segunda-feira, 1 de julho de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (32/?)

 
A vida adulta
VII
O cumprimento de um preceito
    No entanto, já em tempos de Primavera, num desses dias fervilhando de apelo aos sentidos, chegando eu, em fim de tarde, cansado de mais uma caminhada na minha pregação do Reino de Deus e do Fim dos Tempos, apresentou-se Madalena mais meiga, mais doce, mais sensual no trajar, para que eu não ousasse recusar oferta tão sedutora, cansada que estava de um amor platónico sem aquele contacto físico que dá real significado a uma vivência a dois. Pressentia que talvez eu não quisesse comprometer-me, constituir família com a tradicional mulher e os tradicionais filhos, para melhor poder dedicar-me à missão que pensava ter recebido de Javé-Deus. Mas isso não impediria que a aproximação entre nós fosse mais física, mais humana sem deixar de ser divina... Por isso, decidiu abertamente, ousadamente, ofertar-se, tentando que eu, como bom judeu, não desobedecesse à Tradição que “obrigava” todos os filhos de Israel a procurar mulher para com ela frutificar. Eu, perante tão ousada e ridente oferta, não me contive que não dissesse, sorrindo:
     − És um encanto, Maria! Tu és o meu encanto! Mas maior que esta missão na Terra que todo o homem tem obrigação de cumprir, obedecendo ao apelo do Génesis, é a missão que meu Pai que está nos Céus me confiou. Pensa que não serei o melhor marido para ti se é para isso que me queres. Além de que, embora nem a meio esteja da missão de anunciar o Reino de Deus, já vejo o horizonte carregado de nuvens negras anunciando-me o aproximar-se do fim.
    A Maria Madalena souberam a mel as palavras que saíram da minha boca e, inspirada, romântica, cordata, respondeu:
     − Só te quero a ti, meu Jesus. Só quero ser tua no corpo e na alma, na forma que mais te aprouver, enquanto houver tempo para nós.
    E entregou-se. E eu recebi-a. Maria seria para mim apenas o regaço onde repousaria a cabeça ao fim do dia, corpo onde colmatasse naturais desejos próprios de qualquer homem na flor da idade. A partir daquela noite, apresentei-a aos discípulos como a minha amada, mulher que estaria sempre comigo, ouvindo-me, servindo-me, juntando-se definitivamente à comitiva de outras mulheres que já nos acompanhavam e ajudavam nas indispensáveis tarefas domésticas...
    Eles, a quem eu aconselhara a deixarem tudo para me seguirem, não ficaram nada agradados com tal decisão. E perguntavam-se, alguns expressamente, outros, mais tímidos, apenas em pensamento: “Então, nós temos de nos abster de ficar com as nossas mulheres enquanto ele se faz acompanhar de uma linda beldade de fazer inveja a qualquer homem com desejos?” Mas perdoavam-me: eu era o Mestre! Eu tinha palavras de vida eterna! Eu poderia ser a excepção!
    Esta bonita relação perduraria até ao fim: tendo esticado em demasia a corda do meu mau entendimento com escribas, fariseus e doutores da Lei, os guardiães do Templo, não evitei a condenação à morte, morte que no entanto pensava fazer parte dos planos divinos, complemento da missão que meu Pai me confiara. Mas não partiria sem antes glorificar a Casa de David ao deixar semente no ventre de Maria Madalena que daria à luz uma bela criança, estando já eu no outro lado da vida.

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