terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Nascimento do cristianismo – Brevíssima história – 1/2


1 - O NATAL – o mito mais bem sucedido da História



O presépio faz o encanto das crianças

Se considerarmos as mitologias das várias civilizações que nos precederam, mitificando tudo o que para o Homem de então era mistério ou ignorância, poderíamos dizer que a História está cheia de mitos.
Mas o NATAL…
Ao tempo de Jesus, eram sobejamente conhecidas as histórias lendárias de nascimentos de divindades, ocorrendo, na altura, fenómenos extraordinários, como o cântico de anjos, luzes no céu, milagres na Terra, perseguições, oráculos. São exemplos as narrativas dos nascimentos dos deuses solares Mitra e Krisna.
O NATAL tornou-se especial por duas simples razões: 1 – Apresentaram Jesus como Filho de Deus encarnado, o Cristo, o Ungido de Deus, já prometido ao longo de um milénio, na Bíblia (AT); 2 – Espalharam aos quatro ventos que Jesus morrera na cruz, como grande prova de amor, para redimir o Homem dos pecados, dar-lhe a salvação no Céu, junto do Pai, aquele Pai que exigiu a sua morte e morte de cruz para tal salvação (“Pai, afasta de mim este cálice, mas faça-se a tua vontade e não a minha!”) – fundamentos da nova religião, o cristianismo, que estava nascendo no profícuo seio judaico, sendo a época propícia a que aparecessem novas religiões, devido à contestação à classe sacerdotal instalada à sombra do Templo e à situação de submissão ao poder de Roma e seu imperador.
E aí temos Lucas a urdir uma história comovente – quem não se comove com o choro de uma criança! – com Maria a não ter lugar na estalagem, o menino a nascer numa gruta aquecida pelo burro e pelo boi, os anjos a cantarem nos céus, os pastores a irem ao encontro, os magos a virem adorar…, tendo já antes havido a milagrosíssima concepção dessa criança, por obra e graça do Divino Espírito Santo, no seio de Maria Virgem, virgem semelhante a outras mães de divindades que também foram ditas virgens, tendo Maria já sido bafejada pela graça divina no acto da sua concepção, no seio de Santa Ana, com a intervenção de S. Joaquim, ao ser ilibada do pecado original – assim reza o catecismo da Igreja…
E aí temos um mito, o mito mais bem sucedido da humanidade, porque, como base das religiões cristãs, é acreditado por quase meio mundo, não como tal, mas como tendo sido verdadeiros todos os factos que nele se apregoam. Aliás, foi enriquecido, emoldurado, glorificado ao longo destes dois milénios, sobretudo na Idade Média, com o aparecimento do presépio – invenção de S. Francisco de Assis – as múltiplas e belas canções pastoris que se foram compondo, as muitas Virgem Maria que deram nome a milhares de santuários, com designações as mais bizarras, como a Nossa Senhora do leite, ou a Nossa Senhora do Ó…
Ora, recorda-se que, durante o ano de 2013, foram aqui publicadas várias dezenas de textos, sob o título “Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu?”, onde se prova como toda a narrativa de Lucas é inventada e inspirada em descrições de nascimentos de divindades antigas, não tendo qualquer credibilidade histórica.
Isto para além de já se ter provado aqui como é ontologicamente impossível Deus, pela sua própria natureza de infinito e eterno, ter um filho, como seria absurdo que, caso o tivesse, tê-lo sujeitado àquele tipo de morte com o suposto intuito de salvar a humanidade que se havia pervertido, para além de absurda ser a invenção da Santíssima Trindade, com o Pai, o Filho (que é a imagem que o Pai tem de si mesmo!!!) e o Espírito Santo (o amor que une o Pai e o Filho, isto é, o Pai e a sua própria imagem…). Em questão de invenções de tipo religioso, não deve haver como estes judeus que estão na base do cristianismo, sobretudo os quatro evangelistas e Paulo, o grande obreiro das bases dogmáticas – é por isso que é Doutor da Igreja! – da nova religião.
Mas… é NATAL! Por todo o lado, a simpatia irradia de ruas enfeitadas com sinos e velas, renas e pastores. Há músicas melodiosas pelos ares! Há ofertas no comércio diferentes das do resto do ano! Há apelos à solidariedade para com os mais pobres, os pedintes, os sem-abrigo. Há enormes árvores enfeitadas com luzes multicolores que se elevam aqui e acolá para os céus ou pontuam nas nossas casas. Há em todas as igrejas e lares, e edifícios públicos e palácios…, presépios! Tanta coisa bonita, santo Deus! Então, como vamos nós pensar que tanta coisa bonita é fruto de um mito, de uma falsidade, de uma imaginação? – Claro que não podemos! Vamos mas é usufruir de toda a magia que se evola do NATAL e deixemos as considerações histórico-filosófico-religiosas para outros tempos mais “invernais”… E, deixando-nos embalar em tanta beleza…, cantemos: “Cantem, cantem os anjos a Deus um hino / Cantem, cantem os Homens ao Deus Menino!”

BOM NATAL PARA TODOS!


5 comentários:

  1. Recorde-se que Mateus, cerca do ano 80, tinha já descrito a "originalidade" de Maria ter concebido milagrosamente: "Ela ficou grávida pela acção do Espírito Santo" (Mt 1,18). E, mais explícito: "José levou Maria para casa e, sem ter relações com ela, Maria deu à luz um filho." (Mt 1, 24-25).
    Marcos, que escrevera uma década antes, nada refere acerca de tão estranho fenómeno. João também, escrevendo mais tarde, pelos anos 90, nada diz. Restam-nos, assim, dois evangelistas que criaram o mito, quer da concepção milagrosa da Virgem, quer de vários fenómenos supra-terrenais que acompanham o feliz acontecimento.
    Também é Mateus que inventa a vinda dos reis magos, a fuga para o Egipto para escaparem à suposta mortandade dos meninos de dois anos para baixo, ordenada por Herodes, enganado pelos magos. A Lucas, coube narrar a suposta ida de Jesus, ao Templo, com 12 anos de idade, sentando-se no meio dos doutores da Lei.
    Não sabemos ao certo se os evangelistas escreveram todos estes "factos" ou se foram acrescentados nos primeiros séculos pelos copistas, já que não temos originais dos evangelhos.

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  2. De uma leitora amiga, recebi o seguinte comentário:
    «Fui espreitar o teu blogue. Desculpa que te diga: pode ser verdade algo do que tu dizes em nome da ciência. Mas penso que estás a desperdiçar as excelentes capacidades com que a Natureza te dotou. Por que não dedicares o teu tempo a pensares a sério na Natureza, no planeta Terra que está a ser ameaçado de morte por tudo o que a ciência tem descoberto e que os homens insensatos usam para nos destruírem e se destruírem. Os produtos químicos que inventaram para as armas da 2ª guerra mundial e agora se usam na agricultura estão a matar-nos aos poucos, a matar toda a espécie de animais, incluindo os insectos que tanta falta nos fazem na polinização das plantas; os plásticos que só fazem lixo e matam tantos animais aquáticos e terrestres; os químicos dos medicamentos que nos prolongam a vida, mas sem qualidade e que nos criam outras doenças como alzeimer, cancro, parkinson, etc., etc;a destruição desmedida das árvores, dos animais, dos solos. As doenças referidas também são provocadas, na maior parte, pelos adubos, pesticidas, herbicidas e insecticidas que a ciência inventou. E por que é que a ciência não vê estes males todos que nos afectam a nós e, de uma maneira aguda, aos nossos filhos e netos, coisas absolutamente horríveis para o futuro da humanidade, apenas para encherem os bolsos de um punhado de gananciosos, egoistas e corruptos?
    Olha, a ciência que invente meios como antídotos de tudo o que criou para destruir a Natureza, a nossa casa comum, o planeta em que todos vivemos e que são os mais pequenos que estão agora a tentar evitar estas catástrofes, produzindo a muito custo produtos biológicos para uma alimentação saudável, a proteger as espécies animais e vegetais em vias de extinção, a tentar regenerar os solos para poderem produzir só com os compostos orgânicos, sem os químicos que nos envenenam, a tentar recolher as poucas sementes ainda existentes de variedades tradicionais, para não termos que comer o pão de cereais geneticamente modificados e muitos outros alimentos de OGM que estão a afectar profundamente os seres humanos, na sua formação física e psicológica, de tal modo que alguns já nem sabem se são homens ou mulheres. Isto é o resultado da invenção que a ciência fez de modificar geneticamente as sementes, com a desculpa de que assim acabariam com a fome, mas nunca a acabaram. Os gananciosos mais uma vez se apoderaram desse conhecimento, para encherem os bolsos, gerando desemprego para os mais pequenos que viviam da prática agrícola pelos meios tradicionais,e que tinham uma alimentação mais saudável do que nós temos agora com milho híbrido e tomates duros que nem pedras para aguentarem o frio e a chuva do Inverno. Para quê tanto disparate? A Natureza é tão rica que em todo o tempo nos dá qualquer coisa para nos alimentar, desde que nós a tratemos convenientemente. Não precisamos de tomate , feijão verde e outros durante todo o ano... Basta que comamos os alimentos sazonais. Pensa antes nisto e não ataques a Bíblia , porque alguma coisa há-de ter de bom. E a maquinaria que a ciência inventou que polui tanto os campos agrícolas e que destruiu milhões e milhões de empregos?
    É mais bonito haver agora tanto desemprego...
    Pede lá à tua ciência que resolva estes problemas da agricultura, da poluição, do desemprego, da fome, da saúde, da extinção de plantas e animais, do aquecimento global, da guerra, da violência, da extinção dos recursos naturais que tanto afligem a humanidade sensata mas impotente para os resolver.
    Pensa nos teus netos. Que Terra lhes vamos deixar?»

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  3. Caríssima, adorei o teu comentário. A Ciência tem servido, de facto, tanto para coisas boas (avanço na medicina, o que permite uma longevidade muito maior; avanços tecnológicos sem igual, na História; conhecimento do Universo; etc) como para coisas más postas ao serviço dos senhores da guerra (bombas e todos os artefactos de destruição tanto do Homem como do seu habitat e do habitat de todos os seres vivos, animais e plantas) e ao serviço dos gananciosos deste mundo, como referes. E é pena, muita pena mesmo! Prometo que vou lutar mais pela VERDADE da Terra, esta nossa querida casa, do que pela INVERDADE da Bíblia que nos vende uma outra vida no céu... É que esta Terra é visível, palpável, nela nos movemos, nela e por ela vivemos. Deveria ser realmente a nossa primeira prioridade. Quanto ao Além, olha, que espere! Se for, como rezam as religiões, óptimo! Se for como reza a Ciência, é também óptimo, pois cumprimos, como qualquer ser vivo, a nossa passagem pelo Tempo. E isso foi muito bom!
    BOM NATAL!

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  4. Todas as religiões estão recheadas e impregnadas de mitos, umas de uma maneira, outras de outra, mas em todas esses mitos são essenciais para a sua manutenção, pois eles são a base de um sistema (religião) que vive da capacidade de manipular melhor ou pior os seus aderentes. Por isso mesmo e embora respeitando todas as religiões, eu já me arredei dela, preferindo um pragmatismo dogmático que me permita pensar pela minha cabeça.

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    1. Caro Armando,
      Como racionalista, por formação e opção, creio que o pensar pela nossa cabeça, com análise crítica de toda a informação que nos vai chegando, é a melhor forma de colmatar a eventual falta dos benefícios que as religiões apresentam ou representam para os crentes. É que, quer queiramos ou não, a incógnita de um "Além", um Além que dê mais sentido a esta vida que temos, continuará a atormentar-nos de uma forma ou de outra. Sem respostas! No entanto, crer na eternidade ou querer a eternidade é completamente insensato, face à nossa natureza de seres integrados no ciclo vital: nascer, crescer e morrer, todo o ser vivo se reintegrando na Natureza que lhe permitiu ser, um dia.

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