sexta-feira, 5 de julho de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (33/?)

A vida adulta – VIII
O dramático encontro com Nicodemos
    Um dia, sentindo-me estar já próximo do fim, ao entrar em casa de Maria Madalena, cabisbaixo, meditabundo, cansado das muitas pregações fora e dentro do Templo, necessitando mais que nunca do repouso dos justos, tinha uma visita esperando-me: Nicodemos.
    Quando me viu entrar, levantou-se. Eu saudei-o:
    – Ao que vens, amigo Nicodemos? Deves estar muito zangado comigo por ter falado contra os da tua classe daquele modo tão desabrido mas sincero. Se achas que não tenho razão no que disse, fala! Terei muito gosto em ouvir-te.
    Ele hesitou. Poderia aproveitar a ocasião para um protesto, mas certamente pensou que, se nem todos, pelo menos muitos dos fariseus bem mereceriam o Inferno pela vida escandalosa que levavam, pela exploração que impunham ao povo inculto. Quanto a si, não quereria ser juiz em causa própria. Então, o seu bom senso prevaleceu e respondeu cordatamente:
    – Prefiro ocupar-me do que é essencial para a vida e não de trivialidades. Desculpa o meu pouco apreço pelas tuas invectivas contra a classe a que pertenço. É que outro assunto bem mais relevante, bem mais importante, o único assunto que deveria ocupar as nossas mentes, as mentes de todos os Homens, certamente também a tua, me interessa discutir contigo, talvez propor-to até como um negócio.
    Fiquei curioso. Mas, logo me lembrando daquilo que já na juventude, e mais recentemente ao iniciar a minha vida pública, me propusera que descobrisse, adiantei-me:
    – Já sei: a tua vida eterna! E fizeste bem em vir procurar-me antes que parta para o meu Pai que me enviou. O fim dos tempos vai chegar em breve, mas o meu, esse chegará ainda mais depressa! E é como dizes: a vida eterna no Céu é sem dúvida a única coisa que deverá, que deveria interessar o Homem nesta vida terrena. Em boa verdade, eu não tenho pregado outra coisa a não ser aquilo que procuras.
     – Acertaste, Jesus. Tu não tens falado de outra coisa: vida eterna no Céu para os justos, vida eterna no Inferno para os insensatos, tal como aprendeste no Livro da Sabedoria, embora seja livro que não pertence ao nosso cânone. Lembras-te de me teres recomendado também a sua leitura?
    – Claro! Aos nossos também não pertence o livro do profeta Daniel, mas foi nele que me inspirei para, tal como João Baptista, apregoar o fim dos tempos que se aproxima. Todos os sinais indicam que a seara está pronta para a colheita, Nicodemos. O Senhor não tardará a mandar trabalhadores para a sua seara. E quem estiver preparado...
    – És inexcedível em comparações, prolixo em parábolas, Jesus! Um autêntico mestre! Mas...
    – Mas não entendes o outro lado da vida, não é?
    – Isso mesmo: o outro lado da vida! Eu tenho-te acompanhado à distância, mandando o meu servo Levi escutar-te, ouvir-te, ver as curas que realizas... Mas em tudo o que disseste e falaste acerca do Filho do Homem, do Messias, do teu Pai que está no Céu, do Reino de Deus que vieste trazer à Terra, enfim, da vida eterna nesse Céu junto de teu Pai para os justos e no Inferno para os insensatos, de tudo isso, perdoa que te diga, nada me ficou de certeza. Apenas afirmações como as do autor do Livro da Sabedoria. Afirmações que não provas... E as tuas curas extraordinárias nada têm de realmente divino. Apenas revelam que és um excelente curandeiro com imensas capacidades de convencimento, apelando para a fé das pessoas nas suas próprias potencialidades de cura. Ou não é assim?
    – É como dizes, Nicodemos, é como dizes! Ah, a fé! A fé de arrasar montanhas! A fé que podes usar para dizer a esta montanha: “Vai lançar-te no mar!” e ela vai, essa fé é a que eu prego. E é essa fé que eu quero apresentar aos Homens não para se curarem de doenças terrenais, pois esta vida não pode durar sempre, mas para acreditarem na vida eterna no Céu, se forem justos e bons, aqui na Terra.

2 comentários:

  1. Um tema bem interessante do seu livro e gostei de ler.Profundas verdades!Abraços e boa semana,

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  2. Olá, Anne!
    Foi bom vê-la por cá. Será sempre bem-vinda!
    Abr.

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