quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 278/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 74/?

 

Mas… voltemos à ressurreição de Cristo!

Muitos são - ou parecem ser - os testemunhos dos que viram Jesus ressuscitado, a acreditar na historicidade dos Evangelhos, escritos, segundo parece, entre o ano 60 e o ano 95, mas dos quais não temos originais, apenas cópias dos finais do séc. III. Primeiro, as mulheres - sendo Maria Madalena a primeira, o que não deixa de colocar a pergunta: “Porque não sua mãe, Maria?” - depois, os discípulos, lá na Galileia. Os soldados não O viram mas foram contar aos chefes dos sacerdotes o que acontecera ao túmulo: pedra removida e túmulo vazio…

Alguns analistas pensam que o tema do túmulo vazio foi introduzido mais tarde nos Evangelhos, para fazer face às heresias gnósticas que, pelos anos 70, negavam a humanidade de Cristo, afirmando que a corporeidade de Cristo era apenas aparente. Assim, Cristo não ressuscitou porque não chegou a morrer. Como o seu corpo era apenas uma aparência, fingiu que morria.

Será então interessante recolher o mais importante que os quatro evangelistas nos contam deste pós-ressurreição de Jesus. Mateus repete o que diz Marcos no seu evangelho, uma dezena de anos mais antigo. Lucas diz que “Pedro correu até ao sepulcro e viu apenas ligaduras”; diz ainda que Jesus falou com os discípulos de Emaús, se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o e partiu-o e… desapareceu da sua presença; e que apareceu a Simão e depois a todos os discípulos dizendo-lhes: “Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo. Tocai-Me e vede: um espírito não tem carne e ossos como podeis ver que Eu tenho. (…) Tendes alguma coisa para comer?” E Jesus comeu diante deles. (Lc 24,12-43) João acrescenta “o outro discípulo” à ida de Pedro ao sepulcro, constatando ambos que apenas havia panos no chão; refere ainda o encontro de Jesus com Maria Madalena; depois, diz que Jesus entra com a porta fechada no local onde estavam os discípulos e fala com eles, sendo ele o único a narrar o episódio do incrédulo Tomé, episódio que é paradigmático: “Chega aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Estende a tua mão e mete-a no meu lado.” (Jo 20,5-27)

– Então… que fazemos com este corpo de Jesus Cristo? Corpo que fala e tem boca e língua, que passa portas fechadas como se fora espírito, mas come como se fora corpo de verdade, corpo que tem fome e sede? E afirmando o próprio Cristo que não é espírito mas de carne e osso? E que convence Tomé exactamente pelo lado material e físico do seu corpo?

Entramos completamente na esfera da confusão-milagre. E já não sabemos o que é mais milagre: se é com um corpo passar uma parede, se com um espírito com forma de corpo comer e beber…

Um analista crítico não admite tais confusões. Duvida, sim, que toda a narrativa seja de factos verídicos, todos os pormenores lhe parecendo ter sido inventados pela magia da pena do escriba, escriba que pretendia atingir um objectivo muito concreto: firmar na fé os primeiros convertidos do judaísmo. Então, os factos reais deixaram de lhe interessar, dando primazia ao que de sensacional pudesse evidenciar a divindade e a messianidade de Jesus. Um feito histórico bem sucedido, a avaliar pelo sucesso da Igreja ou igrejas cristãs!

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