sábado, 3 de agosto de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (37/?)

    – Desculpa-me, Nicodemos! E, em ti, peço desculpa a quantos ludibriei, apelando para a sua fé em realidades que eu sei inexistentes, mas que são tão convidativas, tão apelativas ao desejo e ao sonho... Nisso, fiz o meu melhor! E quem acreditar em mim, quem acreditar na minha mensagem e no meu Reino, terá uma vida boa na Terra, porque ajudar-se-á a ser feliz, participando no amor ao próximo se tiver riqueza para partilhar, ou usufruindo da partilha de outros por se sentir em necessidade; depois, terá, em imaginação, no sonho, na fantasia, a eternidade em que acreditar, no tal Céu com Deus e os seus anjos, nos seus tronos, nos seus cantos sem cessar em melodias de perene encantamento. Por toda a eternidade! E perguntar-te-ia mais uma vez: “Que mal faz pensar que isto será a Verdade? Porque não viver da fantasia que é a única realidade que certamente não nos fará desesperar já que, como diz a Sabedoria, nenhum dos tantos que já se foram antes de nós, ou dos muitos que estão partindo neste momento, ou em breve irão partir, como o teu pai, veio ou virá cá dizer-nos o que realmente se passa lá do outro lado?” Como nenhum deles veio, nem vem, nem virá, é totalmente certo que o insensato da Sabedoria tem razão: eles apenas voltaram ao pó donde vieram e o pó não pode trazer outra mensagem senão a do pó em que nos tornaremos. Eles, nós, todo aquele que nascer do pó! Mas é bom, será bom acreditar: ganha-se a simpatia e a leveza da vida nesta Terra e, de certeza, se a houver, ganhar-se-á também a vida eterna no Céu. O teu dinheiro, guarda-o ou faz como eu disse ao jovem: Se quiseres ser perfeito... O Reino que eu prego não é realmente deste mundo: é do outro, quer ele exista quer não. Se quiseres, não o outro, mas outro mundo. E nesse mundo, tudo se pode conceber, imaginar, fantasiar: o Céu com tudo o que há de bom e de belo para os justos, o Inferno com tudo o que há de feio e mau para os insensatos e prevaricadores. É por isso que eu digo, sem faltar à verdade, que quem acreditar em mim acredita no Pai que me enviou e fará parte do Reino que, embora não sabendo ao certo se existe ou não, gostaria com toda a alma que fosse verdadeiro. Verdadeiro, primeiro, para mim, depois, para todo o ser humano que teve a dita de ter vindo à luz do dia e da... vida!
    – Falas bem, Jesus! Entendemo-nos! Obrigado! Se deste o teu melhor... Mas que pena que o teu melhor não tenha sido a “outra” realidade e tenhas sido, afinal, “obrigado” a pregar um mundo eterno de fantasia! Pregaste aquilo que gostarias que fosse, aquilo que todo o Homem gostaria que fosse mas... não é! Ou tudo leva a crer que não seja!... Realmente, com toda a minha fortuna poderias construir uma nova Israel, um novo reino, restaurar as doze tribos perdidas na História, desde o primogénito de Jacob, Rúben, até ao mais novo, Benjamim. Não certamente um reino da pólis, pois não terias exército capaz de derrubar o vil usurpador da nossa liberdade, nem serias capaz de nos libertar desta pata romana que nos esmaga com impostos. Teria de ser um reino apenas de religião, em que tu, sendo rei, implorasses o auxílio de Javé, como antigamente, para venceres o inimigo não pela força que não tinhas mas pela astúcia, guiado pela mão de Deus, o braço forte de Javé que protegeria o seu povo contra o inimigo. Talvez, por agora, e para não tentar o poder e a paciência divinos, apenas um reino em que as doze tribos estivessem representadas pelos seus sumos sacerdotes e doutores da Lei, nos quatro cantos de Israel, divididos a contento por todas elas. Ser-te-ia possível? Não foi isso que querias dizer aos teus discípulos, quando lhes disseste que no Céu seriam eles a sentarem-se em doze tronos e a julgarem as doze tribos de Israel? E certamente foi tal reino da pólis ou do mundo aquele que a mãe dos filhos de Zebedeu te veio pedir quando quis que sentasses um dos filhos à tua direita e outro à tua esquerda... Era, Jesus! Eu dava-te de boa vontade toda a minha fortuna em troca da vida eterna que me prometesses em algum lugar lá no Alto, em troca do tesouro de que falaste e ao qual comparaste o Reino do Céu que nunca percebi bem o que era. E esse seria o meu tesouro, o tesouro que valeria todo o ouro do mundo!

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