domingo, 16 de junho de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (30/?)

 

    Com Maria Madalena, a cena repetia-se: o beijo de boas-vindas, o lava-pés e mãos, a refeição a dois, a conversa sobre o Reino, o dormir o sono dos justos... Por vezes, antes de me recolher aos aposentos, reclinava a cabeça no regaço dela, quase que adormecendo quando ela me alisava os cabelos ora secos da poeira dos caminhos, se eram tempos de Verão, ora humedecidos pela chuva que caíra e os ensopara até à raiz, várias vezes secando, várias vezes se molhando, conforme a pregação fosse em sinagogas ou átrios cobertos ou a céu aberto, tendo como tecto o azul do trono de Deus que, “de certeza”, estava lá em cima com os Seus anjos, olhando a Sua criação e nela o Homem, sem quaisquer peias de paredes ou carne que O impedissem de ver até no mais profundo dos corações. Não elevava eu as mãos ao Céu para dar graças ao Pai quando tinha sucesso em algum milagre ou orava pelo mundo que não me queria ouvir nem parecia disposto a aceitar a minha mensagem?
    E, já se alongando a noite, recolhia-se ela, adormecendo e sonhando certamente comigo que ali estava paredes-meias, bastando-lhe um abrir e fechar de porta para ficar ao pé de mim, comigo todo inteiro, alma e corpo, lado a lado, partilhando o mesmo leito, mas também a mesma utopia do Reino de Deus... Eu..., eu dormia o sono dos justos, não pensando em Maria Madalena senão como boa mulher que me ajudava caridosamente, não alimentando voluptuosos  desejos de a possuir na beleza do corpo, apesar de tanta intimidade...

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