quarta-feira, 5 de novembro de 2014

À volta dos conceitos de infinito e eterno








Voltando a estes conceitos, conceitos de tanto agrado das religiões, sobretudo ao definirem Deus como Ser infinito e eterno, e ao apresentarem um Paraíso ou um Inferno eternos para onde nós iremos todos, sem excepção, temos de fazer algumas pertinentes considerações.
Se é fácil apreender tais conceitos, admitindo sem problemas de compreensão a sua existência, mais difícil se torna apreender toda a sua realidade: é que nós somos finitos no Espaço e no Tempo, realidades que percebemos bem, sendo-nos totalmente incompreensíveis as categorias de infinito e eterno. Aliás, tentem fazer a prova: pensem numa recta que passa frente a nossos olhos. Apercebemo-nos facilmente dela mas, se olharmos para a esquerda e para a direita, nada de princípio nem de fim será vislumbrável ao pensamento. O pensamento fica totalmente vazio ou impotente perante o não princípio e o não fim da recta, já que esta, por sua própria definição, não tem começo nem fim, perdendo-se no infinito. E isto, mesmo que fizéssemos passar por um dado ponto um número tão grande de rectas, em todas as direcções que o resultado que teríamos seria o de uma gigantesca bola negra que, no limite, também seria infinita, pois nunca haverá rectas que preencham todo o vazio continuamente existente à medida que vamos alargando a mesma bola negra.
Quanto ao conceito de eterno, a impossibilidade de chegarmos ao limite do Tempo leva-nos facilmente a aceitá-lo. E, claro, um Tempo sem limites deixará de ser o Tempo para ser a eternidade. Ora nós só apreendemos o que é do Tempo, categoria que se aplica a tudo o existente, algo que, tendo começado um dia, em outro qualquer irá forçosamente acabar. Essa é a característica mais certa – uma verdade absoluta! – inerente a qualquer ser agora vivo. Tal como nós! Como foi aliás, verdade absoluta para todos os seres vivos que já fizeram o seu trajecto de vida e continuará a ser para todos os que continuamente irão aparecendo, enquanto a Terra for Terra (mais cerca de 4 mil milhões de anos).
Também se poderia fazer o mesmo exercício para o Espaço. Tendo como nosso único referente o Universo visível, a Ciência astronómica ainda não conseguiu – alguma vez conseguirá?! – descobrir os seus limites, ou seja onde começa e onde acaba. Se é que tem limites!... E, se considerarmos que este Universo existe há cerca de 15 mil milhões de anos, dado os conhecimentos astronómicos que já possuímos, perguntaremos “ad aeternum”, o que havia antes e antes e antes e antes…; bem como, até quando, até quando, até quando…; ou, até onde, até onde, até onde…
Ora, a que nos leva esta total impossibilidade do nosso pensamento de abarcar o infinito e o eterno? – A uma simples conclusão: todas as infinitudes e todas as eternidades que as religiões nos querem vender são, no mínimo, do domínio da fantasia e da imaginação, nada correspondendo a uma realidade credível. A simpatia pelo mundo dos crentes leva-nos a não dizer que são “uma total falsidade”.
Mas é interessante constatar que o Homem, em geral, tem fome e sede de infinito, tem desejos de ser eterno. É incompreensível tal realidade. Repetimos: o Homem ser eterno era considerá-lo fora dos padrões gerais da Natureza, onde “nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”, nós também, obviamente, que somos feitos de átomos e moléculas que um dia, por intervenção do sistema da procriação “inventado” pela mesma Natureza, se uniram para sermos nós a ver a luz do dia, mas que um dia voltarão a ser átomos e moléculas de qualquer outro ser vivo ou não vivo que apareça por perto de onde nos finarmos… Seríamos uma anomalia da Natureza, uma espécie de semi-recta que começaria num dado ponto do Tempo, num determinado espaço e se prolongaria pela eternidade, pelo infinito. Bonito é! Insensato também!

Sorrindo, poderíamos acabar esta reflexão filosófica dizendo que quem quiser ficar com o “bonito” talvez tenha bem mais a ganhar do que o outro que não quer ser insensato. Pelo menos, tem com ele o sonho que o ajudará a viver bem o tempo de vida que lhe foi dado viver! E isso é… TUDO ou TUDO O QUE É IMPORTANTE!

1 comentário:

  1. A pedido, no texto da próxima semana, abordaremos a temática da oração. De forma racional. Afinal, a quem aproveita a oração? Que sentido faz apelar a que se rezem 10 milhões de Avé Marias pelo papa Francisco, para que ele tenha forças para continuar a limpar a Igreja de todos os seus pecados de luxúria, corrupção, cobiça, mentira...?
    Depois, retomaremos a saga da análise crítica dos livros da Bíblia.

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