quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Onde a Verdade da Bíblia? – Análise crítica – Novo Testamento (NT) -296/?

 

 “Afinal, de quê, como e onde viveram Jesus e os seus discípulos, durante aqueles 3 anos de vida pública?” – 1/2

 Antes mesmo de acabarmos a análise crítica do Evangelho de Lucas, debrucemo-nos sobre este assunto que, parecendo trivial, é da máxima importância, em termos histórico-religiosos:

 Numa perspectiva humana (levando a análise crítica às últimas consequências…):

Nada sabemos – apenas conjecturas as mais diversas – de como e onde viveu Jesus, dos 12 aos 30 anos. Se trabalhou como carpinteiro junto de seu pai José, apenas aprofundando o estudo das Escrituras, se ganhou algum dinheiro e o guardou, pensando na sua vida futura de pregação do Reino, se viajou pelo mundo conhecido de então, indo até ao Egipto, ali mais perto, ou até à longínqua Índia ou Tibete onde terá aprendido artes de curandeiro e contactado com os ensinamentos de Confúcio e Buda. Aqueles ter-lhe-iam permitido realizar os inúmeros “milagres” de que os evangelhos são eco; estes, a inspiração para os seus ensinamentos, nos quais se destacam o amor ao próximo, o perdão, a compaixão e as Bem-aventuranças.

Aliás, em que momento da vida terá Jesus decidido o que seria mais tarde? Logo, aos doze anos, a avaliar pelo que disse a seus pais, quando ficou no Templo a discutir com os doutores: “Não sabíeis que me deveria ocupar das coisas de meu Pai?” (Lc 2, 41-52). A frase é de um adolescente rebelde que quer afirmar a sua personalidade. Mas poderia revelar algo de mais profundo, revelando inusitada maturidade.

Os evangelhos, única fonte de que nos socorremos, apesar de poderem justamente ser apelidados de pseudo-históricos, já que não lhes interessavam propriamente a verdadeira história de Jesus mas uma história que o divinizasse e fizesse dele um líder carismático, um Cristo, um Messias, um Filho de Deus, ocupando-se apenas dos “factos” relevantes para atingirem esses objectivos…, pouco dizem sobre o assunto: de como viviam, de quê e como e onde se alimentavam, vestiam, calçavam, dormiam. Apenas, e esporadicamente, referem alguns repastos em casa de conhecidos ou amigos.

As perguntas são pertinentes: Se não trabalhavam – “os discípulos deixaram tudo e seguiram-no!” – como se sustentavam, tanto Jesus como os doze apóstolos? Aliás, todos tinham família. Como resolveu cada apóstolo – quanto a Jesus é provável que não tivesse qualquer compromisso matrimonial, embora tal situação não se enquadrasse na cultura judaica – o problema do seu sustento?

Sabemos que havia um dos doze, Judas, que tinha a seu cargo a gestão dos “fundos” recolhidos, guardados na célebre “bolsa de Judas”. Logo, deduzimos que viveriam de dádivas, esmolas e doações que simpatizantes do movimento, que entretanto se gerou, outorgavam. Mas… foram três anos a esmolar e a viver à custa da caridade alheia!

Será caso mais de condenar que de louvar. Até porque Jesus criticava furiosamente fariseus e escribas e sacerdotes por explorarem o povo com impostos devidos ao Templo e com os negócios que por lá se faziam sobretudo em tempos de festas e de oferendas das primícias.

Ora, Jesus e os doze teriam podido perfeitamente trabalhar algumas horas por dia para ganharem sustento para si e família, se a tivessem, e pregar a dita Boa Nova da vinda do Reino de Deus, ao fim do tarde e princípio da noite.

Um fantástico exemplo que, infelizmente, não aconteceu! É que este esmolar prolongou-se pelos séculos, vivendo hoje as igrejas e seus eclesiásticos das inúmeras dádivas dos fiéis, algumas tendo um património invejável, permitindo vidas faustosas, contrastando com o exemplo de Jesus que não tinha sequer “uma pedra onde reclinar a cabeça ao fim do dia”… (E nunca é demais recordar que à custa da Fé e venda de indulgências, pregando o medo do inferno, o papado de Roma chegou a ter, em tempos medievais e até à Reforma de Lutero, poder sobre os impérios e reinos europeus, exigindo-lhes impostos para poderem ser empossados como reis ou imperadores que, depois, eram coroados, em cerimónias solenes nas catedrais de seus países… E aí temos ainda o riquíssimo Vaticano herdeiro desses áureos tempos, mais do que as igrejas ortodoxas e protestantes, excepção feita à Igreja Universal do reino de Deus do Brasil, dirigida actualmente pelo seu extravagante e rico bispo Macedo… Nem vale a pena falar dos muitos crimes praticados pelas igrejas, tudo em nome de Deus…, tal como ainda hoje fazem os muçulmanos radicais.)

No entanto, não há dúvida que o modelo escolhido por Jesus facilitou a todos o desempenho da missão para a qual se julgavam fadados por… Deus-Pai, defendendo inclusive Jesus que a pregação era um trabalho pelo qual deveriam ser remunerados: “Todo o trabalhador tem direito ao seu salário” (Mt 10,10 e Lc 10,7), mote que já vinha das antigas Escrituras e repetido depois por Paulo, em 1Tm 6,5!

E, mal ou bem, certamente vivendo sem quaisquer luxos, lá sobreviveram, tanto eles como suas famílias que, a partir do “Deixaram tudo e seguiram-no”, ficaram sem o principal braço de trabalho que as alimentava.

(Continua)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 295/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. LUCAS – 13/?

 – “Quando ofereceres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os vizinhos ricos, porque eles irão por sua vez convidar-te, a fim de te compensarem. Quando deres uma festa, convida os pobres, os inválidos, os coxos e os cegos. Assim serás feliz, porque esses não têm com que te recompensar, mas serás recompensado por Deus, na ressurreição dos justos.” (Lc 14,12-14)

– Jesus é espectacular, não há dúvida! Quem se lembraria de convidar tal gente? É a felicidade do dar sem pensar em receber, ou recebendo apenas, em troca, sorrisos, “obrigados!”, felicidades estampadas em duros rostos marcados pela má sorte da vida…

Mas… convidar rotos e maltrapilhos, drogados e pedintes, cegos e sem-abrigo… para a minha mesa, na minha própria casa, não é, no mínimo, perigoso? E se eles me cobiçam copos, facas e toalhas? E se além da festa, do bom comer e do bom beber, querem… o meu dinheiro e - quem sabe? - a minha vida? E se espalham em minha casa, hepatites, bebendo nos meus copos, ou sida ameaçando-me com seringas infectadas, ou qualquer outro vírus? Melhor mesmo é dar-lhes comida no seu canto ou… o sempre desejado dinheiro para alimentar confessáveis vícios…

Bem, não há dúvida de que, com todos estes receios, deitamos a perder toda a beleza da mensagem desta narrativa. É caso para perguntar com Ele: “Se acaso convidares só quem te pode recompensar, que merecimento terás?” (Mt 5,46)

– E… voltamos à ressurreição! Dos justos ou… de qualquer Homem, pois se um ressuscita, todos ressuscitarão ou para o Céu ou para o inferno, não é?

E as palavras de Jesus continuam sem hesitações, como que inquestionáveis, como que sendo a ressurreição dado adquirido, compreendido e aceite por qualquer ser animado de razão…, causando-nos até surpresa como é que nós ainda duvidamos, ainda não nos deixámos levar por esta onda de Fé que deveria, pela força da palavra de Jesus, tornar-se em certeza racional absoluta…

Enfim, limitações do racionalismo ou…, ou simplesmente porque o conceito de ressurreição é linda música para os nossos ouvidos, não passando, no entanto, de pura fantasia de quem prega tal conceito!

O Céu de Jesus, a ressurreição pregada como dado adquirido, o Deus recompensador dos justos e, obviamente, o Inferno para os maus, nesta vida, continuam a não nos merecer qualquer credibilidade, pois nunca apoiados em qualquer fundamento racionalmente aceite. E a Fé não basta ao Homem! Nem muito menos à… VERDADE!

sábado, 16 de janeiro de 2021

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 294/?

 

 À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. LUCAS – 12/?

 – Embora a “culpa” seja das Escrituras Sagradas que “endeusaram” o sábado, o que é certo é que não se entende como é que a força de um milagre não faz mudar a mentalidade de um sacerdote. Que trevas haveria na sua mente? Seria apenas mente perversa ou…? Foi assim: “Jesus estava a ensinar numa sinagoga em dia de sábado. Havia lá uma mulher que há dezoito anos estava doente. Andava muito curvada, sem poder endireitar-se porque estava possessa de um espírito mau. Quando Jesus a viu, chamou-a e disse: «Mulher, estás livre do teu mal.» Pôs as mãos sobre ela e nesse momento a mulher endireitou-se e começou a louvar a Deus. O chefe da sinagoga ficou furioso porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado.” (Lc 13,10-14)

– É realmente espantosa a “força” com que certas pessoas interpretam certas leis…

Ou então como é que se fazem certas leis, colocadas na boca de Javé - e quantos “crimes” não se fizeram no Antigo Testamento por alguém ter trabalhado em dia de sábado: logo ali morto ou condenado ao extermínio! - leis que “obrigam” homens a pensarem de tal modo…

A doença da mulher ser atribuída a um espírito mau que a possuía é, pelo menos, de alguma ingenuidade, senão de incredibilidade. É que espanta a quantidade de espíritos maus – a fazer fé nos evangelhos – que havia naqueles tempos, naqueles lugares. Mas… lá estavam Jesus e os discípulos a quem ele deu o poder para expulsá-los, devolvendo normalidade aos que por eles eram afectados!

Claro que, aqui, Jesus defendeu a vida, indo contra as antigas Escrituras pelas quais o judaísmo se regia, preterindo o sábado, não deixando de chamar-lhes “hipócritas!”…

– Aliás, episódio semelhante acontece noutro sábado em que Jesus fora comer a casa de um dos chefes dos fariseus, curando ali um homem que sofria de uma doença que o trazia inchado, perguntando-lhes: “A Lei permite ou não curar em dia de sábado?” E eles não foram capazes de responder-Lhe. (Lc 14,1-6)

– É! Não sabemos como “julgar” as ditas Sagradas Escrituras… Lembram-nos um dos traumas da nossa infância em que nos diziam que aquelas manchas da Lua representavam um homem com um molho de silvas às costas, silvas que fora cortar em dia de domingo, sendo logo ali castigado por Deus, atirando-o para a Lua…

Influência, sem dúvida, da leitura da Bíblia que era o livro de cabeceira de pais e de avós…

– E que Céu nos revelará o sábio conselho de Jesus para não nos sentarmos nos lugares de honra da mesa antes de sermos convidados? O céu da boa educação?… “Pois todo aquele que se engrandece será humilhado e todo aquele que se humilha será exaltado.” (Lc 14,11)

– Exaltado…, humilhado…, não sabemos aonde. Se na Terra, se… no tão desejado mas tão desconhecido, tão inexistente Céu!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 293/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. LUCAS – 11/?

 – Jesus volta a pregar o temor. Aqui, com uma parábola que até se entende, embora apenas no significado imediato do terra-a-terra: “Estai sempre preparados e de lanternas acesas. Fazei como os empregados que estão à espera do patrão. (…) Quer ele chegue à meia-noite, quer chegue de madrugada, felizes os que se mantiverem acordados. (…) Estai também preparados porque o Filho do Homem virá quando menos O esperam.” (Lc 12,35-40)

– Continuamos é sem saber como estar preparados e o que será essa vinda do Filho do Homem e se realmente esse Filho do Homem é simplesmente a morte e todo o Além que nos espera, essa tal eternidade dependente desta mísera e tão efémera vida terrena… ou se é o Jesus Cristo que vem tornar realidade as suas palavras que Pedro disse serem “de vida eterna”. (Jo 6,68) É que Cristo continua parabolizando acerca do Céu e do Além, sem abrir a porta bem guardada, não sabemos com que intenção, do como, do quando e do onde tal nos acontecerá…

É angustiosamente revoltante, não é?! Mais gritante ainda é que nos ameaça com o temor, o que nos martiriza a vida que se deve viver, usufruindo de todos os gostinhos que ela tem. E são tantos, felizmente!... Ora, porque é que não desvenda o mistério do Além? - Simplesmente porque também ele, tal como nós, nada sabia acerca dele, embora pareça saber, ao falar daquele modo… Aliás, ao longo dos evangelhos, limitar-se-á a falar da vida eterna - eternidade incrível mas realmente desejada pelo Homem! - nunca apresentando qualquer prova de que ela existisse. Tal como fizeram até hoje todos os seus seguidores, dizendo ser do âmbito da Fé, o que, para nós, nºao tem qualquer validade.

– E novamente, a propósito de mortos que houve no ruir de uma torre: “Vós morrereis do mesmo modo se não vos arrependerdes.” (Lc 13,5)

– É! Nunca compreenderemos como é que um não-arrependimento na Terra, numa vida no tempo, acarreta - melhor, acarretaria - uma morte eterna… no inferno! Nunca!…

Para um espírito crítico e inquisidor, não há hipótese de considerar Jesus como assertivo, em todas as afirmações acima proferidas. E é inadmissível que pensasse que todos os humanos aceitariam sem questionar tais afirmações. Se tal lhe passou pela cabeça, estava completamente enganado!...

Enfim, mais uma “acha” para a fogueira da descrença num Jesus dito filho de Deus e descrença na sua mensagem de vida eterna no Céu para os “bons” cá na Terra, nesta vida efémera. Salva-se – mas apenas para a Terra – a sua mensagem de amor ao próximo e da fraternidade universal, baseada embora no facto de todos sermos filhos do mesmo Pai que está nos Céus. Uns Céus inexistentes… Dizer “Pai do Céu” é não só confuso como induz em erro. Pois, se é Pai, é Criador, remetendo-nos para o conceito bíblico da criação. Mas perde-se o SER INFINITO e ETERNO, a SUMA INTELIGÊNCIA, o ser TODO-PODEROSO e todos os demais problemas que a Ciência nos coloca, ao desvendar-nos o Universo com os seus mistérios de início e fim e ESPAÇO onde terá aparecido, há cerca de 15 mil milhões de anos, ESPAÇO que tudo aponta para que seja infinito, confundindo-se com o próprio DEUS! Fantástico e… arrebatador da nossa inteligência, da nossa consciência!