sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 283/?

 

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. LUCAS – 1/?

 

Nota prévia:

Lucas é um outsider em relação aos factos: médico de Paulo, certamente, por influência deste – Paulo que está na base da construção do Cristianismo – resolveu completar o que lhe parecia faltar na narrativa dos outros dois evangelhos, Marcos e Mateus com os quais, no restante, com algumas variantes que assinalaremos, é sinóptico.

Era uma lacuna incompreensível, para a religião que dava os primeiros passos: nascimento, meninice, juventude de Jesus, Filho de Deus, entidade em cuja actividade e pregação a mesma religião se baseava.

E apresenta-se cheio de boas intenções:

– “Após ter feito um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever uma narração bem ordenada (…) do que nos foi transmitido por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da Palavra.” (Lc 1,2-3)

– Mais clareza das intenções de ser fiel à narrativa dos factos parece não haver. Será então o evangelho de Lucas, que não foi testemunha ocular mas transmite o que os outros lhe disseram e que ele averiguou cuidadosamente, totalmente histórico? Serão os factos narrados verídicos ou já inventados/trabalhados pelas testemunhas supostamente oculares e pelos ministros da Palavra? Vejamos!

– Lucas é o único a narrar o nascimento miraculoso de João Baptista, filho do sacerdote Zacarias e sua mulher Isabel: “Não tinham filhos porque Isabel era estéril e os dois já eram de idade avançada. (…) Então apareceu a Zacarias um anjo do Senhor (…): «Deus ouviu o teu pedido; a tua esposa Isabel vai ter um filho e dar-lhe-ás o nome de João. (…) Desde o ventre materno, ficará cheio do Espírito Santo (…).» Zacarias perguntou ao anjo: «Como vou saber se isto é verdade? Sou velho e a minha mulher é de idade avançada.» O anjo respondeu: «Eu sou Gabriel. Estou sempre na presença de Deus e Ele mandou-me dar-te esta boa notícia. Vais ficar mudo e não poderás falar até ao dia em que estas coisas acontecerem, porque não acreditaste nas minhas palavras que se cumprirão na altura própria.»” (Lc 1,7-20)

– Não! Não começa bem Lucas! O maravilhoso acontece e não pode ser histórico! A narrativa, singela, tem o sabor das crenças-invenções-imaginações religiosas daquele tempo, deste tempo… O anjo aparece… fala… anuncia… impõe um nome… E à questão pertinente, humana, tão natural e compreensível de Zacarias que não via como tal pudesse acontecer, responde o anjo com um castigo… - injusto, claro! - “justiça” que não utilizou com Maria, seis meses mais tarde quando esta lhe perguntou: “Como vai acontecer isso, se não vivo com nenhum homem?»…

E… duplo milagre: Isabel concebe sendo estéril e de avançada idade…

Mais: um anjo… ter um nome… estar sempre na presença de Deus… mensageiro do mesmo Deus… com o poder de dar castigo ao mortal Zacarias… continua o divino em total simbiose com o humano…

Então, simplesmente começamos por rejeitar a veracidade/historicidade dos factos narrados. Tudo se enquadra perfeitamente na recolha de narrativas transmitidas certamente com fins piedosos, mas… inventadas! Lucas, como pretenso historiador, deveria tê-lo dito.

 Imperdoável!


1 comentário:


  1. No campo das invenções, não é de somenos importância o facto de não termos originais dos evangelhos mas apenas cópias dos finais do séc. III. Em cerca de 200 anos, vários terão sido os acrescentos e as modificações dos textos originais, possivelmente mais fiéis à História verdadeira.

    Aqui, de histórico, parece ser apenas o facto de Zacarias e Isabel terem tido um filho, já ambos com uma certa idade e com dificuldades de fecundação, ao qual puseram o nome de João Baptista.

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