Da total impotência perante a irreversibilidade da morte
Imaginemos um de 40. O peso da
impotência é enorme. Impotência do não haver nada a fazer. Nem importam muito
as causas, normalmente, incompreensíveis. Importa o facto, o real de ontem
ainda estar vivo e saudável e, hoje, ali encaixotado para a última viagem: o pó
da Terra, apenas átomos e moléculas prontos a voltarem para o donde vieram
inicialmente e foram vindo ao longo da vida.
Os crentes rezam, gemidos
daqui, choros dali, lamentos por uma vida que se foi e que ainda tinha tanto
para dar a si e aos outros. Mas todos sofrem, crentes e não crentes, partilham
dor, comentam causas, fazem promessas de cuidar melhor do corpo que os traz
vivos.
No velório, há encontros dos
que já não se viam há muito e, após os primeiros momentos de pesar e lamentos,
a conversa instala-se, animada, esquecendo-se completamente os mais próximos
que continuam de semblante carregadíssimo, olhos marejados de lágrimas, rostos
sofridos. Enfim, parece inevitável que estes encontros também façam parte dos
rituais fúnebres.
Mas os próximos, os pais, os
irmãos, os amigos mais amigos como suportar a dor da perda?
E lá vem a religião
consoladora, apregoando, baseando-se nos evangelhos, a vida eterna e a
esperança na ressurreição, já que Cristo ressuscitou dos mortos e foi-nos preparar
um lugar na casa do seu Pai, lá no Céu. Lindo, não é? Nestas ocasiões, que bom
é ser-se crente! Pronto: ficámos sem ele “cá em baixo”, mas nada está perdido,
pois iremos encontrá-lo, mais tarde, quando nos formos, “lá em cima”. E
continua-se: “Esta vida é apenas uma passagem para a verdadeira vida, a eterna.
Quem acredita em Mim, mesmo que morra, viverá”!
Problema maior é para os que
não acreditam, para os que sabem que o que as religiões dizem não é conforme à
realidade, nem à lógica, nem à História de qualquer ser vivo: pertencendo ao
Tempo, a única certeza absoluta que tem, ao nascer, é que, mais tarde, irá
acabar. Inexoravelmente!
Para estes, se próximos, a perda é muito mais irreparável. Para estes, a impotência perante o facto consumado é avassaladora, levando a uma dor muito mais profunda. Resta a consciência de que a vida continua para os que ficam. E que há que apressar o luto, sem esquecer que faz parte da vida, e pensar mais racionalmente do que emocionalmente. E fica a esperança de que a vida dos que ficaram perdure, e perdure com mais apego à alegria de viver!
Então, a morte será uma lição de vida, apelando,
mesmo na dor, ao sempre eterno “Carpe diem!” – Desfruta da vida o melhor que
puderes!
Ámen!...
Sem comentários:
Enviar um comentário