domingo, 11 de agosto de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (38/?)

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (38/?)

    – Comoves-me, Nicodemos! As lágrimas correm-me pelas faces de impotência de satisfazer o teu pedido. Não que quisesse o teu dinheiro, pois para quê o dinheiro se, como creio, o fim dos tempos se aproxima, se o jugo romano continuará a calcar-nos aos pés não sabemos por quantas gerações, se restaurar as doze tribos de Israel é missão quase ou mesmo impossível, se dinheiro é sinónimo de escravidão? Simplesmente porque, se conseguisse dar-te a certeza da vida eterna que em mim vieste procurar, também a teria para mim e para os que, acreditando, me seguiram. Mas realmente, não te posso dar certezas, não posso dar certezas a ninguém a não ser as da Fé. E quem tiver fé salvar-se-á; quem a não tiver já estará condenado.
    – Voltas a repetir-te, a repetir o Livro da Sabedoria.
    – Pouco importa o que repita, Nicodemos! Mas sinto em mim um ímpeto incontrolável de continuar a apregoar, até ao fim dos meus dias, que quem acreditar em mim terá a vida eterna. E para que sejam muitos, seja multidão os que acreditam, continuarei a apregoar-me como o Filho do Homem, o Messias, o Filho de Deus, a quem chamo “o meu Pai que está no Céu”, rei de um Reino de Deus que se instaurará no seio do povo de Israel, povo que aceitará a conversão para ter a salvação no Juízo Final em que eu, sentado à direita de meu Pai, participarei, encarregando-me de chamar para a vida eterna no Céu os justos, os eleitos, os que acreditaram, enviando para o Inferno todos os corruptos e exploradores do povo pobre e humilde. Só assim, conseguirei que muitos acreditem em mim e na minha mensagem. Esta a minha missão. Esta a missão de que meu Pai me incumbiu e de que terei de dar contas quando for a julgamento. Se não me tornar divino quem me acreditará? E como as obras que faço dão testemunho de que estou com Deus...
    A estas minhas inflamadas e repetitivas palavras, Nicodemos não se conteve e, quase se exaltando, desabafou:
    – Tresloucaste, Jesus! Falas como um alucinado e não como um homem de razão! Dizes estar com Deus, mas apregoas uma falsidade, uma descarada e colossal mentira!...
    E eu, facilmente argumentando:
    – Mas, ó homem, é uma falsidade, uma mentira, se quiseres, por uma boa causa! Não prejudica ninguém. Se dissesse a Verdade, a verdade de que estou convencido, seria igual a ti, igual a tantos outros que nada de novo trouxeram ao mundo, pois sem qualquer esperança de imortalidade.
    – Talvez tenhas razão. Infelizmente para mim, eu não consigo aceitar senão a Verdade, a verdade do insensato do Livro da Sabedoria. E vais partir sem teres dado qualquer luz às minhas esperanças, já que os teus dias parecem estar a chegar ao fim...
    – Sim: não creio passar além da Páscoa. Ir-me-ão acusar, irão virar contra mim até as multidões que me aclamaram quando entrei em Jerusalém, e exigirão a minha morte como um impostor, um agitador, um mentiroso. Afinal, com alguma razão: nem o fim dos tempos chegou nem restaurei o reino de Israel, e o meu Reino de Deus parecerá a muitos carregado de incerteza e de mistério, não passando além da fé.
    – Fé que para muitos, sobretudo para os helenizados, é muito pouco ou... nada!

Sem comentários:

Enviar um comentário