domingo, 26 de maio de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (27/?)


    Mas estes seriam acontecimentos que viriam a ter lugar cerca de três anos mais tarde. Por agora, Nicodemos só colocava a João as suas dúvidas quanto à capacidade de eu lhe dar uma resposta convincentemente fundamentada da realidade morte, da realidade imortalidade, da realidade eternidade junto de Deus. Lembrou-lhe também o meu conselho de ler o Livro da Sabedoria já que lá encontraria algumas das ideias que eu iria explanar durante a minha pregação a começar muito em breve. E o diálogo entre ambos continuou:
    − De tal leitura a que conclusões chegaste, amigo Nicodemos? − perguntou João, curioso.
    − Pouco convincentes, João, pouco convincentes. Fala de imortalidade. Fala de um Reino celestial junto de Deus que será a recompensa para os justos. Fala de eternidade. Mas...
    − Mas ficaste sem qualquer certeza de que sejamos realmente imortais, que o Reino dos Céus exista mesmo, que tenhamos uma vida eterna. Espero bem que não tenhas hesitado quanto à existência do próprio Deus!
    − Não blasfemes, amigo sacerdote! Se não, terás de ir purificar-te ao Templo e oferecer uma pomba em sacrifício de expiação conforme ordena a nossa Lei!
    Brincava Nicodemos. O tema das leis mosaicas de há mais de mil anos, ainda aplicadas naqueles tempos, viria a ser ainda assunto de discussão a sós com João, mas não, obviamente, no Templo onde seria cilindrado pelos sacerdotes da velha guarda para quem as tradições religiosas eram ou seriam sempre o factor de união de todo o povo de Israel. Como quebrá-las ou aniquilá-las, preferindo-lhes a liberdade de pensamento helenista? Isso seria perder a identidade do povo judeu que viveu sempre subjugado por tal Lei, provinda “sem qualquer dúvida” da boca de Javé, o todo-poderoso, o único e verdadeiro Deus!
    João retomou:
    − E agora?
    − Agora, como não tenho tempo, ocupado que ando nos negócios de meu pai, vou enviar o meu inteligente servo Levi para acompanhar Jesus e todos os dias me trazer notícias das suas pregações.
    − Se ele for o que tu pensas, uma espécie de Messias, ainda teremos muito que conversar. Ou será que não passa de mais um embuste, um impostor, um agitador de massas, um paranóico anunciador do fim dos tempos, como João Baptista que, pregando os seus medos, arrasta multidões ao rio Jordão a implorarem um baptismo de água?
    − Espero bem que não. Mas veremos e... conversaremos.

Sem comentários:

Enviar um comentário