quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 342/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos 

Evangelho segundo S. JOÃO – 36/?

 – A história da morte e ressurreição de Lázaro teve consequências:

– “Os sacerdotes e os fariseus reuniram o Conselho e disseram: «O que é que vamos fazer? Esse homem está a fazer muitos milagres. Se deixamos que Ele continue, todos vão acreditar nele; os romanos virão e destruir-nos-ão o Templo e a nação.» Um deles, chamado Caifás, sumo-sacerdote naquele ano, disse: «Vós não percebeis nada. Não vedes que é melhor um só homem morrer pelo povo do que perecer a nação inteira?» Ora Caifás não disse isto por si mesmo. Sendo sumo-sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus ia morrer pela nação. E não só pela nação mas para reunir os filhos de Deus que estavam dispersos. A partir desse dia, as autoridades dos judeus decidiram matar Jesus.” (Jo 11,47-53)

– Não se percebe a lógica farisaica de que Jesus seria a causa, ao fazer milagres e outras boas obras, das invasões romanas e da destruição do Templo… Antes parece nitidamente um “ensaio” para levarem a população a amaldiçoar Jesus que os não livrara do jugo romano, relembrando velhas profecias que atribuíam ao Messias a missão de libertador do jugo assírio…

Há sempre o velho e abominável problema: “Se eles não tivessem agido assim, como se realizariam as omnipotentes Escrituras?” Mote, aliás, sugerido por João: “Ora Caifás não disse isto por si mesmo. Sendo sumo-sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus ia morrer pela nação. E não só pela nação mas para reunir os filhos de Deus que estavam dispersos.”

E sempre as mesmas e incontornáveis perguntas: “Porque não se deixaram convencer eles do poder divino de Jesus perante tantos e tamanhos milagres? Ainda se fossem fenómenos facilmente explicáveis por magia!… Que penumbra não deixava que seus olhos se abrissem? Como é que Jesus, que teve tanto poder sobre os elementos da Natureza, não teve poder sobre as mentes daqueles judeus que - como já dissemos, repetidamente - parece não terem sido mais do que meros instrumentos nas mãos de Deus-Pai para imolar o seu muito amado Filho, cumprindo assim as Escrituras? Quem saberá responder a esta também incontornável pergunta? Quem?”

– Que venha! Que venha de novo Jesus à Terra e responderá por Ele, pelo Pai que o imolou, pelas Escrituras que não conseguimos aceitar… É que Elas roubaram-nos o Cristo, o Jesus, o único que nos poderia ter explicado, caso não O tivessem matado, caso Deus-Pai O não tivesse imolado, tudo, mas tudo acerca da nossa dúvida da existência de - perdoem-nos, por favor, mil vezes a repetição! - uma eternidade num Céu junto de Deus que realmente existiria ou… num inferno, “alegrando-nos” com o Diabo que certamente quebrará a monotonia do inferno em que está passando a eternidade com fortes risos e grandiosos bailes até já não haver forças naqueles espíritos de homens e de mulheres, de rodarem com as chamas ao vento, tudo se movendo, brincando com o fogo e no meio do fogo…

E Deus, no Céu, terá de fazer o mesmo senão será uma eterna desgraçada monotonia, como se comêssemos, todos os dias e a todas as horas, caviar ou bebêssemos o melhor néctar do mundo ou experimentássemos qualquer outro prazer ininterruptamente… É que certamente na eternidade também haverá prazer de… e de… e de…, não sabendo nós até que ponto é que os prazeres serão infinitos, como infinito é tudo o que rodeará os espíritos que gozam de tal eternidade… Ah, como nos é difícil perceber o que se passa nessa eternidade que não sabemos se existe, apesar das palavras de vida eterna de Jesus! Como é difícil!… O entendimento que temos não ultrapassa o humano e, se pensamos em prazer, pensamos nos prazeres que rapidamente o deixam de ser, se desejados e realizados em excesso…

Onde haverá aqui lugar para a Fé? Ou... como é possível acreditar em tanta fantasia?!

 

sábado, 19 de fevereiro de 2022

As religiões cristãs na sua relação com o Universo

 

Do tempo de Jesus aos nossos tempos

No tempo de Jesus, os conhecimentos sobre o Universo, e a Terra nele, seriam muito rudimentares, apesar dos avanços na observação celeste por diversas civilizações anteriores, como os Egípcios ou os Gregos, séc.s X ao IV A.c. A Terra era considerada plana, só passando a ter-se como redonda com o matemático grego Ptolomeu (séc. I d.C) que continuou a afirmar ser a Terra o centro do Universo, tudo girando à sua volta, teoria aceite e defendida pela Igreja, tanto a antiga como a medieval. E isto até ao Renascimento de Galileu (Galileu que ainda teve de lutar contra a Inquisição para não ir parar à fogueira, ao afirmar, na senda de Copérnico, que era à volta do Sol que tudo girava!).

No entanto, há inúmeras referências nos evangelhos, atribuídas a Jesus, sobre os Céus, o Alto, o Lá em cima, o Paraíso, etc., por oposição ao Cá em baixo – a Terra – e aos Ad infera (subterrâneos) – o Inferno, terminologia ainda hoje usada e nunca explicada.

Em tais referências, Jesus não manifesta possuir quaisquer conhecimentos sobre as realidades que a Astronomia já nos desvendou acerca do Universo e do lugar que a Terra nele ocupa.

De um ponto de vista meramente religioso-crítico, é pelo menos estranha tal lacuna em Jesus, Jesus que se teve (e os seus seguidores continuam a ter!) por Filho de Deus, logo, omnisciente e conhecedor de tais realidades que bem poderia ter revelado e explicado, não levando os seus ouvintes (e actuais crentes) a acreditar que toda a saga divina – Paraíso, Deus no seu trono, anjos e santos… – se passasse/passa lá em cima, para lá das nuvens…, para onde iriam/vão os mortos depois de ressuscitados. Lindo mas… completamente irreal e fantasmagórico: o Lá em cima é apenas Espaço e…nada mais!

 Deleitemo-nos, então, um pouco com as belezas/mistério da Astronomia, perguntando: Há um ou muitos Universos, os Pluriversos?

Pelo muito que já conhecemos deste Universo visível, e ao qual pertencemos, pouco ou nada sabendo da sua parte invisível, porque negra, presumindo-se que represente 95% de toda a matéria energizada que o compõe, poderemos concluir com algum grau de certeza:

1 – Este Universo, tido como originado no Big Bang, dadas as suas colossais dimensões que albergamos mas não conseguimos delimitar, mesmo com as unidades de medida de distâncias, em anos-luz e parsecs, terá tido início numa espécie de bola de matéria energizada compacta de milhares de milhões de biliões de kms de diâmetro. Só assim se compreendem as colossais dimensões já percepcionadas.

2 – Essa bola estaria num qualquer ponto do Espaço, Espaço que tudo leva a crer que seja infinito, i.é., sem princípio nem fim.

3 – O Big Bang só se entende numa relação dinâmica de Big Bang / Big Crunch, processada de milhares de milhões de biliões a milhares de milhões de biliões de anos. Neste momento, percepcionamos que este Universo visível terá cerca de 15 mil milhões de anos de existência. Estando a matéria energizada que o compõe em afastamento contínuo, estrelas de estrelas, galáxias de galáxias, haverá inevitavelmente um momento em que a expansão atinge o seu ponto de retorno, regredindo-se então até ao Big Crunch, originando-se, quando atingido, um novo Big Bang, numa dinâmica eternamente repetida, nada de energia e matéria se perdendo mas tudo se transformando…

4 – Todo o Universo conhecido parece ser regido por uma força invisível, quase diríamos “divina”, mas real porque bem sentida: a GRAVIDADE. É uma força de duplo sentido – atracção/repulsa – que faz com que os astros se mantenham em equilíbrio, circulem à volta uns (os mais pequenos) dos outros (os maiores), tudo parecendo movimentar-se em perfeita harmonia. Lembremos que é a gravidade que nos faz trazer os pés bem assentes na terra…

5 – Muitos outros Universos haverá no Espaço Infinito. Quantos? – Se não sabemos se os há quanto mais saber quantos. Só deduzimos que haver infinitos Universos é conceito que não cabe nas nossas intelectuais percepções. Mesmo que se considere infinito o Espaço em que se movem e se perpetuam.

6 – Haverá, sem qualquer dúvida, neste e nos outros hipotéticos Universos, inúmeros planetas semelhantes ao Planeta Terra, onde existirá VIDA e até seres inteligentes, talvez muito mais inteligentes que nós, o Homem! Mas, dadas as distâncias entre estrelas e galáxias, duvidamos fortemente que algum dia sejam contactáveis. Mesmo por ondas rádio ou electromagnéticas. Muito menos acessíveis fisicamente: nós, feitos de matéria pesada, nunca poderemos deslocar-nos à velocidade da Luz! Assim, a Terra, como apareceu com o Sistema Solar, há cerca de 5 mil milhões de anos, assim desaparecerá quando esse Sistema deixar de existir, presume-se que daqui a outros 5 mil milhões. E com ela, toda a vida, incluindo a humana, desaparecerá para sempre. E será como se nunca tivesse existido, integrando-se o que restar da Terra num ciclo completamente novo. Aliás, a Terra representa um quase-nada para o Universo, limitando-se a ser um pontinho azul perdido na ponta da espiral de uma dos milhares de milhões de galáxias que nele pululam, a Via Láctea.

Enfim, e como apontamento filosófico-existencial, cada um de nós nada representa nem para a Terra nem para o Universo. Não tivéssemos existido e tudo se passaria de igual modo. Ou quase! Pior: tudo continuará a existir e a evoluir de igual modo, depois que nos formos. E… vamo-nos inexoravelmente e… para sempre!

RESTA-NOS, NO ENTANTO, O SORRISO, UM GRANDE SORRISO POR SERMOS CAPAZES DE PENSAR TUDO ISTO E DELEITAR-NOS COM TÃO ESTRANHA BELEZA, COM TÃO INSONDÁVEIS MISTÉRIOS!

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 341/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos 

Evangelho segundo S. JOÃO – 35/?

 (Ainda em análise a morte e ressurreição de Lázaro)

– A obsessão de Jesus em que acreditemos que o Pai O enviou, provoca em nós mais uma angustiante pergunta: “Então, basta acreditar que o Pai O enviou para termos a vida eterna?" E voltaríamos ao rol de outras perguntas que já tantas vezes repetimos… Depois, não é só que O enviou é também que quem O vê a Ele, vê o Pai e que só faz a vontade daquele que O enviou, etc. etc.!

Também não sabemos como aceitar-entender este contínuo humanizar de Deus-Pai por parte de Jesus. Realmente, que ouvidos eram aqueles com que Deus-Pai sempre O ouvia?

E… o espectáculo! Quanto não daríamos para estar lá! Primeiro, a voz forte, altissonante, decidida de Jesus… Logo de seguida, o morto a sair pelo seu pé!… Com aquelas ligaduras todas, bem mais pareceria um fantasma caminhando!…

Temos vontade de perguntar: Que pensou toda aquela gente que tal facto presenciava? Teve receio ou ficou estupefacta perante o insólito de algo nunca visto, nunca tido como possível, totalmente inexplicável? Oiçamos:

– “Muitos acreditaram nele. Alguns, porém, foram ter com os fariseus e contaram o que Jesus tinha feito.” (Jo 11,45-46)

– A palavra "porém" leva a crer que os que foram ter com os fariseus quiseram denunciar Jesus, embora também pertencessem ao rol dos muitos que acreditaram. Não compreenderiam, certamente, eram as razões de tanto ódio a Jesus por parte daquelas autoridades judaicas. Nós também não. Mas também não compreendemos como é que tal milagre, mais uma vez, não tem uma eficácia total. Porquê apenas "muitos" e não todos? Se fosse hoje…

Mas hoje, infelizmente, não temos cá Jesus a fazer milagres. Por isso…

Nem Jesus nem nenhum dos seus discípulos… E cremos que ninguém entenderá o porquê de tantos milagres enquanto Jesus viveu e hoje, que tanto precisávamos deles para acreditarmos,… nada!

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 340/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos 

Evangelho segundo S. JOÃO – 34/?

(Continuação da análise da narrativa do milagre da ressurreição de Lázaro)

–“Jesus viu que Maria e os judeus que vinham com ela estavam a chorar. Então, perturbou-Se e ficou comovido. E perguntou: «Onde colocastes Lázaro?» Disseram-Lhe: «Senhor, vem e vê.» Então, Jesus chorou. «Vede como Ele o amava!» - diziam uns. Outros, porém, comentavam: «Ele que abriu os olhos do cego não poderia ter impedido que este homem morresse?»” (Jo 11,33-37)

– Parece tudo tão natural… tão humano! Mas… porque é que Jesus Se perturbou, ficou comovido e chorou, se antes Se tinha alegrado porque o poder de Deus-Pai e a glória do Filho se iam manifestar naquele que adoecera e morrera?… Uma doença e uma morte que tinham por objectivo - na economia divina! - fazer manifestar tal poder e tal glória, segundo o próprio Jesus…

E que sentimentos experimentaria realmente Jesus: os de homem triste por ver ali o amigo morto - e chora! - ou os de Filho de Deus que vai manifestar-Se em glória e Se alegra?!

Quase parece fingimento!… Mas isto de se ser Deus e homem ao mesmo tempo não seria fácil para o judeu Jesus…

Mais: se aquele amor era assim tão forte e notório, porque não é dele dado testemunho nos outros Evangelhos? Não parece ter sido singular o amor àquela família por parte de Jesus que até parece “desprezar” os seus irmãos e - que espanto! - a sua própria mãe? (Mt 12,46-50) Como nasceu, cresceu, se manifestou tal amor?

E quem não perguntaria, como os judeus presentes, a razão pela qual Jesus deixara morrer Lázaro?

Nós já sabemos a resposta, quer a aceitemos quer não!… E a história continua… Cheia de interesse…

– “Jesus disse: «Tirai a pedra!» Mas Marta, irmã do defunto interveio: «Senhor, já cheira mal. Já está aqui há quatro dias.» E Jesus: « Eu não te disse que, se acreditares, verás a glória de Deus?» Então, tiraram a pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse: «Pai, Eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre Me ouves. Mas Eu falo por causa dos que me rodeiam, para que acreditem que Tu Me enviaste.» Dizendo isto, gritou bem alto: «Lázaro, sai cá para fora!» O morto saiu. Tinha os braços e as pernas amarrados com panos e o rosto coberto com um sudário. Jesus disse aos presentes: «Desligai-o e deixai-o ir.»” (Jo 11,39-44)

– Ora bem, estamos perante um morto e bem morto!… Já cheirava mal!… E aquilo foi mesmo um voltar para a vida!… Um renovar de células totalmente destruídas pelo acto de morrer… Como acontecem tais coisas? Haverá alguma outra possibilidade além de milagre ou intervenção divina, que algum dia a ciência consiga explicar? É com esta remota hipótese que se contentam os incrédulos, negando assim, sem mais, qualquer possibilidade de intervenção superior, chamemos-lhe divina.

Mas mais uma vez, o milagre nos deixa completamente perplexos perante a dificuldade de aceitar Jesus como Filho de Deus ou… como Deus ou… como a face de Deus-Pai, chamando-Se Ele Deus-Filho…

O que é certo é que domina a Natureza! Inverte o seu curso normal e brinca com tudo até com a inevitável morte - violando as leis da Natureza ou sobrepondo-Se a elas - e promete a vida eterna a quem acreditar nele!…

Levantou os olhos para o alto, o mesmo é dizer, para o Céu… Não sabemos se de olhos abertos como quem realmente visse alguém… ou de olhos fechados, concentrando-Se. Que pena não termos podido ver!… É que - repetindo-nos - Jesus deveria bem saber que não existe alto, nem céu, mas apenas espaço…

Aqui, certamente, fez o gesto que qualquer pessoa do seu tempo teria entendido. Aliás, quem o entenderia se dissesse que não há alto, nem céu, mas simplesmente espaço?…

É! Mas Ele já disse tantas coisas que ninguém entendeu nem entende!… Essa seria mais uma para os judeus do seu tempo o quererem matar… (Convenhamos: um querer incompreensível numa economia divina inteligente de salvação do Homem para a eternidade!)