sábado, 16 de março de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (19/?)


    Eu ouvia, embevecido, as palavras do mestre. Concordando totalmente. Sentindo cada vez mais forte dentro de mim o apelo ao cumprimento da tal missão de levar a Boa Nova a todo o povo, a nova do Reino de Deus que estava prestes a vir, a nova da restauração de Israel e das suas doze tribos (certamente por milagre divino pois havia muito que a identificação de dez delas se havia perdido, desde que os assírios conquistaram o reino do Norte onde governavam com alguma diferenciação, tendo sido dispersas pelos conquistadores para reduzir a hipótese de revolta, restando apenas as duas do Sul, Judá e Benjamim que, apesar do cativeiro da Babilónia, não se dispersaram e se haviam mantido até àquela data), mas, sobretudo, a nova da salvação de cada um conforme a sua conduta no amor a Deus e ao próximo, acabando com o «Olho por olho, dente por dente», pregando um amor que incluiria os próprios inimigos, lançando a todos um estranho desafio, cúmulo da perfeição: conseguirem dar a outra face... Esta era uma mensagem que nem sequer revelaria a João por achar que nem ele, obcecado que andava em mandar ao povo fazer penitência e em atemorizá-lo com o fim iminente dos tempos, compreenderia e aceitaria. Talvez até me chamasse tolo, lunático, idealista, porque tal solicitação era contra-naturam e contra as Sagradas Escrituras reveladas por Javé ao Homem. Javé não teria apregoado o «olho por olho» para agora dizer que se tinha enganado e que melhor era dar a outra face. Aliás, se assim fosse e se os do tempo de Moisés pudessem voltar de novo à vida, queixar-se-iam do mesmo Javé que não lhes apontou tal caminho de perfeição: “Que mais tinham do que eles os do meu tempo e os vindouros?” – protestariam.
    Mas enquanto o meu pensamento divagava por estas mensagens do outro mundo: como perdoar aos inimigos ou, quase impossível, dar a outra face, indagava-me quem seria aquele a que se referia João dizendo dele que nem era digno de lhe desapertar as correias das sandálias e que baptizaria com o Espírito Santo e com o fogo. Quem seria ele senão o Messias, o Anunciado pelas Escrituras? Então, perguntei a João:
    − Quem é esse que há-de vir e de que nem és digno de descalçar as correias das sandálias?
    − E tu, quem és para me fazeres tal pergunta? − respondeu João não habituado a que fosse interpelado daquele modo.
    Mas como a noite estava a chegar, não haveria muita oportunidade para respostas convincentes de um e de outro lado. Eu, no entanto, ainda respondi:
    − Quem sou eu? Não sei! Acaso, alguém saberá quem realmente é? Tu sabes quem és?
    E João, tirando-se de medos e enchendo-se de brios:
    − Eu sou uma voz que clama no deserto, aquele que baptiza na água, que anuncia o fim dos tempos e a vinda de um novo reino, o Reino de Deus!
    Não esperava tal resposta contundente. De qualquer modo, fiquei a saber que João não era, não se sentia o Messias, o Enviado, o Ungido que viesse salvar o povo de Deus. Quem seria então? E rematei:
    − Bem, a noite já se alonga, as estrelas chamam-nos para o descanso. Se quisesses, poderíamos voltar a encontrar-nos amanhã. Vou pensar na tua pergunta. Quem sabe se no sono desta noite não me será revelado quem eu sou? Por enquanto, creio sentir-me como tu: apenas uma voz que clama no deserto...

Sem comentários:

Enviar um comentário