quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) (37/?)

À procura da VERDADE no DEUTERONÓMIO - 1




- Lê-se na Introdução ao Deuteronómio (ibidem): “Este livro nasceu 
muito tempo depois da situação histórica que nele encontramos (discurso 
de Moisés antes da entrada na Terra Prometida) e passou por um longo 
período de formação. (…) A sua parte central (Dt 12-26) nasceu em 
meados do séc. VIII a.C. (…)” Ora, se Moisés remonta ao séc. XII a.C., 
o Deuteronómio terá sido escrito quatro séculos mais tarde. O autor utiliza 
uma forma literária interessante: faz de Moisés o narrador, dando assim 
maior credibilidade ao texto. No entanto, toda a narrativa histórica não 
passará da compilação, mais ou menos literária, das histórias orais que, 
durante aqueles quatro séculos, passaram de geração em geração. E não 
há dúvida que quatrocentos anos é muito tempo para se aquilatar da 
veracidade de uma narrativa onde Javé continua sendo a personagem 
fulcral para o êxito do povo na conquista da Terra Prometida, tudo 
destruindo em seu nome: “… destruímos cada cidade, com homens, 
mulheres e crianças. Contudo, ficámos com todo o gado e os despojos 
das cidades.” (Dt 3,6-7)          
- Neste seu discurso, Moisés fala ao povo, repetindo as normas de Javé. 
É uma espécie de recapitulação de tudo o que ele “ouviu” de Deus, desde 
os princípios básicos da Aliança de Javé com o povo, à repetição dos dez 
Mandamentos, apresentados em Êxodo 20,3-17. (Aliás, serão dez ou nove 
os Mandamentos? É que aqueles 9º e 10º, como reza o livro da catequese,
vêm como um todo indivisível: “Não cobices a casa do teu próximo, nem
mulher do próximo, nem o escravo, nem a escrava, nem o boi nem o 
jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo” – Ex 20,17. 
Não há nenhuma razão para se desmembrar como o fez a Igreja, a seu 
belo prazer, embora se compreenda o prurido de consciência de colocar 
a mulher ao nível dos outros pertences do próximo (neste caso, o homem, 
sendo a mulher relegada para outro plano…), como o boi e o jumento. 
Admitamos ainda que o escravo e a escrava eram “cultura” da época, não 
merecendo assim comentário, segundo a mentalidade actual, a tácita
aprovação divina da situação.
- No entanto, Moisés, certamente ressentido com a atitude do povo, por 
causa do qual não entrará na Terra Prometida, várias vezes refere: “Javé
porém estava irritado comigo por causa de vós…” (Dt 3,26); “Por vossa
causa, Javé ficou furioso comigo e jurou que eu (…) não entraria na boa
terra que Javé vosso Deus vos dará como herança.” (Dt 4,21)
- Que fúria! Que irritação! Que juras divinas, santo Deus! Estes autores 
bíblicos repetem-se, infelizmente, sempre numa tónica de um Javé
apoucado, caprichoso, rancoroso… e outras “virtudes” que detestamos
nos Homens quanto mais num Deus que se quisera afirmar como o único
e verdadeiro!
- Obsessiva é esta ideia de um Deus único juntamente com o temor de 
que o povo caia na tentação de adorar ídolos ou deuses pagãos: “É a Javé,
teu Deus, que adorarás… Não sigas deuses estrangeiros… porque Javé,
teu Deus, é um Deus ciumento. A cólera de Javé, teu Deus,
inflamar-se-ia contra ti e exterminar-te-ia da face da Terra.” (Dt 13,15)
- Ciúme! Cólera! Extermínio! – Novamente!
- Mas – dirão os “sábios” exegetas das Escrituras – são modos de falar. 
Fala-se ao modo do Homem para que todos possam entender. Quem
entenderia outra linguagem? Haverá linguagem divina entendível pelos
humanos?
- Não sabemos. Só sabemos que humanizar Deus desta forma é 
retirar-lhe toda e qualquer sentido de divindade!
- E o temor de Deus? Tudo leva a crer que o temor de Deus foi “inventado” 
pelas antigas civilizações judaico-cristãs para que houvesse algum 
equilíbrio, alguma contenção, na sociedade, e não se implantasse a barbárie
para a qual o Homem sempre teve - e tem! – tendência. É que, referenciando
um poder divino de Javé - mistério para o povo que O “sentia” bem presente
mas nunca pôde ver a sua face - as leis e as normas, tornando-se divinas,
com recompensas e também castigos divinos - normalmente de morte para 
serem mais convincentes! - teriam um sucesso de aplicabilidade e de 
respeito garantidos! Bela invenção, não é? “Observa os mandamentos de 
Javé, teu Deus, andando nos seus caminhos e temendo-O.” (Dt 8,6)
- E assim se conduzia, mais facilmente, um povo “de cabeça dura”, através
das areias escaldantes do deserto… Só não se percebe – é mesmo 
inconcebível! - o porquê de ser este livro mais um livro “sagrado”!
Enfim, vamos ver…

1 comentário:

  1. Importa clarificar que quando dizemos "À procura da Verdade...", trata-se da Verdade da vida eterna, da Verdade de Jesus ter sido filho de Deus, da Verdade dos dogmas das religiões judaico-cristãs, enfim, da Verdade da Bíblia como Livro sagrado inspirado por Deus. Já vamos na análise do último livro do Pentateuco e, infelizmente, essa Verdade parece estar cada vez mais longe... de o ser!

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