sábado, 19 de janeiro de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (12/?)

    E foi numa das vindas a Jerusalém para visitar e engravidar mais uma vez a sua bela Herodíade, obedecendo ao preceito divino do “Crescei e multiplicai-vos!” que Nicodemos, subindo ao Templo para participar com os outros membros do núcleo sacerdotal e do Sinédrio, o sumo sacerdote à cabeça, na discussão das Escrituras e Leis, assistiu ao inesperado encontro com o jovem ainda imberbe que espantou a todos com o seu inusitado saber: eu!
    “Eureka!” − disse Nicodemos para consigo. “Encontrei! Encontrei!” – repetiu na sua língua, o aramaico. “Este é aquele que me irá descobrir a solução, me irá dar a resposta às tremendas dúvidas que há muito me atormentam!”
    Dotado de invulgar inteligência, Nicodemos não conseguia aceitar como única a religião judaica baseada na aliança que o povo de Israel fizera com Javé, tudo Javé determinando através dos seus profetas que escreviam leis e orações, salmos e cânticos, histórias e oráculos. Sabia que, para além desta, havia outras “verdades” arrogando-se também de divinas, encontrando-se uma delas na rica mitologia grega que fora adoptada pelos romanos, com todos os seus deuses a comandarem os destinos dos Homens, obedecendo, quisessem ou não, ao supremo que pontificava no Olimpo, Zeus para os gregos, Júpiter para os romanos. Estaria, pois, perante apenas uma versão da componente religiosa do Homem. Assim, de modo algum se poderia limitar a um Javé e às Suas inspirações, bonitas e de encantar umas, cheias de ódio e de vingança outras: “Executa a vingança de Javé!”, bradava o lendário Moisés do alto do seu intrépido comando, em Números e no Levítico.
    Apesar do muito dinheiro e da vida folgada, da bela mulher que lhe ia dando lindas crianças, nada lhe aliviava o pensamento do além da morte, pensamento que já havia ocupado muitos dos antigos filósofos, escritores e poetas, tanto das culturas tibetanas, chinesas e indianas, como das civilizações contemporâneas da Escritura, em que o deus Baal dos povos mesopotâmicos, sírios e persas lutava contra Javé, Deus único de Israel. E, embrenhando-se pelos pensadores mais recentes grego-latinos, lembrava-se da barca de Caronte que, na mitologia grega, transportava as almas dos mortos ao Reino do Hades e cujo fim obscuro não conseguia entrever ou compreender de modo a sossegar a sua ainda viva... Em certas noites, entrando no sonho, já se via em tal Reino sem saber o que fazer para se livrar da condenação eterna a umas trevas que lhe pareciam inevitáveis e sem alternativa. E voltava a perguntar: “Que tempo para além do tempo? Que respostas nos dão os que já partiram? Que segredos nos são escondidos pelos deuses ou pelo Javé das Escrituras que só muitos séculos depois de Se ter revelado a Moisés na sarça ardente, outorgando-lhe as Tábuas da Lei, inspirou o profeta Daniel para falar − duas frases apenas! − sobre a vida eterna? Afinal, o que me espera, o que espera o Homem depois da morte?” E mais contundentemente, quase as lágrimas lhe brotando de raiva por não ter ninguém a dar-lhe uma resposta: “Porque não vêm cá os que já partiram dizer-nos com clareza, e não através de sonhos ou inspirações sem qualquer credibilidade, digam-se ou não provindos de Deus, como é esse Além onde eles já há muito se encontram e donde parece não haver retorno?” Enfim, invectivando o Céu ou os deuses ou o único Javé, em altissonante brado: “Porque não falais, ó Vós que tendes da Eternidade o mando e o segredo?” Filósofos de outros tempos, outras culturas, falaram em mitos como o de Sísifo que fora condenado pelos deuses a carregar por toda a eternidade uma pedra, subindo uma montanha e, chegando ao cimo, ela se lhe escapava das mãos vindo ter ao fundo donde novamente e para sempre a teria de erguer, percorrendo o mesmo caminho. Mas tal castigo eterno revelava-se de tremenda injustiça já que a falta havia sido cometida num dado momento do Tempo por um ser subjugado à lei implacável desse mesmo Tempo. Nenhum deus poderia ser tão cruel, tão injusto, tão implacável! E, sendo mito, não interessava a ninguém, muito menos a Nicodemos que buscava tão somente a Verdade!
     Daí, a sua inspiração, uma espécie de revelação, um clic de luz na mente, ao ouvir-me falar com inusitada sabedoria: “É isso: vou ocupar-me da sua educação, vou incumbi-lo de me encontrar uma resposta para tão magnas perguntas, resposta que será a única a merecer ocupar o nosso pensamento, pois condicionará, nesta nossa vida terrena, toda a actividade do corpo e da alma, da physis e da psyké! − dizia em grego para se fazer compreender melhor a si mesmo – em ordem a alcançar a outra no Além eterno!”

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