quinta-feira, 27 de maio de 2021

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 309/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. JOÃO – 4/?

 – Mais uma vez, a questão do tempo não é questão menor: “Que fez Jesus até aos trinta anos? Estudou como homem aquilo que já sabia desde toda a eternidade como Deus? Como geriu as suas emoções, as suas paixões? Ou não as teve como homem, por imposição do seu estigma divino?” Quando nos pomos a questionar, todo o lado obscuro de um Deus feito homem ou de um homem que também é Deus, se revela com toda a confusão de que a nossa mente - limitada evidentemente - não consegue libertar-se…

– Não podemos deixar de referir a violência com que Jesus expulsa do Templo os vendedores e negociantes de gado e dinheiro, à boa moda judaica: “Fez um chicote de cordas e expulsou-os a todos do Templo, juntamente com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. E disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo daqui! Não transformeis a casa de meu Pai num mercado.» (Jo 2,15-16)

A que ponto os sacerdotes - os iluminados do povo! - tinham deixado degradar o Templo! Como foi possível tanto abuso!

Ou teria sido, como mais tarde acontecerá com a doença de Lázaro, para que a glória de Deus-Filho se manifestasse nesta sua fúria em proteger a casa de seu Pai?

– “Casa de meu Pai”!… Este confinar de Deus a uma casa… - permitam-nos a repetição - coloca-nos tantas dúvidas! Depois, qual é o real significado de “Pai” para Jesus? Mesmo chamando Pai a Deus – como dirá na oração do “Pai nosso” – isso não quer dizer que ele se sentisse Filho ontológico de Deus, como o fizeram mais tarde, mas apenas que acreditava que Deus era o Criador de todos os Homens.

Os judeus, claro, não ficaram contentes: “«Que sinal nos mostras para provares que tens o direito de fazer tudo isto?» Jesus respondeu: «Destruí este Templo e em três dias Eu o levantarei.» E eles disseram-Lhe: «A construção deste Templo demorou quarenta e seis anos e Tu levantá-lo-ás em três dias?» Mas o templo de que Jesus falava era o seu próprio corpo.” (Jo 2,18-21)

– Esta conclusão de João poderá não passar de… uma interpretação tardia das palavras de Jesus. Por isso, de validade reduzida ou… nula. E se era esse o significado que Jesus pretendia dar às suas palavras, como poderiam os que O escutavam entendê-Lo? E se Jesus não pretendia que O entendessem, porque falou?

Ou… porque não falou de outra maneira? É que as palavras vêm em desafio! Razões para este desafio a Jesus não faltavam: o Templo ou era casa de oração ou… mercado de negócios! Mas não se esperaria mais de um Jesus que veio salvar o que estava perdido? Não estavam estes judeus - seus irmãos na pátria - perdidos e bem perdidos? Tão perdidos que O irão matar, não certamente só porque lhes roubava seguidores mas porque realmente nunca conseguiram compreender a sua mensagem, mesmo com aquela avalanche de milagres? (Se é que os milagres aconteceram mesmo… Aliás, tivessem acontecido e não haveria judeu que não se convertesse perante tais maravilhas que só poderiam ser realizadas por um ser realmente divino…)

– O encontro de Jesus com o chefe dos fariseus Nicodemos é tremendo. Jesus não “perdoa” a Nicodemos que não compreenda o que Ele diz: “Tu és um dos mestres do povo de Israel e não sabes estas coisas?”(Jo 3,10)

– Há algo de não disfarçada ironia nesta admoestação de Jesus… Porquê? A nós, também as suas palavras nos deixam cheios de perplexidade e de dúvidas e consideramo-nos pelo menos medianamente cultos e inquisidores da Verdade, facto que, aliás, pouco importa…

Talvez, ou certamente, por dificuldade de entendimento e receio de uma reprodução não exacta das palavras de Jesus, Mateus, Marcos e Lucas omitem este encontro com Nicodemos. É que Jesus aqui excede-se em enigma e mistério:

“«Fica sabendo que ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo. (…) Só quem nascer da água e do Espírito é que pode entrar no Reino de Deus. Quem nasce de pais humanos é apenas humano, quem nasce do Espírito é espírito. Não te admires por Eu te dizer que todos devem nascer de novo. (…) Repara bem no que te vou dizer: quando falamos é porque sabemos e quando afirmamos qualquer coisa é porque vimos, mas vós não quereis aceitar o que Eu digo. Se não acreditais quando vos falo das coisas deste mundo, como podeis acreditar quando vos falo das do Céu? Ninguém subiu ao Céu a não ser o Filho do Homem que desceu do Céu. Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja levantado para que todo aquele que acreditar nele tenha a vida eterna. Deus amou de tal modo a humanidade que lhe entregou o seu Filho único, para que todo aquele que creditar nele, não se perca mas tenha a vida eterna. Não foi para condenar o mundo que Deus lhe enviou o seu Filho mas sim para o salvar. Quem acreditar nele não é condenado, mas o que não acredita já está condenado, por não querer acreditar no Filho único de Deus. A condenação consiste nisto: Deus enviou a luz ao mundo, mas os Homens preferiram as trevas à luz porque as suas obras eram más. Os que fazem o mal detestam a luz e fogem dela para que as suas más obras não sejam descobertas. Mas os que agem conforme a verdade, aproximam-se da luz, mostrando publicamente que as suas obras foram feitas segundo a vontade de Deus.»” (Jo 3,3-21)

(Análise crítica, no próximo texto, a tão enigmática dissertação)

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