Afinal, o que é a ALMA?
Dum ponto de vista científico, a alma humana não existe. É
uma falácia a dicotomia clássica: alma e corpo como constituintes do Homem, ou
as duas faces de uma só moeda. Ora, o Homem é o corpo e o seu Self (Eu). O Self
é definido pelo ADN herdado – corpo e “alma” – dos seus progenitores: gamas
masculino e feminino, normalmente não em partes iguais, mas prevalecendo ora um
ora outro.
O todo-poderoso ADN, “imposto” a cada um no acto da sua concepção,
determina a configuração/anatomia do corpo, corpo onde se desenvolve um cérebro
no qual se localizam todas as prerrogativas ou atributos daquilo a que os
clássicos chamaram de alma: carácter, capacidades sensoriais, emocionais e
intelectuais, estando nestas, os diversos tipos de inteligência, da musical à
matemática, à rítmica, à poética, etc., bem como as capacidades de raciocínios
abstratos, de deduções lógico-matemáticas, de articulação e metaforismo da
linguagem.
Embora o chimpanzé compartilhe com o Homem 99% da mesma
cadeia de ADN, ele não possui aquelas capacidades, não indo além do Self animal
tendencialmente irracional (não capaz de raciocínios abstratos ou elaborados nem
de articulação da linguagem) que lhe foi dado no ADN pelos seus progenitores e
que ele – tal como o Homem – irá transmitir aos seus descendentes. (No entanto,
não será de excluir que, na evolução que nunca parou, desde que a Terra é Terra
e, nela, a vida, dentro de uns milhões de anos, ele não “dê o salto” e se passe
para o lado humano…)
Na verdade, a dita “alma” não é mais do que a manifestação
da actividade cerebral exercida através e pelos mais de cem mil milhões de
neurónios e suas sinapses (ligações ou conexões). Uma maravilha, um MILAGRE, um
mistério que até nem será muito difícil de revelar/entender: os neurónios e
suas sinapses, usando a energia que lhes é fornecida pelo sangue, são capazes
de criar, fabricar, executar, ter e conter todas aquelas manifestações do Self.
Tal fantástica maravilha de “tecnologia” poderá levar-nos a
perguntar se, para a conceber, não será necessário admitir um Deus-Criador, uma
Super-Inteligência eterna, não deixando a explicação ao sabor da evolução nem
do acaso.
Uma coisa, no entanto, é certa: o cérebro nasce com o corpo,
desenvolve-se com o corpo, alimenta-se com o corpo, fazendo parte integrante
dele – no limite, não podendo viver um sem o outro, numa concepção de vida que
se queira totalmente humana – e quando este morre, o cérebro morre também,
acabando-se ali o MILAGRE. Para lá da morte, nada restará nem de um nem de
outro! Nem Self nem recordações dele! É o ciclo da vida de um ser que pertence
ao Tempo.
Daí a impossível eternidade para a suposta mas inexistente
“alma” dita espiritual. É que não há espírito nenhum: tudo matéria e energia! Admitir
uma eternidade para um ser que começou – e forçosamente tem de acabar – no Tempo,
seria admitir uma espécie de semi-recta, com princípio e sem fim. Um nonsense, claro!
A Ciência tem-se debruçado, nestes últimos cinquenta anos, sobre
o estudo do cérebro, já conhecendo bem a sua actividade, os seus lóbulos e que
capacidade é sediada em cada um deles. E isto através da análise de acidentes
em que, perdendo o Homem um desses lóbulos, perde aquela capacidade, seja a
emoção, o raciocínio, a articulação da linguagem ou outra qualquer capacidade
dita espiritual. Tal facto reforça a sua natureza de “substituto” da clássica
alma.
A actividade cerebral é, no Homem, a expressão máxima da
energia em acção, podendo-se equiparar, de algum modo, à energia eléctrica,
conjunto de partículas luminosas que se propagam ondulantemente, mas sem se
verem…
Linda, bela a realidade de se ser Homem! Então,
alegremo-nos! Somos MILAGRE!
Infelizmente, um “milagre” a prazo, já que frutos do Tempo e
no Tempo, onde um dia começámos e, cedo ou tarde, acabaremos, átomos e
moléculas integrando-se no NADA/TUDO donde viemos. Logo, para cada um de nós,
“milagre” único e irrepetível!
Eis a grande razão de viver a VIDA no seu máximo, nunca
esquecendo de bem tratar este invólucro/ suporte da “ALMA” que é o nosso
querido CORPO!
Claro que podemos continuar a usar a palavra alma como
substituta do Eu. Mas teremos de fazer vénia à Ciência que coloca a realidade
humana (e animal) no seu devido lugar…