segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Hoje é “Dia de todos os Santos”, amanhã, “Dia dos mortos”

 

Dos santos

Benditos sejais, ó vós, santos e santas do Céu que nos destes mais um feriadozinho!

Mesmo sabendo nós que o Céu não existe e vós também não, mas fostes inventados por uma Igreja necessitada de referentes e de modelos para os fiéis que vão acreditando em fantasias e sonhos de Céus com Deus, os seus anjos e arcanjos, a Virgem e todos os santos que foram guindados aos altares, por, em vida, terem feito obras valerosas e, depois de mortos, terem feito pelo menos dois milagres, sempre curas de difícil explicação pela medicina actual. Obviamente, uma falácia!

E os santos vêm da antiguidade e dos primórdios do cristianismo: todos os mártires (e foi preciso coragem extrema para darem a vida pela Fé!), todos os apóstolos, muitos dos primeiros bispos e padres e muitos outros, ao longo destes dois mil anos.

E há templos, capelas, capelinhas e santuários espalhados por todos os cantos do mundo, normalmente em montes ou colinas para serem bem visíveis pelos mortais que ainda vivem esta vida – a única certa! – mas têm de pensar no Além, na morte, na ressurreição para a vida eterna.

E cada crente e cada aldeia e cada país tem os seus santinhos de devoção, os seus padroeiros, os seus intercessores junto de Deus, lá em cima, no Céu!

E há festas e romarias, festas de arromba, rivalizando aldeia com aldeia para que o seu santo patrono seja o mais bem festejado!

Que lindo! Que conforto para a alma! Mas… como tudo não passa de sonho ou fantasia, meu Santo Deus!

 Da total impotência perante a irreversibilidade da morte

 Olha, morreu o Fulano! Tinha 20, 40, 60, 80 anos? – A idade importa. Morrer aos oitenta, ou depois disso, na actual sociedade ocidental, tem lógica e é facilmente aceitável pelos seus próximos. O morrer antes, não! E quanto mais novo menos aceitável se torna. É que a gente não se despede de uns pais já no fim do seu ciclo de vida, mas de um filho, um irmão, um amigo de farras ou de trabalho.

Imaginemos um de 40. O peso da impotência é enorme. Impotência do não haver nada a fazer. Nem importam muito as causas, normalmente incompreensíveis. Importa o facto, o real de ontem ainda estar vivo e saudável e, hoje, ali encaixotado para a última viagem: o pó da Terra, já apenas átomos e moléculas prontos a voltarem para o donde vieram e foram vindo ao longo da vida.

Os crentes rezam, gemidos daqui, choros dali, lamentos por uma vida que se foi e que ainda tinha tanto para dar a si e aos outros. Mas todos sofrem, crentes e não crentes, partilham dor, comentam causas, fazem promessas de cuidar melhor do corpo que os traz vivos.

No velório, há encontros dos que já não se viam há muito e, após os primeiros momentos de pesar e lamentos, a conversa instala-se, animada, esquecendo-se completamente os mais próximos que continuam de semblante carregadíssimo, olhos marejados de lágrimas, rostos sofridos. Enfim, parece inevitável que estes reencontros também façam parte dos rituais fúnebres.

Mas os próximos, os pais, os irmãos, os amigos mais amigos como suportar a dor da perda?

E lá vem a religião consoladora, apregoando, baseando-se nos evangelhos, a vida eterna e a esperança na ressurreição, já que Cristo ressuscitou dos mortos e foi-nos preparar um lugar na casa do seu Pai, lá no Céu. Lindo, não é? Nestas ocasiões, que bom é ser-se crente! Pronto: ficámos sem ele “cá em baixo”, mas nada está perdido, pois iremos encontrá-lo, mais tarde, quando nos formos, “lá em cima”. E continua-se: “Esta vida é apenas uma passagem para a verdadeira vida, a eterna. Quem acredita em Mim, mesmo que morra, viverá”!

Problema maior é para os que não acreditam, para os que sabem que o que as religiões dizem não é conforme à realidade, nem à lógica, nem à História de qualquer ser vivo: pertencendo ao Tempo, a única certeza absoluta que tem, ao nascer, é que, mais tarde, irá acabar. Inexoravelmente!

Para estes, a perda é muito mais irreparável. A impotência perante o facto consumado é avassaladora, levando a uma dor muito mais profunda. Resta-lhes a consciência de que a vida continua para os que ficam. E que há que apressar o luto, sem esquecer que faz parte da vida, e pensar mais racionalmente do que emocionalmente, privilegiando  a alegria de viver! Assim, a morte será uma lição de vida, apelando, mesmo na dor, ao sempre eterno “Carpe diem!” – Desfruta da vida o melhor que puderes!

Ámen!...

 

Sem comentários:

Enviar um comentário