quinta-feira, 29 de abril de 2021

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 306/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos 

Evangelho segundo S. JOÃO – 1/?

 – Tendo escrito o seu Evangelho mais de cinquenta anos após a morte de Jesus Cristo, i. é, pelos anos 90, João não narra tantos “factos” da vida de Jesus como os outros evangelistas, mas prefere meditar e fazer-nos meditar sobre a realidade que, para ele, é o próprio Jesus Cristo: o Messias, o Filho de Deus, o Verbo Encarnado. Será que nos conseguirá convencer e, assim, encontrarmos a tal LUZ de que andamos à procura?

E começa: “In principio erat Verbum et Verbum erat Deus…” (Jo 1,1) No princípio, era o Verbo e o Verbo era Deus…” Ora bem, seria mais adequado à eternidade de Deus, dizer “Ab aeterno erat Deus”. “Desde toda a eternidade”. É que “in principio” reporta-se indubitavelmente ao Tempo e Deus está fora do Tempo… Dizer que "A Palavra era Deus" não nos parece que signifique algo de relevante para o que nós realmente procuramos: a divindade de Jesus e se as suas palavras são ou não de vida eterna.

– Nesse objectivo, não deixa de ser interessante o que diz João Baptista de Jesus: “Eu vi o Espírito descer do Céu como uma pomba, e poisar sobre Ele. Eu também não O conhecia. Aquele que me enviou para baptizar com água foi Ele que me disse: «Aquele sobre quem vires o Espírito descer e poisar, esse é quem baptiza com o Espírito Santo. E eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus.” (Jo 1,32-34)

– Ora, a primeira pergunta é: Realmente, para quê um baptismo? Depois, não sabemos que credibilidade atribuir ao maravilhoso que acontece, ou dele é dado testemunho, tal como é referido, e de forma espectacular, embora somente visível para João Baptista: o Espírito a descer e a poisar sobre Jesus em forma de pomba… Bem, se é espírito, para ser visível por olhos humanos teria de ter uma qualquer forma. Porque escolheu a forma de pomba e não escolheu outra qualquer, a de estrela ou de labareda de fogo, como acontecerá no Pentecostes, no cenáculo, não sabemos…

Aliás, se tivesse aparecido nessoutra forma, faríamos exactamente a mesma pergunta…

Mas… porque precisava Jesus que o Espírito descesse sobre Ele? Não era, apesar da sua forma humana, o Filho de Deus e como tal em tudo igual a Ele e como tal já cheio do Espírito? Porque era necessário tornar-se visível e apenas a Baptista? Só para que ele no-lo contasse e nós tivéssemos de acreditar? Não é mais uma das muitíssimas coisas que temos de acreditar, nesta história da nossa salvação que tanto tem de belo como de trágico? Belo, porque nos revela um Céu eterno… trágico, porque não conseguimos saber como lá chegar pelo simples facto de sermos razão e todas as “certezas” que temos não passarem além da Fé – extra-racional, por sua própria definição!

– “Aquele que me enviou…” Baptista sentia-se um enviado, certamente por Deus-Pai. Como? Quem lho revelou? Também em sonhos, à boa maneira bíblica do A.T? De qualquer modo, não deixa de mostrar uma certa arrogância ao julgar-se assim um enviado de Deus-Pai. Como só afirma sem nada provar, é, obviamente, mais um factor de descredibilidade quanto ao que afirma.

– Também não entendemos o que é “baptizar com o Espírito Santo”…

E muito menos entendemos como é que uma mensagem de salvação, a tal Boa Nova, está tão cheia de secretismos, tão enigmatizada, quando deveria ser clara para que toda a gente a entendesse e pudesse realmente salvar-se. Somos quase levados a concluir que, a haver salvação, houve alguém que a sabotou com tanto enigma e que a açambarcou só para alguns, lembrando-nos frases do próprio Cristo, como: “Muitos são chamados e poucos os escolhidos”, “É mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus”, “Quem puder entender que entenda!”…

E sobretudo aquela: “Estreita é a porta e o caminho que leva ao Céu e larga a porta e o caminho que dá entrada no inferno!” (Mt 7,14)

– Tudo afirmações que revelam o fracasso da missão de Jesus, se é que Ele veio salvar a Humanidade inteira - não se sabe bem de quê! - e não apenas meia-dúzia de eleitos…

Depois, como é que Baptista pode afirmar, sem qualquer sombra de dúvida, que “Ele é o Filho de Deus”? Como? Caímos no ciclo vicioso: ou Deus lhe revelou que Ele era Deus, e entramos na Fé… ou a sua afirmação tem tanto peso como a minha… Isto é: nenhum!!!

Veremos que Jesus vai tentar confirmar, mais tarde, esta sua suposta divindade, com palavras enigmáticas, tipo chamar-se "Filho do Homem", e sobretudo com milagres. Portanto, além da palavra de Baptista, teremos a palavra de Jesus. 

Enfim, temos mesmo de ter Fé!…

 

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Cristo Redentor, Cristo Salvador

 Da absurda ideia de um Filho de Deus feito Homem, redentor e salvador da Humanidade

 Antes de abordar o assunto, estabeleçamos duas premissas:

1 – Redimir de quê?

2 – Salvar para quê e em ordem a quê?

A ideia de Redenção da Humanidade e da sua Salvação para a Vida Eterna, propaladas pelas religiões cristãs, Redenção e Salvação encarnadas na figura de um judeu chamado Jesus, nascido há 2 mil anos, judeu que foi divinizado ao nascer de uma Virgem por Fecundação do Espírito Santo, Espírito Santo que seria a 3ª pessoa do Deus trino: Pai, Filho e Espírito Santo, não sendo portanto o Pai que fecundou Maria mas o seu Espírito, criando-se mais um mistério, o da SSª Trindade, mistério porque ninguém percebe tal coisa inventada pelos teólogos cristãos, logo nos primeiros tempos do cristianismo, mas sobretudo no séc. IV e, depois, aprofundado na Idade Média (baseando-se, por exemplo, em Mt 28-19: “…ide e baptizai em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo”)…, a ideia da Redenção e da Salvação da Humanidade é simplesmente absurda, irracional e totalmente oposta a qualquer possível desígnio que o Verdadeiramente verdadeiro Deus pudesse/quisesse ter para a Humanidade. (E já estamos a humanizar o inumanizável Deus, ao atribuir-lhe um querer, uma vontade…)

É que a Redenção propalada pelo cristianismo não é uma Redenção pela inteligência, pela bondade, pela humanidade, pela justiça, o amor, a fraternidade universal… mas pelo sofrimento e sofrimento o mais atroz, existente ao tempo, a crucificação do Redentor!

Tal proposta é um autêntico atentado a uma Inteligência divina que tal absurdo propusesse ou propalasse numas Escrituras supostamente inspiradas por essa mesma Inteligência divina, Escrituras que, mais tarde, deveriam ser cumpridas na pessoa do Redentor.

Mais: a ideia de uma Redenção por um ser divino – Filho! – que teria de sofrer para redimir e salvar a Humanidade condenada ao Inferno eterno, apaziguando, assim, a ira de seu Pai supostamente ofendido com os supostos pecados dessa mesma Humanidade, tendo tais pecados começado logo com o pecado original cometido por Adão e Eva no Paraíso de todas as delícias, desobedecendo à ordem divina de não comerem a maçã proibida… é uma ideia que só cabe na cabeça doentia e perversa de um judeu – foram judeus que a inventaram! – influente na História da altura desse mesmo povo, um qualquer velho levita ou sacerdote.

Mas assim se propagou, falando-se em “Cordeiro imolado”, e fazendo-se outras comparações adequadas aos tempos sacrificiais de animais no altar do Templo, a chamada casa de Deus… (Mais uma barbaridade inventada por cabeça doentia e… senil!)

Mais: dizem os cristãos que Deus é Amor. O Deus da Bíblia, claro, sendo esta o Livro Sagrado de Judeus e cristãos. Então, como explicam que, sendo Amor, obrigue o seu Filho muito amado a sofrer os horrores que sofreu? Na sua Infinita Inteligência não tinha forma mais humana e racional de redimir a Humanidade dos seus pecados? – Um absurdo completo e perverso! E, em última análise, era ele, o próprio Pai, que sofria porque o Filho era Deus com Ele na Unidade do Espírito Santo… Uma horrenda confusão, santo Deus!

Mais ainda: tendo a humanidade cerca de uns quatro milhões de anos de existência, só agora – há 2 mil anos! – é que Deus, no seu infinito Amor e na sua infinita misericórdia, se lembrou de vir redimi-la e salvá-la, não se importando com os milhões de milhões que, entretanto, nasceram e morrerem sem conhecerem tal privilégio?! Que tonteria e que injustiça a deste Deus!

E como é possível que haja uma religião – dividida, por interesses políticos e de poder, em três: católicos, ortodoxos, protestantes! – que apregoe esta tonteria a mais de mil milhões de seguidores (mesmo assim, apenas 1/7 da Humanidade!) que nela acreditam piamente, sem questionarem a sua tontice?

Enfim, se a Redenção é um total absurdo, a Salvação não o é menos! Tudo provém do tal suposto pecado original cometido por uns supostos primeiros pais Adão e Eva, supostamente colocados por Deus num suposto Paraíso, supostamente proibindo-os de comer uma maçã, etc, etc, etc…, condenando toda a Humanidade ao inferno.

E os crentes acreditam que Cristo, redimindo a Humanidade dos seus supostos pecados pelo seu sofrimento atroz numa cruz – cruz que continua, por esse mundo fora, a lembrar tal desumanidade cometida por Homens contra um inocente! – ofereceu-lhe a salvação para a vida eterna, mas só a partir de agora e só para os que forem acreditando nele… Mais um total absurdo!

Então, se é legítimo perguntar, com indignação da emoção e da razão, “Como é possível que os gurus das religiões cristãs continuem a apregoar tamanha barbaridade/falsidade – REDENÇÃO/SALVAÇÃO – como sendo a VERDADE”, mais legítima ainda é a pergunta:

“Como é possível que tantos seres humanos – inteligentes! – não raciocinem e não vejam/sintam a barbaridade/insanidade de tal afirmação da sua insensata Fé, venerando os Cristos Redentores/Salvadores, em tantas imagens e em tantos templos espalhados pelo mundo?”

 


 

 

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 305/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos 

Evangelho segundo S. LUCAS – 21/?

 – Outras palavras enigmáticas de Jesus Cristo e também referidas apenas por Lucas: “Vós estivestes sempre comigo em todas as minhas provações. Por isso, assim como meu Pai Me confiou o Reino, também Eu vos confio o Reino a vós. Haveis de comer e de beber à minha mesa, no meu Reino e sentar-vos em tronos para julgar as doze tribos de Israel.” (Lc 22,28-30)

– Que provações experimentou Jesus? As tentações no deserto? Os ataques verbais dos fariseus que sempre tiveram a “condigna” – nem sempre muito divina!... – resposta por parte de Jesus? Fome, sede e… abandono, pois “O Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça.” (Mt 8,20)?

E provações como homem ou… como Deus? Ou… como Deus e homem?

Depois, o Reino! O Reino de Deus! O meu Reino! Continuamos sem saber realmente que Reino, onde e como, se na Terra, se no Céu…

Também não sabemos o que dizer daquele “comer e beber à minha mesa, no meu Reino”! Se não sabemos que Reino!… O enigma é total. Tudo o que dissermos em tentativas de interpretação serão meras conjecturas sem qualquer credibilidade. É, aliás, o que os teólogos fazem, dizendo que a Bíblia não pode ser questionada mas apenas interpretada, por ser palavra de Deus. Esquecem-se, no entanto, que aqueles que disseram - os seus autores - que a Bíblia era a palavra de Deus não merecem qualquer credibilidade...

Por outro lado, se é simbólico, os símbolos não colhem qualquer simpatia de verdade racional!

Enigma maior são os tronos onde se sentarão para julgar as doze tribos de Israel… (também referido em Mt 19,28). Enigma ou não, mais uma vez, temos um vislumbre de um Céu construído e imaginado ao modo dos palácios reais terrenos, com o Rei no seu trono e os servidores sentados um pouco mais abaixo, executando tarefas… Uma completa desilusão, caríssimo Jesus! E mais uma vez lá ficámos sem respostas claras acerca de um Céu que nós tanto queríamos perceber e que nos parece cada vez mais longe, ao questionarmo-Lo tanto, por inefável e charmoso que seja…  

– “É preciso que se cumpra em Mim a palavra da Escritura: «Foi considerado como um criminoso.»” (Lc 22,37)

– Novamente as Escrituras… Novamente a pergunta: “Porque era preciso que se cumprissem nele as Escrituras? Porque não estava Deus e o seu Filho acima delas se é que tais Escrituras são/foram de inspiração divina?” É que nós precisamos de saber a Verdade e toda a Verdade! Não estamos aqui a brincar às escrituras, pois se trata da vida ou da morte eternas, entenderam? Entendeu ou… entende Jesus Cristo? É que Jesus não nos pode dizer “Têm de se cumprir as Escrituras.” sem nos explicar porquê e sobretudo para quê! Ou então…

Ou então tudo fica sem sentido e sem esperança, tudo não passando de um colossal embuste, tão colossal que nem sequer queremos pensar nele para o não tornarmos real e esvair-nos num total vazio dessa Esperança…

A esperança! Essa é realmente a última a morrer!… Assim na Terra, assim… no Céu! Nós, aqui, acabámos de analisar criticamente o Evangelho de Lucas – partes não repetidas noutros Evangelhos – sem perdermos a esperança de se nos fazer luz no nosso intelecto, bem para além da Fé, na qual e com a qual tropeçamos, a cada passo…

Por isso, e sem desistir de encontrar a VERDADE, a verdade da apregoada VIDA ETERNA, vamos analisar o Evangelho de João! E vamos com a esperança de ainda descobrir que Jesus é “O Caminho, a Verdade e a Vida”… (Jo 14.6)

Ah, como gostaríamos de encontrar a VERDADE VERDADEIRA!

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 304/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos 

Evangelho segundo S. LUCAS – 20/?

 – Lucas é também o único dos evangelistas a contar a comparação que Jesus faz da oração de um fariseu e de um pecador, neste caso, um cobrador de impostos. (Lc 18,9-14) Claro que a arrogância do fariseu vai contrastar com a humildade do cobrador. E ao “Ó Deus, agradeço-Te porque não sou como os outros, que são ladrões, injustos e adúlteros…” contrapõe-se o “Ó meu Deus, tem compaixão de mim que sou pecador!”, concluindo Jesus: “O cobrador de impostos foi para casa mais justo aos olhos de Deus do que o fariseu. Pois quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado.”

– Faz-nos lembrar a frase não menos lapidar de Jesus: “Os últimos serão os primeiros e os primeiros, os últimos no Reino de Deus.” (Mt 19,30, 20,16)

Mas… esta aversão, sentidamente expressa de Jesus pelos fariseus, não O torna demasiado humano, embora se entenda - também a nível humano - que aqueles fariseus fossem realmente detestáveis e dignos de toda a crítica mordaz e implacável?… Não é próprio do Homem tal crítica, tenha ou não carradas de razão? E - repetindo-nos - porque não teve Jesus paciência com eles e os converteu, iluminando-os para que também eles vissem a Verdade da sua mensagem? Afinal, não eram também estes fariseus ovelhas perdidas? Porque se “escondeu” e não fez os milagres ali perante os seus olhos incrédulos e, assim, acreditassem?

– Pior! Onde está o Jesus que nos manda para o inferno se chamarmos “estúpido” ao nosso irmão? (Mt 5,22) Não é o mesmo ou pior chamar “raça de víboras” e “sepulcros caiados de branco” a estes hipócritas?

– Outra história que só Lucas refere é a de Zaqueu, chefe dos cobradores de impostos que, pelos vistos, enriqueciam à custa da corrupção na profissão, uns “bons” pecadores, está visto!… O baixote Zaqueu desceu da árvore para onde subira a fim de ver Jesus no meio da multidão e disse: “Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres; e se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais.” E Jesus concluiu: “Na verdade, o Filho do Homem veio procurar e salvar os que estavam perdidos.” (Lc 19,1-10)

– Temos de repetir a pergunta: Se o Filho do Homem (personagem que não se sabe bem o que é, mas supõe-se ser o Messias, o Salvador) veio procurar e salvar os que estavam perdidos, porque não começou por procurar e salvar os fariseus, sacerdotes, levitas… e apenas se preocupou com os pobres, doentes, estrangeiros… os desprotegidos e marginalizados nesta vida? Porque só a estes quis dar a esperança, dar a fé numa vida eterna junto de Deus? Não teria sido muito mais útil para o cumprimento da sua missão – a salvação de toda a Humanidade – começar por “converter” os dirigentes do povo, fossem políticos, fossem religiosos?

– Ao saber das intenções de Zaqueu, exclamou: “Hoje, entrou a salvação nesta casa.” (Lc 19,9)

– Bonita a frase, bonita a história e atitude de Zaqueu. Mas que nada têm de Céu ou de divino. Apenas, manifestações de pura humanidade…