quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A (in)verdade de Fátima (12 - Final)

    Para além das aparições, primeiro do anjo, depois da Virgem – estas, sem dúvida, as mais importantes – rezam as Memórias de Lúcia que Jacinta, antes de morrer, teve uma visão do Santo Padre, outra da Guerra e outra de Nossa Senhora. Ela, Lúcia, teve uma aparição da Virgem com o Menino Deus, o Menino Jesus sozinho e a Santíssima Trindade. Francisco, coitado, mais uma vez, foi colocado fora de cena... Pela sua excentricidade, a visão de Lúcia da Santíssima Trindade merece honras de narrativa nas palavras da própria vidente: “De repente, iluminou-se toda a Capela com uma luz sobrenatural e sobre o Altar apareceu uma Cruz de luz que chegava até ao tecto. Em uma luz mais clara, via-se, na parte superior da cruz, uma face de homem com corpo até à cinta, sobre o peito uma pomba também de luz e, pregado na cruz, o corpo de outro homem. Um pouco abaixo da cinta, suspenso no ar, via-se um cálix e uma hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue que corriam pelas faces do Crucificado e duma ferida do peito. Escorregando pela Hóstia, essas gotas caíam dentro do Cálix. Sob o braço direito da cruz, estava Nossa Senhora (era Nossa Senhora de Fátima com o Seu Imaculado Coração na mão esquerda, sem espada nem rosas, mas com uma Coroa de espinhos e chamas). Sob o braço esquerdo, umas letras grandes, como se fossem de água cristalina que corresse para cima do Altar, formavam estas palavras: «Graça e Misericórdia». Compreendi que me era mostrado o mistério da Santíssima Trindade e recebi luzes sobre este mistério que não me é permitido revelar.”
    Ignoramos o que dizem os teólogos católicos sobre descrição tão grotesca do referido mistério; mas tem de se admitir que a Igreja, ao caucionar tudo o que envolve a irmã Lúcia, aceita também como válida a grotesca narrativa. Constatamos, de novo, que esta Lúcia era mesmo “dada a visões”! E que o “seu divino” gostava de brincar com ela, nas diferentes formas que a Igreja teve – e ainda tem, ao aceitar toda esta aberrante narrativa – na sua enorme capacidade para inventar e afirmar, depois, como certas e de obrigatoriedade de fé, coisas vindas do Céu...
    Em comentário final, sorrindo-nos, evidentemente, poderíamos exclamar: “Não há dúvida: o divino gostava mesmo daquelas crianças!...” (Entenda-se como se quiser um tal gostar.) Mas lamentamos profundamente, não, obviamente, todo o turismo que se faz à volta e à custa de Fátima (sempre são milhões que, apesar de vindos dos mais pobres que são os crentes – os ricos não têm tempo para essas “coisas”! – ajudam a débil economia do país), mas o aproveitamento ignóbil e perverso que a Igreja fez e faz do fenómeno, Roma inteira totalmente comprometida, com o papa à cabeça, este tendo vindo ao Santuário já várias vezes, recentemente beatificando os três pastorinhos, caucionando todo o ridículo que se passa à volta da capelinha das aparições, com milhares de velas ardendo em local apropriado ao “caçar de dinheiro” ali colocadas pelas pessoas humildes e crentes que, indo em peregrinação a pé pelas estradas do país, lá chegando, rastejam ainda no lajedo até ao sangue, para cumprir promessas feitas em momentos de grande aflição! Certamente, dirão, lavando as mãos – como lavam as mãos as autoridades policiais perante o crime da excisão do clítoris nas meninas nascidas em Portugal de pais guineenses, pela sua estúpida, desumana e cruel tradição... – que na fé de cada um ninguém se deve intrometer. Deixá-los, pois, rastejar à vontade!...
    No entanto – sejamos intelectualmente honestos! – embora todo o fenómeno de Fátima tenha sido ou seja uma farsa, que mal faz às pessoas acreditarem naquele “divino”? Não vão, alegres, para o Santuário, não vêm de lá mais reconfortadas, mais libertas, mais felizes, com a consciência aliviada das promessas feitas, promessas em que tantas graças foram concedidas pela Virgem Senhora, alegria manifestada naquele sentido Adeus, lenços brancos acenando, na última procissão com que encerra a Missa celebrada com toda a solenidade e presidida por representante papal? – Obviamente, parece só haver vantagens para os crentes! Por isso, embora perverso, teremos de concluir que a religião tem mais vantagens do que desvantagens, bradando, sorrindo, a propósito de Fátima ou de outros santuários espalhados pelo mundo, onde dizem que a Virgem apareceu: “Viva a mentira religiosa!”
    É uma forma tosca de acabar estes doze textos, não há dúvida. Mas a elegância do pensamento nem sempre é condizente com o assunto tratado... E que cada um continue a acreditar no que lhe der mais jeito para ter uma vida o mais feliz possível. Não é ser feliz o que importa, neste dom sem dúvida divino que é a VIDA, dom único e irrepetível? (Fim)

1 comentário:

  1. "Ignoramos o que dizem os teólogos católicos sobre descrição tão grotesca do referido mistério"

    "Na aparição nocturna de Tuy, na cruz de luz que Lúcia vê brilhar sobre o altar, manifestam-se as três divinas pessoas...É um notável ponto de contacto com a «teologia da cruz»..." Manuel Alberto Pereira de Matos, Doutorado em Teologia, Director e professor do Instituto Superior de Teologia de Viseu

    O Francisco classifica de "grotesca" e "aberrante" a descrição de Lúcia, mas será que o Manuel tem a mesma opinião?

    "No entanto – sejamos intelectualmente honestos! – embora todo o fenómeno de Fátima tenha sido ou seja uma farsa..."

    O Francisco acha que o fenómeno de Fátima é uma farsa, mas será que o papa Bento XVI já pensa a mesma coisa?

    "...mas o aproveitamento ignóbil e perverso que a Igreja fez e faz do fenómeno, Roma inteira totalmente comprometida, com o papa à cabeça..."

    Francisco, será que pela sua lógica, eu posso concluir que tanto a irmã Lúcia como o papa João Paulo II fizeram de tudo para ir parar ao inferno?

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