sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Ó morte, faz--me um favor: já que vim à VIDA, vem-me buscar bem tarde!

 Da total impotência perante a irreversibilidade da morte

 Olha, morreu o Fulano! Tinha 20, 40, 60, 80, 100 anos? – A idade importa. Morrer aos oitenta, ou depois disso, na actual sociedade ocidental, tem lógica e é facilmente aceitável pelos seus próximos. O morrer antes, não! E quanto mais novo menos aceitável se torna. É que a gente não se despede de uns pais já no fim do seu ciclo, mas de um filho, um irmão, um amigo de farras ou de trabalho.

Imaginemos um de 40. O peso da impotência é enorme. Impotência do não haver nada a fazer. Nem importam muito as causas, normalmente, incompreensíveis. Importa o facto, o real de ontem ainda estar vivo e saudável e, hoje, ali encaixotado para a última viagem: o pó da Terra, apenas átomos e moléculas prontos a voltarem para o donde vieram inicialmente e foram vindo ao longo da vida.

Os crentes rezam, gemidos daqui, choros dali, lamentos por uma vida que se foi e que ainda tinha tanto para dar a si e aos outros. Mas todos sofrem, crentes e não crentes, partilham dor, comentam causas, fazem promessas de cuidar melhor do corpo que os traz vivos.

No velório, há encontros dos que já não se viam há muito e, após os primeiros momentos de pesar e lamentos, a conversa instala-se, animada, esquecendo-se completamente os mais próximos que continuam de semblante carregadíssimo, olhos marejados de lágrimas, rostos sofridos. Enfim, parece inevitável que estes encontros também façam parte dos rituais fúnebres.

Mas os próximos, os pais, os irmãos, os amigos mais amigos como suportar a dor da perda?

E lá vem a religião consoladora, apregoando, baseando-se nos evangelhos, a vida eterna e a esperança na ressurreição, já que Cristo ressuscitou dos mortos e foi-nos preparar um lugar na casa do seu Pai, lá no Céu. Lindo, não é? Nestas ocasiões, que bom é ser-se crente! Pronto: ficámos sem ele “cá em baixo”, mas nada está perdido, pois iremos encontrá-lo, mais tarde, quando nos formos, “lá em cima”. E continua-se: “Esta vida é apenas uma passagem para a verdadeira vida, a eterna. Quem acredita em Mim, mesmo que morra, viverá”!

Problema maior é para os que não acreditam, para os que sabem que o que as religiões dizem não é conforme à realidade, nem à lógica, nem à História de qualquer ser vivo: pertencendo ao Tempo, a única certeza absoluta que tem, ao nascer, é que, mais tarde, irá acabar. Inexoravelmente!

Para estes, se próximos, a perda é muito mais irreparável. Para estes, a impotência perante o facto consumado é avassaladora, levando a uma dor muito mais profunda. Resta a consciência de que a vida continua para os que ficam. E que há que apressar o luto, sem esquecer que faz parte da vida, e pensar mais racionalmente do que emocionalmente. E fica a esperança de que a vida dos que ficaram perdure, e perdure com mais apego à alegria de viver! 

Então, a morte será uma lição de vida, apelando, mesmo na dor, ao sempre eterno “Carpe diem!” – Desfruta da vida o melhor que puderes!

Ámen!...

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