segunda-feira, 21 de março de 2016

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 93/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS

Livro dos PROVÉRBIOS 4/4

Terminando, diz o “nosso” comentador: “Esta colecção de “palavras 
dos sábios” (Pr 22, 23 e 24) inspira-se claramente no livro egípcio 
conhecido por Sabedoria ou Ensinamentos de Amenemope que, por 
volta do ano 1000 a.C., já circulava pelo Médio Oriente. (…) São trinta 
máximas que se inspiram na estrutura do texto egípcio, adaptado à 
perspectiva da religião javista.” E nós não entendemos: Afinal a 
inspiração veio de Deus, ou do povo egípcio ou, simplesmente da 
experiência de toda uma cultura? Quando se mistura o humano e o 
sagrado, a confusão instala-se… Bem, eis algumas mais significativas:
- “Não explores o fraco (…) Não faças amizade com pessoa colérica 
(…) Não sejas como aqueles que se comprometem facilmente (…) 
Não mudes os marcos das terras (…) Não te empenhes em adquirir 
riquezas (…) Não comas na casa do injusto (…) Não percas tempo a 
falar com o insensato (…) Disciplina a tua mente (…) Não deixes 
de disciplinar o jovem (…) Não tenhas inveja dos pecadores (…) Não 
te juntes aos beberrões e comilões (…) Não desprezes a velhice (…) 
Não conspires contra a casa do justo (…) Não te alegres quando o teu 
inimigo cai e não rejubiles quando ele tropeça (…)” (Pr 24,17) - 
No geral, tudo bons propósitos, bons conselhos. Nesta última, faz 
lembrar Jesus Cristo quando diz: “Amai os vossos inimigos!”. De 
qualquer modo, contradiz-se totalmente com o anterior AT onde 
se implora a Javé que destrua o inimigo, inimigo a quem Javé 
dedica muito do seu ódio… Aliás, parecendo ter notado tal 
incongruência, acrescenta:  “Javé poderia ver isso, ficar 
descontente e retirar dele a sua ira.” (Pr 14,18) Estragou tudo! 
E o motivo de Javé é, simplesmente, perverso!!!
- “Nunca digas: Vou fazer-lhe o mesmo que ele me fez a mim. Vou 
pagar-lhe como ele merece.” (Pr 24,29) - A ideia é não pagar o mal 
com o mal. Aqui, sim! Ultrapassa-se a lei de Talião do “Olho por 
olho, dente por dente” Soberbo! Quase divino!... Raro no AT. 
Mas… quem poderá contestar que a lei de Talião não é justa? Se me 
matas o meu filho, não tenho o direito/dever de matar o teu? – Enfim, 
perdoar é mais difícil mas, sem dúvida, bem mais “divino”…
- “Se encontraste mel, come apenas o suficiente para não ficares enjoado 
e o vomitares.” (Pr 25,16) - Dirão mais tarde os latinos: “In médio, virtus.” 
(No meio, está a virtude.)
- “Não frequentes demasiado a casa do teu próximo para que ele não se 
canse e aborreça de ti.” (Pr 25, 17) - É como o sal na comida…
- “Se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de 
beber.” (Pr 25,21) - Já faz lembrar Jesus Cristo! E, mais uma vez, é uma 
reviravolta total em relação aos livros anteriores. Mas, também mais uma 
vez, o autor parece arrepender-se: “Deste modo, fá-lo-ás corar de 
vergonha e Javé te recompensará!” (Pr 25,22).
- “É melhor uma repreensão franca do que uma amizade fingida.” (Pr27,5) - 
Claro!
- “Goteira a pingar em dia de chuva e mulher desordeira são coisas iguais. 
Querer segurá-la é como segurar o vento ou reter o azeite com a mão.” 
(Pr 27,15-16) - Decididamente, a mulher não era das simpatias deste autor 
ou destes sábios antigos eivados de um machismo primário! “Esta Bíblia 
não é, de certeza, de inspiração divina!” – dirá qualquer mulher que esteja 
atenta à vida… Ou… talvez não. É que o autor termina o seu livro com 
um hino de suposto louvor à mulher: “Quem poderá encontrar uma 
mulher forte? Ela vale mais que as pérolas. O seu marido confia nela e não 
deixa de encontrar vantagens. Ela traz-lhe a felicidade (…) Adquire lã e 
linho (…) É como navio mercante (…) Ela levanta-se ainda de noite (…) 
Examina um terreno e compra-o (…) Prepara-se para o trabalho (…) mesmo 
de noite, a sua lâmpada não se apaga (…) Abre as mãos ao pobre (…) 
Tece mantas (…) Abre a boca com sabedoria (…) Supervisiona o 
andamento da casa (…) e o seu marido elogia-a: Muitas mulheres são fortes 
mas tu superaste-as a todas!” (Pr 31,10-29) - Será um elogio à mulher ou… 
à escrava do lar e… escrava do marido?! Afinal, qual o trabalho de tal 
marido?!
- A propósito, comenta-se: “Mais do que o elogio a uma determinada esposa, 
o poema proclama a sabedoria personificada como esposa ideal que 
encaminha o homem para a justiça, honra, prosperidade e vida. É a 
companheira ideal para todos, homens e mulheres.” (ibidem) Enfim… é 
mais uma honesta tentativa, deste exegeta, de salvar a face da Bíblia! 
Salvará?! Aliás, os exegetas são peritos em descortinar interpretações 
metafóricas daqueles textos da Bíblia que, se tivessem sido inspirados por 
Deus, deixariam o mesmo Deus ficar com péssima reputação. Por isso… 
Contudo, é inadmissível, porque intelectualmente desonesto, que os 
exegetas, quando lhes “convém”, interpretem a Bíblia em sentido literal; nos 
outros casos – que são muitos! – socorrem-se dos subterfúgios 
interpretativos que normalmente dão para tudo…

- E… terminámos! Mais um livro! Cheio de verdades boas para a vida 
do Homem na Terra. Para a sua eternidade no céu, NADA!… 

1 comentário:

  1. Também hoje começa a "Semana santa", também chamada "Semana maior" pelo significado que tem para os cristãos, já que se comemoram os fundamentos do Cristianismo: morte (para salvar a humanidade e redimi-la do pecado original) e Ressurreição (penhor da ressurreição de todos os crentes) de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
    Compreende-se que assim seja. Quem tem fé naquilo que lhe "venderam" como Verdade deve chorar a morte de JC e festejar a sua ressurreição.
    Mas... quem faz uma análise crítica e histórica do que realmente terá acontecido, não dando total credibilidade aos evangelhos, cujos originais se perderam, havendo apenas cópias do séc. III, o que permitiu toda a espécie de acrescentos e mutações, conforme as conveniências da doutrina então imposta, a começar por Paulo, logo pelos anos 50/60..., não pode deixar de encontrar inúmeras contradições nos relatos do supostamente acontecido, sobretudo no que respeita aos fenómenos extraordinários - milagres! - que acompanharam a morte de JC e a sua suposta ressurreição, aparições e subida ao Céu, indo para junto do Pai.
    Tudo muito bonito, cativante, mas... simplesmente fruto da fantasia dos primeiros construtores/inventores do Cristianismo. Disso, falaremos a seu tempo. Já na próxima semana, introduziremos - fazendo uma pausa na análise dos livros bíblicos - o tema: "Os pés de barro das três religiões monoteístas."
    A todos, crentes e não crentes, BOA PÁSCOA E FESTAS FELIZES!

    ResponderEliminar