sexta-feira, 26 de abril de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (23/?)

 

IV
O primeiro apelo à emoção
    “Anda comigo, Jesus, anda descansar um pouco em minha casa!” − dizia-me repetidamente Maria Madalena, uma das mulheres que cedo se interessou pela minha mensagem de fim do mundo. Aliás, as mulheres desempenharam um papel importante na minha vida pública, nomeadamente as que se tornaram minhas discípulas ou que ajudavam financeiramente o grupo dos doze que entretanto se formara à minha volta. E de tal facto os evangelhos canónicos dão excelente testemunho, mostrando o trato afável que sempre usei para com elas, desde Maria, minha mãe que me levou a fazer o “milagre” da transformação da água em vinho, àquela que sofria de corrimento e que eu “curei” louvando-lhe a sua imensa fé, passando pela acusada de adultério e que eu livrei de ser apedrejada, depois, pelas irmãs de Lázaro, Marta e Maria que frequentemente me recebiam em sua casa, até à samaritana com quem tive um longo diálogo à beira do poço de Jacob; e, claro, Maria Madalena.
    Maria Madalena era originária de Magdala, uma cidadezinha das margens do Lago Tiberíades ou Mar da Galileia, não longe da Cafarnaum e de Genesaré, muito a norte de Jerusalém, populações que foram as minhas escolhidas para começar a espalhar a mensagem do Novo Reino e angariar discípulos e seguidores. E, embora descendente da casa real de Benjamim, andava na sua tarefa de vendedeira ambulante de produtos importados do Oriente, como sedas, perfumes e especiarias, muitos deles trazidos pelas caravanas do pai de Nicodemos que, por estar velho, já tinha entregado ao filho quase todo o comércio em que prosperara. Problema era que Nicodemos, embrenhado em filosofias de influência fortemente helenista, devido à sua formação e cultura, deixara de se interessar pelos muitos ganhos que tal comércio proporcionava. O que verdadeiramente lhe ocupava raciocínios e pensamento era o dilema da salvação da alma. E se lhe era fácil resolver os problemas que provinham de negociatas mal feitas ou falhadas ou por ter sido vigarizado por este ou aquele intermediário, perdendo num lado mas recuperando noutros, não via como resolver os do foro do espírito que se tornavam cada vez mais prementes com o avançar da idade. Aliás, tinha ali o pai já a caminho do fim, vendo-o em sonhos a ser levado por Caronte na sua barca infernal para o Reino do Hades ou Reino dos Mortos, como lera nos clássicos gregos, e sentia-se com uma enorme responsabilidade de lhe dar esperanças de luz para tal caminho, que não aquela tenebrosa escuridão da barca infernal. Mas como? Como, se nada conseguia encontrar nas Escrituras que fizesse luz sobre tão magno problema existencial? Foi assim que a sua esperança se foi centrando nas possíveis respostas que eu lhe pudesse dar.

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