Adultos, somos...
Psicologicamente, somos um mundo dependente do físico para um correcto
funcionamento, mas que tem vida própria, subdividindo-se nas partes intelectual
e emocional, partes que, por sua vez, se apresentam com particularidades ou singularidades,
considerando-se diversos tipos de inteligência (a matemática, a rítmica, a
musical, etc.) e diversos tipos e graus de emoções (amor, ódio, inveja,
vontade, desejo, etc.). E tudo emanando de um complexíssimo órgão chamado
cérebro que, sendo pura matéria energizada, produz “milagrosamente” uma
admirável não-matéria, nela incluindo a consciência, a consciência de que é capaz
de produzir essa não-matéria, a consciência de percepcionar o abstracto e de
imaginar o futuro, construindo-o antecipadamente, indo até à percepção da sua
inexorável finitude. Um “senhor” omnipotente mas dependente do todo-poderoso
ADN que, vindo no acto criador, é transmitido de geração em geração, sempre ao
de leve se transmutando, talvez no intuito de aperfeiçoar a espécie (o que,
infelizmente, pelo menos no caso do Homem, nem sempre acontece, quer física
quer psicologicamente!) e que nos determina, à nascença, a forma e o “conteúdo”
e a longevidade. E, da consciência, faz parte o chamado livre-arbítrio, essa
nossa capacidade de escolher entre o Bem e o Mal, o que nos acarreta não poucas
dores de cabeça e não poucas frustrações quando, vendo o Bem, escolhemos o Mal
por ser mais apelativo ao prazer dos sentidos… E constatamos, com muita mágoa,
que em muitos dos que governam o mundo política e financeiramente, predomina o
Mal sobre o Bem, o ódio sobre o amor, a ganância sobre a solidariedade, a
inveja sobre a generosidade, o espírito de guerra sobre o da convivência
pacífica. Assim é, assim foi ao longo da História, Homens martirizando e
espezinhando, com os mais sádicos instrumentos de tortura, outros Homens,
subjugando-os, escravizando-os, roubando-os no corpo e na alma. É que o Homem
ainda é uma espécie em formação e, neste momento, é capaz do melhor e do pior,
dos mais nobres actos de coragem como da concepção dos maiores horrores, usando
as suas nobres capacidades intelectuais para criar armas sofisticadas de
destruição do seu semelhante. Tem apenas uns 4 milhões de anos. Talvez daqui a
outros 4 milhões seja muito mais humano e muito menos brutal… Isto devido às
suas capacidades intelectuais e morais ou éticas já que se constata que, em
muitas outras espécies animais que já por cá andam há muitos mais milhões,
hábitos inveterados não se alteraram, por exemplo, o da luta muitas vezes até à
morte entre machos para obterem o prestígio e o controle do seu harém.
Estruturalmente, não somos mais que um pouco de matéria energizada. União
de diversos componentes químicos sempre em movimento e em transformação
contínua. Fruto ocasional da Natureza (se quisermos, de Deus), tendo vindo à
Vida por mero acaso, pois do mesmo acto de amor entre nossos pais poderia ter
nascido um outro que não nós, bastando que o espermatozoide ganhador na corrida
à fecundação do óvulo fosse o companheiro do lado…
Mais: antes de existirmos,
nada éramos além de uma hipotética hipótese de ser; depois, fomos/somos e voltaremos
ao Nada, nada como indivíduos, matéria já não energizada mas disponível para
integrar – átomos e moléculas – um outro qualquer ser vivo ou não vivo, à face
da Terra.
E ainda: aparecemos a partir
da união de duas partículas microscópicas que, depois de unidas, entram num
processo imparável de desenvolvimento do ser originado, descrevendo uma curva
ou semi-círculo, atingindo um auge e logo iniciando um declínio até ao
desenlace final: o eterno esquecimento de um indivíduo que um dia foi!
E mais ainda: participamos no
milagre da Vida, esse sopro “divino” que, há cerca de 3.5 mil mihões de anos,
energizou diversos elementos químicos, criando-se os primeiros seres
unicelulares, seres donde terão derivado todas as outras espécies, ignorando-se
completamente como se terão diferenciado em animais, plantas e fungos e,
depois, nas múltiplas formas, as mais bizarras em que cada espécie se dividiu
(e continua a dividir), numa complexa engenharia, para que tudo se pudesse
alimentar de tudo, sempre cada espécie lutando pela sobrevivência.
Enfim, não sei se frustrante
se admirável: como viemos à vida, por puro acaso e sem sermos esperados pelo
mundo, também dele nos iremos sem deixar qualquer rasto; nem nele nem neste
fantástico Universo onde a Terra se integra, como pequenino, minúsculo ponto
azul. E é como se nunca tivéssemos existido!...
Alegremo-nos, no entanto! É
que, tal como nós, também a Terra, também as Estrelas, por terem começado um
dia, irão acabar. A Terra terá ainda uns 4.5 mil milhões de anos de vida, as
Estrelas, um pouco mais. Mas também morrerão e também será como se nunca
tivessem existido, nada no Universo se perdendo mas tudo se transformando. Que
Beleza! Que admirável realidade na qual tivemos o privilégio de participar,
embora por um curto, curtíssimo lapso de Tempo!
Mas nós somos ainda melhores
que as Estrelas ou a Terra: elas não se apercebem da sua finitude nem dela têm consciência. Nós, sim! E
essa é a nossa GLÓRIA! Então, seja tristes, seja contentes com tão singular prerrogativa, saibamos SORRIR À VIDA até ao último suspiro que nos
sair do peito!
A vida e seus mistérios
Sem comentários:
Enviar um comentário