segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A Eucaristia, mistério da Fé (6)

Baseando-se nos documentos mencionados nos textos anteriores, os exegetas católicos vêem neles a eucaristia instituída por Jesus, na última Ceia, à maneira de banquete, com pão de trigo e vinho de uva, sendo verdadeiramente o seu corpo e sangue, qual cordeiro imolado, pelo que a comunhão é essencial ao sacrifício, necessária e de preceito divino; deve ser recebida em estado de graça; aumenta a graça nos que a recebem, proporciona comunidade de vida em Cristo, com o Pai e com os irmãos; é figura e penhor do banquete eterno, dá a vida eterna e a ressurreição dos corpos; o sacrifício deve ser perpetuado e está no centro do culto cristão; é um sacrifício da unidade eclesial. (Resumi comentários à Bíblia aqui utilizada) Como vemos, continua-se a navegar em cogitações. Nada de credível no que se diz ou se afirma. O mistério, sempre! A História reza que a eucaristia foi oficialmente “formatada” no Concílio de Trento (1545-1564) (Nove anos de Concílio é obra! E não menos “obra” a eucaristia ter sido “formatada” c. de 1500 anos depois do “feliz” e enigmático, misterioso e mágico acontecimento!...) recheada de palavras terríveis: “Se alguém disser que na missa se não oferece um sacrifício real e verdadeiro (...) seja anátema. Se alguém disser que ao ter dito «Fazei isto em memória de mim» Cristo não instituiu os apóstolos como sacerdotes, nem ordenou que os apóstolos e outros sacerdotes oferecessem o seu próprio corpo e o seu próprio sangue, seja anátema. Se alguém disser que o sacrifício da missa é apenas de louvor e de acção de graças ou que é meramente uma comemoração do sacrifício consumado na cruz, sem ser propiciatório, seja anátema”. (Propiciatório quer dizer que, naquele acto, Cristo converte-se efectivamente, em cada missa, em vítima real oferecida a Deus, para nossa redenção. Lembremos ainda que a célebre frase “Fazei isto em memória de mim” da qual se faz derivar a instituição sacerdotal com poderes eucarísticos, é apenas referida no suspeito Paulo e no não menos suspeito Lucas; os outros três evangelistas omitem tal citação, o que é significativo!). Tal doutrina – doutrina que levou nove anos a congeminar-se! – foi “esquecida”, ou melhor, seguida, sem contestação que não fosse logo apagada pela Santa Inquisição na fogueira purificadora dos anatematizados, até 1935, ano em que o papa Pio XI, na sua encíclica “Ad Catholici Sacerdotii”, retomou o assunto, escrevendo que a missa é um “sacrifício real” e que o sacerdote “tem poder sobre o próprio corpo de Jesus Cristo, torna-o presente sobre os nossos altares e oferece-o como vítima infinitamente agradável à Divina Majestade”. Em 1947, Pio XII, na sua encíclica “Mediator Dei”, repete que a missa é “um sacrifício que representa, estabelece de novo, renova e revela o sacrifício da cruz, oferecimento real de um sacrifício, Cristo oferecendo-se, nos nossos altares, diariamente a si mesmo pela nossa redenção”. Não vamos provar com textos do NT, como o fazem os críticos da exegese católica, que todo o processo se baseia na falsificação ou adulteração dos documentos existentes, mesmo partindo do princípio que esses documentos que nos chegaram não foram eles adulterados, por serem cópias dos séc.s III e IV, cópias em que os seus autores eram eles próprios ou eram mandatados por eclesiásticos interessados na manutenção do poder sacerdotal e de casta. Creio que basta o que dissemos para reafirmarmos o que já, noutros textos lá mais para trás, afirmámos, sem receios – felizmente! – de sermos anatematizados e condenados à fogueira: a Eucaristia é uma fraude, (a juntar a tantas outras nas quais a Igreja baseia a Fé dos crentes!), ficando-lhe muito bem o epíteto de “Mistério da Fé”. Se é mistério, não se entende; se é da fé, cada um acredite se quiser. Ou, como gosto de dizer, se lhe der mais jeito para... ser feliz!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A Eucaristia, mistério da Fé (5)

O milagre de Paulo, o único conhecido que lhe é atribuído: “Paulo (...) dirigia a palavra aos fiéis e prolongou o discurso até à meia noite. Havia muitas lâmpadas na sala superior onde estávamos reunidos. Um jovem chamado Êutico, que estava sentado sobre a janela, adormeceu durante o prolongado discurso de Paulo; vencido pelo sono, caiu do terceiro andar. Quando o levantaram, estava morto. Então, Paulo desceu, inclinou-se sobre o jovem e, abraçando-o, disse: «Não vos preocupeis, porque ele está vivo». Depois, subiu novamente, partiu o pão e comeu. (...) Quanto ao jovem, levaram-no vivo, e sentiram-se muito confortados”. (Ac 20,8-12) Comentário? – Só se for para dizer que é mais uma falsidade inventada por Lucas: o rapaz ou estava morto ou não; se estava morto, não havia Paulo algum do mundo que o devolvesse à vida... O mesmo, aliás, se passou com as outras três ressurreições operadas por Jesus e narradas nos evangelhos e também uma atribuída a Pedro, bem como as espectaculares ressurreições dos mortos, saindo dos sepulcros e passeando-se alegremente pela cidade, sendo vistos por muitas pessoas, aquando do último suspiro de Jesus na cruz (Mt 27,52-53): tudo fantasias ou invenções! Piedosas, se quiserem... E que nos diz João, que escreve entre os anos 90 e 100, da eucaristia (60 a 70 anos depois do acontecimento da última Ceia)? “E Jesus continuou: «Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida. (...) Eu vos garanto: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu ressuscitá-lo-ei no último dia. Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue vive em mim e eu vivo nele».” (Jo 6,51-56) Também não refere o “Fazei isto em memória de mim”. É nitidamente uma literatura que nada tem a ver com a singela narrativa de uma ceia de despedida de Marcos, Mateus e Lucas. Também pouco tem a ver com Paulo. Escrevendo para pagãos que queria converter, onde os cultos incluíam ritos eucarísticos (de acção de graças) em que comendo o pão e bebendo o vinho, comiam o corpo e bebiam o sangue dos próprios deuses naqueles produtos representados, João ignora completamente os factos da última ceia – gestos e palavras – e faz a sua própria interpretação da figura de Cristo já mitificado em Deus. A Igreja “cozinhou” os vários documentos referidos e deles extraiu conclusões absolutamente absurdas, obviamente com interesses numa continuada mitificação de Jesus no Cristo divino, e também de poder e de controlo sobre as consciências dos fiéis, elegendo o sacerdote como classe à parte, dotado de poderes extraordinários: fazer descer, em cada missa – ou cada vez que pronunciasse as mágicas palavras – Jesus do Céu à Terra, oferecendo-se, em cada missa, como agradável sacrifício a Deus-Pai! Grande arquitectura fantasiosa, não há dúvida! E, para que nenhum fiel contestasse tamanha ousadia, vá de apelidar o acontecimento como “Mistério da Fé”!... Para não nos alongarmos, ainda dedicaremos um próximo texto a esta “história” da eucaristia. (Cont.)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A Eucaristia, mistério da Fé (4)

Ainda Paulo, na sua carta aos Efésios: «Vós que estáveis longe fostes trazidos para perto, graças ao sangue de Cristo. Cristo é a nossa paz. De dois povos, (judeus e gentios, supõe-se) ele fez um só. Na sua carne derrubou o muro da separação: o ódio». Há quem veja aqui uma referência paulina à eucaristia. Não nos parece ter relevância para o assunto. Passemos então a Marcos (Mc 14,22-25), escrevendo uns vinte anos depois de Paulo: “Então, enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o, distribuiu-o aos discípulos e disse: «Tomai, isto é o meu corpo». Em seguida, tomou um cálice, deu graças e entregou-lho. E todos eles beberam. E Jesus disse-lhes: «Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos. Eu vos garanto: nunca mais beberei do fruto da videira, até ao dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus».” E Marcos mais não disse. Nem o “Fazei isto em memória de mim”. Quem poderá deduzir deste facto que Jesus tenha instituído, naquele momento, a eucaristia, dando poder aos apóstolos – os primeiros padres – de o tornarem presente nas espécies do pão e do vinho, pronunciando, em tempos de ceia, aquelas palavras sobre o mesmo pão e o mesmo vinho? – Impossível! Só fantasiando... Aquele acto, aquelas palavras de Jesus nasceram naquele contexto e morreram naquele momento. Todas as ilações que se queiram tirar, para além disso, são puras invenções! Cronologicamente, segue-se Mateus, cujo texto será de uns dez anos posterior a Marcos (Mt 16,26-29): “Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o, distribuiu-o aos discípulos e disse: «Tomai e comei, isto é o meu corpo». Em seguida, tomou um cálice, deu graças e deu-lho, dizendo:«Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para a remissão dos pecados. Eu digo-vos: de hoje em diante, não beberei deste produto da videira, até ao dia em que beberei do vinho novo convosco no reino de meu Pai». Como vemos, Mateus copia Marcos, quase ipsis verbis, não rematando também com o célebre “Fazei isto em memória de mim”. E, de igual modo, não há nada que aponte para o sacramento eucarístico cujo poder de o realizar foi outorgado, como afirma a Igreja, logo ali aos apóstolos e, depois, aos padres dos primeiros tempos ou dos tempos vindouros. Segue-se Lucas, mais uma dezena de anos depois de Mateus (Lc 22,17-20): “Então, Jesus tomou o cálice, agradeceu a Deus e disse: «Tomai e reparti entre vós; pois eu vos digo que nunca mais beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus». A seguir, Jesus tomou um pão, agradeceu a Deus, partiu-o e distribuiu-lho, dizendo: «Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim». Depois da ceia, Jesus fez o mesmo com o cálice, dizendo: «Este cálice é a nova aliança do meu sangue que é derramado por vós».” Lucas, médico de Paulo, certamente conhecia a carta aos Coríntios e, como escreve depois de Marcos e Mateus, conheceria também estes, “cozinhando” tudo neste texto, onde repete a cena do cálice. Talvez fosse buscar o “Fazei isto em memória de mim” a Paulo. E cremos que não merece mais comentários. Lucas ainda se refere ao facto, nos Actos (Ac 2,42-46;20,7): “Eram perseverantes (...) na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações. (...) Diariamente, todos juntos frequentavam o Templo e, nas casas, partiam o pão, tomando alimento com alegria e simplicidade de coração”. “No primeiro dia da semana, estávamos reunidos para a fracção do pão.” Nada de novo, nada de eucaristia como renovação do sacrifício de Jesus na cruz! Mas, em Ac 20,8-12, narra-se o único, creio, milagre realizado por Paulo. Por caricato, como parênteses no assunto de que nos ocupamos, narrá-lo-emos no próximo texto, antes de passarmos a João com quem encerraremos esta pequena série sobre a invenção do Mistério Eucarístico. (Cont.)

domingo, 4 de dezembro de 2011

A Eucaristia, mistério da Fé (3)

Comentando a primeira referência de Paulo à eucaristia, diríamos que, além de confusa, sofre, no mínimo, de arrogância e de dogmatismo, ameaçando ou condenando à doença e à morte os que não “ceiam” de acordo com os julgamentos de Deus. A primeira afirmação é falsa ou, se quisermos, fruto da sua imaginação arrogante e megalómana: «De facto, eu recebi pessoalmente do Senhor aquilo que vos transmiti. Isto é, que o Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão...» A informação do que se passou na última Ceia só pode ter-lhe chegado através dos apóstolos, apóstolos com os quais, sabe-se, teve uma difícil relação. A visão de que se arroga, quando, indo a caminho de Damasco para perseguir os cristãos, Jesus Cristo lhe aparece, dizendo “Salo, salo, porque me persegues?”, não merece qualquer credibilidade. Sabemos que era dado a ataques de epilepsia, o que explica na perfeição tal suposta “aparição”. Inteligente e curioso, saberia certamente o que os discípulos contavam de Jesus. Daí a “compor” a sua cristologia, neste caso, a eucaristia, não foi difícil, tudo encenando com a suposta visão, atribuindo-se a si próprio o epíteto de “apóstolo por excelência” por ter recebido directamente de Cristo a missão de o pregar, sobretudo aos gentios, e não só aos judeus, como parece terem pretendido os apóstolos e primeiros discípulos. As conclusões que se seguem “Portanto... Por isso... Portanto... É por isso...” não se conectam umas com as outras, não sendo claras afirmações como o ser “réu do corpo e do sangue do Senhor” ou “aquele que come e bebe sem discernir o Corpo come e bebe a própria condenação”, bem como a terminação: “Assim, não vos reunireis para a vossa própria condenação”, após aconselhar cada um a comer em sua casa..., não se coibindo de atemorizar com a doença e a morte os que prevaricarem. A propósito, merece honras de transcrição o comentário feito a estes versículos, na Bíblia que estamos usando, desconhecendo-se as fontes históricas para aquilo que o comentarista afirma: «O texto é o mais antigo testemunho sobre a eucaristia (...). No início, a celebração eucarística fazia-se depois de uma ceia, onde todos repartiam os alimentos que cada um levava. Em Corinto, surge um problema: nas celebrações, há divisão de classes sociais e de mentalidades diferentes. Muitos chegam atrasados, provavelmente porque trabalhavam e não encontram mais nada. Resultado: em vez de ser um testemunho de partilha, a celebração tornava-se lugar de ostentação, foco de discriminação (...). Neste contexto, Paulo relembra a instituição da eucaristia. Ela é a memória permanente da morte de Jesus como dom de vida para todos (corpo e sangue). A Eucaristia é a celebração da Nova Aliança, isto é, da nova humanidade que nasce da participação no acto de Jesus, não só no culto, mas na vida prática. Por isso, a comunidade que celebra a eucaristia anuncia o futuro de uma reunião de toda a humanidade. (...) Paulo já antes, na mesma carta, salientara que, ao participar na eucaristia, a comunidade forma um só corpo. (“O cálice da bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? E como há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, pois participamos todos desse único pão”.) Se a comunidade não entender isso («sem discernir o Corpo»), estará a celebrar a sua própria condenação, pois desligará a eucaristia do seu antecedente e das suas consequências práticas: solidariedade e partilha. ...) A fraqueza, doença e morte de muitos membros testemunham a falta de partilha e de solidariedade. (...)» Para não nos alongarmos, apenas diremos que tanto Paulo como, neste caso, o comentarista fazem uma confusa mistura entre o natural de uma ceia partilhada por uma comunidade e a dita eucaristia em que se “come” o corpo e se “bebe” o sangue de Cristo. Mas repare-se que Paulo nunca diz que, pronunciando as mágicas palavras sobre o pão e o vinho, estes se transformam realmente – como afirma a Igreja – no corpo e no sangue de Jesus Cristo. Tudo não passa, pois, do campo da simbologia! (Cont.)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A Eucaristia, mistério da Fé (2)

Em termos académicos, poderemos dizer que de uma cena do quotidiano – uma Ceia de despedida – se criou um mistério e uma fé, que são, com a ressurreição, os grandes pilares da Fé cristã. Os princípios donde se parte são os da mitificação do Jesus-homem, principal protagonista da cena, no Messias, no Filho de Deus consubstancial ao Pai, cujas palavras – certamente pronunciadas em sentido metafórico – “Tomai e comei, isto é o meu corpo... Tomai e bebei, isto é o cálice do meu sangue...” foram divinizadas, enchendo-as de simbolismo, de um Cristo real que ali estaria presente sempre que alguém, em seu nome, pronunciasse as palavras mágicas; mágicas porque, por magia, fariam, pelos séculos dos séculos, realmente presente no pão e no vinho, o corpo e o sangue do mesmo Jesus, agora, já transformado em Cristo. E, como tal, foram proclamadas, primeiro por Paulo, uns vinte anos mais tarde após o acontecimento, depois, pelos evangelistas, distantes já uns 40 a 60 anos. O “Fazei isto em memória de mim”, com que Jesus encerra a “cerimónia” já terá sentido real: “Sempre que vos reunirdes para comer, lembrai-vos de mim! De mim, como vosso companheiro, de mim pregador do Reino dos Céus e da fraternidade universal.” Apenas isto – o que qualquer um de nós diria em semelhante transe – e mais nada! Mas vamos aos documentos onde a Igreja se fundamenta para continuar a fazer crer aos fiéis que, após a cerimónia da missa em que o padre profere sobre o pão e sobre o vinho as mágicas palavras, aquele pão e aquele vinho se transformam no corpo real e no sangue real de Cristo, não sendo mais pão, não sendo mais vinho, como o catecismo continua a afirmar e a ensinar às crianças. Mistério, claro! Por ordem cronológica – pela datação mais comummente aceite (datação que apresentaremos em próximo texto) – o primeiro a pronunciar-se sobre tal foi Paulo, na sua carta aos Coríntios (1Cor 11,23-25 e 26-34). Vale a pena transcrever os dizeres de Paulo: “De facto, eu recebi pessoalmente do Senhor aquilo que vos transmiti. Isto é, que o Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu corpo que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim». Do mesmo modo, depois da Ceia, tomou também o cálice, dizendo: «Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que beberdes dele, fazei-o em memória de mim». Portanto, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. Por isso, todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Portanto, cada um examine-se a si mesmo antes de comer deste pão e beber deste cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo come e bebe a própria condenação. É por isso que entre vós há tantos fracos e enfermos e muitos morreram. Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados; mas o Senhor corrige-nos por meio dos seus julgamentos, para que não sejamos condenados com o mundo. Em resumo, irmãos, quando vos reunirdes para a Ceia, esperai uns pelos outros. Se alguém tem fome coma em sua casa. Assim, não vos reunireis para a vossa própria condenação». As palavras de Paulo merecem um contundente comentário. Fá-lo-emos no próximo texto.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Eucaristia, mistério da Fé (1)

Em complemento do que dissemos anteriormente, em vários textos, sobre este “mistério”, proponhamos aos teólogos da Eucaristia uma humorística história, sem de forma alguma pretender amesquinhar a fé dos crentes nestes “divinos” mistérios, fé que nos merece todo o respeito. Imaginemos que um sacerdote, numa festa de amigos, em adega aldeã, tabuleiro de pão sobre a mesa, para acompanhar acepipes vários, tonel de vinho à discrição, a dado momento, já talvez bem bebido, se lembra de usar o seu poder de fazer descer Jesus do Céu à Terra, ali, comungando com os amigos alegrias de vida. E, pedindo silêncio, pegando no pão, partindo-o, oferecendo-o, na imitação perfeita de Jesus Cristo, na última ceia, diz as sagradas palavras: “Tomai e comei! Isto é o meu corpo que vai ser entregue por vós”. De igual modo, impondo as mãos sobre o tonel de vinho: “Tomai e bebei. Este é o tonel do meu sangue que será derramado por vós e por muitos para remissão dos pecados. Fazei isto em memória de mim.” A pergunta é óbvia: “Desceu ou não Jesus Cristo àquele pão e àquele vinho? Poderia ou não dizer aos amigos, oferecendo, qual hóstia na missa: O corpo de Cristo ou qual cálice: O sangue de Cristo? Ou teria que o sacerdote estar revestido das vestes eclesiásticas? Ou, pelo facto de o lugar não ser apropriado – uma igreja ou capela ou qualquer cenário criado para o efeito celebrativo, como faz o papa em altares improvisados em campos de futebol – o padre ter perdido os seus poderes de consagrar? A Igreja, no seu Direito Canónico, deve ter-se esquecido de esmiuçar, qual advogado que tem de prever todas as circunstâncias atenuantes ou incriminantes, as condições exactas em que tal poder poderia ser exercido. Assim, caricaturando, até em qualquer jantar um sacerdote, obviamente já não muito sóbrio, poderá “brincar” com o divino. E isto sem qualquer pena eclesiástica ou celestial... Seria interessante ouvir respostas dos exegetas católicos sobre este possível acontecimento (certamente já tendo tido lugar inúmeras vezes por esse mundo católico fora). O resto, remetemos para os textos já aqui anteriormente publicados. Não há dúvida: a Eucaristia, como mistério da Fé, não passa mesmo disso: “mistério” (a razão não entende...) e “de Fé” (está para além da razão), duas premissas juntas que revelam quanto de insensato e de caricato há nesta invenção da Igreja, a partir da descrição da última Ceia relatada nos evangelhos, mas já do conhecimento de Paulo em 1Cor 11,23-25, conhecimento obtido junto de algum discípulo que nela participara. Então, que cada um, cada fiel, retire as suas conclusões e continue a acreditar no que lhe der mais jeito para ter uma vida o mais feliz possível. No fim de contas, é só isso que importa. O resto... Mas, por ser um mistério central da vivência católica, voltaremos ao assunto, referindo as fontes do NT que dão testemunho da eucaristia.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

“Quem foi (é) Jesus Cristo?” – 6

Cristo ressuscitado, que realidade teria? Já nos debruçámos aqui sobre a “verdade”-base do cristianismo – a ressurreição de Jesus – mas vale a pena voltar ao assunto, pela sua magna importância. Lá dizia Paulo: “Se ele não ressuscitou, é vã a nossa Fé”. Afinal, que corpo tinha o Jesus ressuscitado, logo mitificado em Cristo? As várias narrativas dos evangelhos – que, como atrás dissemos, não só não são coincidentes como são contraditórias, sobretudo nas personagens envolvidas – apresentam-nos um ressuscitado como se fora fantasma: caminha ao lado dos discípulos de Emaús, fala com eles e eles só o reconhecem quando desaparece da sua vista; aparece aos apóstolos estando eles trancados no cenáculo, com Tomé ausente, passando, portanto, pelas paredes, come com eles e aqueles só o reconhecem no partir do pão, evaporando-se de seguida; aparece-lhes ainda quando já estava Tomé, de igual modo, e convida Tomé a meter a mão no seu lado do peito ferido pela lança do soldado romano, depois o dedo nos buracos dos pés e das mãos feitos pelos cravos com que fora pregado (pregos talvez inventados, pois o costume era atarem os condenados e não os pregarem aos madeiros), rematando: “Não sejas incrédulo mas fiel! Tu acreditaste, Tomé, porque viste e sentiste; benditos aqueles que, não vendo, acreditarem.” Será verdadeira esta frase? Agora, saltam as perguntas: “Com que boca falava e com que língua articulava as palavras? Com que dentes mastigava e que aparelho digestivo recebia a comida deglutida? Se era um corpo glorioso – ou de outra dimensão, como alguns iluminados dizem – como exercia funções próprias de um corpo de carne e osso? Se entrava e saía com portas e janelas trancadas, qual a sua realidade: real ou virtual? Puramente fantasma? Que corpo foi aquele que Tomé sentiu, metendo a mão na ferida do peito e os dedos nos buracos de pés e mãos? Ferida e buracos ainda sangrando ou já cicatrizados?” Aliás, a mesma incongruência ou a mesma realidade-fantasma acontece com a sua aparição a Maria Madalena, logo ali ao lado do sepulcro, bem como às outras mulheres. Então, facilmente concluímos que palavras que disse, alimentos que comeu, gestos que fez tudo não passou de imaginação dos que estavam presentes, de algum modo alienados por alguma razão desconhecida da História. Mas que tudo o que é narrado como tendo acontecido não aconteceu mesmo, disso não podem restar dúvidas, sobretudo para quem gosta de pensar e de analisar as questões de facto, todos os que – sem ofensa para os crentes! – primam pela honestidade intelectual nesta análise. Valerá a pena tirar conclusões? Valerá a pena dizer que Paulo, se assumisse esta honestidade intelectual, teria sido levado a desmantelar toda a sua cristologia, ficando sem argumentos perante as comunidades que havia fundado baseadas na fé de um Cristo ressuscitado? O que é certo é que esta “Verdade-fantasma” propagou-se de tal modo que hoje aí a temos, viva numa Igreja que pura e simplesmente rejeita qualquer discussão acerca do assunto, colmatando qualquer abordagem com uma afirmação também fantasma: “Cristo ressuscitou e não se fala mais nisso! Verdade inquestionável!...”

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

“Quem foi (é) Jesus Cristo?” – 5

A propósito de um comentário meu, em outras escritas sobre estes assuntos, fui intimado do seguinte modo: Comentário: «O cristianismo (como, aliás, todas as religiões!) é baseado em efabulações: "Alguns discípulos disseram que Ele estava vivo!" (Tomé, claro, que não!) E é a partir desta suposta visão, mais tarde também supostamente tida por Paulo, que Jesus é mitificado em Cristo e que se dá origem ao cristianismo. Depois, a ordem foi "Não questionar!" Cristo tinha ressuscitado e "não se fala mais nisso"! Primeiro, ressurreição carnal, admitida pelos teólogos até ao séc. XX; agora, apenas espiritual, tornando-se a outra impossível, mas continuando consagrada no Credo católico: "Creio na ressurreição da carne!" Intimação: «Francisco Domingues, a você, como a tantos outros, dá-lhe jeito colocar o cristianismo no mesmo saco das outras religiões fundamentadas em mitologias fantasiosas. E isto revela preguiça intelectual da sua parte, porque se estudar a SÉRIO o princípio do cristianismo, verá o quanto estão erradas as suas teorias. Explique aqui à tribuna, como se transformam onze discípulos medrosos em destemidos homens prontos a dar a própria vida pela novidade que proclamam! A ressurreição só pode ser entendida como ressurreição FÍSICA, com um NOVO corpo, ou seja, incorruptível e para uma OUTRA dimensão da existência. É este facto ocorrido há dois milénios a grande coluna que sustém o cristianismo poderosamente. Um conselho: estude a sério as EVIDÊNCIAS históricas do FACTO.» E ainda: «O sr. Francisco deve ler mais cristologia, para não dizer tanto disparate ao mesmo tempo, e aproveite para ler a Bíblia de Jerusalém, com as suas notas. E deixe de auto-promoção porque não lhe fica bem com esse blog.» Claro que respondi com a sapiência possível: Li várias vezes e releio a Bíblia para da Verdade me inteirar. O que é certo é que quanto mais leio mais convencido fico do que venho afirmando e defendendo. Não é pelo facto de uns quantos – poucos! – discípulos terem dado a vida pela Verdade de que estavam convencidos, a começar pelo mestre Jesus, que essa Verdade se torna Verdade! A mensagem de fraternidade universal de Jesus era fantástica, a promessa num Céu para toda a eternidade junto de Deus, fantástica também, e também fantástico o Juízo final para finalmente se fazer justiça. Mas nem Jesus provou o que afirmou nem a morte de uns quantos por essa causa prova seja o que for. Não se imolam por razões menos nobres – até pérfidas! – muçulmanos, gentes que têm a mesma origem semita dos judeus? Aliás, havia muitos interesses político-religosos em causa, naquele tempo, para que tais mortes ocorressem sem serem um enorme acto de heroísmo. Eles acreditavam, como o Mestre, que o fim dos tempos estava próximo (“Em verdade em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça!”) e que, morrendo, mais depressa ressuscitariam e iriam para o Céu de todas as delícias (Vejam Macabeus). O próprio Jesus deve ter aceitado a morte – de que facilmente se poderia ter livrado, inteligente como era – devido a esta visão do mundo e da vida, acreditando também ser um Messias não de um reino que libertasse os judeus do jugo romano (o que consideraria impossível!), mas de um reino de paz e justiça sobre a Terra a que chamou "Reino de Deus". Também já dissemos, fundamentadamente, que as narrativas das vidas dos discípulos de Jesus que disseram que, depois de morto, o viram vivo e que morreram por defender tal causa, não merecem grande credibilidade. O autor dos relatos das vidas dos apóstolos, nos Actos dos Apóstolos, não merece credibilidade, pois foi capaz de dar por histórico, no seu evangelho, todas aquelas idílicas peripécias que envolveram o nascimento de Jesus (obviamente falsas e copiadas das lendas dos deuses solares antigos). Não sabemos se conheceu os apóstolos (ele era discípulo e médico de Paulo) e escreve cerca de 50 anos depois da morte de Jesus e, certamente, depois da morte de muitos deles. Acresce dizer que de todo o NT não temos originais, apenas cópias do séc. IV, com tudo o que isso implica de possibilidade de fraudes (emendas e acrescentos, conforme os interesses, neste caso, dos bispos de Roma, suportados por Constantino). Diz-se, por exemplo, que Pedro foi bispo de Roma, quando nem se sabe se ele lá esteve. Pelo contrário: Paulo na sua carta aos romanos, na suposta data em que Pedro lá se encontrava, não refere o seu nome. Estranho! A Bíblia não é livro histórico nem palavra de Deus e as testemunhas de Jeová "dão a sua vida" para pregarem tal pelas ruas das cidades. Paulo, o maior estratega da estruturação e divulgação do cristianismo nascente, não é dado como mártir. É lenda a vinda de S. Tiago a Compostela e veja-se o culto que lhe foi (é) prestado. O cristianismo gerou os maiores cismas (católicos, ortodoxos, protestantes) e as mais numerosas seitas e controvérsias. A história dos papas e o primado de Roma estão, desde os primórdios, cheios de fraudes, escândalos e de lutas pelo poder e hegemonia. Gostava de repetir que o que me move aqui é tão só a procura da Verdade e a resposta para o Desconhecido da Vida. Construir e não destruir ou destruir para reconstruir! É tempo de a Igreja aceitar que não tem razão e que prega efabulações e não Verdades de salvação eterna. Deus, na sua sabedoria infinita, nunca poderia ter-se revelado num Jesus judeu, numa época tão conturbada, e deixando tudo tão cheio de mistério numa questão fundamental para a Vida do Homem: o seu post-mortem! Revelar-se-ia, por exemplo, hoje, ou tê-lo-ia feito há 40 ou 50 mil anos, aquando do aparecimento do sapiens sapiens, o nosso inteligente antepassado. Porque o não fez? A não-resposta a esta pergunta arrasa qualquer teoria religosa, a começar pela cristã. Bem como todas as hipóteses de ressurreição sobre a qual já aqui falámos. Basta dizer que as ressurreições narradas nos evangelhos (Lázaro, etc.) não o foram, assim como não se levantaram dos túmulos os mortos e passearam pela cidade (Ver Mateus), aquando da morte de Jesus e, obviamente, a de Jesus também não aconteceu. A ressurreição física, de certeza! A espiritual, com um outro corpo para outra dimensão, cada um pode acreditar no que quiser. Não pode é provar absolutamente nada... E, na procura da Verdade da Vida e do Além, baseando-me na razão – a prerrogativa mais nobre do Homem e tão maltratada pelos pregadores da Fé e de efabulações, dizendo-as Verdades absolutas (e, para tal, inventando que foram reveladas por Deus aos Homens!) – propus uma Nova Religião, aglutinadora de todo o Bom que as existentes (mas incredíveis na sua essência!) contêm, com o Deus da Harmonia Universal, Deus onde tudo se integra, nós também, obviamente, no antes, no durante e no depois da existência de cada um, de cada ser vivo e até do não-vivo. Quem ficar curioso, embora, mais tarde, eu venha a falar disso aqui, veja o cap. final do meu livro "Um Mundo Liderado por Mulheres", Esfera do Caos, ed. (Perdoem-me a publicidade...)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

“Quem foi (é) Jesus Cristo?” – 4

A pergunta que qualquer leigo cristão intelectualmente honesto, em relação à sua Fé, será: “Sendo Cristo um mito do Jesus histórico, desde o seu nascimento até à sua morte, ressurreição e ascensão ao Céu, até ao seu Deus-Pai (de quem dizem ser Filho unigénito e a Ele consubstancial), o simpático Paraíso, o justo Inferno, o tremendo Juízo Final, obviamente tudo invenções, efabulações, produtos do meio político, sócio-cultural e religioso em que se vivia, que racionalidade há em se continuar a ensinar no catecismo e a rezar nas missas de todo o mundo um Credo que consagra como Verdade Eterna aquelas efabulações?” Para não nos alongarmos mais, voltemos ao assunto da ressurreição, pois foi a ressurreição que fez Paulo dar origem a esta religião que se veio a chamar cristianismo e que teve o sucesso e a expansão que teve. Se não fosse isso, Jesus não teria passado de “uma teoria filosófica simpática, no campo do humano e do social”. Mas não! Paulo afirmou – escrevendo-o uns vinte a trinta anos depois da morte de Jesus, que ele ressuscitara e que nessa ressurreição deveríamos acreditar (a Fé!) para garantirmos a salvação, sendo aquela "verdade" o penhor da nossa própria ressurreição. Da confusão entre uma ressurreição da carne (que logicamente voltaria a morrer – o que teria acontecido com Lázaro, caso a história da sua ressurreição fosse verdadeira) e uma ressurreição do espírito, espírito que, afinal, não teria morrido com o corpo, nem teólogos nem fiéis se entenderam ao longo da História, nem se entendem ainda hoje. O que não deixa de ser problemático para o crente ou para nós que analisamos, com imparcialidade, sempre na busca de Verdade, estes fenómenos. Aliás, no Credo, ainda se diz: “Creio na ressurreição da carne e no mundo que há-de vir.” Poderemos facilmente concluir – e pomposamente, diria sem margem para dúvidas! – que o cristianismo, como aliás, todas as religiões, nasceu de uma efabulação: “Alguns dos seus discípulos disseram que Ele estava vivo” (Tomé foi uma honrosa excepção...), “facto” mais tarde secundado por Paulo, na sua suposta visão/revelação, tudo isto descrito, primeiro, nas cartas de Paulo (20-30 anos após a morte de Jesus), depois, nos evangelhos que, como já todos concordam, não são documentos históricos ou totalmente históricos mas escritos para confirmarem na Fé as nascentes comunidades cristãs (40-60 anos após a morte do mesmo Jesus). E assim, se cristificou e mitificou Jesus. E assim, nasceu mais uma religião, derivada do Judaísmo ou nascida no seio do Judaísmo, protagonizada por um judeu ignorado pelos historiadores do seu tempo – Jesus – e que os seus discípulos mitificaram em Cristo. Não nos cansamos de repetir: se o que é narrado nos evangelhos acerca de Jesus fosse verdade – tantos e tão fantásticos milagres! – não haveria um mas muitos documentos da época que o reportariam, sobretudo os livros dos consagrados Flávio Josefo e Fílon de Alexandria. Diríamos ainda – e para finalizar tão apaixonante assunto – que o actual Credo católico foi elaborado ao longo dos três séculos seguintes e finalmente consagrado no concílio de Niceia em 325, sabendo-se que não foi pacífica a sua consagração, muitos dos bispos presentes opondo-se às várias “verdades” ali exaradas, nomeadamente a “consubstancialidade ao Pai”. O que é certo é que assim se continua a exigir aos fiéis que acreditem! Será intelectualmente honesta tal exigência da Igreja? Do papa aos sacerdotes que consagram tal exigência, aos teólogos e exegetas católicos, poder-se-á dizer que são intelectualmente honestos? Fica a pergunta!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

“Quem foi (é) Jesus Cristo?” - 3

Uma biografia de Jesus, claro que não é possível. Do que se disse no colóquio referido em 1, nada foi relevante. Aliás, tudo o que é polémico acerca do seu nascimento (narrativa de Lucas), aparecimento no Templo aos doze anos, desaparecimento até aos anos 30, foi evitado ou “atirado” para o mistério. Restou a sua vida pública cuja fonte são os evangelhos que, como veremos, ou como já é comummente aceite pelos teólogos, não podem ser considerados históricos ou totalmente históricos. Quando acabarmos de comentar o anunciado, começaremos a publicar aqui partes do meu livro ainda inédito: “Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu?”, onde a personagem que fala é o próprio Jesus. Costuma dizer-se de Jesus, com grande grau de verdade, que, como judeu, foi: 1 – um pregador religioso contra o status quo vigente no tempo 2 – um profeta escatológico, pregando, portanto, o fim dos tempos, na linha de João Baptista de quem terá sido discípulo, por ele baptizado, e se terá sentido o seguidor ou continuador após a morte deste por Herodes. 3 – um sábio curandeiro, fazendo muitos “milagres” (curas) e um mestre de moral 4 – um bom “social”, gostando de comer em comunidade e partilha, tanto com ricos como com pobres 5 – um homem de conflitos, pregando a fraternidade universal, onde os senhores não seriam mais que os seus escravos 6 – um homem que se convenceu não só dos fins dos tempos que pregou mas também se sentiu Messias, o Enviado de Deus para salvar o povo de Israel. No entanto, foi um homem ignorado pelos do seu tempo, não havendo a ele qualquer referência digna de crédito (há duas ou três frases comprovadamente pseudográficas, i.é., acrescentadas ao original talvez no séc. IV) nos dois maiores historiadores da época: Flávio Josefo e Fílon de Alexandria. Mas o grande problema não é a sua existência, facilmente aceite, mas exactamente a sua passagem a Jesus Cristo, Filho de Deus,Unigénito, Consubstancial ao Pai. Esta passagem acontece naqueles cerca de vinte anos que medeiam entre a sua morte e os escritos de Paulo, depois secundados pelos evangelhos. Ocupar-nos-emos desse tempo, no próximo texto.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

“Quem foi (é) Jesus Cristo?” - 2

Embora haja quem afirme, com alguns argumentos de peso, que nem o próprio Jesus histórico existiu, sendo apenas um dos nomes utilizado para sobre ele se construir uma nova seita religiosa, parecida mas mais progressista que a dos essénios, encabeçada por Paulo de Tarso, o que sabemos com toda a certeza – menos as Igrejas cristãs, com a Igreja Católica e o seu papa à cabeça, com todo o seu séquito de cardeais e bispos e padres, instalado no seu rico palácio do Vaticano – é que ele não foi Cristo nenhum, nem Filho de Deus, nem o portador da Revelação de Deus, nem o Messias de salvação eterna! Assim, nada do que se afirma dele, no Credo católico rezado pelos fiéis em todas a missas, é verdade: “Creio em um só Deus, Pai... e em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor, Filho unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos; Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado não criado, consubstancial ao Pai. Por ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus e encarnou pelo Espírito santo no seio de Maria Virgem e se fez homem; padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morreu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu ao céu onde está sentado à direita do Pai. E de novo há-de vir em sua glória, para julgar os vivos e os mortos e o seu reino não terá fim...” (Versão mais completa). Do Jesus histórico, já referido no texto 1, produto do meio social, político, económico e religioso do tempo em que se considera ter vivido, figura humanamente simpática ao propor a fraternidade universal e até o dar a outra face, perdoando ao inimigo (aqui, influenciado pelo budismo de 500 anos atrás)..., fizeram os seus seguidores um Cristo, um mito, apoiados nos evangelhos que foram aparecendo ao longo do séc. I, criando comunidades religiosas que facilmente se espalharam, aproveitando a classe sacerdotal para as encabeçar e não perder os privilégios que sempre teve. (Nem sempre, é claro: houve honrosas excepções, como a de Francisco de Assis!) O Jesus feito Cristo é, pois, um mito, desde o seu nascimento até à sua morte, ressurreição e ascensão ao Céu, até ao seu Deus-Pai, o simpático Paraíso, o justo Inferno, o tremendo Juízo Final. Tudo invenções, tudo efabulações, propícias de verem a luz do dia devido ao ambiente político, sócio-cultural e religioso em que viveu: sob o domínio romano, (o que exigia um Salvador, um Libertador, um Messias), diferença acentuada de classes (alguns senhores ricos, sobretudo mercadores, e muitos pobres ou escravos), com muitos sacerdotes e levitas vivendo à sombra do Templo, escribas e fariseus, explorando o povo, normalmente conluiados com os poderes políticos e os ricos senhores, tudo amalgamado com várias seitas (essénios, zelotas, etc.), cada uma querendo ter o seu Messias salvador. O Jesus histórico, que não o Cristo, foi morto por ter sido um revolucionário contra o status quo existente e não para redimir o Homem de um suposto pecado original inexistente, nem para cumprir umas velhas Escrituras que disseram de sagradas e de inspiração divina... Aliás, que Deus, “no seu perfeito juízo”, poderia inspirar tanta insensatez e crueldade patente nas Escrituras, convivendo com belos textos de valor altamente poético e filosófico? (Cont.)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Quem foi (é) Jesus Cristo (1)

Este foi o mote sobre o qual se realizou um colóquio no Seminário da Boa Nova, em Valadares, Colóquios “Igreja em diálogo”. Dois dias. O programa era aliciante. Fui. Temas e oradores (todos sumidades e professores dos assuntos; universitários; católicos; nenhum do contra ou contestatário; todos do “Ámen”, com a honrosa, embora parcial, excepção de J.M.Castillo): “De Jesus a Jesus Cristo”, Anselmo Borges; “Uma biografia (impossível) de Jesus”, Xabier Pikaza; “Jesus e a gnose”, Antonio Piñero; “Jesus e Deus”, Juan Estrada; “Jesus e a política”, Paulo Rangel; “Jesus e a Igreja”, José María Castillo; “Jesus e as religiões” Juan José Tamayo; “Jesus e as mulheres”, Isabel Allegro Magalhães; “Que quer dizer ressuscitar dos mortos”, Andrés Torres Queiruga. Do muito prometido, disseram-se coisas interessantes, sem dúvida, mas, a maior parte dos oradores não teve a coragem de ir ao fundo das questões e não soube responder às perguntas difíceis que lhe foram colocadas. No final, poder-se-ia dizer que foi mais “Uma Igreja em monólogo do que em diálogo”, tanto da parte dos oradores como dos que os questionaram com perguntas dentro do alinhamento. Aliás, como o tempo de perguntas era escasso, não foi possível ou permitido ao “não-alinhamento” colocar as questões pertinentes. Por isso, nós aqui, vamos dar voz a todos quantos queiram questionar e buscar a Verdade, essa Verdade de que a Igreja (e seus mentores) tanto diz possuir e ser guardiã, mas que não deixa que venha à luz do dia. Seguiremos, pois, nos próximos textos, a ordem dos temas tratados. Apenas, os mais importantes, claro. E assim, ficaremos com a ideia clara de quem foi (é!) realmente Jesus Cristo. “De Jesus a Jesus Cristo”, Anselmo Borges nada disse de interessante. Vamos nós dizê-lo! E este é (foi) a grande questão. Pois de Jesus, como homem, um judeu inteligente e piedoso do seu tempo, qualquer que tenha sido o seu percurso de vida, já sabemos o suficiente para o dizer um mentor da fraternidade universal, um defensor dos pobres e das minorias, um “guerreiro” contra os status quo político-religioso do seu tempo, sobretudo o religioso, verberando contra os escribas e fariseus hipócritas e exploradores do povo, através do Templo a quem chamavam pomposamente a “Casa de Deus”, aliás, perpetuando-se nas nossas igrejas e catedrais de hoje com nenhuma ou quase nenhuma diferença... Então, quando é que Jesus deixou de ser homem para se tornar divino ou, se quisermos, “Filho de Deus, consubstancial ao Pai, portador para a humanidade da Revelação, ou seja, do Reino de Deus ou da Salvação do Homem, o Cristo, o Escolhido, o Salvador”? Como não queremos alongar-nos, apenas três referentes a que voltaremos mais adiante: 1 - À pergunta “Quem dizem os homens que eu sou”, Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. (Da interpretação e do carácter não histórico dos evangelhos, bem como de interpolações tardias introduzidas neles, falaremos em outros textos). 2 – Paulo, depois da sua suposta visão de Cristo ressuscitado, defendeu nas suas cartas que Jesus só teria interesse, não como homem nem como um mensageiro da fraternidade universal, mas como garante da nossa salvação eterna, através da ressurreição, no Céu junto ao Pai, onde Jesus se encontrava, depois de ter redimido o Homem do pecado, oferecendo-lhe assim a salvação. 3 – O evangelho de João é todo ele um tratado de cristologia, em que o Jesus-homem se apaga quase completamente para apenas aparecer o divino que, obviamente, ele não foi. Muito mais haveria a acrescentar. Resumamos dizendo que todo o resto foi continuado a ser encenado pelos primeiros mentores (padres) das comunidades cristãs, prolongando-se tal encenação desde o primeiro século até aos nossos dias, com os papas de Roma à cabeça. E assim nasceu um Cristo que apenas foi realmente Jesus! (Cont.)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ter ou não ter fé, “that’s the question”! (2/2)

A Virgem, embora figura simpaticamente maternal, carece também de realidade como figura ligada a um suposto Divino que, a um dado momento do tempo – apenas há c. de 2 mil anos, quando o Homem existe há mais de 4 milhões – se lembrou de descer do Céu à Terra – mísero e mesquinho planeta de uma estrela de tamanho médio, o Sol, estrela entre milhares de biliões de outras em milhares de biliões de Galáxias – com uma mensagem salvífica para o Homem, apresentando-lhe a forma de se libertar de um suposto pecado original, cometido por uns supostos Adão e Eva, num suposto Paraíso Perdido... Tanta suposição, santo Deus! Tanta imaginação! Tanta fantasia! E as perguntas contundentes impõem-se: “Como é possível fundamentar religiões em todas essas fantasias? E religiões em que milhões acreditam, sendo esses milhões seres inteligentes e racionais que não querem questionar, mas apenas... acreditar? E – mais escandaloso, mais perverso – haver mentores inteligentes, porque oportunistas, que preguem tais fantasias como se fossem verdades inquestionáveis?” Enfim, os anjos e santos! Aqueles são figuras simpáticas, mas, também para eles – sejam bons ou maus, sejam da guarda ou demónios, querubins ou serafins, voando pelos Céus, intermediadores entre o Divino e o Homem... – não existe qualquer credibilidade por não haver qualquer prova da sua existência. E, assim, ficamos, mais uma vez, no reino da fantasia! Os santos, alguns até são simpáticos pelo que deram à humanidade, pelo seu exemplo de dedicação aos outros. E nem queremos saber se foram motivados por um Céu inexistente, por um Além eterno de fantasia de um Jesus que um dia pensou que o Homem não deveria acabar com a morte e que deveria continuar a viver eternamente em algum lugar. E que lugar melhor do que um Paraíso de todas as delícias, no Reino de Deus, louvado continuamente pelos seus anjos, certamente criados para o louvarem e servirem? (Não sabemos servir o quê, se Ele, como Deus, de nada precisa! Ah, como não somos capazes, mesmo nas nossas toscas fantasias, de libertar-nos do conceito humano de um qualquer Rei com os seus vassalos, equivalendo Deus a esse Rei! E a Ele atribuimos honras de misericordioso, como o Deus-Pai de Jesus Cristo, ou de justiceiro e vingador como o Javé de Moisés ou o Alá de Maomé. Aliás, a mesma incongruência e falácia pregada pelas religiões mais recentes – Veja-se Fátima! – desagravá-lo das faltas cometidas pelos Homens, os chamados “pobres pecadores”... Que estultícia, santo Deus! Um Deus, Senhor do Universo, ser vilipendiado por um mísero e mesquinho ser, entre tantos outros que povoam o mesmo Universo, com maior ou menor grau de inteligência, ser a que se chama Homem! Que estultícia!) A conclusão que se nos oferece, por mais que dissequemos estas “verdades inquestionáveis” – mas que são “verdades” que comandam ainda os destinos do mundo, directa ou indirectamente – é sempre a mesma: cada um acredite no que lhe der mais jeito à felicidade da vida. Se é mais feliz, acreditando, então que acredite e nada questione para não perder a fé! É que ser feliz é a única coisa que importa na vida, este dom divino – não nos cansamos de repetir – único e irrepetível! Aliás, a única verdade inquestionável que nos assiste: VIVEMOS!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ter ou não ter fé, “that’s the question”! (1/2)

Diríamos que o “problema” não está no ter ou não ter fé, mas se vale ou não vale a pena ter fé. Depois, ter fé em quê e/ou em quem? Na Bíblia, nos Vedas, no Corão? Em Javé, em Brama, Vixnu e Shiva, no Deus-Pai de Jesus Cristo, em Alá de Maomé? No mesmo Jesus Cristo, no mesmo Maomé? Na Virgem, nos anjos e nos santos? Na(s) Igreja(s) e no que elas dizem ou impõem como dogmas de crença aos fiéis, todas explorando-os, com maior ou menor agressividade, nas suas consciências? (Agressividade também monetária, obviamente, vivendo os seus mentores à custa do que “vendem” aos fiéis... Nesta perspectiva materialista, a Igreja mais escandalosa, através da riqueza acumulada e ostentada pelo seu bispo brasileiro Marcelo, será a Igreja Universal do Reino de Deus, talvez seguida da Igreja Católica – não tendo nós dados suficientes sobre as igrejas protestantes, sobretudo na Alemanha, no Reino Unido e nos USA, bem como as ortodoxas do leste europeu – com o seu rico e altamente dispendioso Vaticano, tudo em nome de um Cristo que pregou exactamente o contrário para se alcançar o Reino dos Céus!) Ora, parece que nenhum livro dito sagrado, nenhum iniciador de religiões, nenhuma Igreja e muito menos qualquer dos seus mentores – a começar e a acabar no papa da Igreja Católica – merece a nossa confiança para neles termos qualquer fé! Restam-nos o verdadeiro Jesus a quem chamaram o Cristo, a Virgem que o foi por imposição da Tradição de milénios, quando lhe foi atribuída a prerrogativa de “mãe de Deus”, alguns anjos, alguns santos. E, nestes, há que distinguir a fé na sua mensagem e exemplo de vida ou nas suas afirmações mais ou menos fantasiosas de um Além eterno e um Deus a comandar, nesse Além, as vidas dos humanos, depois da morte, com paraísos e infernos, anjos e diabos à mistura... Tudo resumido, cômputo feito, parece que fica apenas a mensagem do amor universal ou da fraternidade universal de Jesus, dito o Cristo, chegando ao “escândalo” sublime do perdoar ao inimigo e dar a outra face, contra um atávico “olho por olho” judaico que, embora justo, não passava o rasteiro do humano. (Aliás – dizia – “Se perdoardes apenas aos vossos amigos que mérito tereis?...). Agora, o seu Deus-Pai, o seu Céu, o seu Juízo Final de toda a criatura, indo os pecadores para o Inferno, infestado de demónios – aqueles belos anjos que se revoltaram contra Deus, certamente cansados de nada fazerem no Céu... – não merecem mais credibilidade do que a outorgada ao mundo da fantasia: tudo muito lindo e apelativo, quase diria necessário para satisfazer a ânsia de eternidade e de justiça que existe no fundo da alma humana..., mas não havendo nada – mesmo NADA! – que nos prove a sua existência! E, sem provas, qualquer um pode afirmar seja o que for: acredite quem quiser! No próximo texto, concluindo, falaremos da fé na Virgem, nos Anjos e nos Santos.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Eucaristia, mistério ou falácia? (2/2)

Mas a Eucaristia é o – mais um! – “Mistério da Fé!”, como os sacerdotes repetem em cada missa, depois das sagradas e mágicas palavras “Isto é o meu corpo... Isto é o cálice do meu sangue...” terem feito descer Jesus dos Céus à Terra e ficar ali presente na hóstia consagrada, pronto a ser “consumido” pelo mesmo sacerdote e pelos fiéis... Um mistério que se repete praticamente as vezes que um sacerdote quiser! Que poder a destes sacerdotes, santo Deus! Que poder terem ali nas suas mãos o corpo de Deus! Que poder, o de fazer descer Jesus – ou Deus?!!! – do Céu à Terra, ficando ali sujeito às espécies do pão e do vinho!... Isto seria tremendo se não fosse totalmente falso, totalmente arquitectado pelos teólogos da Igreja dos primeiros séculos para darem corpo à religião nascente – a religião cristã! – seita derivada do judaísmo, imitando os essénios que já partilhavam o pão e o vinho como elementos de união entre os da comunidade. E não poderíamos acabar estas curtíssimas reflexões sem questionar a razão pela qual apenas os sacerdotes investidos em ordens pela Igreja detêm o poder de consagrar dizendo as sagradas palavras. É que as palavras “Fazei isto em memória de mim” foram ditas a todos os presentes, os quais não eram senão apóstolos ou discípulos, e não sacerdotes de espécie alguma. Poderemos descortinar a diferença, como apóstolo, entre um sacerdote e, por exemplo, uma Madre Teresa de Calcutá? Não foi esta muito mais apóstolo do que a maior parte de padres, bispos e papas o foram ou são? Tem ela, por acaso, no corpo e na alma, a mancha da pedofilia que alguns sacerdotes carregam consigo e fazem carregar a Igreja que os investiu em ordens e não lhas retirou logo que foram dados como tal, pecadores quase sem perdão porque abusando de crianças, continuando, devotamente, a fazer Jesus Cristo descer do Céu à Terra? Ah, como Jesus, se estivesse realmente presente nas espécies de pão e de vinho, teria saltado delas para avisar toda a comunidade de crentes dos pecados que aqueles sacerdotes tinham cometido! Como teria saltado, “limpando o Templo” de toda a mentira e pecado!... Como teria pegado no chicote e vergastado sem dó nem piedade aquele sexo prevaricador que, escondido debaixo das vestes sacerdotais, já cobiçava, enquanto consagrava, o acólito que ajudava no culto sagrado!... Que sagrado, santo Deus! Que mentira! Que hipocrisia! Que farsa!...
A pergunta – incontornável! – é: “Como é possível haver milhões que acreditam em toda esta farsa só porque alguém lhes diz que assim foi, assim é e assim será? Sem qualquer ponta de credibilidade, como é óbvio? Sem qualquer prova minimamente racional que sustente o mistério”?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A Eucaristia, mistério ou falácia? (1/2)

Por entre as celebrações das “Aparições de Fátima”, onde a Eucaristia teve lugar de destaque, sobretudo com aquele misterioso anjo fazendo de sacerdote..., houve a “Festa do Corpo de Deus”, com direito a feriado nacional, em Portugal.
E se disséssemos que a Eucaristia é mais um “engano” – ou engodo! – da Igreja, com intuitos bem definidos, para o controle das consciências dos fiéis e crédulos?!
Lendo as origens da Eucaristia descritas pelos teólogos católicos, ficamos realmente perplexos. Tudo se baseia na célebre Última Ceia de Jesus com os apóstolos e na não menos célebre frase “Fazei isto em memória de Mim”. Se a Última Ceia é referida por Mateus, Marcos e Lucas e inexplicavelmente omissa em João, tal frase não aparece nem em Marcos nem em Mateus, nem, obviamente em João, mas apenas em Lucas, este mais tardio que os dois anteriores, e também em Paulo, Cor1 11,24, dizendo Paulo ter recebido tais palavras pessoalmente do Senhor. A fórmula actual usada nas missas é uma adaptação e casamento, com pequenos retoques de linguagem, das versões de Mateus e Lucas. Então, não sendo nosso propósito, aqui e agora, embrenharmo-nos em uma mais profunda e prolongada análise que o assunto bem merecia, apenas uma dupla pergunta se impõe: “Como é possível que uma instituição-base de toda a Igreja – a Eucaristia – seja omissa em João, o grande estratega da divindade de Jesus Cristo, no seu evangelho, o participante activo na organização e desenrolar da Última Ceia, durante a qual, segundo reza a Tradição, ele reclinou a cabeça no peito do Senhor Jesus? Como é possível ainda que a frase, a qual afinal legitima a continuação da celebração – «Fazei isto em memória de Mim» – seja apenas referida por Lucas, discípulo de Paulo, e pelo próprio Paulo, ambos ausentes da cena da Última Ceia?” É pergunta que, a não ser respondida, põe em causa uma base tida como sólida para a Igreja e seus crentes, mas, afinal, não o é. Tudo, aliás, seria muito mais fácil, e sobretudo mais credível, se se aceitasse que aquele “Tomai e comei: isto é o meu corpo que será entregue por vós” e o “Tomai e bebei: este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança que será derramado por vós e por muitos para a remissão dos pecados” fossem não tomados à letra mas, como é óbvio para exegetas não comprometidos, apenas e tão só em sentido metafórico. Só com muito boa vontade – vontade de crente que não raciocina e nada põe em causa daquilo que os seus “mentores” lhe dizem – se aceita que a missa – como eles dizem – é a o sacrifício de Jesus morrendo na cruz e ressuscitando ao terceiro dia, embora sacrifício incruento, sem derramamento de sangue, oferecido por Jesus ao Pai, muitas vezes, para remissão dos pecados, através do ministro sagrado, o sacerdote..., que, pela consagração, devida às sagradas palavras, Jesus passa a estar realmente presente na hóstia consagrada, no pão e no vinho, que se transformaram no seu corpo e no seu sangue..., que Jesus fica presente, nas espécies de pão e de vinho, milagrosamente com corpo, sangue, alma e divindade, já não havendo mais pão ou vinho, mas sim o seu corpo e seu sangue. Diríamos que é uma cruel violência fazer os fiéis aceitar, acreditando, que, ao receberem a hóstia e ao beberem do cálice, estão realmente a comer o corpo e a beber o sangue, em sentido real, de Jesus Cristo, cumprindo, aqui sim, as sem dúvida metafóricas palavras de João: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu ressuscitá-lo-ei no último dia. Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida.” (Jo 6,53-55) Violência cruel, sobretudo para as crianças, na sua primeira comunhão!...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A (in)verdade de Fátima (12 - Final)

    Para além das aparições, primeiro do anjo, depois da Virgem – estas, sem dúvida, as mais importantes – rezam as Memórias de Lúcia que Jacinta, antes de morrer, teve uma visão do Santo Padre, outra da Guerra e outra de Nossa Senhora. Ela, Lúcia, teve uma aparição da Virgem com o Menino Deus, o Menino Jesus sozinho e a Santíssima Trindade. Francisco, coitado, mais uma vez, foi colocado fora de cena... Pela sua excentricidade, a visão de Lúcia da Santíssima Trindade merece honras de narrativa nas palavras da própria vidente: “De repente, iluminou-se toda a Capela com uma luz sobrenatural e sobre o Altar apareceu uma Cruz de luz que chegava até ao tecto. Em uma luz mais clara, via-se, na parte superior da cruz, uma face de homem com corpo até à cinta, sobre o peito uma pomba também de luz e, pregado na cruz, o corpo de outro homem. Um pouco abaixo da cinta, suspenso no ar, via-se um cálix e uma hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue que corriam pelas faces do Crucificado e duma ferida do peito. Escorregando pela Hóstia, essas gotas caíam dentro do Cálix. Sob o braço direito da cruz, estava Nossa Senhora (era Nossa Senhora de Fátima com o Seu Imaculado Coração na mão esquerda, sem espada nem rosas, mas com uma Coroa de espinhos e chamas). Sob o braço esquerdo, umas letras grandes, como se fossem de água cristalina que corresse para cima do Altar, formavam estas palavras: «Graça e Misericórdia». Compreendi que me era mostrado o mistério da Santíssima Trindade e recebi luzes sobre este mistério que não me é permitido revelar.”
    Ignoramos o que dizem os teólogos católicos sobre descrição tão grotesca do referido mistério; mas tem de se admitir que a Igreja, ao caucionar tudo o que envolve a irmã Lúcia, aceita também como válida a grotesca narrativa. Constatamos, de novo, que esta Lúcia era mesmo “dada a visões”! E que o “seu divino” gostava de brincar com ela, nas diferentes formas que a Igreja teve – e ainda tem, ao aceitar toda esta aberrante narrativa – na sua enorme capacidade para inventar e afirmar, depois, como certas e de obrigatoriedade de fé, coisas vindas do Céu...
    Em comentário final, sorrindo-nos, evidentemente, poderíamos exclamar: “Não há dúvida: o divino gostava mesmo daquelas crianças!...” (Entenda-se como se quiser um tal gostar.) Mas lamentamos profundamente, não, obviamente, todo o turismo que se faz à volta e à custa de Fátima (sempre são milhões que, apesar de vindos dos mais pobres que são os crentes – os ricos não têm tempo para essas “coisas”! – ajudam a débil economia do país), mas o aproveitamento ignóbil e perverso que a Igreja fez e faz do fenómeno, Roma inteira totalmente comprometida, com o papa à cabeça, este tendo vindo ao Santuário já várias vezes, recentemente beatificando os três pastorinhos, caucionando todo o ridículo que se passa à volta da capelinha das aparições, com milhares de velas ardendo em local apropriado ao “caçar de dinheiro” ali colocadas pelas pessoas humildes e crentes que, indo em peregrinação a pé pelas estradas do país, lá chegando, rastejam ainda no lajedo até ao sangue, para cumprir promessas feitas em momentos de grande aflição! Certamente, dirão, lavando as mãos – como lavam as mãos as autoridades policiais perante o crime da excisão do clítoris nas meninas nascidas em Portugal de pais guineenses, pela sua estúpida, desumana e cruel tradição... – que na fé de cada um ninguém se deve intrometer. Deixá-los, pois, rastejar à vontade!...
    No entanto – sejamos intelectualmente honestos! – embora todo o fenómeno de Fátima tenha sido ou seja uma farsa, que mal faz às pessoas acreditarem naquele “divino”? Não vão, alegres, para o Santuário, não vêm de lá mais reconfortadas, mais libertas, mais felizes, com a consciência aliviada das promessas feitas, promessas em que tantas graças foram concedidas pela Virgem Senhora, alegria manifestada naquele sentido Adeus, lenços brancos acenando, na última procissão com que encerra a Missa celebrada com toda a solenidade e presidida por representante papal? – Obviamente, parece só haver vantagens para os crentes! Por isso, embora perverso, teremos de concluir que a religião tem mais vantagens do que desvantagens, bradando, sorrindo, a propósito de Fátima ou de outros santuários espalhados pelo mundo, onde dizem que a Virgem apareceu: “Viva a mentira religiosa!”
    É uma forma tosca de acabar estes doze textos, não há dúvida. Mas a elegância do pensamento nem sempre é condizente com o assunto tratado... E que cada um continue a acreditar no que lhe der mais jeito para ter uma vida o mais feliz possível. Não é ser feliz o que importa, neste dom sem dúvida divino que é a VIDA, dom único e irrepetível? (Fim)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A (in)verdade de Fátima (11)

    Agradecemos a narrativa dos “acontecimentos” ao Reverendo Cónego Sebastião Martins dos Reis. Nesta última aparição, os fenómenos atmosféricos de origem aparentemente divina continuam. A Virgem aparece no meio deles. Diz ser a Senhora do Rosário. Pede que façam ali uma capela. Que rezem o terço. Que Deus Nosso Senhor está muito ofendido. Que curará alguns doentes. Prevê o fim da guerra. E, enquanto por ali “anda” a Virgem, sempre portadora de mensagens deprimentes, seguem-se os três quadros celestiais presenciados por Lúcia, referenciando certamente as imagens existentes na Igreja local frequentada pela devota família dos “videntes”. Não menos deprimentes que o anterior cenário! Depois, já partindo a Virgem para o Firmamento, o Milagre do Sol, misturando-se, em glória, milagrosas mudanças atmosféricas! Aqui, a narrativa do Reverendo – ou de Lúcia? – torna-se empolgante, magnífica, por momentos aterradora, mas... divina, como divino era o cenário em que tudo decorria. E... fim da “divina comédia”! – desabafariam os cépticos. Claro que os crentes não duvidarão um cêntimo de que tudo foi ou fora de origem celestial! Os outros, os que pensando que o divino, para ser credível, tem de ser inteligente, não acreditam em tanta fantasia mais ou menos espectacular que de inteligente nada tem. Um divino que quisesse enviar uma mensagem à humanidade, escolheria de certeza formas mais convincentes e racionais do que pôr um sol a rodar e a aquecer as pessoas presentes... Aliás, o Sol rodar? Lembram-se de quando Josué pediu a Javé para parar o Sol e poder terminar a batalha, exterminando o inimigo? Ora este “nosso” Sol rodou tanto como o de Josué parou: não mais que imaginação pura, alucinação colectiva ou pura fantasia literária! Obviamente que o Sol não se move do seu lugar por qualquer capricho divino ou... fantasia humana! Se tal fosse possível, seria a ridicularização completa de algum divino que porventura existisse lá no “Alto”!
    No entanto, nem sequer pesquisando dados para aquilatar da veracidade do acontecimento de tais fenómenos, certamente referenciados em grandes parangonas pela imprensa da época, temos de repetir o que importa: Fátima torna-se desacreditável de dentro para fora e não de fora para dentro, isto é, não pelos fenómenos atmosféricos aduzidos como milagre para comprovar a vinda do divino – Maria Virgem, outras figuras da Virgem, S. José e o Menino, o próprio Jesus Cristo, já não falando no anjo do princípio das aparições – mas pela crueldade, insensatez e irracionalidade da mensagem transmitida a umas pobres e incultas crianças, facilmente manipuláveis, havendo ainda a lamentar o facto de uma poder ver tudo – certamente a mais dada a visões! – e as outras, apenas uma parte.
    Fim da “divina comédia”? – Não! Houve ainda outras aparições-visões, todas datadas, que contemplaram as crianças, não as três, mas apenas Jacinta e Lúcia. O Francisco não foi tão afortunado...
    Para não nos alongarmos, delas falaremos no próximo e último texto.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A (in)verdade de Fátima (10)

    6ª e última aparição – 13 de Outubro. Ainda, a narrativa do Reverendo Cónego: «Devido ao facto de os pastorinhos terem revelado que a Virgem Maria iria fazer um milagre neste dia para que todos acreditassem, estavam presentes na Cova da Iria cerca de 50 mil pessoas, segundo os relatos da época. Chovia com abundância e a multidão aguardava as três crianças nos terrenos enlameados da serra. Lúcia assim descreve estes acontecimentos na Memória IV: “Saímos de casa bastante cedo, contando com as demoras do caminho. O povo era em massa. A chuva, torrencial. Minha mãe, temendo que fosse aquele o último dia da minha vida, com o coração retalhado pela incerteza do que iria acontecer, quis acompanhar-me. Pelo caminho, as cenas do mês passado, mais numerosas e comovedoras. Nem a lamaceira dos caminhos impedia essa gente de se ajoelhar na atitude mais humilde e suplicante. Chegados à Cova de Iria, junto da carrasqueira, levada por um movimento interior, pedi ao povo que fechasse os guarda-chuvas para rezarmos o terço. Pouco depois, vimos o reflexo da luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira. Lúcia: - Que é que Vossemecê me quer? Nossa Senhora: - Quero dizer-te que façam aqui uma capela em Minha honra, que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas. - Eu tinha muitas coisas para Lhe pedir: se curava uns doentes e se convertia uns pecadores, etc. - Uns, sim; outros, não. É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados. E tomando um aspecto mais triste: – Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido. E abrindo as mãos, fê-las reflectir no Sol. E, enquanto que se elevava, continuava o reflexo da Sua própria luz a projectar-se no Sol.” Neste momento, Lúcia diz para a multidão olhar para o Sol, levada por um movimento interior que a isso a impeliu, e narra: “Desaparecida Nossa Senhora, na imensa distância do firmamento, vimos, ao lado do sol, S. José com o Menino e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto azul. Era a Sagrada Família. S. José com o Menino pareciam abençoar o Mundo com uns gestos que faziam com a mão em forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi Nosso Senhor acabrunhado de dor a caminho do Calvário e Nossa Senhora que me dava a ideia de ser Nossa Senhora das Dores. Lúcia via apenas a parte superior do corpo de Nosso Senhor e Nossa Senhora não tinha a espada no peito. Nosso Senhor parecia abençoar o Mundo da mesma forma que S. José. Desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ver ainda Nossa Senhora, em forma semelhante a Nossa Senhora do Carmo com o Menino Jesus ao colo.” Enquanto os três pastorinhos eram agraciados com estas visões (apenas Lúcia viu os três quadros, Jacinta e Francisco viram somente o primeiro), a maior parte da multidão presente observou o chamado Milagre do Sol. A chuva que caía cessou, as nuvens entreabriram-se deixando ver o Sol, assemelhando-se a um disco de prata fosca, podia fitar-se sem dificuldade, sem cegar. A imensa bola começou a girar vertiginosamente sobre si mesma como uma roda de fogo. Depois, os seus bordos tornaram-se escarlates e deslizou no céu, como um redemoinho, espargindo chamas vermelhas de fogo. Essa luz reflectia-se no solo, nas árvores, nas próprias faces das pessoas e nas roupas, tomando tonalidades brilhantes e diferentes cores. Animado três vezes por um movimento louco, o globo de fogo pareceu tremer, sacudir-se e precipitar-se em ziguezague sobre a multidão aterrorizada. Tudo durou uns dez minutos. Finalmente, o sol voltou em ziguezague para o seu lugar e ficou novamente tranquilo e brilhante. Muitas pessoas notaram que as suas roupas, ensopadas pela chuva, tinham secado subitamente. Tal fenómeno foi testemunhado por milhares de pessoas, até mesmo por outras que estavam a quilómetros do lugar das aparições. O relato foi publicado na imprensa por diversos jornalistas que ali se deslocaram e que foram também eles, testemunhas do milagre. O ciclo das aparições em Fátima tinha terminado.” Devido ao alongado da narrativa, reservamos os comentários para o próximo texto. (Cont.)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A (in)verdade de Fátima (9)

    A quinta aparição – 13 de Setembro. Continuamos, citando: «Como das outras vezes, vários fenómenos atmosféricos foram observados pelos circunstantes, cujo número foi calculado entre 15 e 20 000 pessoas: o súbito refrescar da atmosfera, o empalidecer do Sol até ao ponto de se verem as estrelas, uma espécie de chuva como que de pétalas irisadas ou flocos de neve que desapareciam antes de pousarem na terra. Em particular, foi notado, desta vez, um globo luminoso que se movia lenta e majestosamente pelo céu, do nascente para o poente e, no fim da aparição, em sentido contrário. Os videntes notaram, como de costume, o reflexo de uma luz e, a seguir, Nossa Senhora sobre a azinheira.
Nossa Senhora: - Continuem a rezar o terço para alcançarem o fim da guerra. Em Outubro, virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo, São José com o Menino Jesus, para abençoarem o Mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda. Trazei-a só durante o dia (as crianças tinham passado a usar como cilicio uma corda grossa que não tiravam sequer para dormir; isso impedia-lhes muitas vezes o sono e passavam noites inteiras em branco, daí o elogio e a recomendação de Nossa Senhora). Lúcia: - Têm-me pedido para Lhe pedir muitas coisas, a cura de alguns doentes, de um surdo-mudo. - Sim, alguns curarei. Outros não. Em Outubro farei o milagre para que todos acreditem. E, começando a elevar-Se, desapareceu como de costume.»
Desta vez, há mais fenómenos atmosféricos a acompanhar o evento. Ilariantes, claro! Sobretudo, aquele globo luminoso que se movia lenta e majestosamente pelo céu deveria ter sido digno de se ver... E, então, aquela chuva de pétalas, caindo como flocos de neve!... Já não falando nas estrelas “vistas”, ao meio-dia!... E cerca de 20 000 pessoas admiraram tão estranhos fenómenos! Alucinação colectiva ou imaginação prodigiosa do narrador, citando Lúcia? Mas, fantástico, sem dúvida! Estranha é aquela promessa da Virgem de, em Outubro, virem também com Ela, Nosso Senhor (Qual? O Deus-Pai, o Deus-Filho ou o Deus-Espírito Santo?), Nossa Senhora das Dores e do Carmo (Então, a mesma Virgem desdobrava-se em mais duas: a das Dores e a do Carmo?), São José com o Menino Jesus (Ambos vivos, sorrindo, ou apenas em imagem de igreja? Se aquele Nosso Senhor, tudo leva a crer que seja Jesus Cristo, ali tínhamos mais uma duplicação: Jesus Cristo, Filho de Deus, já sentado à direita do Pai, e Jesus Menino ainda pequenino nos braços de São José...). E todos a abençoarem o mundo!... É! Muito interessante e piedoso, mas tremendamente caricato e, por isso, descredibilizando-se completamente: um relato de pura fantasia religiosa! Enfim, aquela de “Deus está contente com os vossos sacrifícios”, usando as pobres crianças cilícios, é completamente arrasadora, pela crueldade, levando ao descrédito não só do suposto fenómeno, mas também de qualquer ser divino inteligente que a pudesse conceber e a quisesse impor numa sua visita do Céu à Terra! A ter sido verdade toda esta fantasia de Fátima, seria caso para perguntar com o poeta: “Que quem já é pecador, sofra tormentos, enfim. Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim?” (Augusto Gil – “Balada da neve”) (Cont.)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A (in)verdade de Fátima (8)

    Depois de comentarmos a “importante” terceira “aparição”, sigamos novamente a emocionante narrativa do Reverendo Cónego: «No dia 13 de Agosto, quando deveria dar-se a quarta aparição, os videntes não puderam ir à Cova da Iria, pois foram raptados pelo administrador de Ourém, que à força quis arrancar-lhes o segredo. No entanto, as crianças permaneceram inabaláveis e nada revelaram. Nesse dia, juntou-se uma grande multidão que aguardava pela aparição. Por volta do meio-dia, ouviu-se um trovão, ao qual se seguiu o relâmpago, tendo os espectadores notado uma pequena nuvem branca que pairou alguns minutos sobre a azinheira. Observaram-se também fenómenos de coloração, de diversas cores, nos rostos das pessoas, das roupas, das árvores e do chão. No dia 19 de Agosto de 1917, Lúcia estava com Francisco e seu irmão João no lugar dos Valinhos, uma propriedade de um dos seus tios e que dista uns 500 metros de Aljustrel. Pelas 4 horas da tarde, começaram a produzir-se as alterações atmosféricas que precederam as aparições anteriores, uma súbita diminuição da temperatura e um esmorecimento do Sol. Lúcia, sentindo que alguma coisa de sobrenatural se aproximava e os envolvia, pediu ao primo João para chamar rapidamente a Jacinta, a qual chegou a tempo de ver Nossa Senhora que - anunciada, como das outras vezes, por um reflexo de luz - apareceu sobre uma azinheira, um pouco maior que a da Cova da Iria.
Lúcia: - Que é que Vossemecê me quer? Nossa Senhora: - Quero que continueis a ir à Cova da Iria, no dia 13, que continueis a rezar o terço todos os dias. No último mês farei o milagre para que todos acreditem. - Que é que Vossemecê quer que se faça ao dinheiro que o povo deixa na Cova da Iria? - Façam dois andores, um leva-o tu com a Jacinta e mais duas meninas; o outro que o leve o Francisco com mais três meninos. O dinheiro dos andores é para a festa de Nossa Senhora do Rosário e o que sobrar é para a ajuda de uma capela que hão-de mandar fazer. - Queria pedir-lhe a cura de alguns doentes. - Sim, alguns curarei durante o ano. E tomando um aspecto mais triste, recomendou-lhes novamente a prática da mortificação: - Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o Inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas. E, como de costume, começou a elevar-Se em direcção ao nascente. Os videntes cortaram ramos da árvore sobre a qual Nossa Senhora lhes tinha aparecido e levaram-nos para casa. Os ramos exalavam um perfume singularmente suave.»
    Há vários pormenores de não somenos importância para dar credibilidade ao fenómeno, nesta quarta aparição: acontece a 19 e não a 13; há o irmão de Lúcia, João, cuja idade desconhecemos, e que vai chamar Jacinta que ainda chega a tempo de ver Nossa Senhora; o local não é a Cova da Iria, mas os Valinhos. Qual o papel de João, como não-vidente? Porque mudou de sítio e de hora a Virgem para a sua aparição? Porque não libertou, por milagre divino, as crianças raptadas pelo Administrador de Ourém, no dia 13? (Aliás, o administrador raptar as crianças por não quererem revelar-lhe o segredo não deixa de ser caricatamente policial...) Mas, talvez sejam perguntas cujas respostas até nem tenham interesse. O mais cruel e totalmente anti-divino é que a Virgem insiste no sofrimento redentor, na oração, nas penas do Inferno, nas almas dos pobres pecadores que se condenam para a eternidade, por não haver quem reze e se sacrifique por eles... E patético é o destino que a Virgem decide dar ao dinheiro ofertado pelos já devotos, na Cova da Ira: dois andores! Ainda a capela, vá lá! Agora, os andores? Com todo o respeito que o assunto nos mereça, parece-nos absolutamente deprimente tal mesquinha ideia vinda do... Céu! Os vários fenómenos atmosféricos atribuídos a origem divina não merecem mais do que um sorriso... (Cont.)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A (in)verdade de Fátima (7)

Valeu a pena a transcrição integral da narrativa do Reverendo Cónego (textos 5 e 6) desta 3ª “aparição”, de todas, a mais significativa. Realmente, se dúvidas houvesse quanto à (in)verdade de Fátima, ficariam totalmente dissipadas com esta narrativa de Lúcia. Primeiro, após patéticas desculpas da Senhora para não fazer milagres de curas pedidas, vem novamente o apelo ao sacrifício e à oração para obter a paz e a conversão dos pecadores... (Aliás, aqui, diríamos o que já dissemos, demonstrando, sobre todos os supostos milagres narrados na História, pela Bíblia, Evangelhos e outros escritos: todos símbolos ou farsas; nenhum, de narrativa credível!) Depois, os famosos segredos que, como era de esperar, fizeram correr muita tinta! Ora, voltaríamos a perguntar se o divino precisa de andar com segredos, mais ou menos falaciosos, por confusos, em vez de ser claro e compreensível para todos os Homens a quem, obviamente, se destina a mensagem de conversão da humanidade na fraternidade universal apregoada por Jesus Cristo, tendo na mira um Céu ou um Inferno que seja, na tão desejada vida eterna... E quão fantasmagórica é aquela descrição do Inferno e as almas e os diabos nele! Quão fantasmagórica! Mas nada que não tenha sido já escalpelizado ao longo dos tempos, desde os clássicos greco-latinos à fantasiosa e imaginativa Idade Média, com o seu expoente máximo em Dante (séc.s XIII-XIV) na sua Divina Comédia, a Miguel Ângelo (séc.s XV-XVI), a Salvador Dalí (séc. XX). No entanto, não se percebe que valor de mensagem tem aquele tríplice segredo. Objectivamente, parece inócuo. Depois, segredo “O Imaculado Coração de Maria”? Então, a Imaculada Conceição de Maria – donde o seu Imaculado Coração! – não havia já sido decretado, para a Igreja, em 8 de Dezembro de 1854 por Pio IX? Para quê mais uma confirmação e... em segredo? Quanto ao Inferno, a ter existido aquela visão aterradora para as crianças, apenas retratou o que no imaginário popular é, de há séculos, se não milénios, conhecido; sobretudo, o Sr. Diabo, vestido de vermelho, rosto de bêbedo escarninho, cauda de macaco, chifres de touro, mãos de longas unhas empunhando o ameaçador tridente que espeta nos corpos gloriosos das almas dos condenados, com gargalhadas de gozo... Enfim, o suposto atentado ao Papa: não se vê onde possa estar o interesse de tal suposto “segredo”! Por outro lado, as visões apocalípticas de Lúcia e de Jacinta – estando incompreensivelmente delas afastado Francisco que era dois anos mais velho que a irmã – nelas integrando-se as palavras, primeiro, do Anjo, depois, da Virgem, emergem como o corolário do medo e do terror com que a religião parece gostar de afundar-se, para melhor convencer e angariar crentes que, de modo racional, nunca seriam levados a acreditar em tais fantasias e alucinações...
Embora muito mais críticos pudéssemos ser em relação àquela fantástica narrativa (o ribombar do trovão para indicar o fim da aparição é de, pelo menos, fazer sorrir...), apenas um último comentário ao conteúdo final: “Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração.” A pergunta é quase irreverente, mas tem de ser feita: “Era a Virgem que queria estabelecer no mundo a devoção ao seu Imaculado Coração ou era a Igreja – neste, caso, os bispos de Portugal – que, não tendo o dogma da Imaculada Conceição tido os efeitos desejados, pretendia que tal culto fosse instituído e implementado?” Tanta imaginação doentia de medos ancestrais ali retratados é uma suma prova da inconsistência da verdade de Fátima: o divino não pode – exactamente por ser divino! – andar a “brincar” com a consciência das pessoas. É que somos racionais, caramba! Temos toda uma razão para aquilatar do que nos dizem e nos confessam!... Mas ficamo-nos por aqui no muito de acérrima crítica que todo aquele aparato de infernos, diabo e de segredos neles merecia... (Cont.)

domingo, 3 de julho de 2011

A (in)verdade de Fátima (6)

(Continuação da narrativa de Lúcia, após a “descida” aos infernos...)
«Lúcia: “Em seguida, levantamos os olhos para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza: - Vistes o Inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, (segunda parte do segredo - O Imaculado Coração de Maria) Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI, começará outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida (os astrónomos registaram uma aurora boreal que iluminou os céus da Europa na noite de 25 para 26 de Janeiro de 1938), sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer e várias nações serão aniquiladas. Por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé. Então vimos (terceira parte do segredo - O atentado ao Papa) ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um Anjo com uma espada de fogo na mão esquerda; ao cintilar, soltava chamas que pareciam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro. O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte dizia: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos numa luz imensa que é Deus: - algo semelhante a como se vêem as pessoas num espelho quando lhe passam por diante - e um bispo vestido de branco - tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre. Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subiam uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meio em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz, foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo, uns atrás dos outros, os Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz, estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal na mão; neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus. Terminada esta visão, disse Nossa Senhora: - Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco sim, podeis dizê-lo. Quando rezardes o terço, dizei depois de cada mistério: ‘Ó meu Jesus! Perdoai-nos e livrai-nos do fogo do Inferno, levai as almas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem.’ - Vossemecê não me quer mais nada? - Não. Hoje não te quero mais nada. E como de costume, começou a elevar-Se em direcção ao nascente, até desaparecer na imensa distância do firmamento.” Ouviu-se então um trovão, indicando que a aparição cessara.»
Assim, se completa a narrativa dos acontecimentos desta 3ª aparição. Remetemos todos os comentários para o próximo texto. Então, até lá! (Cont.)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A (in)verdade de Fátima (5)

Para esta terceira “aparição”, pela sua importância em conteúdo de mensagens, vale a pena reproduzir a narrativa feita, na Wikipédia, pelo reverendo Cónego Sebastião Martins dos Reis, citando os escritos de Lúcia (1937): «Ao dar-se a terceira aparição, uma nuvenzinha acinzentada pairou sobre a azinheira, o Sol ofuscou-se e uma aragem fresca soprou sobre a serra, embora se estivesse em pleno Verão. O Sr. Manuel Marto, pai da Jacinta e do Francisco, diz que também ouviu um sussurro, como o de moscas num cântaro vazio. Os videntes viram o reflexo da costumada luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira.
Lúcia: - Vossemecê que me quer? Nossa Senhora: - Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que continuem a rezar o terço todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer. Lúcia: - Queria pedir-lhe para nos dizer quem é e para fazer um milagre com que todos acreditem que Vossemecê nos aparece. Nossa Senhora: - Continuem a vir aqui todos os meses. Em Outubro direi quem sou, o que quero e farei um milagre que todos hão-de ver para acreditarem.
Lúcia apresenta então uma série de pedidos de conversões, curas e outras graças. Nossa Senhora responde recomendando sempre a prática do terço, que assim alcançariam as graças durante o ano. Um dos pedidos foi a cura do filho paralítico de Maria Carreira (que seria desde o início uma devota de Fátima). Nossa Senhora respondeu que não o curaria nem o tiraria da sua pobreza, mas que rezasse o terço todos os dias em família e dar-lhe-ia os meios de ganhar a vida. Outro enfermo pedia para ir em breve para o Céu. Nossa Senhora respondeu que não tivesse pressa, que bem sabia quando o havia de vir buscar. Depois, prosseguiu Nossa Senhora: - Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes e em especial quando fizerdes algum sacrifício: “Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.” E Lúcia narra: “Ao dizer estas últimas palavras, abriu de novo as mãos, como nos dois meses passados. O reflexo de luz que delas expedia pareceu penetrar a terra e (primeira parte do segredo - A Visão do Inferno) mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados nesse fogo, os demónios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saíam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das fagulhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demónios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros. Esta vista foi um momento, e graças à nossa boa Mãe do Céu que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o Céu (na primeira aparição), se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor”.»
Guardaremos os comentários, obviamente de severa crítica, para o fim desta narrativa empolgante pelo seu desassombro, pelos seus segredos... (Cont.)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A (in)verdade de Fátima (4)

De 13 de Maio, mensalmente, no mesmo dia e à hora aprazada, até 13 de Outubro, desenrolaram-se as supostas aparições da Virgem. Debrucemo-nos sobre as Suas palavras e atitudes, referidas por Lúcia nos seus escritos datados de 1937, seguindo o livro supra citado.
Primeira aparição: “Não tenhais medo. Eu não vos faço mal. Sou do Céu. Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero.” Disse ainda que Lúcia e Jacinta iriam para o Céu e o Francisco também, mas teria de rezar muitos terços; e que a Amélia iria estar no purgatório até ao fim do mundo! E, antes de voltar ao Céu: “Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?” E, a um sim das crianças: “Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.”
Constatamos que a Virgem continua na peugada do Anjo, tendo este percursor, tal João Baptista para Jesus, dito o Cristo, anunciado o sofrimento dos crentes para conversão dos pecadores. Também com linguagem semelhante. E igualmente cruel! Cruel com o Francisco que teria – pobre criança! – de rezar muitos terços para ir para o Céu; cruel igualmente ao pôr na alma das crianças a árdua tarefa da conversão dos pecadores através do sofrimento deles; cruel ainda para com a Amélia que iria ficar no purgatório até ao fim do mundo, um purgatório teorizado em 593 pelo papa Gregório I, aprovado em 1439 no Concílio de Florença e confirmado em 1563 no Concílio de Trento, com muitos proventos para a Igreja Católica, segundo reza largamente a História...
Ora, digam-me, não bastaria a mensagem desta suposta primeira aparição para a declarar como impossível, por, tal como dissemos para a mensagem do Anjo, ser cruel e desumana? Como é que ninguém sensato dentro da Igreja, Igreja que tudo parece aprovar desde que para suas conveniências, se revolta? Este silêncio ou este aproveitamento brada a todos os Céus e a todos os Infernos!
Segunda aparição: “Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois, direi o que quero. O doente (indicado por Lúcia), se se converter, curar-se-á durante o ano. A Jacinta e o Francisco, levo-os, em breve, (para o Céu). Mas tu ficarás cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação e serão queridas de Deus estas almas como flores postas por Mim a adornar o Seu trono. Mas não vais ficar sozinha. Quando sofreres muito, não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.”
É, nitidamente, uma “aparição” com intuito claro de consolidar a mensagem da primeira. Sem grandes novidades além de oferecer a salvação a quem lhe fosse devoto bem como a protecção à sua interlocutora, a "vidente" Lúcia. A suposta profecia de “levar, em breve, Francisco e Jacinta para o Céu”, por ser escrita em 1937, assemelha-se às dos profetas bíblicos que “profetizavam” o que já havia acontecido... Sobre o rezar do terço, desfiando avé-marias e pai-nossos, entrecortando cada dezena com aquela paradigmática oração "Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno e levai as almas todas para o céu principalmente as mais abandonadas", falaremos mais à frente. (Cont.)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A (in)verdade de Fátima (3)

«Tomai e bebei o corpo e o sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.»” – disse o anjo aos pastorinhos, concluindo a sua terceira aparição.
Reportando-nos a estas, e às outras palavras do Anjo referidas no texto anterior, perguntaríamos: “Como pode alguém, pensando na infinita bondade de Deus, aceitar como credível uma tal mensagem trazida do mesmo Deus, por um anjo, até umas pobres crianças? Como? É que brada a todos os Céus e a todos os deuses tamanha crueldade! E já nem falamos na linguagem, certamente obscura para crianças tão jovens, como: “súplica, acto de reparação, desígnio, ultraje, sacrilégio, indiferença, profundamente”. Pois que Deus é aquele invocado pelo anjo, que Altíssimo aquele que necessita de ser consolado e reparado dos crimes contra Ele cometidos pelos ingratos homens? E que carga emocional é aquela posta nos ombros de tais crianças de “salvarem a Pátria” e de “converterem os pobres pecadores”? Ah, como nos parece impossível que tal tenha vindo do Céu e que tenha havido pessoas “responsáveis” que, assim, o tenham propalado aos quatro ventos! Como parece impossível! – Mas não: Fátima aí está como o santuário mais visitado do mundo, bem aproveitado pelos agentes da religião, do comércio e do turismo, os papas fazendo gala em virem de vez em quando rezar no santuário para, com o seu beneplácito e anuência, sacralizarem o lugar e afirmarem, perante o mundo, a “veracidade” de tais aparições! E perguntaríamos, sem qualquer intenção maldosa, apenas curiosidade científica: “Em que céu poderemos contabilizar os pecadores convertidos por Deus mediante as muitas orações e sacrifícios feitos por aquelas três crianças?” Será pergunta para a qual deveria haver uma resposta para que a Verdade de tais incumbências celestiais, “sem dúvida” vindas do Céu, fosse aceite universalmente e não apenas por uns tantos que, nela crendo-não-crendo, a impõem aos outros.
Não podemos “deixar” este Anjo, sem constatar a sua actuação como se fora sacerdote rezando a missa, e, se fossem vivos, perguntaríamos a Lúcia a que lhe soube aquela hóstia e, aos pequenos, a que lhe soube aquele “sangue”, sem dúvida celestial, do cálice... E ainda: “Como é que a Igreja avaliza este anjo que ali apareceu qual sacerdote com uma hóstia e um cálice, certamente já transformados, por intervenção divina, – a intervenção humana de sacerdote não é mencionada – a hóstia no corpo e o conteúdo do cálice no sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo?” Não é estranho um tal abuso por parte do anjo? Aliás, muito há a dizer sobre a eucaristia, símbolo máximo da religião católica, com Cristo a tornar-se presente, de corpo e sangue, em todas as missas que se celebram todos os dias por esse mundo, permanecendo, depois, presente em todos os sacrários da Terra!... Disso, falaremos em próximos textos. Por agora, limitamo-nos a Fátima. (Cont.)