sexta-feira, 29 de março de 2013

Cristo ressuscitou! Alleluia! Alleluia!

É o grito que ecoa por todas as Igrejas cristãs, nesta época de festas pascais. E nem importa saber porque é que a Páscoa é festa móvel, sendo o Natal fixo em 25 de Dezembro. Pois se o Natal de Jesus quase de certeza absoluta não foi a 25 de Dezembro (aqui, podemos chamar à colação a pouca credibilidade histórica que têm os evangelhos já que referem, por exemplo, que os pastores andavam nos campos – coisa que não acontece no Inverno, situando portanto o acontecimento de Abril ou Maio a Outubro), data imposta pela Igreja com o apoio de Constantino para destronar as festas ao Deus Invictus, o Deus-Sol que renascia a cada solstício do Inverno, Natal a ter início como festa apenas pelo séc. IV, não havendo notícia da comemoração de tão alto acontecimento em tempos anteriores), também a Páscoa ou comemoração da ressurreição de Jesus, a quem chamaram de Cristo e de Real Filho de Deus, consubstancial ao Pai – obviamente sem qualquer prova para tal afirmação! – tanto faz que seja em fins de Março ou fins de Abril, como acontece actualmente, (embora Jesus obviamente tenha morrido e supostamente ressuscitado num dia fixo...) Pois..., pois a ressurreição de Jesus foi piedosa invenção, primeiro, dos discípulos, depois, pelos anos 50, aproveitada por Paulo para criar o cristianismo e a sua teologia da libertação do pecado do Homem através da morte de Jesus, Filho de Deus, Nosso Senhor, o Messias Redentor e Juiz supremo no Céu (aqui, esquecendo-se do Pai...).
Provas do que acima se afirma já foram aqui apresentadas, sobretudo nos textos sob o título “O inacreditável Credo católico”. Mas são facilmente dedutíveis da incoerência dos evangelhos, mesmo os sinópticos, na narrativa dos supostos factos – o facto mais importante para a religião nascente “pois se Ele não ressuscitou é vã a nossa fé”, no dizer do mesmo Paulo – evangelhos que, como se sabe, foram escritos para firmarem na Fé as comunidades de cristãos nascentes por toda a Ásia Menor e Norte de África, entre 40 a 80 anos depois dos mesmos supostos factos terem acontecido, factos que teriam sido mantidos na memória oral do povo, por não terem sido passados a documento escrito, evangelhos de que não temos originais, mas apenas cópias do séc. IV, evangelhos narrando factos que, a terem sido verdadeiros, não haveria historiador da época que a eles não se referisse abundantemente, sobretudo aos inúmeros milagres, coisas do “outro mundo”: os mortos ressuscitam, os coxos andam, os cegos vêem..., a própria ressurreição de um morto a quem chamaram “o Cristo, o Filho de Deus” e ao qual atribuíram aqueles milagres. É que isto de milagres não são acções feitas para ficarem na posse e conhecimento de alguns amigos do taumaturgo, até porque se destinavam a redimir toda a humanidade! Ora nem Fílon de Alexandria nem Flávio Josefo, os dois grandes historiadores da época, lhes fazem qualquer referência. Sintomático, não? E, neste contexto, há uma Verdade que tem de ser dita: todos os cristãos lucidamente críticos, católicos e não católicos, pressupondo que o sejam desde o papa aos sacerdotes, passando obviamente pelos teólogos estudiosos destas matérias, sabem exactamente que todos os milagres atribuídos a Jesus são invenções, culminando na máxima invenção do grande milagre da sua própria ressurreição, depois de já ter ressuscitado espectacularmente o seu amigo Lázaro, morto havia quatro dias... Então, porque não abdicam de apregoarem a falsidade instalada? – A razão é evidente: todo o seu império de fé ruiria. E isso não aproveitaria a ninguém, muito menos aos próprios que querem continuar a manter o poder sobre as consciências dos crentes nestas efabulações. Até quando, não sabemos...
Contudo, nestas análises, temos de colocar sempre o problema – grandíssimo problema que se põe a todo o Homem! – o problema existencial do “To be or not to be”. Neste caso, SER OU NÃO SER CRENTE, perguntando-nos: “O que mais interessa ao Homem para ser o mais possível feliz nesta vida terrena – vida que é a certa e... única, pois não se pode repetir, pesem embora as falaciosas teorias da reencarnação hindus – aproveitando-a em realização plena?” E a resposta não é não só consensual como altamente discutível, mesmo no campo racional. É que se a fé me faz viver melhor, porque não me socorrer dela para ter uma melhor vivência? E nem vale a pena saber se aquilo em que se acredita tem fundamentos totalmente credíveis ou não! Pois para quê, já que, se formos à procura de tais fundamentos, perdemos a mesma fé?
Daí que aqui defendamos que, na incerteza do que será melhor para o Homem, se a fé cega se a razão esclarecida, ou, se quiserem, se a Religião se o Conhecimento científico, a cada um competirá a sua escolha. “It’s your choice!”, diríamos. Mas que cada um seja o mais possível feliz nesta vida que é a certa, quer acreditando quer não que a outra, a eterna, existe e, tendo-a em mira, paute os seus actos de acordo com tal crença. Até porque quão agradável não é pensar naquele Paraíso eterno, de felicidade eterna, onde se faça enfim justiça, sobretudo se se tem uma vida de “cão”, coisa que acontece com cerca de 4/5 da humanidade!!! (Facto muito triste que, obviamente, explica a adesão massiça a n religiões que proliferam pelo mundo, todas sem qualquer fundamento credível, buscando-se nelas alguma esperança!) Então..., escolhamos o que nos der mais jeito para sermos felizes... Com uma certeza absoluta: se a vida eterna existe (já aqui provámos que, infelizmente, ela é impossível para um ser pertencente ao Tempo, neste caso, o Homem!) ela existirá tanto para o crente como para o não crente, facto que deveria levar-nos a não nos preocuparmos com tal "realidade".
De qualquer modo,... FELIZ PÁSCOA PARA TODOS! Com ou sem fé! Mas com um grande sorriso nos lábios! É que ainda estamos vivos, caramba!!!

sexta-feira, 22 de março de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (20/?)


III
A estranha revelação
    Recolhemo-nos ambos aos nossos aposentos. E, repostas as energias vitais que o alimento renova no corpo cansado, entregámo-nos ao doce e merecido sono, momentos sempre férteis para a intervenção divina nas mentes dos Homens predestinados para grandes feitos. Sobretudo naqueles tempos...
    Sonhou João reeditando o seu dia pregando à beira do rio, sentindo-se exausto mas largamente compensado pelo sucesso obtido, ao ver tanta gente a procurá-lo, a ouvi-lo, a aceitar a sua mensagem, incutindo nela o medo, imitando os antigos profetas que ameaçavam com os castigos de Javé se prevaricassem, não pagassem o imposto devido ao Templo ou adorassem ídolos feitos pelas próprias mãos. Depois, apareci-lhe eu, também à beira do Jordão, cativando-o mais do que qualquer fariseu ou saduceu pelo meu saber, o meu ardor de jovem amadurecido pela dureza de quarenta dias e quarenta noites passadas no deserto. Mas de forma estranha: primeiro, elevava-me até ao céu que estava ali pertinho, mesmo por sobre a sua cabeça, e escondia-me nas nuvens; depois, voltava, resplandecente; uma e outra vez. Do céu, pouco ou nada conseguia ver, embora arregalasse os olhos para lobrigar que fosse a fímbria do manto de Deus, os pés do seu altíssimo trono; parecia-lhe, no entanto, ouvir suaves melodias certamente de anjos que cantavam hosanas ao Altíssimo, perdendo-se o som pelo espaço infinito... Até que, de repente, no meio de grande claridade que lhe feria os olhos, tal a sarça ardente de Moisés mais de mil anos antes, ouviu, tonitruando, uma voz que lhe dizia: «João, este é o meu filho muito amado no qual Eu pus toda a minha complacência. Escuta-o!» E, sem que ele pudesse interferir, perguntar fosse o que fosse, o céu fechou-se e nele a voz tonitruante de Deus; de mim, também não houve mais notícia nem vislumbre. Então, no dia seguinte, quando vim de novo ter com ele, surpreendeu-me, efusivo e temente:
    − És tu! És tu que me deves baptizar com o Espírito e com o fogo! Tu és o Ungido de Deus, o Escolhido pelos Céus, o Filho muito amado enviado para salvar Israel e o mundo! És tu aquele a quem eu não sou digno de desapertar as correias das sandálias!
    E contou-me o sonho que tivera. As palavras ouvidas certamente vindas do Céu e da boca de Deus que me chamara “Filho muito amado”. Fiquei estupefacto. Mas... acreditei! Aliás, faltava-me alguém que me dissesse exactamente aquilo que já vinha sentindo havia tempo: eu era um eleito de Deus. Ser o seu filho muito amado, a tanto não chegaria mas que era tentador... Resolvi então chamar-me não Filho de Deus mas Filho do Homem, expressão que nas Escrituras significava um humano especial aos olhos dos Homens e certamente aos olhos de Deus. E a todo o Israel eu falaria de Deus e do Seu Reino e de como Deus era realmente Pai, o Pai que estava nos Céus e que se preocupava com os seus filhos, os Homens, começando pelos filhos de Israel. Agradeci a João, dizendo-lhe:
    − Em breve ouvirás falar de mim. Tu foste a luz que me iluminou o caminho... ou foi Javé através de ti. A minha verdadeira vida vai começar agora, ou começou agora aqui.

sábado, 16 de março de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (19/?)


    Eu ouvia, embevecido, as palavras do mestre. Concordando totalmente. Sentindo cada vez mais forte dentro de mim o apelo ao cumprimento da tal missão de levar a Boa Nova a todo o povo, a nova do Reino de Deus que estava prestes a vir, a nova da restauração de Israel e das suas doze tribos (certamente por milagre divino pois havia muito que a identificação de dez delas se havia perdido, desde que os assírios conquistaram o reino do Norte onde governavam com alguma diferenciação, tendo sido dispersas pelos conquistadores para reduzir a hipótese de revolta, restando apenas as duas do Sul, Judá e Benjamim que, apesar do cativeiro da Babilónia, não se dispersaram e se haviam mantido até àquela data), mas, sobretudo, a nova da salvação de cada um conforme a sua conduta no amor a Deus e ao próximo, acabando com o «Olho por olho, dente por dente», pregando um amor que incluiria os próprios inimigos, lançando a todos um estranho desafio, cúmulo da perfeição: conseguirem dar a outra face... Esta era uma mensagem que nem sequer revelaria a João por achar que nem ele, obcecado que andava em mandar ao povo fazer penitência e em atemorizá-lo com o fim iminente dos tempos, compreenderia e aceitaria. Talvez até me chamasse tolo, lunático, idealista, porque tal solicitação era contra-naturam e contra as Sagradas Escrituras reveladas por Javé ao Homem. Javé não teria apregoado o «olho por olho» para agora dizer que se tinha enganado e que melhor era dar a outra face. Aliás, se assim fosse e se os do tempo de Moisés pudessem voltar de novo à vida, queixar-se-iam do mesmo Javé que não lhes apontou tal caminho de perfeição: “Que mais tinham do que eles os do meu tempo e os vindouros?” – protestariam.
    Mas enquanto o meu pensamento divagava por estas mensagens do outro mundo: como perdoar aos inimigos ou, quase impossível, dar a outra face, indagava-me quem seria aquele a que se referia João dizendo dele que nem era digno de lhe desapertar as correias das sandálias e que baptizaria com o Espírito Santo e com o fogo. Quem seria ele senão o Messias, o Anunciado pelas Escrituras? Então, perguntei a João:
    − Quem é esse que há-de vir e de que nem és digno de descalçar as correias das sandálias?
    − E tu, quem és para me fazeres tal pergunta? − respondeu João não habituado a que fosse interpelado daquele modo.
    Mas como a noite estava a chegar, não haveria muita oportunidade para respostas convincentes de um e de outro lado. Eu, no entanto, ainda respondi:
    − Quem sou eu? Não sei! Acaso, alguém saberá quem realmente é? Tu sabes quem és?
    E João, tirando-se de medos e enchendo-se de brios:
    − Eu sou uma voz que clama no deserto, aquele que baptiza na água, que anuncia o fim dos tempos e a vinda de um novo reino, o Reino de Deus!
    Não esperava tal resposta contundente. De qualquer modo, fiquei a saber que João não era, não se sentia o Messias, o Enviado, o Ungido que viesse salvar o povo de Deus. Quem seria então? E rematei:
    − Bem, a noite já se alonga, as estrelas chamam-nos para o descanso. Se quisesses, poderíamos voltar a encontrar-nos amanhã. Vou pensar na tua pergunta. Quem sabe se no sono desta noite não me será revelado quem eu sou? Por enquanto, creio sentir-me como tu: apenas uma voz que clama no deserto...

sábado, 9 de março de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (18/?)

   
No meu périplo errante pelo deserto, tive conhecimento, por raros transeuntes de quem me abeirei para saber notícias do mundo, de que o tal João de que me falara Nicodemos baptizava na água do rio Jordão e apregoava a grande notícia: “O fim dos tempos está próximo.” E, já sentindo chegada a hora de sair daquele regime de asceta, passando não poucas vezes dias e noites sem comer, nem mesmo o parco mel silvestre ou tamarinhas que brotavam dos arbustos rasteiros, para em alucinações por causa da fome melhor vislumbrar os caminhos de Deus, decidi ir até ao Jordão onde pediria a João que me baptizasse, o que aconteceu. Baptizou-me João numa tarde quente e calma. Uma calma apenas importunada pelo amontoado de gente que, receando o fim do mundo, esperando que antes de tão radical acontecimento o esperado Messias aparecesse, ali ouvia João e se baptizava. “Um baptismo de água, mal não deveria fazer. E se era para salvação do corpo e da alma...” − pensavam.
    Então, indo-se embora os discípulos e toda a gente pelo aproximar da noite, e já apertando a fome, ficou o asceta João em amena conversa de fim de tarde comigo, perguntando-me se eu era essénio ou sacerdote que viera ali disfarçado de plebeu para o experimentar. “Nem sacerdote nem essénio. A verdade é que não sei quem sou. Ando à procura.”, respondi-lhe, criando mistério. E embrenhámo-nos pelas Escrituras, tentando descortinar o como e o quando o fim dos tempos se cumpriria, relacionando textos, tirando lições, pretendendo eu revolucionar o mundo com ideias novas de umas novas e mais perfeitas Escrituras. Conversámos sobre tudo o que estava a acontecer em Israel e de como era inevitável que Deus interviesse de novo na História como o havia feito ao longo de séculos, desde Moisés até à libertação do cativeiro da Babilónia, com milagres a proteger e a alimentar o Seu povo eleito, levando-o até à Terra Prometida. As profecias ir-se-iam cumprir. O povo vivia oprimido sob o jugo romano, vítima da pobreza e da injustiça. Era necessário criar nele a esperança em Javé e que se Javé sempre o salvara nas horas de aflição, iria fazer o mesmo naqueles tempos. Apenas – apenas? – seria necessário que todos se arrependessem e fizessem penitência, a começar pelos sacerdotes, os fariseus, os saduceus. E dizia-me João, sorrindo, com orgulho: “Já vieram cá muitos desses a pedir o meu baptismo. Mas eu, antes de lho conceder, não lhes perdoei vaidades e arrogância, amachucando-lhes o falso prestígio de que se arrogam: «Raça de cobras venenosas, quem vos ensinou a fugir da ira que vai chegar? Fazei coisas que provem que vos convertestes. Não penseis que basta dizer: Abraão é nosso pai. Porque eu vos digo: até destas pedras Deus pode fazer nascer filhos de Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores. E toda a árvore que não der bom fruto será cortada e lançada no fogo. Eu baptizo-vos com água para que vos convertais. Mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. E eu não sou digno nem de lhe desapertar as correias das sandálias. Ele é quem vos baptizará com o Espírito Santo e com o fogo. Ele terá na mão uma pá: vai limpar a sua eira e recolher o seu trigo no celeiro; mas a palha ele vai queimá-la no fogo que nunca se extingue”.

sábado, 2 de março de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (17/?)

II
Depois do deserto, o baptismo de João
    Despedimo-nos. Nicodemos já só ouviria falar de mim quando apareci a João, à beira do Jordão, pedindo-lhe: “Baptiza-me com o teu baptismo de água.” Entretanto, resolveu seguir o meu conselho e voltou a ler o Livro da Sabedoria, livro escrito por um judeu de Alexandria certamente para reforçar a fé dos Judeus abalada por um helenismo avassalador que espalhava por toda a parte as suas filosofias, costumes e cultos religiosos, pretendendo, ao mesmo tempo, mostrar aos gregos a superioridade da sabedoria judaica, dando soluções para o Além da vida, o que eles, gregos, não conseguiram fazer. Mas, incongruentemente, confrontado com o drama do justo que morre como o ímpio, sem ter gozado a sua recompensa, drama doloroso interpretado exemplarmente por Job e pelo apócrifo Eclesiastes, o autor foi buscar aos gregos as ideias de imortalidade e de incorruptibilidade para prometer aos justos uma nova vida depois da morte, no Reino dos Céus, junto de Deus.
    Leu, releu, comentou, sorriu. Mas, acabando a leitura de tão sábio livro, Nicodemos concluiu aquilo que já bem sabia: o justo e o injusto têm exactamente o mesmo fim: o pó e o esquecimento, embora fosse de elementar justiça humana e muito mais divina que as boas acções tivessem recompensa e as más, castigo, aquelas no Céu, estas no Inferno. E não encontrou senão afirmações sobre a imortalidade dos justos que viverão para sempre junto a Deus, ou seja, a almejada eternidade, sobre o reino celestial, o Espírito Santo, o Céu e o Inferno. Infelizmente, afirmações apenas, sem qualquer prova. Aliás, que provas poderia apresentar o autor da Sabedoria ou... os autores de todas as Escrituras? Provas, só vindas de Deus. E, definitivamente, parece que Deus não quis, nunca quis, não quer revelar-Se de modo algum aos Homens que O procuram, que O procuraram. É um Deus escondido que apenas se deixou “ver” uma vez na história da humanidade, prerrogativa concedida a Moisés, na sarça ardente, mas... de costas, como refere o Êxodo, 33,18 e 23: “Moisés pediu a Javé: Mostra-me a tua glória. (...) E Javé respondeu: Tu não poderás ver o meu rosto porque ninguém pode vê-lo e continuar com vida. (...) Não poderás ver a minha face; ver-me-ás apenas pelas costas.” E não há dúvida: os Homens, só O encontrando, é que encontrarão a vida eterna!
    No deserto, tive a agradável surpresa do encontro com os essénios, em Kumran. Receberam-me como um irmão, cantando o hino da Comunidade: “Não pagarei homem algum com o mal. Persegui-lo-ei com a bondade, pois que o julgamento de todos os vivos cabe a Deus e é Ele quem irá entregar ao homem o seu prémio”. Lindo, não? Notei que se dedicavam à escrita, copiando e comentando as antigas Escrituras, uns, outros ao cultivo de frutas e legumes, utilizando a água da chuva, recolhida em grandes cisternas. Conversando com os mestres, soube que acreditavam na redenção e na imortalidade da alma, praticavam o baptismo, o ritual da bênção do pão e do vinho, não prestando culto a imagens, auxiliavam o próximo e os marginalizados, cuidavam dos doentes, fazendo uso de muitas ervas medicinais para os curar; tudo isto, privilegiando o silêncio como forma de estar na Comunidade, havendo confissão das culpas ao fim do dia, como ritual de purificação e de aperfeiçoamento. Todo um programa de vida virada para o mundo físico e para a eternidade. Tudo o que aprendi com eles ir-me-ia ser de muita inspiração para a minha vida próxima que sentia se iniciaria em breve. Convidaram-me para ficar. Escusei-me com deferência e cordialidade, dizendo que o meu destino certamente seria outro que não aquele demasiado monástico para as minhas ambições, ambições ainda indefinidas no meu confuso pensamento.