segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Novo interregno

É que, dia 1 de Novembro, foi o “Dia dos Fiéis Defuntos” (nome catolicamente ambíguo, pois defuntos são tanto os que foram “fiéis”, como os que o não foram...), preferindo outros o “Dia de Todos os Santos” (também nome inócuo ou sem sentido, pois haverá santos? há alguma prova credível de que eles tenham feito milagres para serem elevados aos altares, alguma prova credível de que estejam no Céu junto de Deus e dos seus anjos? – Claro que não! Tudo invenções: Céu e Deus no seu trono real, rodeado de anjos e santos, bem como o Inferno onde o simpático Príncipe das Trevas – antes Príncipe da Luz, por ter sido o Anjo mais brilhante dos Céus – Céus também inexistentes – reina e se “diverte” com os condenados...
Ora tal comemoração lembra-nos o desfecho final da Vida, de todas as vidas: a inevitável morte! “À morte ninguém escapa, nem o rei nem o papa”, diz um velho aforismo. Aliás, já alguém escreveu que é na morte que se faz justiça. Seja humana, seja divina, mas mais esta que aquela que parece só existir para os pobres, fugindo-lhe os ricos e corruptos deste mundo, por serem eles a fazerem as próprias leis que os protegem dos crimes cometidos. É triste, mas é a Verdade nua e crua! E, pensando nos defuntos, há quem faça a pergunta contundente: “Quais os teus pertences, em vida, quais os teus pertences na morte?”
Em vida, se bem vires a realidade que te assiste, nada te pertence totalmente. Tu apenas usufruis das coisas a que chamas tuas. A razão é simples: quando chegar a “hora da verdade”, nada, mas absolutamente nada levas contigo; deixas essas mesmas coisas para outros, também não para as possuírem, mas, tal como tu, delas usufruírem enquanto para eles houver vida.
Conclusão? - Nada te adianta ter muito ou ter muitas coisas. Quanto mais possuíres para além do necessário, mais preocupações – o que é igual a menor qualidade de vida! – terás para delas tomar conta. Por exemplo, se é dinheiro, andarás continuamente preocupado em não o perder, aplicando-o rentavelmente em qualquer “chamariz” bancário, quase sempre – lógica capitalista! – perverso e inseguro, embora aparente e apregoe o contrário; se são casas, lá estão as contribuições, IMIS, etc.; se são quintas, o custo da sua manutenção; se são acções da Bolsa de Valores, então, aí é que é o stress total: sempre pensando em ganhar e não perder nas apostas de subidas e descidas das cotações; etc., etc. Tudo contribuindo para não viveres ou seres livre, mas escravizado às coisas que possuis. Ah, quanto mais não vale investir no SER do que no TER! Claro, há que ter as necessidades básicas: alimentação, abrigo, educação, saúde, asseguradas. E, mais “algum” para divertimentos e prazeres que podem/devem fazer parte da vida, esta dádiva nunca por demais agradecida a Deus ou ao Destino, conforme a crença de cada um, e, para cada um, única e irrepetível! Também aqui colhe a galhofice do bem humorado: “O meu Deus é o dinheiro.” “E o diabo?” “O diabo é quando ele se acaba!”
Perante a morte, o crente dirá: “Bendita, ó morte, que me libertas deste corpo, impecilho de ver face  a face o Deus da felicidade eterna como quem viverei para sempre!”. Em igual situação, dirá o racionalista: “Pela morte, cumpro o meu ciclo, dando lugar a outros, a outras vidas, a outras formas de energia onde as minhas moléculas que agora me formam e enformam se integrarão. Tenho de aproveitar ao máximo estes momentos, cada momento de vida, pois não terei uma segunda oportunidade!...”
Ah, como seria interessante se pudéssemos harmonizar e “casar” os dois pensamentos, o do crente e o do racionalista! Deveras interessante, não lhes parece?...

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