sábado, 9 de março de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (18/?)

   
No meu périplo errante pelo deserto, tive conhecimento, por raros transeuntes de quem me abeirei para saber notícias do mundo, de que o tal João de que me falara Nicodemos baptizava na água do rio Jordão e apregoava a grande notícia: “O fim dos tempos está próximo.” E, já sentindo chegada a hora de sair daquele regime de asceta, passando não poucas vezes dias e noites sem comer, nem mesmo o parco mel silvestre ou tamarinhas que brotavam dos arbustos rasteiros, para em alucinações por causa da fome melhor vislumbrar os caminhos de Deus, decidi ir até ao Jordão onde pediria a João que me baptizasse, o que aconteceu. Baptizou-me João numa tarde quente e calma. Uma calma apenas importunada pelo amontoado de gente que, receando o fim do mundo, esperando que antes de tão radical acontecimento o esperado Messias aparecesse, ali ouvia João e se baptizava. “Um baptismo de água, mal não deveria fazer. E se era para salvação do corpo e da alma...” − pensavam.
    Então, indo-se embora os discípulos e toda a gente pelo aproximar da noite, e já apertando a fome, ficou o asceta João em amena conversa de fim de tarde comigo, perguntando-me se eu era essénio ou sacerdote que viera ali disfarçado de plebeu para o experimentar. “Nem sacerdote nem essénio. A verdade é que não sei quem sou. Ando à procura.”, respondi-lhe, criando mistério. E embrenhámo-nos pelas Escrituras, tentando descortinar o como e o quando o fim dos tempos se cumpriria, relacionando textos, tirando lições, pretendendo eu revolucionar o mundo com ideias novas de umas novas e mais perfeitas Escrituras. Conversámos sobre tudo o que estava a acontecer em Israel e de como era inevitável que Deus interviesse de novo na História como o havia feito ao longo de séculos, desde Moisés até à libertação do cativeiro da Babilónia, com milagres a proteger e a alimentar o Seu povo eleito, levando-o até à Terra Prometida. As profecias ir-se-iam cumprir. O povo vivia oprimido sob o jugo romano, vítima da pobreza e da injustiça. Era necessário criar nele a esperança em Javé e que se Javé sempre o salvara nas horas de aflição, iria fazer o mesmo naqueles tempos. Apenas – apenas? – seria necessário que todos se arrependessem e fizessem penitência, a começar pelos sacerdotes, os fariseus, os saduceus. E dizia-me João, sorrindo, com orgulho: “Já vieram cá muitos desses a pedir o meu baptismo. Mas eu, antes de lho conceder, não lhes perdoei vaidades e arrogância, amachucando-lhes o falso prestígio de que se arrogam: «Raça de cobras venenosas, quem vos ensinou a fugir da ira que vai chegar? Fazei coisas que provem que vos convertestes. Não penseis que basta dizer: Abraão é nosso pai. Porque eu vos digo: até destas pedras Deus pode fazer nascer filhos de Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores. E toda a árvore que não der bom fruto será cortada e lançada no fogo. Eu baptizo-vos com água para que vos convertais. Mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. E eu não sou digno nem de lhe desapertar as correias das sandálias. Ele é quem vos baptizará com o Espírito Santo e com o fogo. Ele terá na mão uma pá: vai limpar a sua eira e recolher o seu trigo no celeiro; mas a palha ele vai queimá-la no fogo que nunca se extingue”.

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