terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Nascimento do cristianismo – Brevíssima história – 2/2


2 – Etapas:

A – Pelo ano 30 d.C., com uns trinta anos de idade, aparece, nas margens do Lago Tiberíades, um indivíduo, provindo de Nazaré, de seu nome Jesus, pregando uma ideia revolucionária: a fraternidade universal, todos os Homens nascendo livres e iguais, porque todos filhos do mesmo Deus, o Pai que está nos Céus. A mensagem era cativante, devido às circunstâncias da época, quer da sociedade judaica, onde a escravatura era consuetudinária, quer de Israel como um povo, subjugado ao poder romano, arregimentando Jesus facilmente gente para a sua causa. Pregava também contra as classes sacerdotais instaladas, poupando inteligentemente a classe governante, o procurador de Roma. E, obviamente, falava do Céu, dos pobres, dos infelizes…, a todos cativando com as suas palavras.


B – Alguns dos seus seguidores, mais tarde chamados de apóstolos, começaram a chamar-lhe o Messias, personagem tão desejada naquelas circunstâncias, para libertar o povo da escravidão romana, e personagem prometida pela Bíblia desde tempos imemoriais. A seguir, chamaram-lhe Cristo, o Enviado de Deus, o “Filho do Deus vivo”.



C – Pelo ano 33, Jesus é condenado à morte, por infâmias e calúnias que foram lançadas sobre ele, pela classe sacerdotal que havia sido atacada, ficando, no entanto, os seus seguidores a conglomerarem os adeptos da nova crença num Jesus, Filho de Deus, que havia ressuscitado dos mortos e tinha ido para o Céu para junto do Pai.




D – Pelo ano 50, aparece outro indivíduo chamado Paulo que, tomando conhecimento do sucesso obtido por Jesus, junto das massas, cujos discípulos já iam formando pequenas comunidades, possuído por ideias de megalomania religiosa, teve uma ideia brilhante: aproveitar o Jesus feito Cristo, para construir a sua teoria. É, assim, um dos primeiros fundadores do cristianismo, ora se aliando ora divergindo dos apóstolos e formando as suas próprias comunidades já fora do Estado de Israel.



E – Pela década de oitenta – entretanto, apareceram cartas de Paulo às suas comunidades, e evangelhos narrando a pregação de Jesus e a sua interacção com os discípulos e autoridades – houve alguém (terá sido o próprio Paulo?) que notou que, para se dar base à religião nascente, alicerçada num Jesus a quem chamaram de Messias, Cristo, o Enviado de Deus, enfim, o Filho do Deus vivo (Deus, certamente o Javé do AT!), faltava recriar a vida desse Jesus, desde o nascimento até aos trinta anos, data do início da sua pregação. De tal tarefa foi incumbido um indivíduo, discípulo de Paulo, chamado Lucas. E foi Lucas que, no seu evangelho, acrescentou ao de Mateus, a narrativa referente ao nascimento de Jesus, tal como vimos no texto anterior.


F – Cerca de dez anos mais tarde, na década de noventa, ainda haveria de aparecer outro evangelista que, distanciando-se dos anteriores, apenas escolheu alguns “factos” da vida de Jesus para construir a sua teologia, uma teologia mais elaborada, tentando ir ao princípio dos princípios: “In principio erat Verbum et Verbum erat Deus.” («No princípio, existia a Palavra e a Palavra era Deus»)


E assim, nasceu o Cristianismo, religião que é seguida, de algum modo, por quase metade da população do Planeta!
Apenas três notas:
a) Dos quatro evangelhos, não temos nenhum original, mas apenas cópias que datam dos séculos IV e V, podendo supor-se que houve inúmeras adulterações e acrescentos, conforme a inspiração e as necessidades dos copistas, certamente a mando dos já bispos locais.
b) Logo a partir do séc. I, destacaram-se padres ou chefes das comunidades entretanto formadas que foram criando ritos, aumentado cerimónias, deduzindo dogmas, a partir da ideia de que Jesus era o Filho de Deus que encarnou no seio de Maria Virgem.
c) Também se formou, ao longo dos primeiros séculos, a chamada Tradição – o que se costumava acreditar ou praticar – o que levou à invenção de imensos ritos e crenças que assessoram e fazem parte da religião, socorrendo-se a hierarquia da Igreja dessa Tradição, para impor dogmas e costumes. Um desses, foi a infalibilidade pontifícia, sendo o Papa o representante de Deus na Terra, outro a Trindade de Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, outro a Imaculada concepção de Maria, não se esquecendo a milagrosa encarnação de Jesus no seio de Maria Virgem por obra e graça do Divino Espírito santo, já narrada por Mateus. E muitas mais deliberações eclesiásticas, incluindo a criação do império do papado e a primazia do papado de Roma, para o ramo Catolicismo. Veja-se o catecismo que se ensina na catequese e o Credo católico…


1 comentário:

  1. O objectivo destes textos, bem como o deste blog, não é atacar a Igreja e/ou a Bíblia. É – e será sempre! – uma luta pela VERDADE que assiste ao Homem e a que todo o Homem tem direito., a Verdade do seu Fim último.
    Há quem pergunte, e com toda a razão: Se tiramos a religião ao Homem, o que fica? Quem colmata aquilo que a religião lhe traz de bom: primeiro, uma panaceia para os muitos males que o vão afligindo na vida, incluindo a aceitação do sofrimento e da própria morte; depois, a recompensa eterna no Céu para os bons e o castigo eterno para os maus, fazendo-se finalmente justiça, igualizando, na morte todos os Homens, igualdade que está tão longe de se conseguir só pela intervenção e acção humanas?
    E não é fácil responder a tão prementes perguntas. Sabemos, pela História, tanto antiga como a actual, que o Homem tem tendências exactamente para o contrário: criar desigualdades, favorecer os egoísmos, os nacionalismos, os fundamentalismos, tudo o oposto da fraternidade universal que o revolucionário Jesus tanto defendeu, embora argumentando que todos somos filhos do mesmo Pai que está nos Céus. Mesmo não considerando o aspecto religioso, não há dúvida: todos nascemos livres e iguais. Sendo assim, todos deveríamos ter os mesmos direitos e os mesmos deveres, todos sendo tratados de igual modo, cada um recebendo na proporção daquilo que dá, daquilo que contribui para a comunidade onde se insere. Mas… qual quê? Os oportunistas e corruptos tomaram de assalto o poder, a nível local e mundial, e a Humanidade segue, qual escrava, os ditames desses senhores, senhores da guerra, senhores do fabrico de armas, senhores do capital e da finança, senhores dos meios de destruição do Planeta, utilizando para isso os fenomenais avanços da Ciência. Que pena, não é? Que pena constatar que esta Ciência, que deveria estar só e apenas ao serviço do Bem, está tantas vezes só e apenas ao serviço do Mal!
    No próximo texto, abordaremos a questão: “Como seria um mundo sem religiões: mais selvagem ou mais fraterno?”

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