sexta-feira, 22 de março de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 210/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos 

Evangelho segundo S. MATEUS – 6/?

– Tantas coisas que poderíamos perguntar a Jesus Cristo sobre os complementos que decidiu fazer à Lei Mosaica! É que, com tal código de tão apertadas leis, supostamente inspiradas por Deus, o Reino dos Céus é mesmo para muito poucos!… Pois quem não tem vontade de chamar “estúpido” ao seu semelhante, seja ou não irmão, que não vê a evidência à frente do nariz? Que homem não entra em devaneios perante beldade que se lhe apresenta bamboleante, insinuosamente bela, diante dos olhos?… (Esqueceu-Se aqui Jesus que a mulher também gostará de apreciar outras beldades masculinas, que não o seu marido…)
E alguém ainda teria olhos ou mãos para arrancar, se acatasse tal sugestão de Jesus Cristo?
E na vida, é sempre tudo assim “sim-sim”, “não-não”? Ou será esta afirmação uma réplica do “Quem não é por Mim é contra Mim”? Ou “Se não és frio nem quente… vomito-te!” (Ap 3,16) Ou ainda: “Ninguém pode servir a dois senhores: ou serve a Deus ou às riquezas e ao Diabo.”(Mt 6,24)? Concluir que outra qualquer atitude é obra do Diabo, não nos parece sensato.
– Pela primeira vez, aparece o inferno e repete-se o Diabo que já aparecera a tentar Jesus! Cristo fala deles com um à-vontade que espanta. É como se não tivesse dúvidas, como se fossem verdades inabaláveis, indiscutíveis, tidas como certas por toda a gente, desde toda a eternidade…
E nós a termos tantas dúvidas!… E a continuarmos sem saber o que realmente é o inferno e o que é realmente o Diabo. E quem os criou… E para castigar quem…
Estávamos à espera que Cristo no-lo dissesse e… nada! Facto consumado: existem e… pronto!
Talvez mais tarde haja alguma resposta! É que o inferno e o Diabo fazem parte das nossas angústias existenciais. Se existem, poderemos ir lá parar por toda a eternidade, o que não seria de todo agradável!… Se são apenas símbolos, não sabemos de quê!
Depois, ir para o fogo do inferno por chamar “estúpido” ao seu irmão é… demasiado castigo para tal tipo de falta. Estaria Jesus a falar a sério ou a… exagerar, pensando que ainda estava a falar para o “povo de cabeça dura” do A.T?
Com o “arrancar do olho ou da mão que levam ao pecado, e mais vale perder uma parte do corpo do que ser todo inteiro lançado no inferno”, pressupõe Jesus que também exista realidade corporal depois da morte, que exista ressurreição da carne, que o inferno seja um lugar!… Como se fora certeza! E nós também aqui a termos tantas dúvidas e a não saber com que corpo passamos desta para outra vida,…
… se é que há outra vida…
… se é que passamos!…
… com ou sem mãos, com ou sem olhos, com muitas ou poucas rugas, corpo do jovem que fomos ou do velho com que morremos… Não nos poderia ter Cristo elucidado? Não facilitaria a nossa fé num céu ou… num inferno realmente existentes?
É que parece lógico que, se houver um céu para os bons, também terá forçosamente de haver um inferno para os maus, o que não deixa de ser dramático… Mas… porque parte Jesus de um céu e um inferno realmente existentes sem comprovar que realmente existem? Nas Escrituras do A.T., pouco ou nada de convincente se fala de tais supostas realidades…
Aguardemos também que haja respostas noutros lugares…
Enfim, perguntaríamos ainda a Jesus o que é aquele “trono de Deus”, o que é isso de “Deus ter pés e a Terra como suporte” e quem é aquele “grande Rei de Jerusalém”…
– Note-se ainda que, para além das duras invectivas, atrás referidas, Jesus também “ordena” a reconciliação com o seu semelhante, se desavindo (Mt 5,23-24), paciência e generosidade (Mt 5,38-42), amor aos inimigos (Mt 5,43-48), a esmola sem alarde (Mt 6,1-4)… revogando velhos ditames – embora “sagrados” porque das Sagradas Escrituras! – como o “olho por olho, dente por dente”, o “Amarás ao teu próximo mas odiarás o teu inimigo”.(Mt 5,38 e 43)


sexta-feira, 15 de março de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 209/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 5/?

– Voltemos à primeira felicidade: “Felizes os que têm espírito de pobreza porque é deles o Reino dos Céus!” (Mt 5,2) Não sabendo nós o que é esse Reino, muitas vezes referido mas nunca explicitado, mais parece que Jesus está consolando aqueles que, por terem nascido pobres e não conseguindo alcançar riqueza material, tenham ao menos a esperança de ser “ricos” na outra vida, nos enigmáticos Céus…
O mesmo acontecerá com os que choram, os humildes, os que cumprem a vontade de Deus…
(também não percebendo o que é isso de cumprir a vontade de Deus) e ainda, os perseguidos por cumprirem essa vontade, os insultados e caluniados por serem discípulos de Cristo…
É: à desgraça e ao sofrimento contrapõe Jesus o sempre misterioso Céu. É a dicotomia sofrimento-recompensa! Problema é que nunca provou que o seu Céu existia e que merecia todo aquele sofrimento para o alcançar, ficando nós sem saber o que fazer com tal mensagem…
É interessante constatar que, por seis vezes, usa Jesus a palavra DEUS. A autoridade com que fala de Deus parece enorme mas, pelo desenrolar dos acontecimentos, não há dúvida de que não foi muito convincente para com os do seu tempo.
–“Façam brilhar a luz diante de toda a gente, para que vejam as boas acções que vós fazeis e louvem o vosso Pai que está nos Céus.” (Mt 5,16)
– Aparece, pela primeira vez, “o vosso Pai que está nos Céus”. Porque disse Jesus “vosso” e não “nosso”? Não era Ele também Filho desse Pai? Ou aqui não quis ser nosso irmão, por sermos tão pouco “divinos”?!… E quem é realmente aquele Pai?
–“Não pensem que Eu vim acabar com a Lei de Moisés ou com o ensino dos profetas, (…) mas sim dar-lhes cumprimento. (…) Eu vos garanto: Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu.” (Mt 5,17-20)
– A Lei de Moisés! Acaso ultrapassou a dimensão do humano? E que dizer desta primeira “chicotada” nos doutores da Lei e nos fariseus?
Por outro lado, Jesus completa e não poucas vezes corrige as Escrituras, parecendo contradizer-Se com o que anteriormente dissera. Ora, vejamos:
Ao “Não matarás!” acrescenta: “Não te irritarás contra o teu semelhante, não lhe chamarás imbecil, não lhe chamarás estúpido…”: “Quem chamar estúpido ao seu irmão, merece ir para o fogo do inferno.” (Mt 5,22)
Ao “Não cometerás adultério!” contrapõe: “Todo aquele que olha para uma mulher e deseja possuí-la, já cometeu adultério no seu coração.” (Mt 5,27-28)
E aconselha terrivelmente: “Se o teu olho direito te faz pecar, arranca-o e atira-o para longe de ti. (…) Do mesmo modo, se a tua mão direita te faz pecar, corta-a e atira-a para longe de ti. Mais vale perderes uma parte do teu corpo do que ele ser todo inteiro lançado no inferno.” (Mat 5,29-30)
Ao “Não jurarás falso, mas cumprirás os teus juramentos para com o Senhor”, contrapõe: “Não jureis de modo algum: nem pelo Céu, porque é o trono de Deus; nem pela Terra que é o suporte onde Ele apoia os pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei; (…) nem pela tua própria cabeça, porque não podes fazer com que um só dos teus cabelos fique branco ou preto. Basta que digas «sim» quando é «sim» e «não» quando é «não». Tudo o que disseres para além disto é obra do Diabo.” (Mt 5,33-37)
(Por extenso e importante, o comentário de análise será objecto do próximo texto)

sexta-feira, 8 de março de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 208/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 4/?

– João Baptista é preso e Jesus retira-Se. (Mt 4,12)
Mateus vai tentando provar com as Escrituras, tudo o que vai acontecendo a Jesus. (Mt1,23;2,6 e 18;3,3; 4,15-16) É uma preocupação compreensível, na persecução dos seus objectivos. Mas, não deveria Jesus impor-Se por Si só, sem ter de ser para cumprir tais Escrituras? Até parece um “joguete” de uma qualquer força que Lhe é exterior! Aliás, será exactamente isso que Lhe será imposto, sobretudo na hora da morte que ele obviamente não queria, como veremos…
– “Pregava a Boa Nova do Reino, dizendo: «Convertei-vos, porque o Reino do Céus está próximo.» (…) Traziam-Lhe todos os que sofriam de várias doenças e males: endemoninhados, epilépticos e paralíticos. E Jesus curava-os a todos.” (Mt 4,17 e 23-24) E os pescadores Simão e André, Tiago e João foram atrás dele, obedecendo imediatamente ao seu chamamento. (Mt 4,18-22) 
Mas quem não seguiria Jesus, ao ver tantos milagres ali assim realizados com o à-vontade de quem supera todas as forças, todas as leis da Natureza? (Só não sabemos o que aconteceu às mulheres e filhos dos que seguiram Jesus, ficando sem o ganha-pão de pais e maridos…)
Também Jesus repete, sem nada explicitar, o “Reino dos Céus” de João Baptista. Assim como o seu famoso apelo “Convertei-vos!” É de supor que fosse de fácil entendimento para os da época.
– “A multidão que O seguia era enorme. Vinha gente da Galileia, das Dez Cidades, de Jerusalém, da Judeia e de além do Jordão.” (Mt 4,25)
– Imaginemos Jesus hoje a curar todos os doentes que lhe apresentavam. Quem que tal visse não o seguiria? Não viriam povos de todo o Planeta para O verem, O ouvirem, O seguirem, serem curados?
E assim todos se salvariam, atingindo Deus-Pai totalmente os objectivos do envio do seu Amado Filho à Terra… Então, três perguntas se impõem: 
1 – Porque é que perante tantos e tais milagres, as multidões não O aceitaram e vieram a condená-Lo à morte? 
2 – Sendo Deus omnisciente e sabendo do impacto a nível salvífico, que teria, com os actuais meios de comunicação social a nível mundial, a vinda do seu Filho à Terra, porque O enviou naquele tempo e não O envia agora?
3 – Como é possível que a fama dos milagres não tivesse ultrapassado as fronteiras da Palestina e viesse gente de todos os cantos do mundo conhecido de então para os presenciar?
Sem respostas do “Céu”, continuemos em busca, aqui, na Terra!
– Cada felicidade apregoada no chamado “Sermão da montanha”, tem o seu quê de ternura e… de mistério. É talvez a primeira grande ligação da Terra ao Reino dos Céus ou… a Deus. E então..., felizes serão os pobres de espírito (isto é, os que têm espírito de pobres), os que choram, os humildes, os que obedecem a Deus, os misericordiosos, os sinceros, os pacíficos, os que sofrerem perseguições por causa de obedecerem a Deus… (Mt 5)
– Mas felizes… onde? Na Terra ou no tal enigmático Reino dos Céus?
Adivinhando a pergunta, Jesus responde: “Alegrem-se e encham-se de satisfação porque é grande a recompensa que os espera no Céu.” (Mt 5,12)
Infelizmente, ninguém lhe perguntou onde é esse Céu. É que, conhecedores de tal mistério, toda a gente tentaria saber como alcança-lo. Como nada disse a respeito, o resto do sermão em pouco entusiasmou as gentes que o ouviam…
E faltam os outros. Os que não têm espírito de pobreza, os que se divertem e riem, os que se orgulham dos seus feitos heróicos mas à custa do sofrimento de tantos inocentes, os que não obedecem a Deus porque não sabem bem o que isso é, os que não usam de misericórdia, os que mentem, os que promovem a guerra, os que fogem às perseguições… Esses todos - e serão tantos! - vão para onde? – Certamente para o inferno. Se é que o Inferno com os seus “divertidos” diabos também existe… Mas talvez mais tarde tenhamos respostas, pois irem assim todos para um inferno eterno, tanto o assassino como aquele que apenas não usou de misericórdia, é injustiça não aceitável aos olhos dos Homens quanto mais aos olhos de Deus…


sábado, 2 de março de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (AT) - 207/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 3/?

– “Então, Jesus, conduzido pelo Espírito Santo, foi para o deserto, a fim de ali ser tentado pelo diabo.” (Mt 4,1)
– Jesus ser tentado pelo diabo é… diabólico! Não se percebe qual o interesse de uma tentação a um Filho de Deus. E de ser esse Filho de Deus “obrigado”, pelo Espírito Santo, a ser tentado. É tudo tão estranho! Bem nos parece tal “facto” ser fruto da prodigiosa imaginação de Mateus, como o seu desfecho:
– Vencedor das tentações do diabo, “aproximaram-se alguns anjos que O começaram a servir.” (Mt 4,11)
– Fácil, sendo-se Deus, vencer o diabo, não é? Difícil de entender é que sendo o diabo esperto, ainda vá tentar Jesus, sabendo da derrota inevitável! Ou… a tal foi obrigado? - perdoe-se-nos a disfarçada ironia! E os anjos a servirem Jesus? Que anjos? Que manjares serviriam a um Jesus que jejuou quarenta dias e quarenta noites? Manjares da Terra ou… do Céu? Que maravilhoso este que possa merecer qualquer credibilidade? Não mergulha no mais profundo fantástico da imaginação, do mistério, do… milagre? Como se terá realmente comportado Jesus no meio deste maravilhoso humano-divino? Aliás, que Cristo jejuou quarenta dias e quarenta noites? O Jesus-homem ou o Jesus-Deus? Enfim, quem presenciou tal maravilhoso para dele Mateus nos dar testemunho, uns 40 anos mais tarde?
Os quarenta dias e quarenta noites fazem-nos lembrar os quarenta dias e quarenta noites que Moisés passou no Monte Sinai… E também os quarenta anos que o povo “eleito” errou no deserto, depois de ter saído do Egipto…
Mas, porque precisou de quarenta dias e quarenta noites de jejum? Para ser tentado pelo diabo?… Aliás, que milagre seria maior: virem os anjos servirem Jesus ou simplesmente Jesus não ter fome num corpo que estaria completamente dominado pelo espírito divino que o informava? Enfim, que anjos tiveram a dita de saírem da “monotonia” celestial de sempre louvarem e bendizerem ao Senhor, para “descerem” até à Terra e darem de comer - e certamente de beber! - a Jesus Cristo, lá numa bela paisagem de deserto, de dunas de areia rosa ondulando, tão diferente das paisagens sempre floridas e verdejantes do paraíso?…
“Descer”!… Acaso o Céu fica lá em cima? É que não há acima nem abaixo mas apenas espaço sideral! Ah, como humanizamos o inumanizável divino!… Somos mesmo incorrigíveis!
E a quem serviu o sacrifício do jejum? Ao próprio Jesus enquanto homem? Uma espécie de desintoxicação alimentar e preparação para as longas caminhadas pela Galileia?
Resta-nos comentar, mais uma vez, os anjos! São sem dúvida figuras simpáticas! Mas, também sem qualquer dúvida, fruto da imaginação religiosa de muitos. E aproveitados aqui, por Mateus, para irem satisfazer as necessidades de um corpo “divino” esfomeado, na saga imaginativa das tentações de Jesus. Divina comédia!