sábado, 24 de outubro de 2020

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 284/?

 

À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. LUCAS – 2/?

 – Continua Lucas, narrando as histórias que lhe contaram:

– “No sexto mês de gravidez de Isabel, Deus enviou o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré para falar com uma jovem chamada Maria, que estava noiva de José, descendente do rei David. (…): «Eu te saúdo, ó cheia de graça! O Senhor está contigo! (…) Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Vais ficar grávida e terás um filho a quem vais pôr o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. E o Senhor dar-Lhe-á o trono do seu pai David e Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacob. E o seu reino não terá fim.» Maria perguntou ao anjo: «Como vai acontecer isso, se sou virgem?» O anjo respondeu: «O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de ti será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel, apesar da sua velhice, concebeu um filho. Aquela que era considerada estéril já há seis meses que está grávida. Para Deus, nada é impossível.»” (Lc 1,26-37)

– Este texto é fundamental na origem do Cristianismo! Lucas é também o único evangelista a narrar tal “facto” que certamente lhe contaram, com devota religiosidade, umas dezenas de anos depois de ter acontecido e já fazendo parte da tradição catequética da primitiva Igreja. O grande milagre acontece: uma virgem vai dar à luz, sem ter conhecido homem. Mas dentro da economia do milagre, este era milagre que se impunha da parte de Deus. Com todo o seu poder no Céu e na Terra, porque não fazer nascer o seu filho muito amado de modo diferente do de qualquer humano?

Mas… que trono de David é aquele? Que reino sobre os descendentes de Jacob, o mesmo é dizer sobre os israelitas? E como não terá fim o seu reino… na Terra ou no Céu?

E porque volta a existir um anjo, anjo que tem de argumentar com o que aconteceu a Isabel para convencer Maria? Ou quis apenas dar-lhe a notícia?

Aliás, perante tal convite-imposição divina, que poderia dizer Maria senão: «Eis a escrava do senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.»? (Lc 1,38) Imaginemos que recusava… Que castigo ali lhe seria dado, a avaliar pelo castigo dado a Zacarias apenas por ter questionado o que não entendia?…

Um anjo – o mesmo mensageiro de Deus enviado a Zacarias, marido de Isabel, prima de Maria, Gabriel – na base da construção do Cristianismo! Mas… os anjos não existem, santo Deus! São simpáticas figuras puramente lendárias ou fantasiadas pelos humanos que criaram o Olimpo dos deuses, ou o Céu, morada de Deus, e pelo Céu circulam diafanamente, aladamente… Então?!

Depois, Maria ser fecundada pelo Espírito Santo é… fantasia a mais, Senhor! Claro que os criadores do Cristianismo dizem tratar-se de um mistério. Neste caso, de dois: o mistério da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito santo) e o mistério da Encarnação, de cujo milagre vai nascer o Filho, feito homem, ou o Verbo Encarnado, como os medievais lhe chamaram! Lucas, inspirado ou não, faz renascer aqui as lendas antigas do nascimento de deuses, de virgens também fecundadas por outros deuses. Como se tratava do nascimento do Filho de Deus, tinha que haver “divino” no seu nascimento. O conceito de Santíssima Trindade talvez tenha sido importado das religiões orientais.

No entanto, não deixa de se passar algo caricato: o Espírito Santo que é Deus com o Pai e o Filho vai fecundar Maria para dela nascer o mesmo Filho? Uma total confusão que nem o mistério consegue salvar. Os inventores da Santíssima Trindade e do mistério da Encarnação de certeza que não pensaram nisso. Ou, então, pensaram que lhes bastaria dizer que era… Mistério!

Conclusão: Uma história bonita para se contar a crianças. Mas, obviamente, não para dar credibilidade histórica a Jesus, como Filho de Deus, em cuja aura se baseia o Cristianismo.

Enfim, de histórico, retira-se simplesmente que Maria ficou grávida, antes de casar com o seu noivo José, tendo dessa gravidez nascido Jesus.

No entanto, sendo facto tão relevante na história do Cristianismo, é muito estranho que seja omisso nos outros evangelhos. Muito estranho mesmo!

 


1 comentário:

  1. Quanto ao facto de Maria aparecer grávida, e de cuja gravidez nasceu um menino a quem puseram o nome de Jesus, resumimos a ideia de um racionalista: Maria estava noiva de José e terá sido engravidada por um militar romano, o ocupante ao tempo da Galiléia. Considerando-a vítima, José não a rejeitou (como seria normal, em caso de devaneio de Maria!). José acolheu o menino como filho. Depois, teria mais filhos e filhas de Maria, como consta dos evangelhos, Mc 6.3 e Mt 13.55-56, embora os católicos digam que estes não eram irmãos de Jesus mas primos. Aliás, Jesus não tinha o sangue de José mas… do "Espírito santo"!

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