terça-feira, 10 de setembro de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (42/?)

    Sendo, pois, tão conhecidos tais “factos”, não vale a pena referenciá-los mais pormenorizadamente. Apenas recordaria que, de entre os que me seguiam, escolhi doze discípulos, número que invocava as doze tribos de tão gratas recordações para o povo de Israel, e que sempre defendi os mais pobres, os fracos, os humildes, as mulheres, insurgindo-me contra os poderes religiosos instituídos que, juntamente com o poder político, subjugavam o povo com pesadas leis e inúmeros impostos devidos ao imperador e ao Templo. Os milagres foram descritos pelos evangelistas como tendo realmente acontecido, transformando-me, pobre mortal, em Deus ou num ente com os Seus superiores e divinais poderes, e não só eu mas também alguns discípulos, em meu nome, pois os Actos referem, entre outros, Pedro a ressuscitar uma morta e Paulo, um morto... Mas cometeram um pecado sem perdão contra a Verdade de Deus e dos Homens. É que – repito – não houve milagre nenhum! Foi tudo inventado para me poderem chamar o Cristo, o Ungido de Deus, o Seu Filho dilecto! E nem se coibiram de narrar o milagre da figueira à qual eu, zangado, ordenei que secasse por não ter fruto para me saciar a fome. Pobre figueira! Ora, sem invenção de milagre, bem poderiam ter feito passar de outro modo a minha mensagem de que quem não produz bons frutos merece ser lançado, seco, à geena ou fogo que nunca se extingue. De verdade, houve apenas os inúmeros prodígios que realizei, possuidor que era de vastos conhecimentos de curandeiro, muitos cegos recuperando a vista, epilépticos a calma, mudos a fala, caso as lesões tivessem sido provocadas apenas por doenças com origem na perturbada mente ou na descontrolada alma. Nem cegos de nascença a recuperarem olhos que não tinham, nem coxos sem pernas a andar, nem pães e peixes a multiplicarem-se aos milhares, nem água a transformar-se em vinho, nem tempestades a acalmarem a um gesto do meu braço, nem mortos a ressuscitarem... – digo-o pela última vez.
    Portanto, esquecei, ó Homens, vós todos que até agora tendes acreditado na veracidade dos milagres que chegaram até vós através dos evangelhos e secundados pela Igreja Católica que os tornou sagrados e dogmáticos! Esquecei-os a todos! Não acrediteis em invenções, tenham ou não os mais excelsos e cativantes objectivos! Mas não esqueçais a minha mensagem de fraternidade universal! É que essa será a única chave que trará a harmonia ao mundo, melhorando o Homem, minorando o sofrimento de muitos, acabando com as guerras, a violência, a morte não natural, já que a natural é inevitável por inerente a todo o acto de nascer de qualquer ser vivo. E, como percebestes, eu não consegui dar a Nicodemos a vida eterna que ele tão ansiosamente procurava. Não a consegui para ele, como não a consegui para mim, como ninguém a conseguirá para ninguém! Desenganem-se, pois! É que não há eternidade para os indivíduos! A eternidade é própria apenas de um Ser, a que podemos chamar Deus, mas que forçosamente tem de se confundir com tudo o existente em potência ou em acto, estando fora do tempo, fora do espaço ou, melhor, integrando todo o tempo, todo o espaço e tudo o que se encontra no espaço sujeito ao tempo. Quem? – Tudo e todos! Nós também, obviamente.

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