por uma ordem minha, embora cheia de Fé: “Arrasa-te!”?
Mais prático: Imagina-te aí diante de um doente com sida, com cancro ou outra dessas doenças que rapidamente destroem a vida de uma pessoa. Com a tal Fé, ordenas: “Vá, fica curado! A tua e minha Fé te salvaram.” Acaso, ele se curará? – Não! Não se curará porque tu não tens a Fé ou não tens Fé que baste para que o milagre aconteça. Não dizes: “Acaso se curará?”
A Fé!… Dependerá de nós ou, como dizem os mentores dos crentes, é dom de Deus? Se é dom de Deus, porque a não dera Jesus aos discípulos para que também eles curassem? Ou ainda não estavam preparados para realizarem tais maravilhas? E porque não no-la dá a nós, a todos os Homens e a dá em abundância?
Quando começamos a interrogar-nos e a interrogar, as perguntas parecem nunca mais ter fim e os mistérios avolumam-se na proporção directa da nossa descrença na nossa capacidade de acreditar com a tal fé de arrasar montanhas ou em Deus que tal Fé nos quisesse ter dado…
Últimas perguntas: “Porque só a oração e o jejum podiam expulsar tal demónio? Que valor e força tem para Jesus a oração? Que valor tem o sacrifício do jejum ou, simplesmente… o sacrifício? Que Deus é o de Jesus Cristo que “exige” oração e… sacrifício?” E oração a quem? E rezar/pedir ou agradecer o quê?
É! Nunca realmente sabemos se é Deus que “precisa” das nossas orações para nos conceder o que Lhe pedimos, se somos nós que não sabemos fazer de outra forma senão rezarmos e mortificarmo-nos, pensando que Deus vai ouvir as nossas preces e ainda mais se forem “regadas” com o sofrimento que nos impusemos voluntariamente… Como se não bastassem já os outros sofrimentos que a vida nos impõe…
A vida ou o Destino, que bem nos pode dar a sorte na lotaria ou o acidente de morte na curva da estrada…
Este Deus-Pai de Jesus Cristo que parece precisar de louvores e orações dos humanos e o próprio Jesus que manda orar e jejuar são mesmo complicados, não são? E tal complicação ajuda à Fé ou leva a total descrença?

sábado, 16 de novembro de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 244/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 40/?

– Bem! Se os maus terão castigo eterno, pelas suas más acções no Tempo, os bem-aventurados também terão uma recompensa eterna, por algumas boas acções - pequenas ou grandes? Importará? - praticadas nesse mesmo Tempo. Mas esses, como é para irem para o Céu, já não é… escandaloso!
Ao que isto nos levou, Santo Deus! A que imaginações tão humanas e… terrenais! Mas… se somos Homens, de que outra maneira poderíamos pensar?
É! É mesmo difícil misturar o humano com o divino…
E afinal, quem dos presentes do tempo de Jesus viu tal Filho do Homem e tal Reino? Quem? Se tal visão tinha importância para a eternidade, porque dela não se dá conta? Não era tal visão um levantar do véu que nos esconde completamente o mesmo Céu?
– Talvez esse véu se levante um pouco com a transfiguração de Jesus: “Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, os irmãos Tiago e João e levou-os a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E transfigurou-Se diante deles: o seu rosto brilhou como o Sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisto, apareceram-lhes Moisés e Elias a conversar com Jesus. (…) Uma nuvem cobriu-os com a sua sombra e da nuvem saiu uma voz que dizia: «Este é o meu Filho amado que muito me agrada. Escutai o que Ele diz.»
– A precisão de “seis dias depois” é… precisão que perturba um pouco. Lembrar-se-ia assim tão precisamente Mateus, uns quarenta anos após o suposto facto?
É, no entanto, pormenor que pouco ou nada importa. Importa é perguntar a Jesus o porquê desta transfiguração, em ambiente de teofania - rosto que brilha como o Sol, roupas brancas como luz, a nuvem, a sombra, o aparecimento de Moisés e de Elias, a voz do Pai… Faz lembrar a encenação bíblica no Monte Sinai quando Deus apresentou as tábuas da Lei a Moisés, no meio daquela sarça ardente… Óbvia invenção imaginativa e fantasista, está claro!
E porquê a repetição pelo Pai do que já havia dito aquando do baptismo de Jesus: “Este é o meu Filho muito amado…”? (Mt 3,17)
E porquê transfigurar-se apenas perante três apóstolos? É muito investimento divino para tão pouca produtividade…, o que nos leva a concluir facilmente que tal transfiguração não existiu realmente mas foi, como os milagres, fruto da imaginação de Mateus que queria apresentar aos seus leitores JC como realmente divino ou Filho de Deus.
E que voz teriam eles realmente ouvido? Forte? Pausada? Veneranda?…
Também aqui, como repetidamente no A.T., Deus a ter uma voz humana, é realmente humanizar, é descredibilizar Deus, não é?
E como é que os três privilegiados “descobriram” que eram Moisés e Elias?…
Enfim, porque é que não foram todos os discípulos à montanha? Quem aliás teria contado a Mateus o maravilhoso acontecimento, para que no-lo narrasse no seu Evangelho?
E quando? É que Jesus, novamente sem se entender porquê, ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos.” (Mt 17,9)
É! Porquê envolver de mistérios e de maravilhoso a SALVAÇÃO do Homem? A tua, a minha, a nossa salvação? Tua e minha, pois, e sem qualquer egoísmo, que me importa a mim a tua salvação se eu me vou perder para sempre? Ou igualmente para ti: não te importa salvares-te primeiro a ti e depois os outros?
Aliás, o que nós solidariamente queríamos é que houvesse salvação para todos, mas sem esta carga tão pesada de mistérios, tão pesada, tão pesada que não conseguimos libertar-nos dela por mais esforços que façamos… Estamos completamente subjugados! Sem qualquer resposta… Valha-nos Deus!

sábado, 9 de novembro de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 243/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 39/?

– “O Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a própria conduta. Eu vos garanto: alguns daqueles que estão aqui não morrerão sem terem visto o Filho do Homem vir com o seu Reino.” (Mt 16,27-28)
– Novamente, o antigo “Dia de Javé” ou o “Dia do Juízo ou do julgamento final”… E novamente as palavras enigmáticas, como sempre, ninguém conseguindo entender e explicar o que é tal dia e tal vinda, o que é vir na glória do Pai, que anjos ou como o Filho do Homem retribuirá a cada um conforme as suas obras.
Também mais uma vez Jesus Cristo se atribui a Si o epíteto de “Filho do Homem”, que parece ter um significado real de “ser humano” e um religioso de “Messias”, ficando nós pelo “parece”, o que não interessa a uma análise crítica.
E mais uma vez, os anjos, figuras bem simpáticas mas nunca explicadas como necessárias na “economia” divina, num Céu que nos é totalmente vedado, porque envolto em mistério total, apesar de Cristo afirmar que veio abrir-no-lo e no-lo oferecer… Então, pergunta acutilante: “Os anjos existem como seres reais ou apenas como criações do imaginário de videntes e místicos?” Ora, sendo apenas criações imaginárias farão parte de um Céu imaginário onde está sentado Deus no seu trono também imaginário. E para os críticos a imaginação é muito importante mas não prova coisa alguma.
Mas… deixemo-nos levar nas asas da imaginação!… E vemos ali, no alto trono, o Supremo Juiz. De ceptro na mão. Logo junto, rodeando-O, um pelotão de anjos, prontos a obedecer a qualquer ordem vinda da sua voz altissonante. Além, uma interminável multidão de corpos, mais ou menos gloriosos… - todos sorridentes?… todos ansiosos?… todos impávidos e serenos?… - todos… esperando! Tocam as trombetas - que solenidade é preciso! E todos se perfilam, alinham, aprumam! Então, desenrolando as suas folhas de pergaminho brilhante - como convém a folhas de papel usadas no Céu - o Supremo Juiz…, - o Pai, o Filho ou o Divino Espírito Santo? Ou… a trindade em uníssono?… - entrega as folhas ao pelotão de anjos, ordenando-lhes: “Condenados ao inferno, à minha esquerda! Eleitos do Céu, à minha direita!” E, abrindo alas, separando corpos, tocando aqui em eleitos, empurrando acolá condenados, tudo é cumprido conforme o que está escrito pelo Céu, sendo num ápice a ordem executada! Na eternidade, não há tempo a perder!… Os condenados têm que rapidamente começar a sofrer o castigo eterno e com a mesma rapidez terão os bem-aventurados de iniciar o seu gozo também eterno… Então, logo ali, mesmo antes de ultrapassarem a soleira da porta estreita do paraíso… há largos sorrisos em bocas espirituais, gargalhadas de imaginários alvos dentes luminosos, saltos, pulos, danças ao som de músicas angélicas e celestiais… por parte dos eleitos! Mas… tal contentamento é abafado pelos choros, gritos estridentes, ranger de dentes raivosos, revoltas desesperadas… por parte dos condenados. E, enquanto uns louvam a Deus que os cumulou de bênçãos, outros Lhe chamam todos os piores nomes que alguém possa imaginar, pois… perdido por um, perdido por cem! - já nada têm a perder!… - haja pelo menos, na primeira hora da eternidade, algum tempo para desabafar e gritar contra tal condenação… injusta - está claro!- do ponto de vista de quem sofre o castigo. Pelo menos, por ser condenação eterna devido a pecado cometido no tempo que, por ser tempo, nunca poderia caber na dimensão da eternidade! “Que injustiça a justiça divina!” - gritam desesperados, mas sem retorno! Quem os ouvirá senão Deus?
E com que ouvidos? E com que resultados? – Nada! Absolutamente nada! A ordem divina é irreversível para todo o sempre, in aeternum, por toda a eternidade sem fim… amén!
Não! Não digamos “amén!” pois trata-se de uma tremenda injustiça condenar alguém para a eternidade por algo praticado no tempo… Assim, JC ter-se-á enganado e mais uma vez o seu “Eu garanto-vos” não garante coisa alguma. E, a haver qualquer coisa depois da morte, esperemos que realmente apenas haja um… Céu pois o Inferno eterno é um final impossível para quem viveu no Tempo!

sábado, 2 de novembro de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 242/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 38/?

– Mas as perguntas voltam em catadupa: “O que é realmente seguir Jesus Cristo? O que é renunciar a si mesmo? O que é tomar a nossa cruz e seguir a Jesus? O que é salvar a vida? O que é perder a vida por causa de Jesus?”
E como é que a perdemos se a quisermos salvar e a ganhamos se a perdermos por amor de Cristo?
– O trocadilho é bonito. Até parece cheio de significado. Mas ficamos sem saber se seguir a Cristo é entregar-se aos irmãos e à comunidade; se tomar a cruz é simplesmente aceitar resignadamente o sofrimento e as intempéries da vida - e às vezes são tantas!…; se o ganhar o mundo inteiro é o deixar-nos levar pelas preocupações das riquezas, do bem-estar, dos prazeres desta vida, querendo “servir a dois senhores: a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24; 10,24; Lc 16,13)… tendo que seguir o tremendo conselho: “Se o teu olho ou a tua mão te levam ao pecado, arranca-os e deita-os fora, pois é melhor entrar no Céu sem um olho ou sem uma mão do que ser lançado no inferno com o corpo inteiro.”… (Mt 5,29; 18,8)
Ou… seguir a Cristo será apenas o cumprir os mandamentos da Lei mosaica – lei que repete o antigo Código de Hamurabi – que é bem evidente que se devem cumprir para sermos dignos da nossa condição de Homens que querem ou precisam de viver em sociedade e para quem a liberdade de uns acaba onde começa a liberdade dos outros, tendo todos os mesmos direitos?
Enfim, porque é que - grande e incontornável pergunta! - as palavras de Jesus Cristo nos deixam sempre com tantas interrogações a que ninguém sabe responder? Porquê? Que objectivos? Não parece contradizer-Se a Si e à sua própria mensagem? Não vinha Ele para nos salvar? Veio afinal para nos confundir? Deu-nos com uma mão - a sua mensagem de amor ao próximo, os seus milagres, o seu poder interventor junto das forças da Natureza, curando tudo quanto era doença, e junto dos espíritos malignos, expulsando tudo quanto era demónio, começando por repeli-lo quando Ele próprio foi tentado no deserto (Mt 4,1)… - e tirou-nos com a outra toda a esperança no Céu, ao deixar-nos nesta montanha de dúvidas que diria inultrapassáveis?
Dúvidas do Céu, do Pai, do Paraíso, da eternidade que apregoa nas palavras e até nas obras mas a Ele parecem confinar-se, nada sobrando para nós…
É tudo muito complicado, não é? Que pensarão todos aqueles que tiveram a “boa vontade” de nos ler até aqui e acompanhar-nos em todas estas nossas ansiosas buscas da VERDADE?
Finalmente, e quase repetindo-nos, outra angustiante pergunta: “Resistirá” a divindade de Jesus Cristo, em que realmente quiséramos acreditar, a tantas perguntas sem resposta?…
– Mas voltemos à frase fantástica: “Que adianta ao Homem ganhar o mundo inteiro se vem a perder a sua alma?”. Entende-se a vida eterna, está claro, a vida da alma, que do corpo parece não interessar falar… E realmente nada interessa, absolutamente nada ganhar uma vida terrena, bens terrenos, tão passageiros e efémeros, eles e a vida, que aliás deixamos para os outros que nem sabemos bem quem são ou serão, como já se queixava Coélet no Eclesiastes… (Ecl 2,18-19) O que interessa é a vida eterna, não há dúvida! Aliás, Cristo repete a ideia de “Não acumuleis riquezas na Terra, perecíveis, esforçai-vos por acumular riquezas no Céu.” (Mt 6,20)
Valerá a pena repetir que é dessa vida que andamos à procura, melhor, da certeza de que ela existe realmente? E que Jesus ainda não nos deu nenhuma certeza convincente de que tal vida exista? Só palavras?!…
Depois, com franqueza, mutilar o corpo, arrancando mãos e olhos – ou, no limite, suicidando-nos – para não perdermos a vida eterna até teria sentido se essa vida fosse uma evidência. Mas como tudo – TUDO! – leva a crer que é uma miragem, uma total fantasia, seríamos realmente muito pouco inteligentes se tal fizéssemos ou se de qualquer modo maltratássemos este nosso querido corpo que nos traz vivos…