quinta-feira, 28 de abril de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 95/?

À procura da VERDADE nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS 

 ECLESIASTES (ou Coélet) – 2/5

- “Então, examinei as coisas que se fazem debaixo do Sol (…). Decidi 
conhecer a sabedoria (…) e compreendi que (…) onde há muita sabedoria, 
há também muita tristeza e onde há mais conhecimento, há também 
mais sofrimento.” (Ecl 1,14-18)
- Não há dúvida! Se não soubesses tantas coisas! Se não tentasses 
tanto em compreender Deus, a ti, ao Universo, não te preocuparias tanto 
com o que vais encontrar no Além, nem viverias a angústia 
permanente de não saber com certeza no que te tornarás e com que 
consciência, quando estes teus dias chegarem ao fim. A 
clarividência - sabedoria! - de saber isto com a precisão de um 
matemático, é… angustiante, irritante, sofredora! Quanto mais feliz não 
viverá o que simplesmente acredita no Céu para os bons, no Inferno para 
os maus, fazendo-se então justiça, colmatando-se nesse Céu, com 
Deus e os seus anjos, tanta sede de felicidade, sobretudo para quem 
vive uma vida de sofrimentos e privações…
Mas também já dissemos, noutros contextos, que, já que o termo dos dias 
do ser vivente é irrevogável, já que o tempo se escoa com a impávida e 
serena monotonia síncrone de um dia suceder a outro dia, numa cadência 
absolutamente metrificada, sem que possamos pedir a um segundo que 
ande mais devagar ou a outro que ande mais depressa…, o melhor mesmo 
é gozar a vida, adorar este Sol que nos aquece o corpo e a alma que ele 
contém, gritando a toda a gente a nossa alegria de viver connosco e com 
eles e com todas as flores da Terra e todas as estrelas do firmamento!
Pois, para quê tristezas, caro Coélet?! Os ingénuos, néscios, ignorantes 
pouco mais vêem que a ponta do seu nariz e cantam alegrias num copo 
de vinho ou deleitam-se com uns óculos escuros… Nós, que temos a 
sabedoria, se nos entristecermos pelo conhecimento das coisas e do 
efémero da existência, não estamos a ser mais néscios do que eles? No 
entanto, não deixa de ser um problema existencial: pela emoção que a 
crença nos traz, pela frustração que nos provoca o saber que, após esta 
existência, é o… NADA ABSOLUTO E ETERNO que nos espera!
- “(…) Vou fazer-te experimentar a alegria e conhecer o prazer! (…) Do 
riso, eu disse: Tolice! E da alegria: Para que serve? Então, decidi 
entregar-me à bebida nessa minha busca da sabedoria e entreguei-me 
à insensatez, para descobrir o que convém ao Homem fazer debaixo do 
céu no curto tempo de vida. Realizei grandes obras: construí palácios, 
plantei vinhas, fiz jardins e pomares (…) Comprei escravos e escravas 
(…) Possuí muito gado (…) Acumulei prata e ouro (…) Arranjei cantores 
e cantoras (…) Não recusei nada do que os meus olhos pediam e 
nunca privei o meu coração de nenhum prazer. (…) Então, examinei 
todas as obras que havia feito e o trabalho que me tinham custado. E 
concluí que tudo é fugaz e uma corrida atrás do vento e que não há 
nada permanente debaixo do Sol.” (Ecl 2,1-11)
Pergunta-se: Porque é tolice o riso? Não alivia o riso as tensões do corpo 
e da alma? E a alegria? Não tem ela o condão de criar o gozo e o prazer 
da vida, em ti e nos que te cercam? Não percebo é como buscas a 
sabedoria, entregando-te à bebida… Enfim, certo certo é que realmente 
nada há de permanente debaixo do Sol, nem mesmo o próprio Sol!
- “O sábio (…) e o insensato (…) ambos têm o mesmo destino (…). Vou 
ter o mesmo destino do insensato! Para quê me tornei sábio? (…) De 
facto, a lembrança do sábio desaparece para sempre como a do insensato 
(…) O sábio morre da mesma forma que o insensato.” (Ecl 2,14-16)
Mesma é a morte, claro! E depois? Aqui, Coélet não chega ao Céu, 
nem… ao Inferno! Nós, que duvidamos fortemente que Céu e Inferno 
existam em algum lugar, alguma dimensão, também não!
- “Detesto todo o trabalho com que me afadigo (…) porque devo deixar 
tudo para o Homem que virá depois de mim (…)” (Ecl 2,18)
Mas, caro Coélet, não há ao menos o gosto de se sentir realizado no 
trabalho? O gostinho da coisa bem feita?!
- “ (…) A felicidade do Homem está em comer e beber, desfrutando o 
fruto do seu trabalho (…)” (Ecl 2,24)
Interessante… No entanto, só materialismo! Podias, Coélet, pensar um 
pouco no prazer de ouvir uma bela música ou olhar os horizontes 
perdendo-se no infinito, não?!
- “A quem Lhe agrada, Deus concede sabedoria, conhecimento e alegria. 
Mas ao pecador, Deus impõe a pena de juntar e de acumular para quem 
agrada a Deus.” (Ecl 2,26)
Embora se possa apreender como metáfora, é um pouco estranha esta 
ideia de Deus; mais estranha ainda, porque fora da realidade, é a ideia do 
pecador acumular para o justo.


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