sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (5/?)


    Infância
    Fui o “Menino Jesus” mas não fui o “Deus Menino” ou o “Menino Deus” como simpaticamente fiquei conhecido para a História!
    Nasci em Belém de Judá, pelo ano seis antes da era cristã, ou seja, o ano 747 ab urbe condita (a.u.c.) (da fundação de Roma). O monge e matemático Dionísio o Exíguo, do séc. VI, errou em cerca de seis anos os cálculos das datações, ao pretender fazer do meu nascimento o ano um, colocando-o em 753 a.u.c. Ignorando o dia e o mês em que se deu o feliz acontecimento, a tradição começou a celebrá-lo a 25 de Dezembro, data imposta pelo papa Libério nos tempos do filho de Constantino, Constâncio II, decorria o ano 360, para cristianizar o universal culto do Sol Invictus cujos festejos tinham lugar, por todo o Império, após o solstício de Inverno, fazendo de mim o seu substituto e a verdadeira imagem do renascimento do Sol. Meus pais: José, o carpinteiro, e Maria de Nazaré.
    No meu nascimento, que não aconteceu naquela romântica gruta que Lucas inventou, não houve animais a aquecerem-me a nudez, nem anjos a cantar, pastores a adorar, magos a visitarem-me. Tais românticos acontecimentos foram piedosas invenções do evangelista para, desde pequenino, me tornarem um Krishna ao modo dos deuses solares orientais em cujos nascimentos, segundo a lenda, tais estranhos fenómenos aconteciam.
    Situando-se Belém perto de Jerusalém, aos oito dias, levaram-me ao Templo para ser circuncidado, como mandava a tradição. Aí, encontrava-se o velho Simeão que me augurou, inspirado, uma vida cheia de ideais e de sonhos para mudar o mundo, mudando o Homem. Mas certamente não fui o único a quem tais augúrios o simpático velho formulou... O nome que me deram: Jesus. Cumprida a tradição, os meus pais instalaram-se definitivamente em Nazaré, terra de minha mãe.
    Também não fugi com os meus pais para o Egipto, com medo do rei Herodes que, apesar de sanguinário, não mandou matar as crianças com menos de três anos, receando que alguma delas fosse o Cristo que lhe usurparia o trono real. Esta foi mais uma invenção do evangelista para me equiparar aos deuses já referidos cujas histórias estão cheias de peripécias e ameaças semelhantes.
    Fui menino mimado em casa por pais zelosos e austeros, mas não mais do que qualquer criança que tenha que partilhar, no lar, espaço e comida com os irmãos e irmãs que foram nascendo ao longo de mais de uma década, sendo eu o primogénito.
     Aprendi com o meu pai a arte de carpinteiro e cedo comecei a trabalhar na oficina para ajudar no sustento da família que se ia dilatando. Mas confesso que não gostava muito de tal actividade. Preferia bem mais frequentar a sinagoga onde, depois de aprender a ler, escrever e contar, me industriaram na Torá ou Livro Sagrado, repositório da nossa história, da nossa cultura, da nossa religião.
    E fui crescendo, como refere o evangelista, em idade, sabedoria e graça diante de Deus e diante dos Homens, na senda de qualquer ser humano que percorre idêntico caminho, aqui poeticamente descrito. Mas nunca pratiquei acções das que me são atribuídas por alguns evangelhos apócrifos, enquanto menino. Umas são de encantar, outras repugnantes, tão eivadas de maldade e de perversidade elas estão. De encantar, lembro aquela de eu estar, em dia de sábado, a brincar com barro, moldando formas de passarinhos que ia pondo a secar; ora, passando por ali um dos guardiães do sábado, logo me foi denunciar a meu pai que, aproximando-se com forte vontade de forte reprimenda, não teve tempo de desabafar sobre mim ira ou crueldade pois eu ordenei aos passarinhos que voassem; vendo tal feito, todos se abismaram e calaram, não sabendo mais o que dizer. Acrescentaria, brincando, que meu pai, nada tendo entendido do que se passara, chamou de estúpidos os meus detractores por confundirem pássaros de barro com pássaros reais capazes de voar... Abomináveis, lembraria duas maldições: uma que lancei sobre um companheiro de brincadeiras por ele me ter aberto as represas que eu havia feito na berma de um riacho onde brincávamos, transformando-o em árvore seca, e outra sobre um rapaz que vinha correndo na minha direcção e chocou contra mim, caindo por terra, morto...
    Aos doze anos, indo a família inteira a Jerusalém, integrada numa das caravanas que se dirigiam à Cidade Santa para a comemoração da Páscoa, ali chegados, logo me atraiu o Templo onde havia sido circuncidado e, curioso de conhecer os seus meandros e o que ali discutiam os sábios e doutores, escribas e fariseus, sacerdotes e levitas, sumos sacerdotes e representantes de outras seitas religiosas do tempo, dirigi-me até lá e entrei. Quando deram pela minha presença, estranhando certamente a coragem de um jovenzinho se aventurar por tão prestigiado lugar, logo me quiseram testar e ver os meus conhecimentos nas Escrituras Sagradas, acabando-se-me ali, mais por força da façanha cometida do que pela provecta idade, que não tinha, a despreocupada e serena meninice.

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