terça-feira, 16 de setembro de 2014

Existir: drama ou a glória de ter vindo à vida? (1/4)


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O nascimento de Vénus, Boticelli
1 – Numa perspectiva terrenal, sem olhar o… céu!

Quem diz: “Isto, a vida, é uma maçada!”, “A vida está difícil”, “A vida é complicada!”, não será certamente por detestar a própria vida mas apenas pelo modo como a cada um é permitido vivê-la. E não há dúvida que muitos dramas existem por esse mundo fora, dramas nas nossas próprias vidas, dramas nas vidas dos que nos estão perto. Para muitos – infelizmente, a maior parte! – o drama é a luta pela sobrevivência, pelo conseguir o pão do dia-a-dia, pelo fugir às guerras, às doenças, às intempéries, estando as sociedades humanas organizadas de tal modo que a vida apenas foge a esses parâmetros infernais numa percentagem pequena da população, digamos uns 10% dos sete mil milhões que já somos, numa Terra saturada de humanos… E, claro, há os que, tendo todas as necessidades básicas satisfeitas, inventam dramazinhos no dia-a-dia, infernizando a vida dos outros e a própria, valorizando coisas mesquinhas, fazendo beicinho pela falta de uma atenção, de um beijo, de um carinho..., sinal óbvio de estupidez e de espírito não pensante, pois não se valoriza o bom e o positivo que a vida tem, nem se sabe cultivar o sorriso.
Para minimizar/anular os efeitos dos pequenos azares, sejam no plano físico sejam no psicológico, que nos vão acontecendo no dia-a-dia, propõe-se um simpático exercício:
1 – Deitar-se confortavelmente em fofo tapete; 2 – Fechar os olhos e descontrair completamente; 3 – Sentir-se a desaparecer, primeiro a carne, ficando o esqueleto, depois os próprios ossos, levando o vento, num sopro, as cinzas que ainda restam… Aí, teremos a noção exacta do que realmente somos: NADA! E, quer queiramos ou não, quer o admitamos ou não, quer o façamos repercutir nas nossas vivências ou não, a realidade nua e crua, a realidade inexorável, a única VERDADE ABSOLUTA acerca de nós aí está: NASCEMOS, VIVEMOS, MORREMOS! Inexoravelmente! É: o ETERNO DESAPARECIMENTO, com os nossos átomos e moléculas a incorporarem-se em outros seres vivos ou não vivos, é o nosso inexorável destino…
Então, a pergunta impõe-se: se a vida está condenada à morte, valerá a pena viver? Valerá a pena lutar pela sobrevivência? Valerá a pena uma vida cheia de sofrimentos, nem sequer tendo tempo ou disposição – estômagos vazios, carteira vazia, bolsos vazios! – para olhar as estrelas e saborear o Sol que em cada manhã se levanta? Que mal faz que nos suicidemos, sobretudo se mais não fazemos na vida do que lutar, sofrendo, para sobreviver? Ou: que nos adianta a glória de ter vindo à vida, se nos calhou em sorte uma vida de sofrimento? (Deixemos de parte, por irrelevante, esses suicidas fundamentalistas que pensam acordar do “outro lado”, no Paraíso – Paraíso, obviamente não existente! – se se imolarem por uma “boa causa”…)
Suicídio! – Oh, não! Seria um desperdício, uma injustiça sem perdão – embora não haja ninguém para condenar o suicida! – contra a própria vida, este dom fantástico que só a poucos é concedido, seja pela Mãe-Natureza, seja pelo Deus em quem cada um acredita. Lembrem-se: dos cinco milhões de espermatozoides que lutaram para atingir o óvulo que nos deu origem, só o “nosso” triunfou gloriosamente; e aí fomos nós concebidos, tendo sido relegados para o lixo os outros 4.999.000! Então, perante tamanha façanha da luta pela vida e para sermos nós e não um nosso suposto irmão, que aliás nunca o seria porque nós simplesmente não éramos, se fosse ele o escolhido…, íamos assim destruir a única hipótese que nos foi dada para apreciarmos a luz, o Sol, as estrelas, toda a beleza do Céu, da Terra, do Universo?
Ah, a VIDA! Como deveríamos agarrá-la com ambas as mãos e vivê-la sempre intensamente, em cada momento de cada dia, de cada noite que passam por nós, num ápice de tempo, e que nunca mais se repetem…, sempre os primeiros dia ou noite do resto das nossas vidas, do tudo que nos falta viver! E, seja qual for a nossa idade, o que nos falta viver, será sempre tão pouco, tão pouco, tão pouco!…
Que a vida seja luta, que seja! Que não deva ser desperdiçada, não deve! Que se trabalhe para que tenhamos uma vida boa e digna, nós e os que nos rodeiam de perto ou de longe, sem dúvida! Mas… VIDA! Sempre a jorros! Sempre sorrindo! Sempre cantando e dançando, pois viemos à VIDA para que esta fosse uma festa perene e não um inferno ou um pesadelo. E, por este objectivo, vale a pena lutar. Aliás, lutar por um mundo melhor para todos – para nós também, obviamente! – será uma excelente forma de sorrir à VIDA!
Viva, pois, o SORRISO, mesmo quando a vontade seja de chorar!...
Estou escrevendo, sentado num jardim, fazendo-me sombra uma frondosa palmeira. Terá talvez a minha idade. Mas viverá certamente muito para além de mim e, quem sabe, talvez ainda se alimente de alguma molécula minha quando as minhas cinzas forem espalhadas ao vento, do alto de um qualquer penhasco à beira-mar. No entanto, há também, à minha frente, flores que revelam a fragilidade e a fugacidade da vida: ontem tão charmosas e cheias de cor, hoje já fenecendo, incapazes de fugir ao ciclo: nascimento-vida-morte. E chegou uma borboleta: gloriosa na sua profusão de cores apelativas para qualquer companheiro; para essa, será apenas a espera pelo acasalar e passar o “testemunho”, antes da morte que a espreita já ali no fim da tarde… Claro, não esqueço de olhar o céu: as nuvens deslizam suaves ao sabor da brisa, deixando brilhar lagos de azul profundo. É assim, neste preciso momento, era assim há cem, mil, há milhões de anos; e continuarão assim ainda pelos 4 mil e quinhentos milhões de anos que a Terra tem de vida… Com formas semelhantes mas nunca iguais… Para gáudio dos que, em sucessivas gerações, souberem olhar o céu… A nossa oportunidade é… ESTA! Outra chance não a teremos, de certeza absoluta! Por isso…

Que sorte a nossa termos vindo à VIDA! Que SORTE!
















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