sábado, 28 de setembro de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (45/?)

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (45/?)

    Deixemos, então Paulo, na sua ilusão da ressurreição dos mortos, e no seu empenho em que muitas comunidades acreditassem na sua pregação – o que aconteceu! – para dedicarmos alguma atenção a João, o grande mentor ou teólogo do Logos ou Palavra de Deus.
    Talvez baseado no salmo (Sl2,7) “Tu és o meu Filho. Eu hoje te gerei”, João começa o seu evangelho, inspirado, chamando Logos ou Palavra, a Deus, concluindo que “a Palavra se fez Homem... Filho único do Pai” e foi este Filho único que nos revelou Deus” (Jo 1). E, um pouco mais à frente: “Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu filho unigénito... De facto, Deus enviou o seu filho ao mundo...” (Jo 3,16-17)
    É baseado nesta sua primeira formulação que irá construir toda a narrativa a meu respeito, pondo na minha boca, a seu belo prazer e durante todo o seu evangelho, a afirmação de tal divindade ou tal origem divina, como Filho único real de Deus, ideia que nunca me passou pela cabeça! Apenas alguns exemplos: “Mas eu conheço-o (Deus-Pai) porque venho de junto dele e foi Ele que me enviou”. (Jo 7,29); “«Onde está o teu Pai?» Jesus respondeu: «Vós não conheceis nem a mim nem a meu pai. Se me conhecêsseis, também conheceríeis o meu pai»”, “Eu digo ao mundo coisas que lhe (a Deus-Pai) ouvi”, “Eu saí de Deus e venho dele” (Jo 8, 19; 26; 42); “O Pai e eu somos um” (Jo 10,30); “Não me vereis mais porque vou para o Pai” (Jo 16,10).
    Na narrativa evangélica, certamente já inspirada em Paulo cujas cartas deveriam ser conhecidas dos evangelistas, por já circularem pelas comunidades, havia, pelo menos uns vinte anos, caminha-se de um Jesus que timidamente se considera um ser especial, o “Filho do Homem” ou um “Messias”, para a divinização, obviamente para dar consistência à religião nascente. É que sem Deus a intervir na História do Homem, uma religião não teria qualquer hipótese de sobrevivência. E é na criação de uma nova religião que estão empenhados, primeiro Paulo, depois os discípulos de Jesus e seus sucessores.
    Mas já alguma vez algum teólogo se interrogou profundamente – e... honestamente! – sobre a lógica de Deus ter um Filho? E um Filho único? E que veio ao mundo, encarnando no seio de uma virgem? E que fez aqueles milagres todos, milagres apenas divulgados pelos evangelistas, isto é, os interessados na criação da nova religião, não havendo notícia deles em qualquer historiador da época? E que morre daquela maneira tão estúpida? E que depois ressuscita, aparecendo apenas a uns quantos conhecidos e amigos, quando a sua missão era convencer o mundo todo da sua mensagem do Novo Reino de Deus, devendo portanto aparecer a todo o mundo conhecido de então? Ressurreição que, obviamente, deveria ser notícia em todos os historiadores da época e não apenas nos suspeitos Paulo e evangelistas?
    Enfim, Deus ter um Filho é ontologicamente aberrante, se considerarmos Deus como ser absoluto, infinito e eterno. Como é aberrante a invenção da Santíssima Trindade – Deus uno e trino – para nela colocar, um Pai, um Filho e um Espírito. Aberrante, por inútil e inconsequente. Aberrante também – por totalmente desprovida de bom senso, lógica ou justiça! – a ideia de Deus infinito (fora de todo o espaço ou contendo todo o espaço) e eterno (fora de todo o tempo, ou contendo todo o tempo) enviar o tal suposto filho à Terra, apenas há dois mil anos, encarnando num homem chamado Jesus, para salvar ou redimir o Homem de um suposto pecado original, oferecendo-lhe a salvação eterna..., quando o Homem já existe há uns quatro milhões de anos, fazendo a sua peregrinação evolutiva de símio para o sapiens sapiens actual, quando a vida existe há cerca de três mil e quinhentos milhões de anos, a Terra há cerca de quatro mil e quinhentos milhões, o Universo conhecido há cerca de quinze mil milhões, ignorando-se o que há, houve ou haverá para além dele, no antes e no depois, no misterioso Tempo universal que lhe assiste.
    Esta a verdade – a verdade teológica – acerca de mim. Mas se quiserem continuar a acreditar no Jesus Cristo de Paulo e dos evangelistas, tentando justificá-lo através das Escrituras do AT, Escrituras inspiradas e belas (algumas, claro, sendo outras de atroz ferocidade...), sim, mas inspiração sem qualquer carácter divino, como as igrejas cristãs pretendem, embora não apresentem nenhuma justificação ou prova credível para o facto.
    No entanto, qualquer ser humano, sobretudo um intelectual, poderá viver paralelamente os dois “caminhos”: por um lado, acredita no Cristo e na sua vida eterna e com tal pensamento se conforta nas horas de amargura e sofrimento; por outro, raciocinando, vendo que tudo não passa de efabulações mais ou menos bem construídas, conforme a inspiração dos autores ditos sagrados, (obviamente, pelos mentores, os iniciadores e os continuadores da religião então criada!), diverte-se, remetendo tal facto para a Ciência e o Conhecimento filosófico da vida, das coisas, da História. E porque não, se assim se vive mais feliz?!

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