quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (39/?)

À procura da VERDADE no DEUTERONÓMIO - 3




- Pensando nós que as maldições e aberrações de Javé tinham acabado, 
com o canibalismo antes referido, comendo pais e mães os próprios filhos, 
ficamos estupefactos ao ler: “E ainda mais: Javé lançará contra ti todas 
as doenças e pragas que não estão escritas neste livro da Lei, até que 
sejas exterminado. (…) Uma vez que não obedeceste a Javé teu Deus, 
então do mesmo modo que Javé tinha prazer em vos fazer o bem e vos 
multiplicar, assim também terá prazer em vos destruir e exterminar (…)” 
(Dt 28,61-63).
- Ficamos sem palavras! Que Deus é este que tem prazer em fazer o bem 
e… em exterminar? Não é! Não é… DEUS! Simplesmente!…
- “(…) Javé disse a Moisés: O dia da tua morte aproxima-se.” (Dt 31,14)
- É a vida, não é, grande Moisés! Também a tua tinha de ter um fim, 
um fim não ignorado pelo autor, não fosses tu o seu herói durante 
todos estes cinco livros, chamados Pentateuco!
- “Quando acabou de escrever num livro toda esta Lei, Moisés ordenou 
aos levitas (…): Tomai este livro da Lei e colocai-o ao lado da arca 
da aliança de Javé vosso Deus. Ele ficará ali como testemunho contra 
vós porque eu conheço bem o vosso espírito rebelde e a vossa cabeça 
dura. Se vos revoltais contra Javé enquanto ainda estou vivo, o que 
acontecerá depois da minha morte?” (Dt 31,24-27) Então, do peito 
inflamado de Moisés, brotou o célebre “Cântico de Moisés”, onde, em 
forma poética, revive toda a história de Israel, povo escolhido e salvo 
por Javé, Deus único - “Eu sou Eu e fora e Mim não existe nenhum 
outro Deus.” (Dt 32,39) - mas com as suas múltiplas fraquezas, os seus 
permanentes pecados…
Aqui, Moisés - ou o autor sagrado? ou simplesmente o autor? - 
excede-se na beleza de algumas formas literárias:
“Desça como chuva o meu ensinamento
e a minha palavra se espalhe como orvalho. (…)
Como a águia que cuida do seu ninho
e revoa por cima dos filhotes
Ele tomou-te, estendendo as suas asas
e levou-te sobre as suas penas. (Dt 32,2 e 11)
- E o grande Moisés - o único a falar face a face com Deus: “Em Israel, 
nunca mais houve outro profeta como Moisés, a quem Javé conhecia 
face a face.”(Dt 34,10) - morre sem chegar à Terra Prometida: 
“Porque me fostes infiéis no meio dos israelitas, junto das águas de 
Meriba em Cades, no deserto de Sin, e não reconhecestes a minha 
santidade no meio dos israelitas (…) por isso, só a contemplarás de 
longe (…)” (Dt 32,51-52)
- É estranho, não é? Porquê esta razão que parece tão mesquinha da 
parte de Javé para castigar assim um Moisés, seu intérprete junto 
do povo, seu interlocutor e mensageiro privilegiado?
- Mesquinha? Não! É sobretudo injusta, após todos aqueles discursos 
inflamados para que o povo não se afastasse de Javé mas cumprisse 
as suas leis. Ou - mais uma vez! - não foi este o modo que o autor 
encontrou para resolver a morte natural de Moisés que, mesmo 
sendo-se Moisés, não se pode durar sempre?
- Mas… são pormenores de análise que não interessam. O que importa 
é que, chegados ao fim de mais um livro, e ao fim da análise dos 
primeiros cinco livros da Bíblia – o Pentateuco – sentimo-nos 
completamente frustrados por nada termos neles encontrado de verdade 
acerca do nosso fim último, rumo a uma eternidade tão desejada e tão 
pouco conhecida, eternidade num Céu ou num Inferno que fosse – mas 
eternidade! – sempre prometida pela religião que se fundamenta nestes 
textos ditos sagrados. É que nós, embora cientificamente saibamos tal 
ser impossível, pois quem nasce no Tempo pertence irremediavelmente, 
inexoravelmente ao Tempo, incongruentemente desejamos ser eternos, 
ser uma espécie de semi-recta que começou num ponto, num dado 
momento do tempo, e se prolonga pela eternidade sem fim. Que insensatos, 
santo Deus! Que estultos, santo Javé desta famigerada Bíblia!

- Uma certeza nos fica, porém: foi grande, enorme, fantástica a 
invenção/criação de um Javé, pelos estrategos político-religiosos do tempo, 
a começar por Moisés a quem são atribuídos estes cinco livros ou 
Pentateuco. Foi um Deus concebido exactamente à medida das 
necessidades daquele povo que procurava uma terra onde se instalar – a 
Terra Prometida! – chacinando tudo quanto se opusesse à sua conquista. 
E tudo – quase sempre crimes dos mais hediondos! – por ordem, vontade, 
desejo deste Javé inventado. Aos estrategos político- religiosos juntava-se, 
neste conluio de invenção/criação, uma forte classe sacerdotal que escrevia 
os textos, inspirados – sempre!!! – pelo mesmo Javé que haviam 
inventado! Grande táctica, grande inteligência revelada, grande astúcia e 
sentido do poder sobre as massas incultas e predispostas à crença ou à 
crendice! Infelizmente, tal táctica, tal inteligência, tal astúcia perdura 
nos nossos dias. E não é que o povo crente continua a deixar-se levar e 
a acreditar nos novos deuses que se vão criando? Desde o Pai de Jesus 
Cristo ao Alá de Maomé, ao dinheiro dos nossos corruptos políticos e 
banqueiros que cativaram o poder? E sempre revestidos de vestes 
brancas, símbolo exterior da sua total inocência perante as desgraças 
que eles provocam no mundo dos vivos… Ah, “querida” malfadada 
Bíblia que só nos deste, até agora, maus exemplos da convivência entre 
os Homens!

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