sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 185/?



À procura da VERDADE no livro de JONAS – 2/2

- “Pegaram em Jonas e lançaram-no ao mar. (…) Javé enviou um 
peixe muito grande para que engolisse Jonas. E Jonas ficou no ventre 
do peixe três dias e três noites (…). Então Javé ordenou ao peixe que 
vomitasse Jonas em terra firme. (…) A Palavra de Javé foi dirigida 
a Jonas pela segunda vez, ordenando: «Levanta-te e vai a Nínive 
(…)» Nínive era uma cidade fabulosamente grande: tinha o 
comprimento de uma caminhada de três dias (…) Os moradores de 
Nínive começaram a acreditar em Deus e marcaram um dia de 
penitência (…) Deus viu o que eles fizeram (…). Então desistiu do 
mal com que os tinha ameaçado (…) «E será que Eu não devo ter 
pena de Nínive, esta cidade enorme onde moram mais de cento e 
vinte mil pessoas que não sabem distinguir a mão direita da mão 
esquerda, além de tantos animais?»” (Jn 1-4)
- Diz-se em comentário: “Mesmo já arrasada quando o livro foi 
escrito, o nome de Nínive continua a ser o caso-tipo para uma 
narrativa exemplar como esta. O profeta proclama a ameaça-apelo. 
E vemos aí, na capital de um império detestado pelo povo 
escolhido, aquilo que nenhum profeta conseguiu em Israel: a 
totalidade dos moradores, da corte ao povo, dos humanos aos animais, 
abraça a causa da penitência e da conversão. Naturalmente, Deus 
perdoa.” (ibidem)
- Quantas perguntas tal texto e tal comentário nos suscitam!
Quem foi realmente Jonas? Personagem real ou simbólica? Claro que 
peixe tem de ser simbólico como simbólicos têm de ser os factos 
de Jonas ser engolido, ter permanecido três dias dentro do peixe, 
orando ao Senhor, e depois ter sido vomitado em terra firme pelo 
mesmo peixe, tudo por ordem de Javé... E Nínive? Que área ocuparia 
para levar três dias a percorrer? (Bem, aqui, é fácil admitir que estamos 
no domínio da simbologia do nº 3, querendo exprimir-se apenas a 
grandiosidade da cidade.) E como se converteu? E a quê? Que 
penitência? Ou não é mais do que uma humana “história exemplar”? 
Exemplar, certamente para os judeus, povo no qual os profetas não 
parecem ter tido muita aceitação ou sucesso…Também não deixa 
de causar certa perplexidade a simbiose hamano-animal em quem 
o profeta, Javé e… o “nosso” comentador parecem comprazer-se…
No entanto, este misturar contínuo de simbólico e real retira 
credibilidade a este como a outros livros que deveriam apresentar a 
VERDADE clara e simples para que todos a pudessem entender. 
E mais uma vez, Deus continua a nível do humano: ameaça, tem 
pena, perdoa… A novidade aqui é que já não é ao povo eleito mas a 
um povo pagão. A evolução é de realçar!
Enfim, deixemos Jonas – Jonas que, no final, displicentemente e 
incompreensivelmente, fica “irritado” com Javé por este ter 
concedido total perdão aos ninivitas convertidos… (Jn 4) – e partamos 
para outras leituras…

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 184/?



À procura da VERDADE no livro de JONAS – 1/2

- Lê-se na Introdução: “A obra nasceu certamente no pós-exílio para 
contrariar o nacionalismo exagerado e exclusivista 
(cf. Esd 4,1-3; Ne 13,3), em que se afundava o povo judeu. O autor foi 
corajoso: a única personagem mesquinha é o profeta israelita (…) O 
universalismo da salvação (…) é marco saliente no percurso 
temporal da revelação. (…) O “caso Jonas” preanuncia que os pagãos 
acolheriam Jesus com mais espontaneidade do que os membros do 
povo de Deus (cf. Lc 11,29-32). O “sinal de Jonas” representa de algum 
modo a morte e ressurreição de Jesus: três dias no ventre do peixe, 
três dias no seio da terra, para reganhar vida e luz (cf. Mt 13,29-41 e 
paralelos).” (ibidem)
- Não se percebe: é que Israel sempre se considerou povo exclusivo 
eleito de Javé; depois, é essa a imagem que dele faz toda a Bíblia, 
Bíblia que a Igreja tem como sagrada e como palavra da 
salvação, de revelação divina. Nacionalismos à parte, o que é certo é 
que foi deste povo que nasceu o inefável Jesus a quem chamaram de 
Cristo e os judeus continuam a dar à humanidade os maiores 
cérebros de todos os tempos, cérebros que estão na base do grande 
evoluir científico… A ressurreição de Cristo parece ser tão misteriosa 
quão simbólica e o número três apelará para a simbologia do tempo. 
Afinal, porque não poderiam ter sido dois ou quatro ou cinco? Não 
esteve Lázaro morto quatro dias? E não disse Jesus que ele dormia, 
antes de o ressuscitar? Enfim, descobrir a Verdade não é possível no 
meio de tanto simbolismo, de tanta confusão…

 - “Daí em diante, aqueles homens começaram a temer muito a Javé, 
oferecendo-Lhe sacrifícios e fazendo-Lhe votos.” (Jn 1,16)
- Sempre o temor de Deus! Sempre os sacrifícios! E agora os… 
votos, certamente nome dado antigamente às promessas de hoje. Ora, 
é óbvio que Deus não precisa de temor, de sacrifícios, ou de votos. 
São os Homens que precisam de ser auxiliados em situações difíceis. 
Chamar o divino para resolver situações humanas é mesmo… próprio 
do Homem, mas um Homem inculto, ignorante e supersticioso! É 
que Deus não pode “andar” a preocupar-se com estas mesquinhices 
de um Homem necessitado, habitante da Terra, há apenas uns quatro 
milhões de anos…, uma Terra perdida num Universo onde toda a 
grandeza de Deus se manifestará em tantos outros seres certamente 
inteligentes e que não precisaram de inventar um Deus 
humanizado para colmatar as suas necessidades…, um Homem que 
devia ser solidário, não pelo temor de Deus, nem pelo medo de um 
castigo no Céu ou no Inferno, por toda a eternidade, mas pelo dever 
sentido de criar, na Terra, a grande Fraternidade Universal…

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Um outro pensamento para férias


O Homem, o Universo, Deus

O que já sabemos:
1 - O Homem – cada um de nós –  é um pequeno ponto na Terra, um entre os milhares de milhões de seres vivos, animais e plantas, que a povoam, pertencendo ao Tempo.
2 – A Terra é um pequeno ponto, embora planeta médio, no sistema solar, cujo diâmetro atinge os milhares de milhões de quilómetros.
3 – O Sol é um pequeno ponto, embora uma estrela de dimensão média, no conjunto dos mais de duzentos mil milhões de estrelas que compõem a galáxia Via Láctea.
4 – A Via Láctea é um pequeno ponto no Espaço sideral, uma entre milhares de milhões de outras, umas já conhecidas, outras – quantas?! – ainda não alcançadas pelos nossos telescópios.
5 – Este universo conhecido, onde as distâncias entre astros se medem em anos-luz de distância – algumas já conhecidas, em milhares de milhões! – terá tido o seu início há cerca de 15 mil milhões de anos, no Big Bang – uma enorme explosão da matéria existente – e continua, desde então, em expansão, afastando-se estrelas e galáxias umas das outras, tendo-se dado também origem ao Tempo, naquele preciso momento.

Ora, dentro deste “muito” que sabemos, ignoramos completamente coisas fundamentais como:
1 – O que havia antes do Big Bang?
2 – Em que tipo de espaço estava a matéria que deu origem a este Universo?
3 -  Esse espaço é finito ou infinito, como sugere o cientista, recentemente desaparecido, no seu livro “A teoria de Tudo”, Stephen Hawking?
4 – Após não haver mais possibilidade de expansão, voltará a matéria a contrair-se, num tremendo Big Crunch, originando, depois, um novo Big Bang, sendo este o modelo, afinal, da realidade que nos assiste, desde sempre e para sempre, num eterno retorno do mesmo ao mesmo através do diverso?
5 – Sendo o espaço infinito, haverá, nele, apenas um Universo ou serão milhares de milhões?

Então, no meio destas certezas e incertezas científicas, o que fazemos ao conceito de Deus, ser que é definido, pela sua própria natureza, como eterno e infinito?
– Considerando o Espaço infinito, espaço onde a saga do Big Crunch e Big Bang da matéria se desenrola eternamente, só poderemos concluir que DEUS NÃO É MAIS DO QUE O TUDO EXISTENTE, TUDO SENDO PARTÍCULAS DELE, DO ÁTOMO, ÀS ESTRELAS, ÀS GALÁXIAS, AO PRÓPRIO UNIVERSO. O Homem – cada um de nós! – também, obviamente.

Ser partículas de Deus…, é lindo, não é?!

domingo, 12 de agosto de 2018

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 183/?



À procura da VERDADE no livro de AMÓS 4/4


- “Naquele dia - oráculo do Senhor Javé - farei com que o Sol se 
esconda ao meio dia (…) Vou mandar a fome sobre o país: não será 
fome de pão nem sede de água, mas fome de ouvir a Palavra de Javé.”
 (Am 8,9-11)
- Comenta-se: “O fim é iminente: (…) Javé recusará falar a essa gente 
que não quis ouvi-lo. Será a fome da Palavra. Os fenómenos cósmicos, 
esboçados no v. 9 e ampliados depois por outros autores (cf. Jl 2,10-11) 
e evangelistas, não são para tomar à letra.” (ibidem)
- É “interessante” esta anotação. Afinal, o que há na Bíblia que se 
possa tomar à letra? O que é que em toda a Bíblia do Antigo 
Testamento é realmente real e não simbólico? E que fim iminente 
é aquele? O cativeiro, cerca de duzentos anos depois das visões de 
Amós? A queda de Jerusalém? A destruição do Templo? Que 
destruição, se foram várias ao longo dos tempos?
- “No céu, Deus fez a sua alta morada (…)” Am 9,6)
- Que céu? Que morada? Que significado? Que Deus é este que está 
tão localizado no espaço, como qualquer humano? Há pouco, era em 
Jerusalém, agora, no céu… E… toma-se à letra ou é simbólico? É que
 a VERDADE divina - só pelo facto de sê-lo - não pode estar 
escondida ou camuflada entre nuvens de palavras, símbolos ou 
parábolas, enevoeirando as nossas mentes, mas tem de se apresentar 
clara e inequívoca a toda a gente, pois é para toda a gente que Ela 
existe e não apenas para alguns ditos iluminados que afinal passam 
a vida a tentar encontrar explicações, interpretações, 
contradizendo-se uns com os outros que têm opinião contrária. Muito 
mais interessante será considerar a VERDADE o próprio Deus, mas 
o DEUS realmente existente, que não pode ser o da Bíblia, pelo menos 
tal como nos é apresentado, como um Deus escondido e que apenas se
manifesta nas “artes” da guerra e da ira, do castigo e da espada para 
matar, ou para se queixar da infidelidade do “seu povo”…

- E… acabámos mais um livro. Este, mais pequenino!
Embora termine com palavras de esperança na restauração de 
Israel – palavras que alguns comentadores consideram um 
acrescento feito pelos exilados na Babilónia, duzentos anos mais 
tarde – nada de novo nos trouxe. Por isso, continuamos, procurando… 
Mas parece que, por muito que procuremos, não encontramos, neste 
como em outros autores bíblicos, mais nada além de um estilo 
literário que se pode apelidar de “profético” sem que isso represente 
qualquer ligação ao divino como os teólogos cristãos pretendem.


sábado, 4 de agosto de 2018

Pensamento para férias: "Glorificando o corpo"


Glorificando o corpo
Glória a ti, meu corpo, porque és tu que me mantens agarrado à vida! É por ti que eu penso, que me emociono, que me liberto ou prendo às coisas boas ou más da mesma vida, sendo tu o suporte do que eu sou, um cérebro multifuncional a que os antigos, por ignorância da fisiologia do organismo dos seres vivos, chamavam de alma ou espírito, “anima” para os latinos, “psyqué” para os gregos.

Ora, isto a que chamo EU – as emoções, a inteligência e seus raciocínios elaborados, as múltiplas capacidades, desde a música à matemática, à coordenação motora, ao saber decidir, aos sentimentos de amor, de altruísmo, de solidariedade, mas também de ódio, de inveja ou de egoísmo – é um quase-mistério. É que tudo está no cérebro, a parte mais elaborada de um ser vivo, composto, no Homem, por milhares de milhões de neurónios e de sinapses que os conectam entre si, elaborando e propiciando todas aquelas funções.

Então, como te devo tratar bem, meu corpo! Como devo não te sujeitar a movimentos violentos, não te expor a perigos vários inúteis, a intempéries desnecessárias para a manutenção da mesma vida! Mas também, como devo gimnasticar-te, controlar-te nos teus instintos, manter-te em permanente equilíbrio, na alimentação, no acesso ao prazer, proporcionando-te o melhor ar puro para respirares, todo o descanso correspondente a qualquer esforço despendido! E ainda: como devo manter equilíbrio entre a matéria que tu és e o “espírito” que eu sou, não te sujeitando a stresses desnecessários nem a emoções traumatizantes que arruínam a vida!

Por tudo isso, como entender aqueles que, ao longo dos séculos, alimentaram a ideia de que o sofrimento era o caminho para a glória, para a felicidade, para a vida eterna? Ah, malfadadas religiões que tal impuseram aos seus fiéis, incutindo-lhes tais mentiras! É que a vida eterna é mentira e o sofrimento para alcançar a felicidade outra mentira não menos perversa, levando tantos e tantos à clausura e ao martírio, os mártires dando a vida por, afinal, um grande NADA!

O CORPO! É tudo o que nos resta. Quando ele desaparecer, na voragem do Tempo, Tempo que tudo leva a quem teve a sorte e o privilégio de nele ter tido, um dia, o começo…, desapareceremos para sempre. Para sempre… Por isso, glória a ti, meu CORPO, enquanto tivermos VIDA!

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Onde a Verdade de Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 182/?


À procura da VERDADE no livro de AMÓS 3/4


- “Javé (…) de Jerusalém faz ouvir o seu grito (…)” (Am 1,2)
- E comenta-se: “Este brevíssimo oráculo introduz toda a actividade 
de Amós, apresentando-a como manifestação do único Deus vivo, 
que habita em Jerusalém e está acima de qualquer divisão interna do 
povo.” (ibidem)
- É uma afirmação que não se percebe se é interpretação do 
que diz Amós ou opinião do comentarista. De qualquer modo, 
oferece-se-nos perguntar a um ou a outro: Que manifestação? 
Porquê de Deus? Porquê habita em Jerusalém? Como? É um 
habitar simbólico ou… real? Se é simbólico, como é plausível, que 
realidade representa? Uma força que tende a introduzir-se nos 
habitantes de Jerusalém? A força da Palavra e da Lei de Moisés? 
O enigmático “Santo dos Santos” do Templo, onde se guardava a 
Arca da Aliança, ainda não muito distante na memória colectiva de 
um povo vindo do deserto, guiado por Moisés? Tantas perguntas sem 
resposta, santo Deus!…
- “Pai e filho dormem com a mesma mulher, profanando assim o 
meu Nome santo. (…) Entre os vossos filhos, escolhi profetas 
e entre os vossos jovens, escolhi homens consagrados. (…) No 
entanto, embriagastes os homens consagrados e tapastes a boca dos 
profetas.” (Am 2,7-12)
- As perversões sexuais, recorrentes ao longo de toda a Bíblia, 
continuam a ser das mais visadas nos oráculos. Aquele povo era 
realmente difícil… até para Deus!
- “Escutai esta palavra, vacas de Basã (…): vós que oprimis os 
fracos, maltratais os necessitados e dizeis aos vossos maridos (…)” 
(Am 4,1)
- O termo “vaca” não é nada meigo para as “nobres” senhoras da 
Samaria!… E repete o “nosso” comentador: “A História de Israel 
está cheia de advertências: fome, sede, calamidades de todo o 
tipo, pestes, guerras e inúmeros desastres. Estes flagelos porém, 
não levaram à conversão; pelo contrário, manteve-se a prática da 
injustiça.” (ibidem)
E, então, qual a conclusão? Continuamos a aceitar Israel como o 
“povo eleito”? Não descredibiliza um Javé já tão fragilizado 
pelos seus “instintos” bélicos e sanguinários, sendo chamado porfiadas 
vezes “Senhor dos exércitos”, pela sua ira incontida contra os 
inimigos de Israel, pela sua espada vingadora sempre pronta a ser 
brandida, e por outros” mimos” com que é apelidado pelos autores 
“sagrados” que, em vez de O elevarem ao Céu, o fazem mais humano 
do que qualquer humano?