segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 118/?


À procura da VERDADE nos livros Sapienciais 


O ECLESIÁSTICO – 10/15


- “ (…) Quem procura enriquecer age sem escrúpulos.” (Eclo 27,1)
- Verdade! Tanto há dois mil e duzentos anos como nos nossos dias…
- “Quando se agita a peneira, ficam os restos e quando a pessoa 
discute, aparecem os seus defeitos. (…) Quem cava um buraco, 
nele cairá; quem prepara uma armadilha ficará preso nela.” 
(Eclo 27,4 e 26)
- É mais uma recolha de provérbios antigos. Certos, claro! Mas 
nada têm a ver com a suposta inspiração divina do texto…
- “Perdoa ao teu próximo o mal que te fez e (…) Deus te perdoará os 
pecados que tiveres cometido.” (Eclo 28,2)
- Faz lembrar o “Pai Nosso” de Jesus Cristo. Mas porque é que os 
judeus não seguiram este conselho do Livro Sagrado e 
continuaram - continuam! - com o “Olho por olho, dente por dente”, 
a lei de Talião?
- “Lembra-te do teu fim e deixa de odiar. Lembra-te da corrupção 
e da morte e persevera nos mandamentos.” (Eclo 28,6)
- O pensamento da morte deveria repor tantas coisas na vida!… 
Mas não: após a vivência, mais ou menos traumática, de vermos 
um ser vivo “partir”, continuamos agarrados às nossas pequenas 
coisas e às nossas birrinhas, sem vermos mais além que o espaço do 
nosso umbigo. E a vida esvai-se-nos por entre os dedos… Depois, 
um ser humano “inteiro” deveria cumprir as leis, os mandamentos, 
com a alegria do dever cumprido e não com o medo do castigo da 
corrupção e da morte, o perene temor de Deus…
- “ (…) O homem raivoso atiça a briga (…) Se sopras uma fagulha, 
ela inflama-se e se lhe cospes em cima, ela apaga-se. Nota bem que 
as duas coisas saem da mesma boca.” (Eclo 28,8-12)
- Não há dúvida! E mais máximas ou constatações se seguem em 
Eclo 28, sobre a força e o perigo da palavra; em Eclo 29, sobre o 
emprestar e o não emprestar, o aprender a partilhar, o arriscar-se 
pelo próximo, a dignidade e a humildade no viver; em Eclo 30, o 
educar com bom senso, a saúde e a riqueza, a alegria de viver; 
em Eclo 31, os inconvenientes da riqueza e o comportamento num 
banquete. Tudo pertencente ao domínio do bom senso ou a um código 
de boas maneiras. Mais nada…
- “A língua intrometida (…) destrói cidades fortes (…) Empresta 
ao próximo quando ele tiver necessidade e devolve ao próximo no 
tempo combinado. (…) Ajuda o teu próximo conforme as tuas 
posses, mas tem cuidado não te arruínes tu também. (…) É melhor 
viver vida de pobre numa barraca do que banquetear-se em casa 
alheia. (…) Quem ama o próprio filho castiga-o com frequência, para 
no fim se alegrar. (…) Quem mima o próprio filho, depois terá que lhe 
curar as feridas. (…) Dá muito mimo ao teu filho e ele far-te-á surpresas 
desagradáveis (…) É melhor um pobre robusto e sadio do que um rico 
cheio de doenças. (…)” (Eclo 28,14; 29;30)
- Mais uma vez, velhos provérbios, sabedoria eterna! A humanidade a 
revelar-se… E Deus, onde se encontra?!
- “É melhor a morte do que uma vida amargurada e o descanso eterno 
vale mais do que uma doença crónica. (…) De que serve oferecer frutos 
ao ídolo? Ele não come nem tem olfacto. Assim é aquele que é 
perseguido pelo Senhor: observa e suspira como um eunuco abraçado 
a uma jovem.” (Eclo 30,17-20)
- É a apologia da eutanásia? Deliciosa, deliciosa é a comparação com o 
eunuco a suspirar abraçado a uma donzela! Leva ao sorriso maroto…


domingo, 18 de dezembro de 2016

BOAS FESTAS! É NATAL!


Comemoramos, segundo a Igreja, o nascimento do Menino Jesus, filho da Virgem Maria, Virgem por ter sido fecundada pelo Espírito santo e, por isso, o menino é Filho de Deus.
Toda a história é narrada pelo evangelista Lucas – e, estranhamente, só por Lucas! – e conta-se em poucas palavras: “A caminho de Belém, a Virgem, por não haver lugar na estalagem, deu à luz um menino, numa gruta, e apareceram anjos cantando no céu e pastores trazendo presentes; mais tarde, guiados por uma estrela, viriam, também com presentes, os reis magos. Regressados a Nazaré, talvez dois anos depois, dá-se a fuga para o Egipto, para escapar à suposta ordem de Herodes de mandar matar todas as crianças de até dois anos. Aos 12 anos, Jesus apresenta-se no Templo perante os doutores. Aos 30, começa a sua pregação de um Novo Reino, pregação da qual dão conta os quatro evangelistas, recheando-a de milagres.”
Fixemo-nos apenas no Natal. Afinal, como é que tudo começou? Eis uma hipótese totalmente plausível:
Lucas era médico de Paulo. Ora, Paulo, o grande iniciador/obreiro/fundador do cristianismo, deu-se conta de que teria de apresentar o Jesus que ele queria divinizar, com uma origem que se assemelhasse às origens/nascimentos dos deuses antigos, sobretudo egípcios, os deuses solares, também eles nascidos de virgens, também eles perseguidos, também os seus nascimentos acompanhados de cânticos celestiais. E terá encarregado Lucas de tal missão. O resultado aí está. Bonito! Comovente! Depois, a Tradição – a poderosa Tradição que serviu para fundamentar muitas das crenças actuais – encarregou-se de criar, à volta desta narrativa, todo um conjunto de cenários românticos, pastoris, celestiais, revelados nas inúmeras canções, nas inúmeras pinturas e esculturas, culminando na invenção do presépio por S. Francisco De Assis, em 1223, mas continuados pelos pintores e escultores renascentistas e modernistas, até aos nossos dias.


Pergunta-se, então, onde está a verdade do Natal. E a resposta, intelectualmente honesta, só pode ser uma: O Natal não existiu! Foi uma bonita invenção, uma efabulação, uma cópia romanceada que Lucas fez das histórias antigas sobre o nascimento dos deuses solares.
E, se quisermos continuar a ser intelectualmente honestos, temos de concluir que: 1 – Maria não foi virgem nem fecundada pelo Espírito Santo (Existe esta terceira pessoa de uma suposta trindade divina, trindade também imitando outras antigas? Onde as provas credíveis?). 2 – Não houve nem reis magos, nem pastores, nem coros de anjos cantando nos céus. 3 – O nascimento de Jesus não foi a 25 de Dezembro, mas provavelmente na Primavera, tempo em que já há pastores a dormir ao relento: foi colocado pela Igreja nesta data para substituir a celebração pagã dos deuses solares que renasciam no solstício do Inverno. 4 – Enfim – e o mais importante – o Menino Jesus não é o Menino-Deus ou o Filho de Deus (a 2ª pessoa da tal suposta trindade divina) simplesmente porque Deus não pode ter um Filho; é que, se o tivesse, deixava de ser Deus: O TODO ONDE TUDO SE INTEGRA, TEMPO E ESPAÇO, ENERGIA E MATÉRIA, SENDO, POR ISSO, INFINITO E ETERNO.
Mas… é NATAL! Há presépios dentro e fora das igrejas! Há cânticos, lindos cânticos, ecoando pelos ares! Há luzes, muitas luzes, mais nas ruas que em obscuros recônditos de oração! Há árvores de Natal que nada têm a ver com o evangelho de Lucas! Há pais-natais que o comércio inventou para vender prendas, muitas prendas, prendas que damos a familiares e amigos, muitas vezes mais por dever do que por devoção ou querer… (Talvez daí, a reacção de muitos, dizendo que “É Natal sempre que o Homem quiser!”) Há movimentos de solidariedade que são sempre bem-vindos, sobretudo para os mais pobres… E tudo isso é bom, muito bom!
Então, inteligentes, gozemos tanta beleza que nos inebria os sentidos, desde o olfato, ao gosto, ao ouvido, aos olhos que ficam estonteados com tanta luz que ilumina a noite! Comamos e bebamos, cantemos e dancemos, demos beijos e abraços e prendas! Mesmo que sejam cantigas que não contam senão lenda e fantasia. É que são melodiosas, lindas, cheias de ritmo e de encanto: o Adeste Fideles (Apressai-vos, ó fiéis), do nosso rei D. João IV, o Gloria in excelsis Deo (Glória a Deus nas alturas), o Alegres, correi pastorinhos, o Alegrem-se os céus e a Terra, O Menino está dormindo, o inglês Jingle bells (Tocam os sinos) ou o alemão O tannenbaum (Ó pinheirinho de Natal). Estas e muitas mais. Afinal, é festa! E a vida é para se viver em festa!
Por isso,

BOAS FESTAS NATALÍCIAS E UM ANO NOVO EM QUE CADA UM SAIBA SER FELIZ E, SOLIDARIAMENTE, DEIXE OS OUTROS SEREM FELIZES!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 117/?

À procura da VERDADE nos livros Sapienciais 


O ECLESIÁSTICO – 9/15

- “ (…) O homem que trai o leito matrimonial (…) será castigado 
na praça da cidade (…). O mesmo acontece à mulher que 
abandona o marido.” (Eclo 23,18-22)
- Estranha esta evolução! O mesmo castigo para o homem 
e para a mulher?! Simplesmente inacreditável ou… 
contraditório com tantas outras sentenças discriminatórias 
da mulher. Que dizer, por exemplo, de Eclo 42,9-14: 
“É melhor a maldade do homem do que a bondade da mulher: 
a mulher causa vergonha e chega a expor ao insulto.”?
- “(…) Nada é melhor que o temor do Senhor e nada é 
mais doce do que observar os seus mandamentos.” (Eclo23,7)
- Que relação haverá entre temer a Deus e amar a Deus? 
E que doçura haverá em observar os mandamentos se, como 
se lamentam Job e Coélet, na hora da morte, todos temos o 
mesmo destino, os que observaram e os que não observaram: 
o… pó? E quais são realmente os mandamentos de Deus? Os 
dez mandamentos mosaicos copiados dos ancestrais 
mesopotâmicos?
- “Vinde a mim todos os que me desejais e ficai saciados com 
os meus frutos (…). Possuir-me é mais doce do que o favo de 
mel.” - diz a sabedoria (Eclo 24,18-19)
- E diz o “nosso” comentador: “A sabedoria é a Lei (…) Com 
a sabedoria contida no Pentateuco, os Homens são capazes de 
transformar a terra árida em paraíso fértil, segundo o 
simbolismo cósmico dos rios que correm no Paraíso.” (ibidem) 
Mas isto é misturar o terreno e o divino e não saber realmente 
o que é o paraíso. Se na Terra, se no céu! Então, são afirmações 
que não passam de poesia…
- “Nenhuma ferida é como a do coração e maldade nenhuma 
é como a da mulher! (…) Prefiro morar com um leão ou um 
dragão do que morar com uma mulher maldosa. (…) 
Qualquer maldade é leve, comparada com a maldade da mulher; 
caia sobre ela a sorte dos pecadores! (…) Não te deixes 
prender pela beleza de uma mulher, nem te apaixones por ela. 
Motivo de irritação, desprezo e grande vergonha é a mulher 
sustentar o marido. (…) Coração abatido, rosto triste e coração 
ferido é obra da mulher má. (…) Foi pela mulher que começou 
o pecado e é por culpa dela que todos morremos (…) Feliz o 
marido que tem uma mulher virtuosa; a duração da sua vida 
será o dobro. (…) Uma boa mulher é uma sorte grande que será 
dada aos que temem o Senhor (…) Mulher má é como um jugo 
mal ajeitado e querer dominá-la é como pegar num escorpião. (…) 
Reforça a vigilância sobre a filha impetuosa (…) Cuidado com 
os seus olhos desavergonhados (…) Como viajante sedento, ela 
abre a boca e bebe qualquer água que encontra (…) Mulher 
graciosa alegra o marido (…) Mulher discreta é dom do Senhor (…) 
Mulher modesta duplica o seu encanto (…) Como o Sol que 
se levanta sobre as montanhas do Senhor, assim é a beleza da 
mulher na sua casa bem arrumada. Como lâmpada que brilha no 
candelabro sagrado, tal é a beleza do rosto num corpo bem acabado. 
Colunas de ouro sobre bases de prata, assim são as belas pernas 
sobre sólidos pés.” (Eclo 25,12-24; 26,1-18)



Não há dúvida: 
A mulher foi, até hoje, a mais bela concepção de ser vivo, elaborada na Natureza!
Mas... que se esconderá por detrás de tão belo rosto? Um coração de oiro...?

- Desculpando-se a longa citação, pela sua importância, temos de 
referir que a confusão é muita! Não se consegue distinguir entre 
mulher e mulher má. Os elogios à mulher boa e virtuosa não 
apagam o virulento antifeminismo a propósito da outra, embora 
se digam por ali algumas verdades… A estultícia é total, 
obedecendo, aliás, à tradição bíblica inscrita no Génesis, na 
afirmação de que “Foi pela mulher que começou o pecado e é 
por culpa dela que todos morremos.”! Chocado, também o “nosso” 
comentador tem de afirmar: “Esta descrição da mulher reflecte, 
de forma acentuada, os preconceitos da sociedade patriarcal: 
o único lugar para a mulher era o matrimónio.” (ibidem) E 
poderíamos nós acrescentar: “para servir e agradar ao marido.”! 
Enfim, mais uma vez tem cabimento a pergunta: “Como pode 
tal concepção da mulher ser de inspiração divina”? Ou estoutra: 
“Como pode Deus deixar-se levar pelos conceitos da sociedade 
patriarcal daquele tempo”?

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO


No dia 8 de Dezembro, celebra-se a festa da Imaculada Conceição de Maria. O dogma, i.é., a afirmação de que Maria, mãe de Jesus, foi concebida sem pecado original, sentença a ter de ser obrigatoriamente aceite por todo o mundo católico, sob pena de excomunhão, foi proclamado pelo Papa Pio IX, a 8 de Dezembro de 1854.
Ora, isto merece-nos algumas considerações:
1 - O dogma foi proferido pela papa, na sua qualidade de “vox infalibilis” (voz infalível), também baseada noutro dogma que, ao tempo estava na forja, o da infalibilidade do papa quando fala “ex-catedra”, supondo-se que esteja sob a acção e inspiração do Espírito Santo, dogma mais tarde publicado pelo mesmo papa, em 1870. Obviamente, a infalibilidade do papa não existe: ele é falível como qualquer humano; e este é o primeiro dogma a ser um total non-sense. O dogma da Imaculada Conceição é outro non-sense, e ainda mais non-sense que o anterior, pois teria que se provar primeiro que houve realmente um pecado original que seria transmitido de geração em geração com os genes dos pais, para que alguém fosse concebido sem ele. O suposto pecado original – eivado de anti-feminismo – foi o cometido por Adão e Eva no paraíso, quando esta deu a comer àquele a maçã proibida. Tal suposto facto de tal suposto pecado, levou a um repúdio ancestral da mulher, a um machismo inveterado, tanto na Bíblia, como posteriormente em práticas medievais, algumas perdurando até aos nossos dias. Além disso, o espermatozóide e o óvulo da união dos quais resultou Maria teriam de já não estar afectados por tal pecado, e não sabemos como é que foram purificados… Logo, tudo não passará de pura invenção fantasista, em épocas medievais, por Maria vir a ser a mãe do filho e Deus, o que, do ponto de vista religioso, até se afigura lógico: como é que uma mulher impura poderia ser mãe de Deus?



2 – Assim, com todo o carinho e respeito que tenho por todas as mães do mundo, obviamente também por Maria, mãe de Jesus, tenho de concluir que, no dia 8, vamos festejar uma inverdade, ou uma falsidade baseada em várias falsidades.
3 – Obviamente, não existiu nenhum pecado original. Aliás, é completamente descabida a ideia de que, pelo facto de Adão e Eva terem pecado, todos os seus descendentes teriam a mesma marca de pecado. Tal ideia coube na cabeça de Paulo e, mais tarde, na de -obtusos medievais que, no entanto, a impuseram à Igreja e esta, até hoje, continua a ensiná-la às crianças na catequese. Uma perversidade e uma desonestidade intelectual! Então, não sabem que não houve nem Adão nem Eva e que o Homem apareceu pela evolução das espécies, como provou Darwin? Se sabem, porque continuam a pregar e ensinar uma total inverdade, baseada num criacionismo romântico, tudo se passando num paraíso inexistente? É que nem pela Fé se consegue explicar tal atitude.
4 – Com a saga da Missão atribuída a Jesus, filho de Maria, de salvar a humanidade e de redimi-la do tal suposto pecado original, deturpando aliás as palavras de Paulo, Rom 5-12 “da mesma forma como o pecado ingressou no mundo por meio de um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte foi legada a todos os seres humanos, porquanto todos pecaram.”, chegou-se a afirmar que “Se por uma mulher veio o pecado ao mundo, por outra – Maria – veio a salvação que é Jesus. O Redentor”, Jesus a quem, sem qualquer fundamento credível, chamaram de Cristo, o Ungido de Deus, o seu próprio Filho. Uma efabulação fantástica, mas óptima para fundamento de uma religião que emergia no seio das diversas seitas judaicas da época e bem aproveitada por Paulo, o grande impulsionador dessa mesma religião.
5 – O dogma da Imaculada Conceição está conluiado com o dogma da Virgindade de Maria, Maria que teve vários filhos além de Jesus. Jesus teria sido concebido por obra e graça do Divino Espírito Santo, como a Igreja continua a ensinar na catequese. Como? – Mistério divino ou… mais uma fantasia imposta aos crentes como verdade!
Conclusão: se a Fé não pode explicar tudo, também não deve aceitar tudo. Tem de haver um pouco de razoabilidade e de humanidade: o Homem, por ser crente, não pode ser enganado com fantasias que alguns conjecturaram, ao longo dos tempos.
No entanto…
BOAS FESTAS! Qualquer festa é boa pois a vida é para se viver em FESTA, SORRINDO!

sábado, 26 de novembro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 116/?

À procura da VERDADE nos livros Sapienciais 


O ECLESIÁSTICO – 8/15

- “Meu filho, pecaste? Não tornes a pecar e pede 
perdão (…)” (Eclo 21,1)
- Não se percebe o que é, para o autor, pecado. Mas 
diz o “nosso” comentador: “A ruína do pecador provém 
de Deus que ouve o clamor do pobre e faz justiça.” 
(ibidem). Não podemos concordar! É que, se a alguns 
“pecadores” a própria vida se encarrega - mão de Deus?! - de 
fazer justiça e dar o merecido castigo, a outros só acontecem 
benesses e riquezas. E, como não há o tal inferno para se fazer 
justiça, esta ficará eternamente por se cumprir. A solução 
estará no Homem e na sua capacidade de construir sociedades 
justas e equilibradas.
- “O preguiçoso é como uma pedra cheia de lodo (…) é semelhante 
a um monte de esterco (…) Filho mal educado é vergonha para 
o pai e se for uma filha, a desgraça é ainda maior (…) 
(Eclo 22 1-3)
- Comenta-se a propósito: “O autor segue certa tradição 
cultural (…) e resvala para o antifeminismo (…)” (ibidem) 
É estranho este comentário, pois afasta qualquer inspiração 
provinda de Deus, ao atribuí-la à tradição. Acutilante é a 
comparação do preguiçoso com um monte de esterco…
- “Meus filhos, procurai disciplinar a boca (…) Não te 
acostumes a fazer juramentos (…) Não te acostumes a dizer 
vulgaridades grosseiras (…) Lembra-te do teu pai e da tua 
mãe (…) (Eclo 23,7-14)
- Apenas… normas de boa educação! Ao lermos a Bíblia, 
temos o pressentimento de que estamos perante uma bela 
catedral que, elegante, se eleva para os céus densos de nevoeiro. 
A Terra é realmente o seu mundo. E nada mais que a Terra! 
Os autores, apenas pensadores, cremos que honestos, cheios 
de dúvidas uns, como nós, imaginativos outros, criadores 
de imagens e de sonhos, historiadores alguns, misturando 
o mito e a História, poetas, exímios contadores de histórias, 
colectores de máximas e provérbios provindos de culturas 
ancestrais, ensinamentos, experiências de todo um povo… A 
Bíblia revela-se tudo isto e… só isto! Tantas perguntas que 
poderíamos formular! Mas apenas duas: “Porquê é Deus que 
fala a Moisés para libertar o povo do Egipto e não é simplesmente 
a habilidade do estratega que era Moisés que o inspira”? 
“Porquê foi Deus que deu o decálogo a Moisés no Monte 
Sinai e não foi o Código de Hamurabi, anterior de vários 
séculos, que lhe serviu de base e que ele copiou”? 



Tanto nevoeiro que inunda os alicerces em que assentam a nossa 
querida religião católica, Santo Deus! Não há dúvida: atribuir 
a Bíblia a inspiração divina é pura fantasia quando não 
demagogia e por interesses políticos (“domesticação” de um 
povo) e de poder temporal. Realmente, todos nós quiséramos 
coisas claras, que Deus realmente se revelasse a toda a gente, 
como o Ser que dizem que Ele é, e nos mostrasse o Reino dos 
Céus, que é Ele mesmo, onde nos abrigaríamos no final dos 
nossos dias de vida terrena!… Ora esse Deus não se revela, 
logo, não existe! Ninguém diga que Ele fala e que somos nós 
que não O queremos ouvir, ver, sentir. Não! Quem não quisera?! 
Se os Homens sabem como explicar, tornar claras as coisas a 
qualquer néscio que não compreende o evidente, quanto mais 
Deus?! Assim, sem nenhuma certeza acerca de Deus, ficamos 
sem nada a que nos agarrarmos para além desta vida tão efémera, 
mas a única que temos a certeza de ter, embora desejando 
uma eternidade inexistente…  O resto…, apenas palavras! 
Mesmo que, mais tarde, venham da boca de um Jesus a quem 
chamaram de Cristo, sem qualquer fundamento! De eterno, 
NADA! Um grandíssimo NADA! De qualquer modo, a esta 
nossa vida que se escoa inexoravelmente a cada momento 
que passa, sem hipótese alguma de qualquer retorno, temos 
de… SORRIR, deleitando-nos com tanto que há de BOM, 
tanto que há de BELO!

Importante pormenor: Deus é aqui o Deus da Bíblia (Javé), o 
Deus de todas as religiões, um Deus construído pelo Homem à 
sua imagem e semelhança. Repetimos: o único Deus possível 
ou a única concepção possível de Deus – ver Einstein e 
Spinoza – é considerá-lo o TODO ABSOLUTO ONDE TUDO SE INTEGRA, 
NO TEMPO E NO ESPAÇO, POR E PARA SER INFINITO  
E ETERNO.

domingo, 20 de novembro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 115/?

À procura da VERDADE nos livros Sapienciais 


O ECLESIÁSTICO – 7/15

- “O que é o Homem e para que serve? Qual é o seu bem e qual é 
o seu mal? A duração da sua vida é de cem anos no máximo (…)
 gota de água (…) frente à eternidade.” (Eclo 18,7-9)
- Perguntas de angústia existencial. Tinha-as Ben Sirá, há mais de 
dois mil anos, têmo-las também nós, apesar do avanço enorme da 
Ciência e da Tecnologia. E… sem resposta! Melhor, há uma resposta 
nua e cruel: objectivamente, 1 - o Homem é o resultado da evolução 
das espécies; 2 – cada indivíduo não é mais do que um amontoado 
organizado, de átomos e moléculas de elementos minerais, que 
aparece num dado momento do Tempo e, em outro, desaparece, 
como qualquer ser vivo; 3 – não serve para nada, além de fazer parte 
do sistema Terra-Universo, onde nada se perde nada se cria, nada 
realmente nasce, nada realmente morre, mas tudo se transforma, indo 
do mesmo ao mesmo através do diverso…
- A propósito de Eclo 17,20-18,6), o “nosso” comentador diz, apelando 
para Ef 1,6: “(…) Que o Homem reconheça e louve o Deus verdadeiro. 
Tal reconhecimento e louvor são a finalidade da vida humana.” 
(ibidem). Duvidamos seriamente, pois: 1 - como se reconhece Deus? 
2 - como se louva? 3 - porquê essa a finalidade da vida humana? 
4 - quem vive tal objectivo, se não se sabe quem é realmente Deus? 
Claro, se considerarmos Deus, o TODO EXISTENTE, ONDE TUDO 
SE INTEGRA, faz sentido que o Homem, como elemento desse 
TODO, o louve, integrando-se perfeitamente nele, enquanto participar 
da vida a que um dia teve a sorte de aceder, e aceder não como qualquer 
ser vivo, animal ou planta, mas dotado de uma inteligência superior, 
capaz de raciocínios abstractos e elaborados.
- “Antes de falar, procura instruir-te (…) Examina-te a ti mesmo antes 
do julgamento (…) Antes de fazer uma promessa, dispõe-te a cumpri-la 
(...) Lembra-te da ira que virá nos últimos dias, no tempo da vingança 
(…) Não sigas as tuas paixões (…) Não te entregues a uma vida de 
prazeres (…) Vinho e mulheres fazem perder o bom senso e quem anda 
com prostitutas torna-se cada vez mais imprudente (…)” 
(Eclo 18,19-32; 19,2)

- Tudo muito bonito – sendo de fazer sorrir a junção de
vinho e mulheres! – exceptuando a “ira” e a “vingança” cuja prova de 
que virão nos últimos dias é absolutamente inexistente: pura fantasia! 
Aliás, não há últimos dias: o último dia de cada um é o da morte! 
Debrucêmo-nos, agora, um pouco, sobre a problemática dos prazeres… 
Pois, que salvação haverá para as prostitutas que também têm direito a 
um céu conquistado com a tal vida dita “fácil” mas que, quantas vezes,
sabe-se lá, cheia de temores, angústias, sofrimentos?
 
E serão proscritas 
como os violadores, os assassinos, os ladrões de pobres e viúvas? 
Também elas estão condenadas ao inferno, trocando assim uma 
eternidade celestial e bem-aventurada por uma curta vida 
terrena - “gota de água em relação à eternidade”! - que nem sempre 
ou poucas vezes será de prazeres feita? E não fazem elas, muitas
vezes, de terapeutas de complexados sexuais, de apaziguadoras de 
instintos violadores que muitas vezes o são por desarranjos hormonais 
ou complexas conjugações dos astros como defendem os
astrólogos? Qual será o primeiro a atirar a pedra? Até Jesus Cristo 
foi compreensivo e disse a Maria Madalena: “Se ninguém te condenou, 
eu também não te condeno. Vai e não voltes a pecar.”! 
(Jo 8,7-11). 



Aliás, que outra coisa poderia o bom Jesus dizer? Afinal, 
vai o jovem, vai o adulto, vai o velho à prostituta. Uns, pela 
experimentação, outros, para a satisfação de fantasias sexuais, outros, 
para manterem a auto-estima de ainda frutificarem vida em qualquer 
donzela que lhes caia nos braços… Mas… é pecado! Ora, o que é 
realmente o pecado, além do desvio da norma social: matar, roubar, 
violar? Enfim, parece óbvio que o que não vai à prostituta segue 
caminho mais perfeito que o seu frequentador que vai usufruindo 
do prazer do sexo fora das normas religiosas - que são bem restritas, 
não tivessem elas sido feitas por bispos e cardeais votados ao 
celibato, pelo menos no corpo… - apelando para a castidade entre 
os esposos. Mas ambos morrem. Que eternidade os 
diferenciará? – Já atrás se disse: “Não digas: Pequei e nada me 
aconteceu (…) Porque Ele tem compaixão e cólera e a sua ira cairá 
sobre os pecadores.” (Eclo 5,4 e 6). No entanto, a pergunta 
repete-se: Que ira? Onde? Quando? As certezas ficam-se pelo mistério. 
Tudo não passa de suposições, com a tal lógica de não poder haver a 
mesma sorte para o santo e o diabo, lógica que Job e Coélet puseram 
em causa, duvidando fortemente que o justo e o injusto não tenham 
exactamente o mesmo destino: o pó donde vieram! Por isso, é melhor 
beber o vinho com alegria e gozar os prazeres da vida, com 
moderação, claro, como, aliás, nos aconselha o 
Eclesiastes, 9,7-9, pois no mundo dos mortos não há alegria…

domingo, 13 de novembro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 114/?

À procura da VERDADE nos livros Sapienciais 


O ECLESIÁSTICO – 6/15


- “Desde o princípio, Deus criou o Homem e entregou-o ao poder
 das suas próprias decisões (…) Ele pôs-te diante do fogo e da 
água e poderás estender a mão para aquilo que quiseres (…) Ele 
não deu ordem a ninguém para fazer o mal (…)” (Eclo 15,14-20)
- Será? O nosso eterno problema é encontrar uma explicação 
para o MAL. Se é que o MAL não existe apenas por oposição ao 
Bem! Depois, a nossa liberdade de fazer o Bem ou o Mal está 
tão condicionada… Mandamos tão pouco no Destino, nas 
circunstâncias, não controlando nem mesmo os nossos desejos, 
os nossos sonhos, as nossas emoções… o bater do nosso coração! 
Se foi Deus que criou o Homem ou não é toda uma outra história: 
na realidade, o Homem apenas apareceu pela evolução das 
espécies. O resto é imaginação de ignorâncias ancestrais…
- “ (…) A misericórdia e a ira pertencem ao Senhor (…) A sua 
misericórdia é tão grande como o seu castigo e julga o Homem 
conforme as obras de cada um (…)” (Eclo 16,12-15)
- Ser misericordioso implicará castigo? E onde se fará o julgamento 
de Deus? Na Terra ou num Céu inexistente?
- “No princípio, o Senhor criou as suas obras (…) Depois (…), 
cobriu a superfície da Terra (…) Da terra, criou o Homem e para 
ela o faz voltar novamente (…) Revestiu-os com a sua própria 
força e criou-os à sua imagem (…) Encheu-o de inteligência e 
também lhe mostrou o bem e o mal (…) Concedeu aos Homens a 
ciência e entregou-lhes (…) a lei da vida (…) E ordenou que cada 
um se preocupasse com o próximo. (…) Por fim, Deus levantar-se-á 
para lhes dar a recompensa, entregando a cada um o que cada um 
merece.”(Eclo 16,26-30; 17,1-18)

- Vários comentários provoca este excerto: 1 – Volta-se ao Génesis, 
ao Deus criador. Não admira. Nem o autor do Génesis nem este 
Ben Sirá sabiam que o Homem é o resultado da evolução das 
espécies, numa Terra toda cheia de hipóteses de vida. 2 –  Deus criar 
cada coisa de per si ou criar uma Terra onde a vida evoluiu e 
evolui continuamente, não parece contraditório. O grande problema 
é Deus existir tal como o pintam! Teria muito mais sentido, 
conceber Deus como o TODO existente, visível e invisível, conhecido 
e desconhecido, desde sempre e para sempre, em que tudo se 
cria e recria, na perenidade das transformações sem fronteiras de terras 
ou céus, mas tendo o espaço infinito do Universo, como palco e 
ao mesmo tempo essência da actuação criadora de Deus… O Deus, 
ser criador, fora do TUDO O EXISTENTE, sendo ele a causa não 
parece, de modo do algum, plausível. 3 – Insistir no Homem criado 
à imagem de Deus é apoucar de tal modo Deus que se torna 
inaceitável. Novamente, haveria muito mais lógica se se considerasse 
o Homem partícula de Deus, partícula privilegiada por ter uma 
inteligência que é capaz de pensar tudo isto e de ter dúvidas acerca 
do próprio Deus… 4 – O autor antecipou-se a Cristo ao apelar para 
o amor ao próximo. Não é este amor o pilar da mensagem evangélica? 
5 – Já não está tão bem Ben Sirá ao atribuir um lugar a Deus. 
Deus “levantar-se-á” donde?! E que recompensa Deus dará ao 
Homem, se este veio da Terra e para ela voltará novamente?

domingo, 6 de novembro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 113/'

À procura da VERDADE nos livros Sapienciais 


O ECLESIÁSTICO – 5/15


-… “O princípio de todo o pecado é o orgulho. (…) Não te 
consideres sábio (…), conserva a tua honra com modéstia (…), 
não elogies um Homem pela sua beleza (…), não te envaideças 
com as roupas que usas (…), não critiques antes de verificar (…), 
não respondas antes de ter ouvido (…), não te ocupes com 
demasiadas tarefas (…). Há quem enriqueça à custa de privações 
e economias (…); quando pensa que já pode descansar e 
aproveitar os seus bens, não sabe que vai chegar o tempo de 
morrer e deixar tudo para os outros.” (Eclo 10,6-28; 11,2-19)
- Tudo… verdade para uma boa conduta de vida! O último 
lamento já o disseram Job e Coélet, no Eclesiastes. Ah, se todos 
os Homens inteligentemente se convencessem de que vão cá 
deixar tudo, no momento da partida… Seriam muito mais felizes
e mais justos para com o próximo, porque não seriam escravos 
da sua ambição desmedida.


- “Se fizeres o bem sabe a quem e assim terás recompensa pelos 
benefícios que fizeste. (…) Faz bem ao pobre mas não dês nada 
ao injusto. Recusa dar-lhe pão e não o ajudes em nada (…) O 
próprio Altíssimo detesta os pecadores e inflige aos injustos o 
castigo que eles merecem.” (Eclo 12,2-6)
- Jesus Cristo corrigirá: “Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu 
próximo e odiarás o teu inimigo! Eu porém, digo-vos: Amai os 
vossos inimigos (…) Assim, tornar-vos-eis filhos do Pai que está 
no Céu, porque Ele faz nascer o Sol sobre maus e bons e cair a 
chuva sobre justos e injustos. Pois se amais somente aqueles que 
vos amam, que recompensa tereis?” (Mt 5,43-46) Quase que nos 
apetecia dizer que, em 200 anos, Deus mudou de ideias!… Aliás, 
que pensaria realmente Jesus das Escrituras? Que lhe aconteceria 
se dissesse, por exemplo: “A vossa Bíblia pouco vale porque 
proclama o ódio e a ira de Deus, quando Deus é Amor; 
considerai-a, pois, apenas o livro que narra a nossa História, como 
povo, uma colecta de pensamentos e vivências colhidos ao longo 
dessa mesma história.”? – Seria, de certeza, morto logo ali, antes 
que proferisse mais palavras!…
- Voltemos ao Eclesiástico: “O amigo não se revela na prosperidade (…) 
Quando alguém cai em desgraça, até o amigo se afasta.” (Eclo 12,8-9)
- Contraditório? É que é na desgraça que o verdadeiro amigo se revela!
- “O rico comete injustiça e ainda ameaça; o pobre é maltratado e 
ainda tem de pedir desculpa. (…) Quando o rico comete um erro, 
muitos defendem-no (…) Quando o pobre erra, todos o condenam.” 
(Eclo 13,3 e 22)
- Que triste verdade! Tem mesmo de haver inferno para esses 
ricos…, para toda esta injustiça! Infelizmente, tal como o Paraíso, 
o Inferno pertence ao domínio da fantasia e da utopia!
- “Quem é mau consigo mesmo, com quem será bom? (…) Não te 
prives de um dia feliz nem deixes escapar um prazer legítimo. 
Acaso não vais deixar para outros o fruto das tuas fadigas e não vai 
ficar para os herdeiros o fruto dos teus sacrifícios? Dá e recebe, 
diverte-te, porque no mundo dos mortos não existe alegria.” 
(Eclo 14,5 e 14-16)

- Que humano este autor “divino”! Mas… onde está para ele a 
eternidade? Onde a recompensa eterna para o pobre, o sábio, o justo? 
Onde… o divino? Esqueceu-se, o coitado! Ou então - perdoem-nos a 
heresia! - Deus retirou-lhe, aqui e por momentos, a sua inspiração! O 
mesmo acontecera certamente a Job e Coélet que, neste excerto, estão 
bem presentes com as suas dúvidas existenciais…

domingo, 30 de outubro de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 112/?

À procura da VERDADE nos livros Sapienciais


O ECLESIÁSTICO – 4/15

- “O governo do mundo está nas mãos do Senhor e, no 
momento oportuno, Ele faz aparecer o Homem certo.” 
(Eclo 10,4)
- Como te enganas, Ben Sirá! Que governante te “inspirou” 
ou te fez dizer tal “barbaridade”? Quantos reis, quantos 
imperadores, sendo déspotas, tiranos, assassinos, não 
reivindicaram serem representantes de Deus na Terra, 
quando não mesmo deuses?! E se o Senhor governa o 
mundo, anda muito mal governado, pois, infelizmente, a 
História tanto naquele tempo como no actual é feita de guerras 
e de mortandades. Péssimo governo o deste Senhor! Ora, 
reflectindo um pouco, o Senhor-Deus bíblico não parece ir 
além dos deuses gregos ou romanos – também eles 
comandando os destinos dos Homens – num horizonte de 
uma Terra que nem se sabia que era redonda, julgando-se o 
centro do Universo, sendo as estrelas pequenas luzes que 
estavam ali quase à mão, em noites de escuridão… 
Assim, temos, na mesma linha, não se ultrapassando a dimensão 
puramente humana: 1 - o Zeus grego ou o Júpiter romano 
a comandarem, lá nos Olimpos, um exército de deuses que mais 
não são do que diversas forças da Natureza; 2 - o Javé de Israel, 
seu braço protector - quando não castigador! - contra os 
inimigos que o escravizavam ou vilipendiavam; 3 - o próprio 
Deus-Pai que está nos céus de Jesus Cristo, afirmando-se Ele 
como filho desse Pai, tal se aceitando numa sequência lógica da 
Bíblia; 4 – o Alá de Maomé, o “Deus clemente e misericordioso”, 
mas que manda matar os que não crêem nele… (E omitimos falar 
dos deuses orientais…)
- No entanto, há que ser justos para com a religião cristã – a 
original e não as muitas que existem actualmente, obviamente 
por interesses regionais e políticos – e realçar que Jesus Cristo 
é Aquele que vai ter a coragem e o saber de corrigir as 
Escrituras, elegendo o AMOR como Lei, denunciando a mentira 
e a falsidade dos sacerdotes, escribas e fariseus. Isto, apesar 
de tudo o de inventado/falso que os evangelhos afirmam a seu 
respeito, sobretudo no que toca à sua divindade e ao seu poder 
de fazer milagres, fantasias inventadas pelos respectivos evangelistas, 
desde a fabulosa multiplicação dos pães e dos peixes até aos 
fenómenos fantasmagóricos que acompanharam a sua morte. No 
entanto, convictos ou não, os apóstolos lá partiram pelo mundo 
anunciando a Sua mensagem, ou seja, o Reino de Deus. Que 
Deus-Pai será este o de Jesus Cristo? Que Reino dos Céus? 
Que céu para além da Terra, quando sabemos que há um Universo 
cujo princípio e fim ignoramos, mas sabemos ser formado por 
milhões de galáxias, contendo cada uma delas biliões de 
estrelas e cada estrela formando possivelmente um sistema solar, 
onde haja tantas “Terras” iguais à nossa, com Homens nossos 
irmãos em Deus-Criador? Qual é o Deus deles? Aliás, este Deus-Javé 
da Bíblia tem apenas três mil anos, e o de Jesus Cristo, dois mil, 
quando sabemos, da História, que todas as civilizações tiveram 
os seus deuses, sendo, pois, numa perspectiva cósmica e universal, 
todos Deuses muito limitados no tempo e no espaço! E, se o sábio 
Jesus a quem chamaram de Cristo, viesse hoje à Terra, que Deus nos 
apresentaria, já conhecendo tudo o que a Ciência descobriu acerca do 
Universo e da vida? Que Deus? Que céu? Que inferno? Que 
caminho, que verdade, que vida Ele definiria? Diria, de novo: 
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida!”?

- Acabemos com mais um conselho do nosso Eclesiástico: 
“Seja qual for a ofensa, não guardes ressentimento contra o próximo 
e não faças nada levado pela raiva (…)”. Quase faz lembrar o “dar 
a outra face” de Jesus Cristo!