sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (49/?)

 
PARA ALÉM DO FIM
Cinco momentos de reflexão
I
Fundamento das nossas dúvidas, as dúvidas que estão na base desta “Vida de Cristo” narrada pelo próprio
(Cont.)
 
 
    10. Como produto judeu, Jesus foi inventado de acordo com as antigas Escrituras e para que estas se cumprissem, dando fôlego a um povo que estava absolutamente necessitado de um Messias salvador, dadas as circunstâncias trágicas em que se encontrava, não se esquecendo os seus inventores de anexar ideias de Fílon, onde os evangelhos se inspiraram para o relato de sua pretensa vida.
    11. Enfim, não deixa de ser sintomático que Jesus Cristo não tenha deixado nada escrito de seu quando tantas personagens ilustres do tempo o fizeram.
Conclusão:
    Realmente, lendo os apologéticos cristãos, constatamos que os seus argumentos acerca da historicidade dos Evangelhos e da historicidade de Jesus, como homem, têm quase sempre pés de barro e, quando não, os pés que têm ou parecem ter não dão para andar muito!... Mas, admitindo de bom grado a existência do Jesus histórico, vamos deparar-nos com o fenómeno da sua transformação em Messias ou em Cristo e, megalomanamente, em Filho de Deus, atribuindo-lhe os mais espantosos milagres! Não sendo nosso propósito alongarmo-nos, aqui, sobre tão fundamental assunto para o início do cristianismo, apenas diremos que foi Paulo, cronologicamente, após ter tido conhecimento de Jesus por alguns dos seus discípulos, nomeadamente Pedro, com o qual depois se incompatibiliza, o seu grande arquitecto, criando comunidades fora da Palestina a quem ministrava as suas ideias acerca de Deus e da Sua intervenção na História do Homem através de Jesus, o Cristo, orientando-as depois por meio de cartas, seguindo-se, uma ou várias dezenas de anos depois, os evangelhos, de Marcos a João, com a mitificação do seu herói, para “alimentar” ou firmar na fé as comunidades de Paulo e outras que entretanto se foram formando, sendo talvez a primeira a de Jerusalém presidida pelo irmão de Jesus, Tiago. A nova religião, que mais tarde se chamaria cristianismo, aparecerá, nos seus primeiros tempos, como uma síntese do judaísmo com o paganismo antigo, incorporando todas as tradições culturais e religiosas conhecidas no mundo de então. Poderíamos, pois, sintetizar a verdade acerca das origens do cristianismo, reflectindo criticamente sobre os escassos dados históricos disponíveis e já atrás referenciados, opondo-nos, obviamente, a todas as histórias do cristianismo que não obedecem ao princípio crítico de análise e que, por isso, não devem merecer credibilidade: 1 – C. do ano 33, Jesus morre, com c. de 38-40 anos de idade, condenado pelas entidades religiosas do tempo, considerando-o um insubordinado ao poder político-religioso, à morte na cruz, segundo o costume romano, mas sem qualquer milagre a acompanhá-lo, como descreve Mateus; 2 – Os discípulos continuam a pregar a sua mensagem de fraternidade universal, o Paraíso para os bons, o Inferno para os maus, a ressurreição e a vida eterna, formando várias pequenas comunidades ali em Jerusalém; 3 – os fariseus movem-lhes guerra e perseguições, e, entre eles, encontra-se um indivíduo ambicioso e inteligente (com a dupla nacionalidade: judeu e romano) de nome Paulo; era de Tarso; 4 – C. do ano 50, dá-se a reviravolta em Paulo: de perseguidor passa a pregador e a apóstolo do que ele chama cristianismo; do que ele conta da sua conversão, (Act 22, 6-16; 22,9; 26,14) tudo leva a crer ser uma metáfora da sua doença, a epilepsia, doença a que ele próprio faz referência, chamando-lhe “espinho cravado na carne” (2Cor 12, 78); então, sem qualquer milagre, em transe epiléptico, teve a original ideia de aproveitar o Jesus e a sua mensagem, focando-a, sobretudo, na ressurreição dos corpos, tendo Jesus sido o primeiro “grande ressuscitado”, mas cuja ressurreição seria penhor da ressurreição de todos os Homens para irem, então, e por toda a eternidade, para o Paraíso ou Inferno, conforme as suas obras: “Se ele não ressuscitou, é vã a nossa fé!”; Paulo decide que a nova religião deve ser pregada não só aos judeus mas também aos gentios, mais uma ideia genial votada ao sucesso: é que a mensagem era fortemente aliciante, primeiro, para os pobres escravos que viam, enfim, fazer justiça, tendo a esperança da vida eterna, depois, para ricos e governantes que viram na religião o que ainda hoje vêem: uma forma de exercer o poder sobre os outros Homens (teor político) e, ao mesmo tempo, a possibilidade de, depois da morte, terem um Paraíso à sua espera (esquecendo-se, claro, do que Jesus dissera no seu evangelho: “Tu, rico, tu já tiveste a tua recompensa...”); a actividade de Paulo durará, quer como apóstolo quer como escritor de cartas para as comunidades que tutelava, c. de uma década, até meados do ano 60; 5 – Pelo ano 70, aparece o primeiro evangelho, narrando uma suposta vida pública de Jesus e já muitos dos seus supostos milagres, certamente a mando de algum padre da altura para firmar na fé as comunidades já formadas; 6 – Entre 70 e 80, aparece o evangelista mais prolixo em milagres: Mateus; Mateus amplia Marcos e tenta dar um certo ar de credibilidade à sua narrativa, apresentando datas históricas, mas destruindo logo tal credibilidade, com a invenção de inúmeros milagres totalmente absurdos, desde o nascimento de JC até à sua morte; 7 – Há um lapso, no entanto, na narrativa: pouco se diz dos acontecimentos que rodearam o nascimento de Jesus; e, assim, aparece Lucas a colmatar tal lacuna, inventando tudo, obviamente, inspirando-se nas lendas sobre o nascimento de deuses antigos, sobretudo os deuses solares, reescrevendo Mateus em outros episódios da suposta vida de Jesus; 8 – Pelo ano 90, aparece o segundo teólogo do cristianismo (o primeiro fora Paulo), João, com o seu evangelho, mais ou menos enigmático acerca da divindade una e trina de Deus; 9 – Nos séculos segundo e terceiro, as comunidades cresceram e consolidaram-se, não havendo perseguições que fizessem demover tal movimento; foi assim que se chegou ao Concílio de Niceia, convocado pelo Imperador Constantino, 325, onde o cristianismo praticamente se torna religião oficial do Império, o que tornou ainda mais fácil a sua propagação…
E assim nasceu mais uma religião, baseada na efabulação, na imaginação de alguns, na teimosia e interesses de outros, na falsidade aliciante de uma justiça divina, uma fraternidade universal, um fantástico Paraíso, uma eternidade junto de Deus... Religião que arrebata consciências frágeis e que, tendo conquistado (apenas!) um quarto do mundo, em dois mil anos..., continua, no entanto, viva em muitos países, sobretudo junto das classes mais pobres e mais ignorantes, explorando a sua fácil tendência para a crença ou crendice, valorizando tudo o que tenha cheirinho de milagre ou de sobrenatural, milagre e sobrenatural obviamente inexistentes…, comandada e dirigida de Roma pelo todo-poderoso e corrupto Vaticano – pese embora a actual lufada de ar fresco nele introduzida pelo Papa Francisco – com a não menos poderosa Congregação para a Causa dos Santos a aceitar supostos milagres aqui e ali realizados por Deus, pela intercessão deste ou daquele candidato a santo… Tudo, obviamente, sem qualquer consistência racional ou científica, digam embora eles o contrário!
E Religião que viria, seiscentos anos mais tarde, a ter uma grande adversária ou rival: o maometismo, cujo avanço avassalador e rápido o fez na segunda maior religião monoteísta organizada do mundo (sendo a de menor dimensão a judaica com o seu Javé, tendo, no entanto, sido dela que derivaram e onde se alicerçaram as duas outras), mas com todos os problemas que o mundo conhece, desde que nele se impôs pela espada e, agora, com a espada, (melhor, com bombas!) se trucidando, sobretudo nas suas duas grandes seitas: sunitas e xiitas. Que Deus, santo Deus, poderá aprovar tal religião, tais religiões, tais mortandades?! Mas é a realidade! A do cristianismo, mais em séculos passados, e a do maometismo, nos nossos tempos, quase ali ao nosso lado...

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