segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Aquando do meu adeus à vida

Amanhã, “it’s a special day! My birthday!” 70 anos!...
“Quem já muito andou pouco ou nada tem para andar!” É: o fim irá chegar. Mais cedo ou mais tarde, irá chegar. Inexoravelmente! Como inexoravelmente, o tempo não pára e não há manhã que persista nem tarde que não se acabe...
E, antes que a “voz” se me cale para sempre, a morte me surpreendendo descuidado, eis o que gostaria de deixar como epitáfio de uma vida que foi e... se foi:
«Adeus! Adeus, até àquela eternidade que, queiramos ou não, nos assistirá a todos: a transformação em átomos e moléculas de matéria, matéria que se manterá pedra ou entrará no ciclo da vida de um outro ser vivente qualquer, seja animal, seja planta. Mas nós – eu, tu ele – nós, com esta individualidade que temos – melhor, tivemos! – essa não existirá mais. A razão é tão mais que simples: pertencemos ao Tempo, aparecemos no Tempo, vivemos um tempo, integrando-nos no princípio universal da matéria de que “tudo o que tem um princípio, tem inexoravelmente um fim associado”. Embora, nada se perdendo, tudo se transformando... Então, como poderíamos ser a excepção? Quem quiser acreditar noutra hipótese, que acredite ou tenha a presunção e a vaidade de acreditar; mas não passará, nunca passará de simples, ingénua etérea crença...
Ora, pois, sendo assim, que me resta dizer, nesta hora de adeus à vida? – Simplesmente, que foi bom, foi muito bom, foi privilégio que não foi concedido a milhares de milhões de outros seres humanos que ficaram e ficarão para sempre na hipótese de ser... Eu... fui! Que bom! Houve sofrimentos? – Claro que houve? Frustrações? – Quantas, santo Deus! Desilusões e arrependimentos de atitudes tomadas? – Também! Mas tudo foi vida! E fui inteligente quanto bastou para me agarrar mais aos gostinhos dela do que aos seus desaires ou sofrimentos, embora leve comigo a frustração, nesta hora de despedida, de não ter conseguido com que alguns dos que me rodearam jogassem comigo o jogo do só positivo, do só alegria, do só sorriso, criando tantas vezes momentos de suprema infelicidade, arruinando nervos e avolumando rugas no rosto, por ninharias sem importância nenhuma. Que perda de vida, santo Deus! Que perda de vida!
Então, que mensagem deixar aos que de mim tiveram conhecimento e por cá ficarão mais uns tempos, até chegar a sua hora de partir? – A grande mensagem será: VIVAM AO MÁXIMO A VIDA, VIDA EM QUE CADA MOMENTO É ÚNICO E IRREPETÍVEL! VALORIZEM TUDO O QUE É POSITIVO! QUE O NEGATIVO OU ERROS SIRVAM APENAS PARA MELHOR VIVER A OUTRA PARTE. E SORRIR! SORRIR SEMPRE MESMO QUE A VOZ, POR DENTRO, DOA, DOA MUITO, MUITO!!!»
E flores? Não há flores a enfeitar teu caixão? – Oh, não! Pese embora o desemprego das floristas, se a moda pega, de flores, apenas uma rosa devidamente humedecida para durar muito para além do ali jazer em cima do meu caixão, nas mãos ou na mesa de quem me for mais próximo. É que flores, ramos de flores, dão-se em vida para homenagear ou mostrar carinho, amor, afecto. Depois, para que raio quer um morto o seu caixão enfeitado de flores, flores que morrerão logo que desça à cova escura, ou enfrente as labaredas da cremação, e o Sol as cosa no cemitério?... E caixão, apenas isso: caixa grande onde eu caiba, sem cruz nem adornos; nem por fora nem por dentro; simples caixote de pinho não pintado, cheirando a resina. Pois, tal como as flores, para que raio quer um morto um caixão de oiro? Portanto, nem flores nem caixão doirado...
E um Requiem, por exemplo, o fantástico livrete de Mozart? – Ná! Requiem também não! Nada há para chorar. Cante-se e dance-se! Não porque uma vida se foi, mas porque milhões, biliões de outras continuam, obviamente, as dos presentes. Então, cantem-se essas com Aleluias, o Aleluia de Haendell, por exemplo, ou Hinos à alegria, como o de Beethoven. Ali, mesmo ali, em frente de um morto que, afinal, apenas representa uma vida que se foi...
Então, não há lugar a lágrimas? – Não! Por favor, não chorem sobre o meu caixão, nem façam caras tristes, nem se vistam de negro e outras coisas assim. Lágrimas só para mostrar alegria, comoção, enternecimento. Chorar ali é tempo de vida perdido... Mas quem não conseguir suster as lágrimas, deixe-as correr à vontade. Afinal, uma morte é um momento de despedida e toda a despedida apela à comoção e ao sentimento, àquela saudade que tanto nos aperta o peito...
Enfim, faltam as cinzas. Que faremos delas? – Se não puder ser no mesmo dia, agende-se um outro qualquer para ir até ao rio ou até ao mar e lançá-las à água corrente ou marulhante. Assim, mais facilmente se espalham pela Natureza, moléculas de moléculas que um dia da Natureza vieram e a ela tiveram de regressar impreterivelmente. O Destino implacável, inexorável! Claro, tudo em tom de festa, com música a gosto que até pode ser romântica com violinos ou oboés, cortando os ares...
Vivo agora – melhor, vivi agora! – nesta época fantástica em que de tanto Conhecimento e Ciência já somos capazes. Porquê, então, não ser realista e, mesmo na hora da morte, ver o lado positivo dela? Não foi uma sorte ter vivido? – Pois então, aplauda-se essa sorte e deixemo-nos de lamúrias, lágrimas ou lamentações! O IMPORTANTE É O SORRISO!
Ah, falta a missa, com padre a abençoar os restos mortais e a encomendar a alma do defunto ao Deus Criador! – Não! Por favor, missa também não! É que a religião, ela própria inventada por homens, inventou um Deus inexistente, um Céu inexistente, anjos e santos inexistentes, um Inferno e os seus demónios inexistentes, uma própria alma humana inexistente, uma eternidade ou uma imortalidade inexistentes... Tudo impossíveis, tudo inexistentes pela magna – ou simples?!!! – razão de que tudo pertence ao Tempo e o que é do Tempo não pode ser nem imortal nem eterno. Imortal e eterno só o Deus Infinito – que não é o das religiões! – o Deus que é o TUDO existente, o TUDO onde tudo se integra. O Tempo e tudo o que pertence ao Tempo, também, obviamente.
E tenho dito! Adeus! Adeus, até sempre, mesmo que esse sempre não exista nunca mais porque tudo foi... um dia! Num dado momento do Tempo!...

PS (imprescindível):
Ah, afinal, faltou a magna, talvez a mais importante resposta à pertinente pergunta: “Valeu teres vivido? Tu valeste a pena?” E não tenho dúvidas em responder: “Sim! Eu vali a pena!” E parece-me que quem não puder viver de modo a que, no fim da vida, possa dizer “Eu vali a pena!”, deveria pensar em desistir! Pois, para quê uma inutilidade? Aproveita a alguém, a começar pelo próprio? A questão é melindrosa. Pode levar à depressão, à análise emocional – logo irracional – das situações – e tantas são elas! – em que, na vida, tudo nos parece negro, tudo sem esperança, sendo a morte o caminho mais fácil para colmatar o desespero. E poder-se-iam perder muitas vidas que, julgadas inúteis até ao momento, muito ainda tivessem para dar, primeiro, ao próprio, aquele que tem de dar contas a si mesmo da vida, depois, aos que constituem a comunidade próxima ou afastada, indo do seu canto aos confins do mundo. Por isso, muito cuidado nessa auto-avaliação! É que, o suicídio, uma vez tendo vindo à vida, privilégio, afinal, tão raro, bem vistos todos os ingredientes que levam a um novo ser, é um ponto final antecipado que pode levar a danos irreparáveis em vez de ser uma catarse planetária.
Eu, claro, nunca me suicidaria, na vida! “Custou-me” tanto ter vindo a ela e, agora, ia assim desperdiçá-la por uma depressãozinha qualquer? Nem pensar! Mas, chegado ao fim, eis-me que respondo: “Eu vali a pena!”. Eu gerei, eu plantei, eu lutei com as armas da minha geração – cada geração tem as suas armas e é com elas que deve lutar sem ficar a carpir mágoas por não ter as de outros tempos... – ganhei e perdi, vivi! Eu semeei ideias para mudar pessoas e comportamentos, e o mundo que me viu nascer, o mundo onde nasci, chegando a todas as partes, via Internet. Infelizmente, pouco ou nada fui escutado. Nem nos meus livros, nem nos meus blogs. Talvez um dia! Mas as ideias novas aí ficam para quem as quiser aproveitar e, com elas, mudar o mundo, humanizá-lo, criar a imprescindível fraternidade universal, todos irmãos uns dos outros e não o “homo homini lupus”, “homo” que foi dos romanos e continua a ser nos nossos dias, nas pseudo-democracias criadas por esse mundo, pois todos escravos da tirania do dinheiro, da usura, da ganância de uns quantos que dominam – são “lupus”! – a maior parte da humanidade, não tendo qualquer pejo em deixá-la morrer à fome ou de doença, se isso acarretar ganhos para a sua conta bancária...
Então, e ainda, a última, a derradeira mensagem para os que ficam será: “VIVEI DE MODO A QUE, NO FINAL DA VOSSA VIDA, POSSAIS DIZER, COM UM SORRISO NOS LÁBIOS, SORRISO EMBORA JÁ ALI FENECENDO PELO DESENLACE FINAL: “EU VALI A PENA”!
A...........deus!!!!!
(NOTA: Escrevi isto num dia de euforia. Se o tivesse escrito em dia de depressão ou de desilusão de sucessos não obtidos, dias que de vez quando me atormentam o gostinho da vida, certamente teria sido outra a “literatura”. Mas foi bom que assim não tivesse sido...)

3 comentários:

  1. Acontece! Mesmo aos melhores! O verbo "cozer" é traiçoeiro, pois escreve-se "cozer" se for de "cozinhar", "coser" se for de "costurar". No texto, aparece o Sol a cozinhar as flores, logo é "coza" e não "cosa", como ali aparece, lapso que, por razões desconhecidas o blogger não me permitiu corrigir in loco. É sempre bom aprender e ter a humildade de reconhecer o erro...

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  2. Francisco boa tarde.
    Passei pra desejar uma semana excelente a você!
    Muita luz sempre!


    Gostei dessa frase: “VIVEI DE MODO A QUE, NO FINAL DA VOSSA VIDA, POSSAIS DIZER, COM UM SORRISO NOS LÁBIOS, SORRISO EMBORA JÁ ALI FENECENDO PELO DESENLACE FINAL: “EU VALI A PENA”!"

    Muito bom!
    Um grande abraço!

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    1. Caríssima Luciene, eu adorei ter escrito tal frase. É que dá tanto sentido às nossas vidas, não dá?
      Retribuo abraço a dobrar...

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