sexta-feira, 7 de junho de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (29/?)

A vida adulta
    Maria Madalena estava embevecida, quase não se contendo de alegria. Tinha pela primeira vez em sua casa, aquele a quem já muitos, a começar pelos discípulos, chamavam de Mestre. Mas um homem também. De perfeita estatura semita: cabelo encaracolado e curto, olhos negros profundos, ombros largos de macho bem constituído. E em breve iria dormir e... sonhar. Como seriam os sonhos dela? Sonharia com o Reino de Deus que eu lhe acabava de anunciar ou... com uns braços fortes que gostaria de ver ao redor do seu corpo de mulher perfeita, receptiva?
    Lá fora, pela janela, descortinava-se majestosa a lua, deslizando em correria por entre as nuvens, sendo estas embora que corriam impelidas pelo vento. Uma redonda bola de luz, alimentando sonhos, tornando mais belo o céu da Terra, o Céu de Deus... Um cenário convidando ao romance, apelando ao sonho. E a noite adormeceu connosco...
    De manhã, Madalena apareceu com um bom-dia de sorrisos, comprometidos os dela que não os meus. Mas tudo com naturalidade. Como se nada de estranho tivesse acontecido. Eu, manifestando pressa, ansiedade, dizendo que os discípulos já me estariam esperando junto ao lago para lançarem as redes ao mar de multidão que em breve acorreria, muita gente sedenta de Boas Novas e de milagres, tomei o frugal pequeno almoço, agradeci e saí.
    Muitas outras vezes, viria, durante a minha vida pública, pernoitar em casa de Maria Madalena. E se, ao princípio, os discípulos não viam com bons olhos tal facto, pois não era de santa a probidade de Maria, tiveram depois de o aceitar, por rotineiro, dizendo eu, repetidas vezes, que vinha não para salvar os justos mas os pecadores. Aquele que pensasse ser Madalena uma pecadora e se considerasse isento de culpa, não vendo a trave no seu olho, mas o argueiro no olho do próximo, que atirasse a primeira pedra... Tal sentença silenciou para sempre toda e qualquer boca maldosa!
    Ah, como era acolhedora aquela casa, sobretudo nas noites de invernia em que chegava molhado e com frio até aos ossos! Que bom aquele calor que irradiava de tão simpática companhia! Sendo casa pequena, não podia albergar os discípulos. Estes ou dormiam nas suas quando andávamos por perto, ou se socorriam de benfeitores que generosamente se ofereciam, por toda a parte, para lhes dar guarida. “Posso ir hoje dormir a tua casa?” E a resposta nunca era de negar acolhimento a quem se preparava para comigo participar no Reino de Deus, Reino que estaria prestes a descer do Céu à Terra, fosse o que fosse que tal Reino significasse.
PS:
Ainda sobre os milagres
É fantástico o que se afirma – ou o que a Igreja afirma/admite – como milagre. Normalmente, é atribuído ao santo ou à santa (ou à Virgem? ou a JC? ou ao santo ou à santa por intermédio de uma ou de outro?) o milagre de uma cura não explicável pela medicina convencional (nem sequer se considerando a existência e a possível explicação pelas medicinas – muitas! – ditas alternativas). E a Igreja, quando um fenómeno destes acontece, apressa-se a perguntar ao crente qual foi o santo da sua devoção que invocou para ficar curado ou – normalmente são mulheres! – curada e, assim, firmar a santidade daquele que, ouvindo as preces do seu devoto – ou sua devota – intercedeu junto de Deus para que fizesse o milagre. Ou então, qual foi o/a candidato/a a santo ou santa invocado/a. Tal está acontecendo com os pastorinhos de Fátima que, com um suposto milagre-cura, admitamos, não explicável pela medicina convencional, – ou ainda não explicado! – foram feitos beatos, o primeiro passo para, com um segundo milagre, passarem a santos! É: a igreja precisa de santos. Por isso, vai de inventar os milagres, fenómenos que, segundo ela – aliás, quem haveria de ser?! – são analisados com o maior rigor científico... E não é que os crentes acreditam nestas autênticas fraudes médicas que a Igreja lhes apresenta como Verdades de intervenção divina?
Mas, neste complot religioso de mentira, há tanto de irracional que espanta como crentes inteligentes não questionam tais aberrações, à luz da razão, que a Igreja lhes serve em pratos de... Fé. Vejamos: um “milagre” – supostamente, milagre, claro! – chega para tornar qualquer um, qualquer uma, santo ou santa? Então, porque cura só aquela pessoa e deixou outras por curar, outras que, certamente, invocaram a mesma personagem? Quantos não invocaram já os pastorinhos de Fátima, em situações de apuro, e não foram atendidos? Porquê? Onde, a justiça de Deus que a uns cura, por intercessão de tal santo ou tal santa, e a outros deixa doentes e a morrer, sem apelo nem agravo? Aquele “milagre” só teria alguma credibilidade se esta estatística – a dos fracassos divinos! – fosse feita e fossem analisadas as causas do mesmo fracasso... É: na flagrante injustiça divina, reside a impossibilidade de haver milagres deste tipo. Deste tipo e, certamente, de qualquer outro! E só não vê isto quem obstinadamente não quer ver. Aliás, já o próprio JC o disse aqui, narrando a saga da sua vida: os supostos milagres que lhe são atribuídos pelos evangelhos são impossíveis pelo que representariam de injustiça divina, ao curar uns e não curar os outros, ao ressuscitar uns – aquela do seu amigo Lázaro é exemplar! – e não os outros.
Mas, como é nos supostos milagres de JC que está assente toda a base da Fé cristã, não admiti-los nem alimentá-los, somando-lhes os milagres dos santos, seria desmoronar os alicerces da própria Igreja. E isto, para já, não é possível...
Portanto, os milagres que vêm narrados na Bíblia foram todos fantasiados pelos escritores que a escreveram: no AT, para darem credibilidade aos estrategas do povo judeu (Moisés e a sua vara que bate na rocha e faz nascer água ou que, lançada ao chão, se transforma em serpente, o maná do deserto, o Sol parando para que Josué ganhasse a batalha, etc.) ou aos seus profetas (Elias, por exemplo, que, depois de morto, ressuscita outro morto que, por acaso, é colocado na mesma sepultura onde estava aquele jazendo...); no NT, obviamente, para cristificar Jesus e torná-lo, com alguma credibilidade, Filho de Deus, ou Deus feito homem, não passando de uma mentira para justificar outra mentira; mais suavemente, uma fantasia para justificar outra fantasia...
E ainda: um ou dois supostos milagres são suficientes para darem o santo ou a santa como tal, isto é, como estando no Céu junto de Deus? Para haver alguma credibilidade seriam necessários muitos mais; é como na Ciência, o método experimental: para se afirmar, com rigor, alguma verdade, há que testá-la muitíssimas vezes. E, mesmo assim, a Ciência está sempre disponível para aceitar outra Verdade que, entretanto, for descoberta e vier destronar a primeira. É o caso, por exemplo, das dúvidas sobre o Big Bang. O método eclesiástico-religioso, já de si fraudulento, torna-se assim totalmente inacreditável. Só mesmo pela Fé, melhor dito, pelo engano a que são levados os crentes.
Resta a clássica pergunta, já que, sem milagres, nenhuma religião subsistiria: “Adiantaria ao Mundo, no seu estado de total selvajaria em que se encontra, devido à completa desregulação, a nível global, do sistema económico-financeiro que elegeu o dinheiro como prioridade e não o Homem, pondo este ao serviço daquele e não o contrário..., adiantaria ao Mundo actual que as religiões se desmoronassem, pela sua inveracidade, mentira ou fantasia?” Não sabemos responder; mas, já que as religiões não são capazes de tornar o mundo melhor, sendo, pelo contrário, muitas vezes elas focos de guerras e mortandades de toda a espécie, pondo irmãos contra irmãos e inventando inimigos inexistentes..., seria interessante ver como funcionaria um mundo sem religiões. Muito interessante mesmo!

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