sexta-feira, 3 de maio de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (24/?)


    O convite da bonita Maria Madalena, embora difícil de recusar, era raramente aceite, preferindo eu continuar pregando de dia, rezando a sós de noite, como que adivinhando que não teria muito tempo para convencer o mundo que me rodeava da minha mensagem de Boa Nova. Mais que asceta, solidário com o mundo, não?! É que a Boa Nova seria a vinda triunfal de Deus rodeado de poder e majestade para governar a Terra, intervindo directamente na História como, aliás, fizera ao longo de séculos com Israel, não havendo por esse lado nada de realmente novo, sugerindo, no entanto, a criação de um Reino ideal com a restauração das doze tribos de Israel e um mundo onde a paz e a justiça, o amor e a fraternidade universal finalmente iriam prevalecer. E a vida tornar-se-ia um banquete permanente, dando o rico ao pobre, ajudando o pobre o rico para merecer o seu sustento, acabando-se com todos os sofrimentos e todas as injustiças à face da Terra. Depois de apregoar a todos esta Boa Nova, teria tempo para descansar, banquetear-me com os eleitos no Reino de Deus, ser parte integrante dele: “Vereis o Filho do Homem vir sobre as nuvens...”, talvez distribuindo benesses a todos os deserdados da sorte, pois “Pobres sempre os tereis convosco”, talvez curando em nome do Altíssimo, que se dignara vir tomar conta da Terra, todos os doentes e não apenas alguns, mostrando o poder divino que actuava através de mim: “Ide e contai a João: os cegos vêem, os coxos andam...”. Eu fora, eu era o enviado de Deus, do Pai do Céu que ao fim de muitos milénios de existência do Homem sobre a Terra se convencera que melhor mesmo era Ele vir tomar conta do governo do mundo para que as coisas tivessem algum sentido de ética e de moralidade, já que o Homem era incapaz de o fazer, todos se convertendo, todos participando na festa da vida: “Vim para que tenhais vida e vida em abundância.”! Um Reino quase de fazer inveja ao celestial para onde, afinal, iriam todos os que não se negassem a participar neste Reino de Deus na Terra, e ali para todo o sempre, pois a vida no tempo se acabara e começara a verdadeira, a eterna, para a qual a terrena seria apenas uma espécie de treino, de etapa, de preparação. Quem não aceitaria tal Boa Nova? Quem? Aliás, ai dos que não a aceitassem! Ai dos que não acreditassem em mim! Ai dos que não vissem em mim o Filho dilecto do Pai dos Céus, e Deus como um Pai! Seriam lançados ao fogo eterno, a geena, onde havia choro e ranger de dentes...
    Não havia dúvida: a tentação de apelar para uma vida eterna era incontornável. Sem essa vida eterna, num Paraíso com Deus ou num Inferno com o Diabo, a minha mensagem de fraternidade universal na Terra não teria a força necessária de convencimento de todos os Homens e, assim, mudar o mundo. Só a recompensa ou o castigo eternos seriam convincentes daquele panteísmo subjacente aos dois grandes mandamentos, colocando Deus em tudo, em todos e em toda a parte: “Ama a Deus sobre todas as coisas. Ama o teu próximo como a ti mesmo.”, sendo o primeiro mandamento semelhante ao segundo.

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