quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Breve história do início do Cristianismo - Análise crítica

 

 

De como de uma história infantil nasceu uma religião

 

    Tudo começa no Génesis, o primeiro livro da Bíblia – Antigo Testamento (AT).

    A Bíblia – AT para os cristãos, Tora para os judeus – na diversidade dos seus “livros” – foi escrita por levitas judeus, essencialmente durante os oitenta anos de cativeiro, na Babilónia, no séc. VI AC, compilando muitas tradições orais quer históricas quer mitológicas e/ou de carácter religioso. A Bíblia dos cristãos inclui também o Novo Testamento (evangelhos e epístolas) que foi escrito por discípulos de Jesus a partir dos anos 60 DC.

    E a história conta-se em poucas palavras, como, aliás, é alegremente contada às crianças da catequese:

«Depois de ter criado o Céu e a Terra e tudo o que neles existe, Deus criou o homem para tomar conta, na Terra, do que ali havia criado.

Sentindo-se só, o homem pediu uma companhia a Deus e Deus deu-lhe uma linda mulher. Foram chamados de Adão e Eva e colocados no Paraíso de todas as delícias. Mas… havia, nesse Paraíso, uma macieira – a árvore do Bem e do Mal – cujas maçãs não poderiam comer. Era a única proibição! Ora, como era fruto proibido, Eva não resistiu a comer uma maçã e dar de comer dela ao “pobre” do Adão. O seu pecado – transgressão da regra divina! – foi punido com atroz severidade: expulsos do Paraíso e condenados, ele a ter de comer o pão com o suor do seu rosto, ela a ter de gerar na angústia e na dor.

Este pecado – o pecado original – ficou afectando todos os descendentes destes primeiros humanos Adão e Eva que, entretanto, se multiplicaram, não permitindo ao Homem a sua salvação eterna.

Então, Deus, uns milhares de anos mais tarde, e durante mais de mil anos, inspirou umas Escrituras nas quais se profetizava a vinda de um Messias Salvador e Redentor da Humanidade atingida por esse horrendo e terrível pecado original.

O “milagre” aconteceu, há dois mil anos, no seio do povo judeu – o povo eleito por Javé-Deus para escrever as Escrituras e nele nascer o Messias – materializado num homem chamado Jesus, filho de uma Virgem chamada Maria.

Em Jesus se cumpriram as Escrituras: pregou a Palavra de Deus durante três anos e, depois, cumprindo as mesmas Escrituras, foi condenado à morte e morte de cruz, redimindo assim, com o seu atroz sofrimento, toda a Humanidade do seu pecado original e de todos os outros pecados, salvando os Homens de se condenarem eternamente… É o Jesus Redentor e Salvador!

Mas… o mais importante é que, ao fim de três dias de ter morrido, Jesus ressuscitou dos mortos e subiu ao Céu para junto de Deus, seu Pai, sendo a sua ressurreição penhor e certeza da nossa própria ressurreição para a vida eterna, junto de Deus, se nos portarmos bem nesta vida e não cometermos pecados ou, cometendo-os, os confessarmos e deles nos arrependermos.

É que, além dos anjos bons – os que perenemente louvam a Deus no Céu – há os anjos maus, os demónios, os diabos que desobedeceram a Deus, pois queriam ser iguais a Ele, sendo condenados ao Inferno e a passarem a vida a atormentar os Homens e a levá-los ao pecado, para os condenarem para sempre ao mesmo fogo do Inferno que é para onde vão, por toda a eternidade, os que se portarem mal nesta vida terrena, uma vida que pouco importa porque é apenas uma passagem para a verdadeira vida: A VIDA ETERNA!»

A história é candidamente infantil, cheia de afirmações sem qualquer prova da sua veracidade e, portanto, sem qualquer crédito. Um delírio completo que a Ciência veio pôr a nu, com a descoberta da idade e origem do Universo e, nele, a Terra, planeta de uma estrela entre milhares de milhões de outras, Terra onde, por evolução de um ramo dos primatas, apareceu o Homem.

As datas em que tudo isto se processa são tão colossais que não deixam qualquer hipótese de credibilidade à história bíblica de um Deus-Criador: c. de 13,5 mil milhões de anos para o Universo observável; c. de 5 mil milhões de anos para o sistema solar e a Terra; c. de 3,5 mil milhões para o aparecimento da Vida; c. de 4 milhões para o hominídeo; c. de 50-100 mil para o sapiens sapiens do qual somos nós os brilhantes descendentes.

O que é certo é que o Cristianismo continua sendo a religião com mais seguidores, no mundo, não querendo os fiéis saber se os seus fundamentos são ou não credíveis. Nem discutem a Fé! Acreditam e pronto: são felizes!!!

Os vários ramos em que o Cristianismo se dividiu, os cimas, as lutas dentro das respectivas igrejas pelo poder e supremacia, os desmandos, escândalos e crimes cometidos, ao longo destes 2 mil anos de existência, as mentiras propaladas como verdades eternas pelos seus mentores… atestam o carácter puramente humano da sua criação, escondendo-se os seus mentores atrás da capa de um divino misterioso primitivo, obviamente falso, divino que comanda os destinos dos Homens.

As outras religiões fizeram ou fazem o mesmo ou semelhantemente…

 


7 comentários:



  1. Estamos convencidos de que, quando todos os humanos tiverem cultura e espírito crítico suficientes, as religiões verão o seu fim, já em ninguém colhendo as mentiras e mistérios com que os seus mentores vão ainda “embalando” (e explorando…) os fiéis.

    Veremos – quem cá estiver, claro, pois isto vai levar muitos e muitos anos, dado o atraso civilizacional da Humanidade – o que as irá substituir. É que o Homem necessita da “religião”, com os seus deuses, anjos e santos e fetiches, para se aguentar física e psicologicamente perante as agruras e injustiças da VIDA. Sobretudo, perante a certeza da morte com as suas tremendas incertezas…

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  2. A religião católica, centrando-se em Roma, praticamente desde o início, sempre com o apoio do poder político, “revestiu” o cristianismo, através dos seus “doutores”, com mistérios e dogmas e crendices, tornando-se mais hermética, logo, mais apelativa e convincente: “Não importa não perceberes; acredita simplesmente; são mistérios insondáveis do Bom Deus que é Amor…” - dizem às crianças da catequese.

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    1. ...acredita simplesmente; são mistérios insondáveis do Bom Deus que é Amor…”

      Muito verdade; e logo vinha a ameaça do inferno e demónio que muito me atemorizava enquanto criança totalmente desprotegida e sugestionável.
      Eram resquicios da inquisição, penso eu.
      Felizmente que atualmente parece já não ser assim.

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  3. As crenças católicas estão exaradas no Credo católico, rezado em todas as missas, desde 325, elaborado no Concílio de Niceia, com o alto patrocínio do imperador Constantino.

    A análise crítica deste Credo foi aqui feita, sob o título “O inacreditável Credo católico”, em seis textos, de 12 de Março a 16 de Abril de 2012.

    Vale a pena reler o que então se escreveu. Aliás, numa próxima oportunidade voltaremos ao assunto, tal é a sua relevância do ponto de vista da Fé.

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  4. O poder da Igreja católica romana chegou a ser tão grande (devido sobretudo às inúmeras riquezas acumuladas, provenientes de senhores que, para garantirem a sua vida eterna no Céu – como prometido! – deixavam todos os seus bens à Igreja) que até os reis tinham de pedir autorização ao Papa para serem empossados nos seus cargos. Isto, não falando nas Cruzadas, na Inquisição, nas guerras aquando da Reforma de Lutero e Calvino, no “fazer” de santos suportados em supostos milagres, no aceitar como verdadeiras supostas aparições sobretudo da Virgem, gerando-se santuários por todo o mundo, santuários que são uma choruda fonte de receitas para a Igreja, etc, etc, etc.

    E viva a Boa Vida de quase todos os eclesiásticos, a começar e a acabar na rica e pomposa Cúria romana, com a sua Guarda suíça!

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  5. Sobra de tudo isso pelo menos uma parte importantíssima... O Cristianismo nas suas estruturas foi ao longo dos Séculos o guardião dos saberes filosóficos e científicos que a partir do renascimento ganharam um ímpeto imparável. A actual ciência é um produto do Cristianismo apesar de Galileo... Newton e muitos outros que se seguiram aprenderam nas bases de conhecimento guardadas pelo Clero e suas instituições... veja-se o que aconteceu com o Islão...

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    1. Caro J Gabriel, totalmente de acordo. Nem tudo foi mau nos movimentos gerados no seio do Cristianismo. Apesar do non-sense dos conventos e congregações religiosas que proliferaram por toda a parte, sobretudo na Idade Média, foram realmente eles os guardiães dos saberes clássicos, base de muita da Ciência moderna. E os valores da dita Civilização Ocidental, judaico-cristã, são incomparavelmente superiores aos do islão, por exemplo.

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