segunda-feira, 22 de julho de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (35/?)


    – Compreendo que queiras ser simpático para com os pobres, os deserdados da sorte neste mundo, condenando os ricos. Mas cometes dois erros: primeiro, ao aliciares os pobres com a mira no Céu na outra vida, eles vão conformar-se com a sua situação na Terra, não procurando riqueza valorizando os seus talentos, nem se revoltando contra a escravidão e exploração de que são vítimas; segundo, ao meteres todos os ricos no mesmo saco, mandando-os a todos para o Inferno, tornas-te a seus olhos incoerente, pois tu mesmo bem gostas de comer e beber com eles, acusando-te alguns de comilão e beberrão...
    – Às vezes, Nicodemos, é preciso tocar os extremos, exagerar até aos limites para que sejamos ouvidos apesar de criticados. Realmente é aos pobres que é necessário dar a esperança de uma vida melhor, uma vida fantástica, vida de sonho num qualquer Paraíso. E como neste mundo muito dificilmente lhes é possível tal vida, eu não tinha alternativa senão “dar-lha” no outro... Entendes agora?
    – És um génio, Jesus! Embora um génio enganador, perigosamente enganador! Creio que para todos: ricos e pobres. É que não salvas nem uns nem outros. Bem prefiro a essa tua descarada mentira de uma vida eterna no Céu, o teu amor ao próximo, o dar a outra face, o amar os inimigos, a fraternidade universal entre todos os Homens!
    – Permite-me que discorde de ti, amigo. Eu não minto: eu crio sonhos. Para os deserdados da sorte, todos os que sofrem, os que nada têm ou àqueles a quem tudo é roubado, nada mais resta senão o sonho. E isso é bom, é muito bom! Que importa que tal não seja verdadeiro? Aliás, nunca o saberão, pois todo o real, todo o sonho acaba com a morte. Mas o sonho que eu lhes dei permitiu-lhes terem a melhor vida possível na Terra, pensando que, um dia, iriam ser felizes para sempre no... Céu. Isto também é ser fraterno, ser humano...
    – Não sei se te louve se te condene. Aliás, não percebo porque não te contiveste perante a corrupção que grassava no Templo nem poupaste as autoridades religiosas instituídas, chamando-lhes todos aqueles lindos nomes que assanham qualquer pacato ânimo que esteja no mesmo barco, cavando ou antecipando assim a tua morte.
    – Não importa, Nicodemos, não importa a minha morte! Sei que vou morrer. Sei que me vão condenar, inventando coisas contra mim. Eles têm muito poder e facilmente convencerão o procurador de que sou um agitador como João Baptista e encontrarão qualquer outro crime para me condenarem. Estão feridos no seu orgulho e, a mim, ferir-me-ão de morte. Mas não me importa. Não sei se sou o Messias ou não, se sou o Filho do Homem que tantas vezes afirmei ser, se sou filho predilecto de Deus, a quem chamo de Pai que está nos Céus. Mas sei que travei um glorioso combate, que lutei contra um reino de corrupção e de trevas, o reino de Satanás, e que trouxe ao mundo uma mensagem de amor e não de ódio. De qualquer modo, creio sinceramente que não falta muito para o fim. O fim dos tempos, Nicodemos! O fim de tudo, a vinda do Filho do Homem e o Juízo Final. Como disse às multidões, esta vida realmente não importa. E eu não tenho medo: eles só me poderão matar o corpo, pois a alma...

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